Prudente de Morais representava a ascensão da oligarquia cafeicultora e dos políticos civis ao poder nacional, após um período de domínio do poder executivo por parte dos militares, no qual essa oligarquia mantinha-se dominando apenas o poder Legislativo.[5]
Formação e início da carreira
Prudente de Morais nasceu no dia 4 de outubro de 1841, nos arredores da cidade paulista de Itu, no distrito do Varejão, atualmente área pertencente a Mairinque, na região do bairro Dona Catarina (que leva o nome de sua mãe em homenagem), sendo descendente dos primeiros colonizadores de São Paulo. Seus pais eram José Marcelino de Barros e Catarina Maria de Morais. Em 1846, com cerca de cinco anos de idade, Prudente perdeu o pai, que era tropeiro que fazia a rota Santos-Itu, assassinado por um escravo.[6] Sua mãe casou-se com o viúvo Caetano José Gomes Carneiro. Prudente graduou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1863, e, no mesmo ano, transferiu-se para Piracicaba, onde exerceu advocacia durante dois anos. Em 28 de maio de 1866, Prudente casou-se com Adelaide Benvinda Gordo na residência dos pais dela, em Santos. Após o casamento, fixaram-se em Piracicaba, e na atualidade, a residência onde viveram tornou-se o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Morais.[7] Prudente e sua esposa, Adelaide tiveram nove filhos juntos: Maria Jovita, Gustavo, Prudente José de Morais Barros Filho, Antônio, Maria Amélia, Carlota, Júlia, Paula e Maria Teresa. O casal se tornou avós do jornalista Prudente de Morais Neto, filho de Gustavo Prudente de Morais. Além desses nove filhos, Prudente teve um filho fora do casamento na época em que era estudante de Direito, chamado José.[8]
Em 1877, no exercício do mandato de vereador, Prudente conseguiu mudar o nome da cidade, que na época chamava-se Vila Nova da Constituição, e passou a se denominar Piracicaba, nome indígena da região, que quer dizer "lugar onde os peixes moram".[9]
No governo de São Paulo, reorganizou e modernizou a administração, especialmente o Tesouro e o Arquivo do Tesouro, ampliou a Força Pública, sendo que a transição para a república em São Paulo, com a nomeação de novos administradores, secretários e intendentes municipais ocorreu em tranquilidade. Reorganizou a Escola Normal, que deu origem à Escola Normal Caetano de Campos.
Após a derrota para Deodoro, eleito indiretamente com 129 votos contra 97, Prudente de Morais tornou-se presidente do Senado até o final do seu mandato.
Na disputa pela sucessão de Floriano Peixoto, que chegara à presidência devido ao golpe de 23 de novembro de 1891, candidatou-se pelo Partido Republicano Federal (PRF), fundado pelo paulista Francisco Glicério em 1893. Venceu as eleições presidenciais de 1º de março de 1894 e tomou posse no dia 15 de novembro daquele ano,[10] tornando-se o primeiro presidente do Brasil a ser eleito pelo voto direto e o primeiro presidente civil do Brasil. Prudente teve 276 583 votos contra 38 291 de seu principal competidor Afonso Pena, em uma eleição que teve mais 29 políticos que foram votados.[11] Seu vice-presidente foi o médico Manuel Vitorino Pereira.[12] A sua eleição marcou a chegada ao poder da oligarquia cafeeira paulista em substituição aos setores militares.[10]
Os quatro anos de governo de Prudente de Morais foram agitados, tanto por problemas político-partidários (a perda do apoio do Partido Republicano Federal) como pela oposição dos setores florianistas e pela continuação, no Rio Grande do Sul, da Revolta Federalista (1893–1895).
Prudente de Morais dedicou todos os seus esforços à pacificação das facções, que tinham em seus extremos os defensores do governo forte de Floriano e os partidários da monarquia. Durante seu governo, abandonou uma a uma as medidas inovadoras de Floriano Peixoto. Essa cautela de Prudente foi necessária, já que os florianistas ainda tinham uma certa força, principalmente no Exército.[10] Além disso, o vice-presidente estava ligado às ideias de Floriano. Prudente de Morais imprimiu uma direção ao governo que atendeu mais aos cafeicultores e afastou os militares da política.[11]
Enfrentou a questão diplomática envolvendo os ingleses, que acharam por bem, em julho de 1895, tomar posse da Ilha da Trindade, situada a aproximadamente 1 200 quilômetros do litoral do Espírito Santo, sob o pretexto de ali instalar uma estação telegráfica. A França, com incursões abaixo do Rio Oiapoque, invadiu o Amapá a partir de Guiana Francesa, atacando e incendiando alguns povoados próximos à fronteira. O primeiro presidente civil do Brasil, em vez de recorrer às armas, preferiu o arbitramento internacional, de Portugal no caso da Ilha da Trindade, e da Suíça no caso do Amapá. As questões diplomáticas foram resolvidas favoravelmente ao Brasil.[11]
As dificuldades econômico-financeiras, herdadas da crise do encilhamento, acentuaram-se em sua administração, sobretudo devido aos gastos militares, aumentando as dívidas com os credores estrangeiros.
Enfrentou, ainda, a revolta da Escola Militar. Fez então valer a sua autoridade: fechou a Escola e o Clube Militar. Mas pouco tempo depois enfrentaria um movimento rebelde ainda maior: a Guerra de Canudos, no sertão baiano.
Obrigado a submeter-se a uma cirurgia, afastou-se do poder entre 10 de novembro de 1896 e 4 de março de 1897, passando o cargo ao vice-presidente, o médico baiano Manuel Vitorino Pereira. Nesta interinidade, Manuel Vitorino transferiu a sede do governo do Palácio Itamaraty para o Palácio do Catete.
Com a vitória dos amotinados de Antônio Conselheiro sobre várias expedições militares, a situação voltou a deteriorar-se. Prudente interrompeu a convalescença e nomeou ministro da Guerra o general Carlos Machado de Bittencourt, que liderou nova expedição e derrotou os rebeldes. Durante o seu governo, as divergências internas no PR Federal e a Guerra de Canudos desgastam o governo. Mesmo com a vitória das tropas do governo na guerra, os ânimos não se acalmam.
De início, o vice-presidenteManuel Vitorino, que possuía divergências políticas com Prudente de Morais, foi indiciado no inquérito sobre o atentado, acusado de envolvimento. Vitorino respondeu com um Manifesto em que proclamava inocência e seu nome não foi incluído no despacho final do processo, mas sua carreira política foi arruinada.[15] Marcelino, feito prisioneiro e encontrado enforcado na cadeia com um lençol, não foi mais do que mero instrumento de conspiração política.[14] Embora sua morte tenha comprometido as investigações, foram apontados Capitão Deocleciano Martyr e José de Souza Velloso como mentores intelectuais do crime.
Prudente de Morais desfrutava de grande popularidade ao fim do mandato, em 15 de novembro de 1898, quando passou o cargo de Presidente da República a Campos Sales e retirou-se para Piracicaba, onde exerceria a advocacia por alguns anos. Faleceu aos 61 anos, vítima de uma tuberculose em 3 de dezembro de 1902.[2]
Prudente de Morais está enterrado no Cemitério da Saudade, localizado na cidade de Piracicaba. Lá foi erigido um mausoléu em sua homenagem, que foi inaugurado em 3 de dezembro de 1903, exatamente um ano após sua morte.
________, Prudente de Moraes: O Primeiro Centenário do Seu Nascimento, Editora Revista dos Tribunais, 1942.
________, Prudente de Moraes - Parlamentar da Província de São Paulo - 1868-1889, Edição da Assembleia Legislativa de São Paulo, 2004.
________, Biografia de Prudente de Moraes, Centenário da primeira constituição promulgada por Prudente de Moraes, Academia Piracicaba de Letras, 1991.
BARRETO, Amaral Antônio, Prudente de Moraes: uma Vida Marcada, Editora I. H. G. S. P., 1971.
KOIFMAN, Fábio, Organizador, Presidentes do Brasil, Editora Rio, 2001.
PAULA, Assis José Eugênio, Prudente de Moraes: Sua Vida e Sua Obra, Editora Gr Sangirard, 1976.
ROMANINI, Mauricio Guindani, Prudente de Moraes: O precursor da propaganda política no Brasil — Sua trajetória até a presidência da República em 1894, Dissertação (Mestrado em Comunicação Social), Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2002.
SILVA, Gastão Pereira da, Prudente de Moraes - o Pacificador, Editora Zélio Valverde, 1946.
SILVA, Hélio, Prudente de Moraes - 3º presidente do Brasil, Editora Três, 1983.
SILVEIRA, Peixoto, A Tormenta Que Prudente de Moraes Venceu!, Editora Imesp, 1990.
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