O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento[1] é uma entidade esotérica que tem o intuito de estimular a espiritualidade na vida das pessoas. Localizada no bairro da Liberdade, no Centro de São Paulo, a ordem não segue nenhuma religião, apenas preza para que todas elas interajam em harmonia. Os rituais proporcionados a filiados do Círculo estimulam o uso da energia mística como principal forma de obter bem-estar físico e mental. Os filiados passam por sessões semanais de meditação e participam de cursos, cujos temas são definidos.
História
O Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento foi fundado em 1909 pelo português Antônio Olivio Rodrigues,[1] que chegou ao Brasil em 1880. Estudioso de teorias espirituais, Antônio Olivio passava 16 horas por dia estudando cálculos astrológicos,[2] revoluções e sinastrias, até que percebeu que deveria dispor de um tempo para propagar a ideia de harmonia entre crenças diferentes. Foi depois de pesquisar referências com uma corrente intelectual americana contemporânea que o patrono do Círculo se juntou a um pequeno grupo de estudiosos do assunto. Na época, falar de energias astrológicas não era uma prática muito bem aceita no Brasil predominantemente católico.[2] No entanto, devido à fama de especialista em temas místicos, o português passou a ser procurado pelos mais diversos tipos de pessoas: desde céticos até desiludidos e curiosos passaram pelo escritório de Antônio Olivio, na busca por previsões astrológicas sobre a vida. Foi a primeira vez que um consultório do gênero entrou em funcionamento no Brasil, comercializando horóscopos e mapas astrais.[2] Os admiradores de Olivio o elevaram à categoria de astrólogo e magnetizador — uma vez que seus serviços também oferecem cura magnética à distância. Apesar do sucesso, o primeiro livro lançado por Antônio Olivio não repercutiu como ele esperava: O Magnetismo Pessoal ou Psychico foi escrito por Durville, mas não repecurtiu. Antônio Olivio passou dias e noites distribuindo panfletos de divulgação da obra por estabelecimentos da cidade para tentar tornar a obra conhecida e atrair mais leitores. Mas os resultados não foram positivos.[2] Apesar da frustração, a pouca aceitação da sociedade não aquietou os ânimos do astrólogo, que viu no desinteresse das pessoas uma oportunidade de pioneirismo: foi quando Antônio Olivio e outros intelectuais lançam a revista O Pensamento, em 1907, que se tornou a única do gênero no País. O sucesso foi tanto que, já na segunda edição, teve que ampliar a revista para abastecer a demanda. O primeiro prédio da editora responsável pela publicação era localizado na Rua Senador Feijó, no centro de São Paulo.[2] A tiragem da revista O Pensamento começou a crescer, e a circulação passou a ser feita não apenas em São Paulo. Devido a essa grande adesão, em 27 de junho de 1909 Olivo fundou o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, cuja proposta de trabalho foi exposta na revista daquele mês:
"a) Promover o estudo das forças ocultas da natureza e do homem;[2]
b) Promover o despertar das energias creativas latentes no pensamento de cada associado, de acordo com as leis das vibrações invisíveis;[2]
c) Fazer com que essas energias convirjam no sentido de assegurar o bem estar physico, moral e social dos seus membros, mantendo-lhes a saúde do corpo e do espírito;[2]
d) Concorrer na medida de suas forças para que a harmonia, o amor, a verdade e a justiça se effectivem cada vez mais entre os homens;[2]
e) Promover uma divulgação ativa e eficiente através de publicações sendo mediadas por empresas especializadas, tendo respeito com todas as religiões e correntes políticas;
f) Empenhar-se no combate a qualquer tipo de vício;
g) Respeitar as leis e poderes do país;
h)Organizar um coral a fim de desenvolver a sensibilidade e gosto musical;
i) Organizar e manter a biblioteca que acolha os grandes mestres do pensamento;
j) Manter uma sede destinada para que os diretores, associados e/ou convidados pratiquem suas orações e exercícios esotéricos;
k) Difundir os ideais e iniciativas que embasam as atividades mencionadas."[carece de fontes?]
Dois anos depois da inauguração do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, Antônio Olivio deu início a outro projeto: criou um curso de ciências herméticas por correspondência. Em março de 1917, foi fundado o Instituto de Sciencias Herméticas, onde passou a lecionar um curso de psicologia experimental. Em pouco tempo, um grande número de participantes começou a frequentar o local, estimulando o crescimento da Editora "O Pensamento" e do Círculo Esotérico.[2] Dentre esses participantes, estavam figuras de grande destaque nas letras, na arte e na política. Até mesmo médicos participaram: as inscrições de doutores nesse curso superaram as de outros profissionais. Isso ocorreu porque a maior parte dos cursos de psicologia experimental eram ministrados em países estrangeiros. Daí para a frente, a editora passou a contar com mais de 20 títulos: uma tipografia própria, um almanaque de astrologia, um curso de ciências herméticas por correspondência, uma revista e um consultório de astrologia e cura magnética.[2]
Antônio Olivio continuou expandindo suas atividades como editor, astrólogo e delegado geral do Círculo. No ano de 1923, adquiriu dois terrenos na altura do nº 167 da Rua Rodrigo Silva e iniciou as obras do prédio que seria a nova sede da entidade.
Depois de alguns meses da inauguração do novo edifício, as reuniões no salão de conferências começaram a lotar cada vez mais — e o número de filiados não parou de crescer, não apenas em São Paulo mas em todo o Brasil. Então, Antonio Olivio percebeu a necessidade de construir outro prédio com o intuito de abrigar, no mesmo local, o Círculo, a gráfica e a editora, além da livraria — que já contabilizava mais cem livros no catálogo. Mas esse prédio abrigaria, ainda, um hospital próprio para os filiados da Ordem — a Policlínica O Pensamento.[2]
O lançamento do novo prédio da torre, também localizado na Rua Rodrigo Silva, ocorreu no 17º aniversário da entidade, em 27 de junho de 1926. A comemoração reuniu milhares de filiados.
Desde então, o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento não faz distinção de religião entre seus filiados. Além disso, também não são critérios de filiação raça, classe social, posição política e filosófica, nacionalidade e sexo.[2]
Belle Époque em São Paulo
Antônio Olivio Rodrigues veio para o Brasil no começo do século XX, quando o ar europeu era uma realidade paulistana. O clima de belle époque que tomava conta dos países estrangeiros estimulava a sociedade paulista a cumprimentar um ao outro com a frase "Vive la France!".[3] Finas confeitarias começaram a surgir na gestão do prefeito Antonio Prado, que, em quatro mandatos, tentou gourmetizar a cidade. Entre 1900 e 1910, a paisagem urbana de São Paulo foi transformada completamente: o Plano Bouvard[4] tinha o objetivo de reestruturar o centro, e permitiu que novas ruas e praças fossem abertas. Foi nesse período, em 1905, que surgiu a Praça da República, o Parque do Anhangabaú e a Praça da Sé. Foi nesse período, ainda, que foi construída a primeira agência do Banco do Brasil em São Paulo, além da construção do Instituto Butantã. Em 1901, a Estação da Luz foi inaugurada, seguida pelo antigo Parque Antártica, construído em 1902. A Maternidade São Paulo e a Pinacoteca do Estado passaram a compor a paisagem urbana da cidade em 1904.[5] E foi nessa primeira década de expansão que o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento foi inaugurada.
Arquitetura
Foi em 1923 que Olivio conseguiu adquirir dois terrenos na Rua Rodrigo Silva, no bairro da Liberdade, onde é localizado o atual prédio do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. O projeto foi criado pelo arquiteto Gilberto Gullo — em um estilo eclético indefinido que atende a uma programação em que predomina a simbologia esotérica da Ordem.[6] A arquitetura foi criada com esculturas de Ruffo Fanucchi, decoração de Leôncio Neri e talhas de Arthur Grandi.[2] No primeiro e no segundo andar, estão localizados o Salão Nobre e a sala de meditação. A livraria O Pensamento fica no piso térreo. O prédio, decorado com estátuas, alto-relevos, afrescos e detalhes em outro, foi inaugurado em 27 de junho de 1925.[1] Foi o primeiro edifício não-maçônico do Brasil a conter, em sua própria estrutura, uma simbologia oculta espiritualista.[2] Todas as estruturas que decoram o interior do prédio são feitas de mármore, ouro e bronze.
A riqueza de detalhes da arquitetura interna e externa do Círculo. A ideia por trás disso era simbolizar a Riqueza Interna e o Espírito de Prosperidade que há no local.
Significado Histórico e Cultural
Em 21 de maio de 2010, foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo o decreto de tombamento do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Foi considerado que o prédio representa a importância da instituição, fundada em 1909, com a finalidade de promover o exercício da espiritualidade.[7] Segundo o decreto, o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento distingue-se “pela singularidade, pela importância do esoterismo, especialmente no alvorecer da era industrial no estado de São Paulo, quando a expansão da espiritualidade refletia a diversidade cultural e a multiplicidade de sentidos, saberes e valores presentes na sociedade”.[7] O prédio do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento foi considerado um exemplar único, uma vez que suas formas arquitetônicas com elementos ornamentais carregam forte carga simbólica. O decreto afirmou, ainda, que o edifício fica tombado na categoria de bem de valor cultural. Desta forma, as feições originais e a característica do prédio devem ser preservadas. Assim como os vãos e envasaduras, os elementos que compõem as fachadas, os materiais de vedação, ornamentação e acabamento.
Estado atual
Atualmente, o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento proporciona reuniões espirituais aos filiados semanalmente, além de reuniões experimentais a não-filiados[1] que têm interesse de conhecer a proposta da entidade. A estrutura do edifício se mantém conservada, bem como as salas de reuniões e meditação, localizadas no primeiro andar do prédio. O local abriga, ainda, a biblioteca do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento -- uma das maiores sobre esoterismo de São Paulo -- que atualmente está fechada para reorganização das milhares obras abrigadas por ela. Por dentro, as esculturas com detalhes em ouro ainda reluzem, deixando clara a referência medieval do local e a sua importância na história de São Paulo.