Em 1871, aos dezesseis anos, concluiu seus estudos como bacharel em ciências e letras e matriculou-se na Escola Militar da Praia Vermelha. Durante esse período, teve Benjamin Constant como instrutor, uma figura que introduziu as ideias de Auguste Comte no Brasil. Apesar de não adotar uma posição positivista ortodoxa, não pôde evitar ser influenciado pelo mestre. Ao concluir seus estudos, desempenhou o papel de ajudante de ordens do príncipe Gastão de Orléans, também conhecido como conde d'Eu.[3]
Como comandante da Escola Preparatória do Realengo, em 1904, reprimiu a Revolta da Vacina, movimento que, em nome da liberdade individual, protestou contra a obrigatoriedade da vacina antivariólica, traduzindo, também, a insatisfação popular mais ampla contra o regime.[3]
Desempenhou vários cargos governamentais até se tornar ministro da Guerra, durante o governo de Afonso Pena (1906-1909), entre 15 de novembro de 1906 e 27 de maio de 1909.[6]
Por sugestão do Barão do Rio Branco, enviou oficiais para treinamento no Império Alemão, os quais retornando ao Brasil, ficaram conhecidos como os "Jovens Turcos".[7] Reformou o Exército e o Ministério com a criação de grandes unidades permanentes, as "Brigadas Estratégicas", e de serviços técnicos e administrativos. Dessas inovações, a mais importante foi a instituição do serviço militar obrigatório pela Lei do Sorteio de 1908. Entretanto, o sorteio só seria posto em prática em 1916.[8][9] Devido à discussão na Câmara sobre a participação dos militares na vida política do país, pediu demissão do cargo. Foi depois ministro do Supremo Tribunal Militar (atual Superior Tribunal Militar).[3]
A eleição de 1910
Em novembro de 1908, após regressar de uma viagem à Alemanha, onde assistira a manobras militares como convidado de Guilherme II, foi indicado para a sucessão presidencial. Contou com o apoio do presidente Nilo Peçanha, que substituiu Afonso Pena, e das representações estaduais no Congresso Nacional, à exceção das bancadas de São Paulo e Bahia, que apoiavam o nome do senador Ruy Barbosa e o presidente de São Paulo Albuquerque Lins como candidato a vice-presidente, e deram início à campanha civilista.[1]
Pela primeira vez no regime republicano se instalou um clima de campanha eleitoral com a disputa entre civilistas e hermistas. Com o convite de Nilo Peçanha para que retornasse ao cargo no ministério, fortaleceu-se e venceu as eleições de 1910 contra Rui Barbosa.[3]
Na eleição de 1º de março de 1910, o país se dividiu: Bahia, São Paulo, Pernambuco, o estado do Rio de Janeiro e parte de Minas Gerais, apoiaram o candidato Rui Barbosa, que tinha o presidente de São Paulo, Albuquerque Lins,[1] como seu vice-presidente, e os demais estados apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca, que tinha Venceslau Brás como seu vice. Hermes e Vencesláu Brás venceram. Hermes teve 403 867 votos contra 222 822 votos dados a Rui Barbosa.[10] Segundo o próprio Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, a eleição de Fonseca se deu à custa de fraude (recorrente à época), isto é, a adulteração do resultado, facilitada pelo fato de o candidato conservador ser apoiado pelo então presidente, Nilo Peçanha.[11]
Hermes da Fonseca enfrentou, logo na primeira semana de governo, em novembro de 1910, a Revolta da Chibata, arquitetada por cerca de dois anos e que culminou num motim dos marinheiros no Encouraçado Minas Gerais, Encouraçado São Paulo, Encouraçado Deodoro e Cruzador Bahia, revolta liderada pelo marinheiro João Cândido Felisberto.[2] Depois de conseguido o objetivo, o fim da aplicação da Chibata na Marinha, e concedida a anistia a todos os mais de dois mil marinheiros amotinados, o governo traiu sua palavra e começou um processo de expulsão de marinheiros. O primeiro motim, já controlado, foi seguido de um levante no batalhão de fuzileiros navais sem causa aparente. O Marechal Hermes ordenou o bombardeio aos portos e colocou o país em estado de sítio. Mais de 1200 marinheiros foram expulsos e centenas foram presos e mortos. Apesar de ser bastante popular quando eleito, sua imagem ficou bastante abalada depois da revolta. Dois anos depois, outra revolta veio conturbar sua presidência, a Guerra do Contestado, que não chegou a ser debelada até o fim de seu governo.[2]
Durante sua presidência foram realizadas a chamada Política das Salvações, que, seja através de manobras eleitorais ou uso de força militar, tentou promover intervenções federais nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Piauí, Ceará e Alagoas, alegando a intenção de por fim aos esquemas políticos estaduais e a prática de corrupção, nomeando novos governantes apoiadores de seu governo. Tratava-se, assim, de uma política centralista. Apesar de obter sucesso nos estados de Pernambuco, Bahia e Alagoas, a Política das Salvações provocou violenta oposição tanto popular quanto política e causaram um rompimento de suas relações com o senador Pinheiro Machado, que era favorável ao status quo. Muitos elementos das políticas estaduais entraram em luta armada e conseguiram derrotar o governo, com os combates mais violentos acontecendo no Ceará, onde políticos estaduais se aliaram ao popular padre católico Cícero Romão para se opor a intervenção do governo no que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro.[12][13]
Em seu governo ocorreu nova renegociação da dívida externa brasileira, em 1914, com um segundo funding loan (o primeiro fora negociado por Campos Sales), pois a situação financeira do Brasil não andava bem. Sua política externa manteve a aproximação com os Estados Unidos, traçada pelo chanceler barão do Rio Branco, que continuou no cargo de ministro, até 1912, quando faleceu.[3]
No plano interno, prosseguiu o programa de construção de ferrovias, incluindo a ferrovia Madeira-Mamoré e de escolas técnico-profissionais, delineado no governo Afonso Pena. Instalou a Universidade do Paraná. Concluiu as reformas e obras da Vila Militar de Deodoro e do Hospital Central do Exército (HCE), entre outras, além das vilas operárias no Rio de Janeiro, no subúrbio de Marechal Hermes e no bairro da Gávea.[3]
Com as mobilizações sindicais cada vez maiores no Rio de Janeiro, o presidente Hermes tomou uma atitude até então inédita na Primeira República brasileira, que tendia para a repressão de movimentos sindicalistas: Patrocinou, em 1912, transportando e fornecendo instalações, a realização do IV Congresso Operário Brasileiro, que fora organizado por seu filho, o então deputado Mário Hermes. Tal ação do governo, entretanto, foi vista com desconfiança por líderes sindicais, que desgostavam da chamada corrente sindicalista "amarela", que buscava colaboração com o governo.[13]
Foi o único presidente a casar durante o mandato presidencial, sua primeira esposa, Orsina Francioni da Fonseca, com quem casou-se em 16 de abril de 1879, veio a falecer em 30 de novembro de 1912.[2] Sua segunda esposa foi a caricaturistaNair de Tefé von Hoonholtz, filha do barão de Teffé.[1] Nair seria hoje considerada uma feminista e, em sua longa vida, chegaria a participar das primeiras comemorações do Ano Internacional da Mulher. As cerimônias civil e religiosa ocorreram no dia 8 de dezembro de 1913, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis.[14]
Durante seu governo, foi editado um decreto instituindo o uso da faixa presidencial no Brasil, sendo ele mesmo o primeiro presidente a usá-la e o primeiro a passá-la a seu sucessor.[1] Desde então, todos os presidentes a recebem na ocasião da posse.[3]
Hermes da Fonseca é um dos três únicos militares que chegou à Presidência da República de forma direta e eleitoral. Os outros dois foram Eurico Gaspar Dutra e Jair Bolsonaro. Durante todo o seu mandato andou fardado, inclusive durante as reuniões ministeriais.[4]
Após a presidência
Ao deixar a presidência, em novembro de 1914, candidatou-se ao Senado pelo Rio Grande do Sul, mas se recusou a assumir a cadeira, em virtude do assassinato de José Gomes Pinheiro Machado, no dia em que deveria ser diplomado, em setembro de 1915. Viajou para a Europa, afastando-se da política, e só retornou ao Brasil após seis anos de vida na Suíça (1920), quando se iniciava uma nova campanha presidencial.[2]
Acolhido carinhosamente pelos militares, foi conduzido à presidência do Clube Militar em 1921. Nesta condição entrou em conflito com o governo de Epitácio Pessoa ao prestigiar as forças políticas que apoiaram a candidatura de Nilo Peçanha, no movimento "reação republicana", e envolver-se na frustrada revolta militar de 1922, conhecida como revolta do forte de Copacabana.[3]
Sua prisão foi então decretada pelo presidente Epitácio Pessoa em 2 de julho de 1922. No dia seguinte foi libertado por ordem do mesmo presidente Epitácio.[17] Preso novamente no dia 5 de julho acusado de conspiração na revolta que se iniciou nessa data no Rio de Janeiro, passou seis meses preso, libertado por habeas corpus em janeiro de 1923. Doente, retirou-se para Petrópolis, hospedando-se com seus sogros, os barões de Tefé. Lá morreu em 9 de setembro de 1923. Foi sepultado no cemitério da cidade.[3]
Composição do governo
A composição do governo do marechal Hermes da Fonseca foi:[18][19]
↑ abcde«Hermes Rodrigues da Fonseca». Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República e Almanaque Abril. UOL - Educação. Consultado em 9 de setembro de 2012
↑ abcdefghijklFONSECA FILHO, Hermes da, Marechal Hermes, Editora IBGE, Rio de Janeiro, 1961.
↑ abcMCCANN, Frank D., Soldados da Pátria:História do Exército Brasileiro, 1889-1937 Editora Companhia das Letras, 1999, ISBN 8535910840, ISBN 9788535910841, 744 pp.
↑Castro, Celso (2015). «LEI DO SORTEIO MILITAR»(PDF). Dicionário da Elite Política Republicana (1889-1930). Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
↑PORTO, Walter Costa, O voto no Brasil, Editora Topbooks, 2002
Até 1967, o responsável pela gestão do Exército era o ministro da Guerra. De 1967 até 10 de junho de 1999 — data da criação do Ministério da Defesa — o responsável era o ministro do Exército. Após essa data, passou a ser denominado comandante do Exército.