O Instituto Biológico (IB)/APTA é um centro de pesquisa vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, voltado à produção, difusão e transferência de tecnologias e conhecimento científico nas áreas de agronegócio, biossegurança e atividades correlatas. Localiza-se no distrito de Vila Mariana, na cidade de São Paulo, nos arredores do Parque do Ibirapuera. O instituto foi criado em 1927 e, atualmente, é um dos principais centros de formação de cientistas do estado, com forte atuação na área de pós-graduação.
Referência nacional na área de pesquisa agrícola, o local administra um vasto conjunto de laboratórios espalhados pelo estado de São Paulo. Apenas em sua sede, na capital paulista, o IB abriga os Centros de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, Vegetal e Proteção Ambiental, além do Museu do Instituto Biológico, do Centro de Memória e de uma biblioteca que conta com mais de 100 mil volumes em seu acervo.
Já no interior, mantém o Centro Avançado de Tecnologia do Agronegócio Avícola, no município de Descalvado, a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento, em Bastos, e o Centro Experimental Central, em Campinas.
O surgimento do Instituto Biológico remete a primeira metade do século XX quando, em maio de 1924, uma forte praga assolou os cafezais paulistas. A essa altura, o antigo desejo de criar um órgão responsável por zelar por uma das maiores riquezas do estado, o café, finalmente se consumou. Tendo em vista os fortes prejuízos que a praga representava e a forte pressão dos barões do café, não demorou muito para que a Secretaria da Agricultura criasse uma comissão dedicada ao estudo e combate do parasita – conhecido popularmente como broca (Hypothenemus hampei).[1]
Foi assim que, dispondo de dois laboratórios e liderados pelo médico baiano Arthur Neiva, Ângelo da Costa Lima e Edmundo Navarro configuraram a "Commissão de Estudo e Debellação da Praga Cafeeira", que tinha como objetivo principal o combate da praga.[1] Após algum tempo de pesquisa, o grupo iniciou uma extensa campanha de divulgação, fiscalização e controle que atingiu mais de 1300 fazendas (o equivalente a cerca de 50 milhões de pés de café).[2]
Além da distribuição de cartilhas informativas (como “História de um bichinho malvado”, ilustrada pelo zoólogo Rodolfo von Ihering, que teve tiragem de 50 mil exemplares), a comissão participou da produção de um filme que explicava com clareza os perigos e formas de combate ao inseto – incluindo detalhes sobre seu ciclo evolutivo. Com a com a contribuição do fotógrafo italiano Alberto Federman, o filme foi exibido oficialmente em todo o estado – e lotou as salas de apresentação com patrões e empregados das fazendas, interessados em aprender as novas técnicas de combate à praga.[3]
Com o sucesso da campanha e do rico relatório elaborado pela comissão, o grupo chamou a atenção das autoridades para a necessidade da criação de um órgão de pesquisa que fosse, permanentemente, responsável por zelar pela agricultura da cidade. Seu sucesso foi tamanho, que levou o cientista K. Escherich a declarar: "Não conheço outro exemplo de, em tão curto prazo, se haver realizado tanto trabalho científico e prático".[2]
Pouco tempo depois, em dezembro 1926, um documento que previa a fundação de um Instituto de Biologia e Defesa Agrícola foi enviado à Câmara dos Deputados, porém o projeto só foi de fato transformado em lei um ano depois, em dezembro de 1927, durante o governo de Júlio Prestes. A esta altura, já havia uma proposta de ampliação no âmbito de atuação do órgão, que passaria a abranger pesquisas e medidas de defesa na área animal também.[1]
Assim, em 26 de dezembro de1927, o Instituto Biológico de Defesa Animal (que, posteriormente viria a se chamar Instituo Biológico) foi finalmente criado, sob amparo da Lei nº 2.243.[1]
Durante a década de 30, sob a direção e a liderança de Henrique da Rocha Lima que o Instituto Biológico se torna um centro reputado e conhecido internacionalmente. O Instituto Biológico ao ser incorporado com o Instituto Biológico de Defesa Animal, delegou a responsabilidade de organizar cursos de especialização para agrônomos e veterinários, e também colaborar com a recém-fundada Universidade de São Paulo.
Uma nova reforma na Secretaria de Agricultura em 1942 fez com que uma nova estrutura fosse encorporada ao Instituto, o "Departamento de Defesa Sanitária da Agricultura" contava com uma Divisão de Biologia, para pesquisas de ciências básicas e que direcionava os estudos dos agrônomos e veterinários ao combate de doenças. Além dessa divisão, também foram criadas as de Defesa Sanitária Vegetal e Defesa Sanitária Animal.[4]
Na Década de 1960, O Instituto Biológico recebe uma nova reforma na estrutura da Secretaria da Agricultura, é criado a Coordenadoria da Pesquisa Agropecuária e a Coordenadoria da Assistência Técnica Integral (CATI), o qual tem a responsabilidade de integrar pesquisa e assistência técnica. A partir dos anos 70, com a reorganização administrativa, as divisões do IB passaram de seis para oito e as seções de 33 para 40. Foram criadas as Divisões Administrativas e a de Técnicas Complementares (que uniu as seções de Bioestatística, Microscopia Eletrônica, Biblioteca e Fotomicrografia). Entre as novas áreas estavam a Seção de Controle Biológico das Pragas na Estação Experimental de Campinas e a Seção de Resíduos, sendo assim o primeiro laboratório de análise de resíduo da América do Sul.[4]
Ali, onde atualmente avistamos o Planetário do Parque, diversas espécies de animais (e suas respectivas doenças) eram estudadas pelos pesquisadores entre as décadas de 1930 e 1940. Já a região onde hoje funciona a Bienal era o campo de treinamento do Biológico Futebol Clube, parte importante da história do Instituto, onde também treinavam diversos outros times da cidade[1] A planta original do complexo mostra, ainda, o projeto de construção de dois lagos no terreno pertencente ao Instituto – mas, até onde se sabe, eles nunca chegaram a ser construídos.[5]
Até porque, em meados do século XX, o Instituto começou a ver sua área sendo reduzida – já que, neste período, toda a região para além da Av. 23 de Maio foi cedida pelo governo para a construção do Parque Ibirapuera, em comemoração ao quarto centenário da cidade de São Paulo. Foi assim que o Instituto Biológico tomou a configuração que conhecemos hoje.[1][5]
O edifício principal
Inaugurada em janeiro de 1945, a sede do Instituto Biológico (localizada na Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252) levou quase duas décadas para ficar pronta – sendo que as obras começaram em 1928.[5] Projetado pelo arquiteto Mário Whatey, o prédio destaca-se pelas características arquitetônicas europeias do art-decó (como o uso de formas geométricas influenciadas por movimentos vanguardistas como o futurismo, o cubismo e o construtivismo[6]) sendo um dos principais exemplos da modernidade da arquitetura paulistana. O mesmo estilo pode ser encontrado em outras importantes construções da cidade, como no Viaduto do Chá e na Biblioteca Mario de Andrade[7]
Mas a conexão com a cultura estrangeira vai muito além da influência no estilo arquitetônico, já que grande parte dos materiais utilizados na construção do prédio são importados de diversas partes do planeta. O mármore Lioz, que reveste os pisos e paredes de todas as salas, por exemplo, veio diretamente de Portugal. Já as porcelanas dos sanitários (que, posteriormente, foram substituídas) foram importadas dos Estados Unidos.[1][2][7]
Materiais nacionais (e igualmente requintados) também marcam presença na construção – a exemplo do ferro fundido utilizado nas janelas, confeccionados pela Escola de Artes e Ofícios do Estado, e do piso dos corredores de algumas salas, feitos de madeira de Ipê. No primeiro andar, o piso ladrilhado foi confeccionado na Companhia Cerâmica Brasileira.[1]
Para finalizar a mistura de influências nacionais e internacionais em sua construção, o Instituto teve seus jardins desenhados pelo arquiteto e paisagista belga Arséne Puttemans.[5]
Outros espaços de pesquisa
A fim de ampliar os ambientes de estudos e pesquisa, o Instituto adquiriu, em 1937, uma área de aproximadamente 60 alqueires na Fazenda Experimental Mato Dentro – em Campinas, no interior do estado. Desde 2002 o local é vinculado a CEIB (Centro Experimental Central do Instituto Biológico) e dedica-se a estudos da sanidade vegetal.[1][8]
Pouco tempo depois a Fazenda dos Cristais, em Jundiaí, também foi adquirida. Lá eram realizados experimentos com relação ao combate de carrapatos em bovinos. Atualmente o local é dedicado ao estudo de vacinas, cujos testes são realizados em porcos.[8]
Primeiro centro de formação de cientistas no estado de São Paulo, o Instituto Biológico participou ativamente de diversas descobertas relevantes no âmbito da agropecuária ao longo de sua história, tendo feito parcerias com órgãos nacionais e internacionais.[8] Para além do combate à praga que assolou os cafezais no início do século XX (responsável direta pelo surgimento do Instituto)[2], o órgão participou de pesquisas que resultaram no controle de diversos outros parasitas, como a lagarta rosca (praga dos algodoeiros), a verrugose da laranja-doce e a leprose dos citros – além de ter sido pioneiro, também, na técnica de pulverização aérea, que era realizada pela célebre funcionária Ada Rogato, primeira mulher a obter licença de paraquedista.[8]
Ao longo dos quase 100 anos de vida, o Instituto também trabalhou na produção de insumos, antígenos e vacinas e participou de importantes campanhas sanitárias contra, por exemplo, a febre aftosa, a raiva e a tuberculose.[1]
Além disso,atualmente, o local realiza 350 tipos diferentes de exames em animais e vegetais.[8]
Coincidência ou não, o tombamento definitivo só aconteceu após 3 mil moradores da região participarem de um ato que ficou conhecido como “o domingo do abraço” – caracterizado pelo “abraço” dos moradores ao edifício.[9]
Para além do Edifício Sede, o CONDEPHAAT incluiu na Resolução SC-113, de 25/2/02[10],os seguintes edifícios:
•Edifício da antiga Garagem;
•Edifício do antigo Biotério;
•Edifício de Bioquímica Fitopatológica ;
•Edifício do Insetário e Estufas de vidro anexas;
•Conjunto de seis laboratórios da área animal;
•Jardim frontal, área do cafezal, traçado do arruamento interno e os limites do terreno remanescente[11].[10]
Estado atual
Preservação
Fortemente engajada na preservação do prédio, a comunidade da Vila Mariana continua ativa até hoje, cobrando ações efetivas do Governo do Estado em relação à restauração do prédio – que, desde a sua construção, só foi reparado uma única vez, em 1975.[9]
Apesar de anunciada no final de 2014 pelo governador Geraldo Alckmin, a obra de restauração do edifício (que atualmente possui problemas de infiltração de água, vazamentos de esgoto, más condições da rede elétrica, entre outros)[1] ainda não aconteceu.[9]
Inovações na atualidade
Inaugurado pelo Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, em maio de 2016,[12] o Laboratório de Biossegurança NB3 recebeu investimento de cerca de R$2,5 milhões e tem o objetivo de diagnosticar doenças de interesse pecuário, além de atender a eventuais emergências sanitárias..[13][14] O diferencial deste espaço é que ele atende aos requisitos de Segurança Biológica estabelecidos pela OMS- sendo o laboratório com maior nível de segurança para a manipulação de substâncias e micro-organismos que oferecem risco tanto à saúde animal quanto à saúde humana em todo o estado de São Paulo[1][13][14]
O Museu do Instituto Biológico também conta com um grande diferencial, já que em suas dependências se encontra o único Jardim Zoológico de Insetos autorizado pelo IBAMA e pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.[15] Além disso, ele é o único museu de toda América Latina a possuir um jardim zoológico deste grupo de organismos.[16]
Hoje o acervo do Instituto Biológico (que começou a ser construído em 1927) conta com 180 mil documentos textuais datados desde o início do século XX. Além disso, 60 mil fotografias e cerca de 70 mil slides em vidro compõe a coleção.[2]
↑ abcSecretaria de Agricultura e Abastecimento. «Instituto Biológico de São Paulo». Aqui se guarda um pouco da história e muito mais. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Consultado em 11 de setembro de 2016
↑ abcdef«Procedimentos que Viabilizaram a Criação». Instituto Biológico - Procedimentos que viabilizaram a sua criação e sua efetiva estada no contexto atual do conhecimento científico. Governo do Estado de São Paulo. Consultado em 14 de setembro de 2016
↑ abc«Restauro do Instituto Biológico». Moradores da Vila Mariana cobram restauro do Instituto Biológico. Folha de S. Paulo. 6 de dezembro de 2015. Consultado em 10 de setembro de 2016
↑ ab«Documento Tombamento». Tombamento do Instituto Biológico como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico e urbanístico. Governo de São Paulo. 13 de setembro de 2016
↑ ab«Biossegurança». Instituto Biológico inaugura laboratório com nível de segurança único no Estado. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. 22 de maio de 2016. Consultado em 13 de setembro de 2016
↑ ab«Laboratório com nível máximo de segurança». Instituto Biológico inaugura laboratório com nível máximo de segurança no estado. Portal do Governo do Estado de São Paulo. 1 de junho de 2016. Consultado em 13 de setembro de 2016
↑«Museu do Instituto Biológico». INSETO É TEMA DO MUSEU DO INSTITUTO BIOLÓGICO. Instituto Biológico de São Paulo. Consultado em 13 de setembro de 2016
↑«Zoologico de Insetos». Conheça o "Planeta Inseto" no Museu do Instituto Biológico. Catraca Livre. 16 de novembro de 2012. Consultado em 14 de setembro de 2016. Arquivado do original em 17 de novembro de 2016