O nome tradicional do bairro (e consequentemente do circuito) vem do fato da localização em uma região entre dois lagos artificiais, Guarapiranga e Billings, que foram construídos no começo do século XX para suprir a cidade com água e energia elétrica. O nome foi sugerido pelo arquiteto e urbanista francês Alfred Agache devido a região de Interlaken (literalmente "entre lagos") localizada na Suíça.[1] Em 1985 foi renomeado para homenagear o piloto de Fórmula 1 José Carlos Pace, falecido em 1977. Anexo a sua construção, há um Kartódromo, o Kartódromo Municipal Ayrton Senna.
No fim da década de 1920, o engenheiro britânico Luiz Romero Sanson idealizou uma região de lazer entre as represas Billings e Guarapiranga, sendo que sua filha escolheu o nome Interlagos para o local. A ideia era atender a população mais rica da cidade, que se interessava pelo automobilismo. A construção do circuito também foi incentivada por um acidente acontecido em 1936, quando foi realizada a primeira prova internacional de São Paulo nas ruas da cidade. A francesa Hellé-Nice sofreu um acidente que causou 6 mortes e deixou mais de 30 pessoas feridas.[2][3] A iniciativa da construção foi de Sanson e do Automóvel Clube do Brasil. O traçado foi inspirado nas pistas de Indianapolis, nos Estados Unidos, Brooklands, na Inglaterra e Monthony, na França.[2]
Em abril de 1939, com o autódromo ainda em obras, um grupo de pilotos liderado por Manoel de Teffé deu as primeiras voltas na pista. Um ano após houve a grande inauguração no dia 12 de maio de 1940, quando o autódromo abriu suas portas. Tinha, à época, uma extensão total de 7 960 m.[2] Neste dia o autódromo recebeu 15 mil pessoas para duas corridas: uma de motos, com 96 km (12 voltas) e o Grande Prêmio São Paulo, com 200 km (25 voltas).[3] O vencedor foi o piloto Artur Nascimento Júnior, que percorreu 25 voltas da prova no tempo de 1 hora, 46 minutos e 44 segundos. A estrutura ainda não estava pronto, e ainda não haviam arquibancadas, boxes, lanchonetes, banheiros, torre de cronometragem e de transmissão.[2]
Fechado para reformas em 1967, só foi reaberto em 1 de março de 1970, para a realização de uma prova do campeonato internacional de Fórmula Ford. Em 1971, o autódromo passou novamente por reformas para abrigar no ano seguinte, pela primeira vez, um Grande Prêmio de Fórmula 1. Em 1972 houve o primeiro Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 sem contar pontos para o campeonato, sendo vencido pelo argentino Carlos Reutemann, piloto da equipe Brabham. Em 1973 a prova já era válida pelo campeonato mundial de equipes e pilotos, sendo vencida pelo brasileiro Emerson Fittipaldi, da Lotus. Em 1975, o autódromo foi palco da primeira dobradinha de brasileiros na Fórmula 1: José Carlos Pace foi o vencedor, seguido de Fittipaldi.[2] Até 1980 o autódromo recebeu o Grande Prêmio sucessivamente, com exceção de 1978 que foi no Autódromo de Jacarepaguá devido à reformas no circuito. Devido às condições precárias e poucas manutenções, Interlagos ficou impossibilitada de realizar corridas de Fórmula 1, sendo assim, em 1981, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 passou a ser realizado no Rio de Janeiro em Jacarepaguá até 1989.[3] Em 29 de junho de 1988, o Autódromo de Interlagos recebeu o 1° Hanabi Matsuri, em comemoração aos 80 anos da Imigração japonesa no Brasil.
Em 1989, a Prefeitura de São Paulo, com o apoio da Confederação Brasileira de Automobilismo, iniciou negociações para trazer de volta a Interlagos o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 que havia sido transferido para Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Iniciou-se, assim, uma grande reforma que mudaria completamente o traçado do velho Interlagos, e em 1990 voltou para São Paulo onde continua até o presente momento, e sendo realizado sucessivamente. A extensão foi diminuída pela metade, chegando a 4 325 m. Atualmente, o percurso é de 4 309 m.[2]
O autódromo hospedou apresentações do KISS em 1999,[4] e do Iron Maiden em 2009, e desde 2014 é sede da edição brasileira do festival Lollapalooza.[5] Em 2023 se tornou sede de outro evento musical, o The Town Festival.[6]
Desde o fim de 2019, a prefeitura de São Paulo apresentou duas vezes um edital para concessão do autódromo à iniciativa privada. O Tribunal de Contas do Município, porém, suspendeu o leilão desde o fim de abril de 2020.[3]
No ano de 2020, devido a pandemia de COVID-19, o Grande Prêmio do Brasil, que estava em seu último ano de contrato com a Fórmula 1, foi cancelado. Em razão disso, surgiu uma série de incertezas sobre a permanência do evento em Interlagos, com a realização da corrida no Brasil para os anos seguintes, sendo disputada entre o Autódromo de Interlagos e a Rio Motorsports, uma empresa que almejava construir o Autódromo de Deodoro e levar o Grande Prêmio do Brasil de volta para o Rio de Janeiro. Porém, devido a problemas com liberação ambiental, o autódromo foi inviabilizado, garantindo assim que Interlagos assinasse um novo contrato com a Fórmula 1 para receber uma etapa da categoria até 2025, mas com o evento passando a se chamar Grande Prêmio de São Paulo.[7][8][9]
Em novembro de 2023 o chefe executivo da F1, Stefano Domenicali disse: “Tenho o prazer de anunciar que ficaremos em Interlagos até 2030, e mal posso esperar por muitos anos mais da maravilhosa atmosfera que os torcedores brasileiros trazem”.[10]
Melhorias
No ano de 2007, o autódromo foi fechado por quatro meses para ser trocado todo o asfalto do circuito, além da construção de mais uma arquibancada na reta dos boxes e alteração da entrada dos boxes.
Para o Grande Prêmio do Brasil de 2007, foram realizados os reparos de maior escala dos últimos 35 anos do circuito, para resolver fundamentalmente problemas com a superfície da pista.[11][12] O asfalto existente foi totalmente substituído,[13] resultando em uma superfície da pista muito lisa. Ao mesmo tempo, a entrada do pit lane foi reforçada para melhorar a segurança e foi construído um novo e maior stand fixo.[14] Para facilitar o trabalho, o circuito foi fechado e não foram realizados eventos nos cinco meses imediatamente anteriores à corrida.[15]
Interlagos sofreu reformas a serem entregues em 2015 ao custo de R$ 130 milhões para atender novas exigências da FIA. A pista foi inteiramente recapeada já para o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de 2014, assim como foram refeitas a entrada dos boxes e a área de escape da segunda perna do S do Senna. Para 2015, o paddock existente foi inteiramente remodelado. O então prefeito Fernando Haddad estudou construir novos boxes na reta oposta, porém a ideia foi abandonada.[23]
Traçados
Circuito de Interlagos em 1973
Circuito de Interlagos Interlagos em 1979
Circuito em 1990-1996
Circuito em 1997-2013
Circuito em 2014-hoje (reforma na entrada dos boxes)
Sobreposição mostrando as diferenças entre o circuito de hoje e de 1973
Curvas
Curvas 1 e 2 – Estas curvas do traçado original são identificadas por números, mas dizia-se que, por serem curvas contornadas em alta velocidade, separavam os meninos dos homens, pois os pilotos mais corajosos contornavam-as "pé embaixo", ainda mais sabendo-se que nas áreas de escape das curvas havia enormes eucaliptos que literalmente "abraçavam" os carros que saíam da pista.
Curva 3 – Curva de alta velocidade que determinava o ritmo da primeira parte do miolo de Interlagos.
Curva "S" do Senna ou Curva Chico Landi - Durante a reforma que mudou completamente o traçado de Interlagos, Ayrton Senna propôs que fosse feito um S ligando a reta dos boxes à curva do sol, melhorando o traçado que estava proposto. O nome verdadeiro dessa curva se chama Chico Landi em homenagem ao primeiro piloto brasileiro a correr na Fórmula 1.
Curva do Sol – Passou a ter esse nome pois toda vez que se entrava nela o sol atrapalhava a visão do piloto. Esta situação já não ocorre devido a mudança no sentido da corrida, agora anti-horário, mas o nome foi mantido.
Curva do Sargento - Este nome foi atribuído devido a um sargento da Força Pública que estava de serviço no dia de um evento e que, entusiasmado com a corrida, entrou na pista com a sua viatura e ao chegar nesta curva perdeu o controle do carro e rodou. Ele tentou mais uma vez e rodou de novo. Após isso a curva foi batizada como a "Curva do Sargento".
Curva do Laranjinha - Devido à dificuldade em contornar a curva por falta de visão total, os pilotos inexperientes, que eram tratados por laranjas, sempre erravam a sua tangência.
Curva da Ferradura – Tem esse nome por ter um formato muito parecido com o de uma ferradura.
Curva do Pinheirinho - Por haver um pinheiro na área de escape da curva, que era sempre atingido quando um piloto perdia o controle do carro e saía da pista, foi dado este nome à curva.
Curva Bico de Pato - Uma curva muito fechada que tem a forma de um bico de um pato.
Mergulho - Curva que antecede a junção. Esta curva além de ter uma difícil visão, apresenta queda para o lado de fora da pista.
Curva da Junção - No antigo traçado esta curva ligava o circuito externo ao miolo da pista, atualmente é a junção da parte mista da pista com a subida dos boxes.
Café - Curva que antecede a reta chamada Subida dos Boxes. Ganhou esse nome porque, nos primeiros anos do autódromo, os locutores e jornalistas que cobriam as corridas num barranco naquele ponto do circuito preparavam e bebiam café. O cheiro da bebida era tão forte que os pilotos, ao contornarem aquela curva, o sentiam de longe, e a batizaram assim. Foi nesta curva que aconteceram os acidentes fatais de Rafael Sperafico em 2007 e de Gustavo Sondermann em 2011.
Para promover o Renault Dauphine - Gordini e com o slogan "40hp de emoção", em 1964 o jornalista e publicitário Mauro Salles propôs um desafio de resistência para o carro. Com a aprovação de William Max Pearce, o presidente da Willys, o Autódromo de Interlagos foi preparado. Um veículo da marca, escolhido aleatoriamente na linha de produção e sem qualquer preparo especial, foi escolhido para percorrer, dentro do autódromo, a marca de 50 mil quilômetros em menos de um mês. Paul Massonet, representante da Federação Internacional do Automóvel, foi convocado para homologar a marca e a prova de resistência foi iniciada em 26 de outubro de 1964. Para a tarefa, os pilotos Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno, José Carlos Pace, Chiquinho Lameirão, Wilson Fittipaldi Júnior, Carol Figueiredo, Geraldo Meirelles, Luís Antônio Greco, o chefe da escuderia, além do convidados Vladimir Costa, Danilo de Lemos e Vitório Andreatta, foram escolhidos para o desafio. No oitavo dia ocorreu um acidente, quando Bird Clemente entrou rápido demais na "Curva 3" e capotou. O carro rolou e parou sobre as quatro rodas. Depois de desvirado, desamassado e sem para-brisas (deste momento, os pilotos só usaram capacete com viseiras), a prova continuou. A cada reabastecimento, ocorria a troca de piloto. Após 22 dias, em 17 de novembro, a Willys deu a maratona por terminada. O carro foi batizado de "teimoso" e depois da prova, desapareceu. Como homenagem, a empresa lançou uma versão, em 1965, denominada de Teimoso.[26]