José Wilker Almeida (Juazeiro do Norte, 20 de agosto de 1944[nota 1] – Rio de Janeiro, 5 de abril de 2014) foi um ator, diretor, dramaturgo, narrador, apresentador e crítico de cinema brasileiro. Considerado um dos maiores e mais versáteis atores de sua geração, marcou época com seus personagens no cinema, no teatro e na televisão.
Biografia
Início de vida e carreira no teatro
Descendente de holandeses e portugueses,[1][2] era filho de Severino Wilker Almeida, um caixeiro-viajante e de Raimunda Almeida, uma dona de casa. José Wilker nasceu em Juazeiro do Norte, no dia 20 de agosto de 1944[nota 1] e mudou-se com a família, ainda adolescente, para o Recife.[3]
Seu primeiro trabalho foi aos treze anos, fazendo uma figuração no teleteatro da TV Rádio Clube, de Recife. Wilker ficava aguardando que o chamassem para alguma "ponta". A primeira atuação foi como cobrador de jornal na peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams.
O início da carreira no teatro foi no Movimento de Cultura Popular (MCP) do Partido Comunista, dirigindo espetáculos pelo sertão e produzindo documentários sobre cultura popular. Em 1967, o ator transferiu-se para o Rio de Janeiro, ingressando no curso de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), abandonando depois o curso para seguir a carreira teatral. Ganha o Prêmio Molière de Melhor Ator pela sua atuação na peça O Arquiteto e o Imperador da Assíria, em 1970.
Início na TV
O crescimento no teatro despertou o interesse do autor de telenovelas Dias Gomes, que o convidou para integrar o elenco de Bandeira 2 (1971), interpretando Zelito, um dos filhos do bicheiro Tucão (Paulo Gracindo). Esse primeiro trabalho na televisão o tornou famoso em pouco tempo e o fez ter uma melhora pessoal e financeira depois de dez anos no teatro, fatos que o atraíram para a carreira na televisão.[3]
Protagonizou pela primeira vez uma telenovela em 1975, como Mundinho Falcão, em Gabriela, adaptada por Walter George Durst do romance de Jorge Amado. Wilker interpretou ainda personagens memoráveis, como o Rodrigo, na telenovela Anjo Mau (1976), de Cassiano Gabus Mendes.
Em 1976, o participou dos filmes Xica da Silva, de Cacá Diegues e Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto em que interpretou o papel do boêmio Vadinho. Em 1979, foi Lorde Cigano em Bye Bye Brasil.[3]
Consagração, direção de novelas e diretor da Rede Manchete
Dirigiu as telenovela Louco Amor em 1983, de Gilberto Braga, e no ano seguinte o sucesso Transas e Caretas, de Lauro César Muniz, onde ainda interpreta Tiago. Em 1985, interpretou Roque Santeiro, personagem tema da telenovela homônima.
Em meados dos anos 1980, Herval Rossano deixa a Direção de Dramaturgia da Rede Manchete e, embalada pelo sucesso e impressionada com o conhecimento artístico de Wilker, a emissora o contrata para a chefia do departamento. Além do cargo máximo das novelas da emissora, atua como diretor e ator nas telenovelas Corpo Santo [4] e Carmem[5], além de chefiar o departamento durante a produção e exibição de Helena.[3]
Sua grande reputação e carisma, além do seu networking, foram essenciais para que a Manchete iniciasse uma política agressiva de contratação de estrelas da Globo. A peso de ouro, chegaram à emissora dos Bloch: Cristiane Torloni, Reginaldo Faria, Lucélia Santos, Paulo Betti, Beatriz Segall, Jonas Bloch, Gloria Perez, Mário Prata, Thales Pan Chacon e outros, além de conseguir manter a estrela Maitê Proença na emissora - ela voltaria à Globo apenas após a saída de Wilker[6].
Volta à Globo e novos projetos no cinema
O viés artístico de Wilker fez com que a emissora ganhasse prestígio, porém, a audiência não chegou como o Grupo Bloch esperava. O sucesso de Corpo Santo havia sido apenas relativo, e Carmem e Helena não atingiram índices satisfatórios, tendo altos custos. Após desavenças com os executivos da Manchete sobre custos e a influência da Bloch Editores na televisão, José Wilker se desliga[5], deixando a pré-produção da novela Olho por Olho[6], aprovada em sua gestão como diretor da emissora. Wilker, contudo, pavimentou o caminho para que a emissora fizesse grande sucesso com Kananga do Japão e Pantanal.
Sua volta à Globo foi chancelada com sua participação como um dos co-protagonistas de O Salvador da Pátria. Trabalhou também em Mico Preto e Renascer.
Viveu o personagem Antônio Conselheiro, no filme Guerra de Canudos lançado em 1997, em que também atuou como produtor.
Em 2000, foi Dom Diego na minissérie A Muralha.
Em 2004 viveu Giovanni Improtta, um ex-bicheiro, na telenovela Senhora do Destino. Ficaram famosos seus bordões "felomenal" e "o tempo ruge, e a Sapucaí é grande"[7]. No mesmo ano, atuou no filme O Homem da Capa Preta, como Tenório Cavalcanti.
Em 2006, atuou na minissérie JK, no papel do presidente Juscelino Kubitschek e em 2007, viveu Luis Gálvez na minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes, e Francisco Macieira na telenovela Duas Caras. No ano seguinte, atuou na telenovela Três Irmãs e em 2009 na minissérie Cinquentinha. Em 2010, foi Dr. Mourão na série Na Forma da Lei e viveu Zeca Diabo no filme O Bem-Amado. Ainda em 2011 foi Umberto Brandão na telenovela Insensato Coração e no ano seguinte foi a vez de Gabriela, interpretando o Coronel Jesuíno Mendonça, personagem que ficou marcado pelo bordão "eu vou lhe usar".[8] A telenovela foi um remake da trama original de 1975, em que o ator havia vivido Mundinho Falcão. Em 2013, um dos seus personagens mais famosos saiu da TV e foi para o cinema: Giovanni Improtta.[3]
Seu último trabalho na TV foi na novela Amor à Vida, no papel do médico Herbert Marques[9].
No cinema, seus dois últimos trabalhos, ambos lançados postumamente, foram O Duelo, lançado em 2015, baseado no romance Os Velhos Marinheiros de Jorge Amado, em que Wilker interpreta Chico Pacheco,[10] e o filme de animação As Aventuras do Pequeno Colombo, lançado em 2017, em que dá voz ao personagem Conde de Saint-Germain.[11][12]
No teatro, seu último trabalho foi na direção de O Comediante, de Joseph Meyer. Protagonizada pelo ator Ary Fontoura, a peça estreou em junho de 2014. Wilker havia deixado um dos ensaios da peça, horas antes de sua morte.[13]
Outras atividades
Diretor de escola
No início dos anos 1980, passou a dirigir a Escola de Teatro Martins Pena.[14]
Crítico de cinema
Amante de cinema, possuía aproximadamente quatro mil fitas em casa. Mostrou ao público essa faceta fazendo comentários de filmes nos canais de televisão por assinatura Telecine da Globosat e na TV Cultura.
Em 1996, publicou uma coletânea de crônicas em seu livro Como Deixar um Relógio Emocionado, como resultado de seu trabalho como crítico de cinema na TV Cultura, escrevendo também regularmente crônicas sobre o assunto para o Jornal do Brasil.[15]
RioFilme
Wilker era também comentarista oficial da transmissão da premiação do Oscar da Rede Globo, além de apresentar o programa Palco & Plateia', transmitido pelo Canal Brasil.
Foi diretor-presidente da RioFilme entre 2003 e 2008, na gestão de Cesar Maia.[16]
Vida pessoal
Logo ao chegar ao Rio de Janeiro, em 1964 José Wilker conheceu a psicóloga Elza Rocha Pinto, com quem se casou. Depois de divorciarem-se em 1976, Wilker teve outros relacionamentos, dos quais nasceram duas filhas: Mariana (com Renée de Vielmond) e Isabel (com Mônica Torres). Viveu também com Guilhermina Guinle entre 1999 e 2006.[17]
Morte
José Wilker morreu na manhã de 5 de abril de 2014 em sua casa na cidade do Rio de Janeiro. Estava acompanhado da namorada, a jornalista Claudia Montenegro que, ao acordar, o encontrou já sem vida, vítima de um infarto fulminante.[18] O corpo do ator foi cremado no dia seguinte, no Cemitério Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio de Janeiro.[19]
Filmografia
Televisão
Cinema
Teatro
Ano
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Trabalhos
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Nota (s)
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1986 |
Sábado, Domingo e Segunda |
Como Diretor [25]
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1989 |
Perversidade Sexual em Chicago
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1992 |
A Morte e a Donzela
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1993 |
Mephisto
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1994 |
Querida Mamãe
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2011 |
Palácio do Fim
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2014 |
O Comediante
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Prêmios e indicações
Referências
- ↑ «José Wilker». O Tempo. 20 de janeiro de 2008
- ↑ «José Wilker». Ig. 1 de janeiro de 2010
- ↑ a b c d e «Morre aos 67 anos o ator José Wilker». G1 Rio. 5 de abril de 2014. Consultado em 16 de fevereiro de 2015
- ↑ «Corpo Santo». Manchete. Consultado em 26 de junho de 2023
- ↑ a b Montano, Diogo. «1988: Vingança, troca de comando e o sucesso de Jaspion». Rede Manchete de Televisão. Consultado em 5 de setembro de 2024
- ↑ a b Montano, Diogo. «Olho por Olho». Consultado em 5 de setembro de 2024
- ↑ «José Wilker diverte e se diverte nas gravações de Senhora do Destino». Tribuna PR. 11 de setembro de 2004. Consultado em 8 de julho de 2023
- ↑ Wilker diz que passou a usar o bordão 'vou lhe usar' para brincar com as pessoas
- ↑ «José Wilker entra para o elenco de Amor à Vida para fazer um médico». Caras. 20 de setembro de 2013. Consultado em 8 de julho de 2023
- ↑ «G1 já viu: 'O duelo' só perde o ritmo quando José Wilker sai de cena». G1 Cinema. 20 de março de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2018
- ↑ «Isabelle Drummond e José Wilker dublam 'As Aventuras do Pequeno Colombo'». Assento Público. 20 de julho de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 24 de janeiro de 2018
- ↑ a b Fonseca, Rodrigo (4 de julho de 2017). «As Aventuras do Pequeno Colombo | "O alto astral de José Wilker contagiava o ambiente", diz diretor». Omelete
- ↑ «Ary Fontoura estreia 'O comediante', última com direção de José Wilker, e fala da morte do amigo: 'Um soco no estômago'». Extra. 5 de junho de 2014. Consultado em 28 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 28 de janeiro de 2018
- ↑ «José Wilker». Enciclopédia Itaú Cultural. Instituto Itaú Cultural. 10 de julho de 2015
- ↑ «José Wilker se prepara para estrear como diretor de cinema com 'Giovanni Improtta'». O Globo. 4 de novembro de 2011. Consultado em 30 de janeiro de 2018. Arquivado do original em 30 de janeiro de 2018
- ↑ Campos, Ana (19 de dezembro de 2023). «CineCarioca José Wilker deve ser inaugurado no 1º semestre de 2024». Agência Brasil. Consultado em 5 de setembro de 2024
- ↑ «Guilhermina Guinle, ex de Wilker, comenta: 'Um pedaço da vida que vai'». EGO, G1. 6 de Abril de 2014. Consultado em 7 de Abril de 2014
- ↑ Aos 69 anos, morre o ator José Wilker, vítima de infarto
- ↑ «Corpo de José Wilker é cremado no Rio de Janeiro». UOL. 6 de Abril de 2014. Consultado em 4 de outubro de 2014
- ↑ Xavier, Nilson (2 de agosto de 1985). «Elenco de Um Sonho a Mais». Teledramaturgia. Consultado em 5 de novembro de 2024. Cópia arquivada em 5 de novembro de 2024
- ↑ Cinemateca Brasileira, O Rei da Vela [em linha]
- ↑ «Suspiros Republicanos ao Crepúsculo de um Impériourl =portacurtas.org.br/filme/?name=suspiros_republicanos». portacurtas.org.br
- ↑ «Um dos grandes filmes do ano, estreia nos cinemas 'A Hora e a Vez de Augusto Matraga'». O Estado de S. Paulo. 24 de setembro de 2015. Consultado em 24 de janeiro de 2018. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2015
- ↑
Ogloo; Michele Miranda. «Bruno Gagliasso e Regiane Alves apostam em filme de suspense que estreia em 2013». Consultado em 10 de outubro de 2013
- ↑ «Eventos de José Wilker». Enciclopédia Itaú Cultural. Instituto Itaú Cultural
- ↑ a b JOSÉ Wilker. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Site. Acesso em: 18 de Dez. 2020
- ↑ O Homem da Capa Preta
- ↑ SÁBADO, Domingo e Segunda. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: Site. Acesso em: 18 de Dez. 2020.
- ↑ Teledramaturgia - APCA
- ↑ Prêmio Magnífico :: Premiações Artísticas
- ↑ Ganhadores do Prêmio Extra de TV 2004
- ↑ «Blockbuster divulga os vencedores do Entertainment Awards, no Brasil». Prop Mark. Consultado em 4 de julho de 2021
- ↑ Festival do Rio 2011 já tem seus vencedores. Adoro Cinema, 19 de outubro de 2011
- ↑ Saiba tudo sobre o Prêmio Extra de TV e a lista de vencedores!
- ↑ Confira a lista de vencedores do Prêmio QUEM 2015
Notas
- ↑ a b c Existem divergências entre diversas fontes confiáveis quanto ao ano de nascimento do ator. Segundo o Terra e o UOL, o ano teria sido 1944, que também é confirmado no seu registro eleitoral no TSE. Este ano está sendo adotado no artigo como o mais provável, conforme discussão, já que, além de ser o ano que consta em seu registro eleitoral, o Terra cita que, na época da morte do ator, houve erro da mídia na divulgação de sua data de nascimento. Outras fontes, como o G1 e o Memória Globo afirmam que ele nasceu em 1946; o portal Memória Roda Viva menciona que "José Wilker nasceu à meia-noite do dia 20 de agosto de 1947, em Juazeiro do Norte, no Ceará."
Ligações externas
José Wilker |
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1972–1979 | |
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1980–1999 | |
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2000–2019 | |
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2020–presente | |
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O ano refere-se à produção da novela/minissérie. |
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1973–1988 | |
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1989–2000 | |
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2001–presente | |
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| O ano refere-se à entrega do prêmio, geralmente a produção da novela é no ano anterior. A premiação não foi realizada de 1999 a 2001 e em 2016. |
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2001–presente | |
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Não houve premiação em 2004, 2006, 2020 e 2021. |
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