Ocupado por populações indígenas há pelo menos dez mil anos (Tradição Umbu), o atual território de Augusto Pestana integrou a região histórica das Missões Orientais, incorporada definitivamente ao Brasil em 1801. Cem anos mais tarde, as terras da coxilha do Cadeado (ou "serra do Cadeado"), entre os rios Conceição e Ijuizinho, começaram a ser demarcadas e colonizadas de forma sistemática por determinação do engenheiro Augusto Pestana, então diretor da colônia de Ijuí.[10] Há, no entanto, registros de presença esparsa de imigrantes lusobrasileiros e italianos desde a década de 1870, e o nome "Cadeado" seria referência a uma porteira instalada nesse período no caminho entre Cruz Alta e Santo Ângelo (o topônimo original inspira o formato do brasão municipal de Augusto Pestana).[11]
Em 29 de setembro de 1901, a região do Cadeado recebeu formalmente seus primeiros colonos: as famílias Hasse e Schünemann, imigrantes de origem pomerana. Em 5 de setembro de 1903, foi fundada a comunidade luterana da Santíssima Trindade do Rincão Seco.[12] À diferença de Ijuí, cuja colonização envolveu a participação de mais de uma dezena de etnias, a formação de Augusto Pestana contou basicamente com comunidades de três origens: alemã, italiana e luso-brasileira.
Distrito de Doutor Pestana
Com a emancipação política de Ijuí em 1912, a colônia do Cadeado passou a compor o segundo distrito municipal, com o nome de Doutor Pestana. O núcleo urbano era conhecido como “Vila Doutor Pestana”. Em 9 de março de 1922, foi criada a paróquia católica de São José, que teve o padre palotino Francisco Burmann como primeiro vigário.[13]
O distrito foi palco dos primeiros confrontos armados da Coluna Prestes. Segundo o relato de Luís Carlos Prestes, o comandante das tropas legalistas e ex-prefeito de Santa Maria, Júlio Bozano, foi morto pelo líder tenentista Mário Portela às margens do rio Conceição, na atual divisa entre Augusto Pestana e Ijuí, em 29 de dezembro de 1924.[14]
Em 1939, por iniciativa do padre Burmann, a comunidade local fundou entidade beneficente para a construção de um hospital geral, inicialmente sob comando do clínico geral Orozimbo Corrêa Sampaio e, a partir de 1940, do otorrinolaringologista Orlando Dias Athayde, que teria papel chave na emancipação do município. O primeiro pavimento do Hospital São Francisco foi inaugurado em 24 de novembro de 1943.[15]
Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 14 soldados de Doutor Pestana lutaram pelo Brasil contra a Alemanha Nazista, na Itália. A lista de expedicionários pestanenses incluiu Artur Goergen, Eugênio Ladvig e Helmuth Matte, hoje homenageados com nomes de ruas do município.[16] Em 1948, o então ministro da Viação e Obras Públicas, Clóvis Pestana, filho de Augusto Pestana, realizou visita oficial ao distrito, evento celebrado em placa no obelisco da Praça Farroupilha, centro do núcleo urbano.
Emancipação
A expansão da triticultura gaúcha nas décadas de 1950 e 1960 viabilizou a emancipação municipal, aprovada por 95% dos eleitores pestanenses no plebiscito realizado em 25 de julho de 1965.[17] O distrito foi elevado à condição de município por lei estadual de 1965[18] com o nome de Augusto Pestana, em homenagem ao engenheiro e líder republicano gaúcho, primeiro prefeito de Ijuí, fundador da Viação Férrea do Rio Grande do Sul e responsável pela colonização do Cadeado.[19]
O município foi instalado em 14 de maio de 1966, e seu primeiro administrador foi o Dr. Athayde, presidente da comissão de emancipação municipal.[20] A primeira eleição para prefeito e vereadores ocorreu em 15 de novembro de 1968.[21]
O acesso principal a Augusto Pestana é feito pela rodovia estadual RS 522, que cruza o município e faz a ligação com a BR 285 e a BR 392. As distâncias em relação às principais cidades da região são: Ijuí, 15 km; Joia, 21 km; Cruz Alta, 45 km; Santo Ângelo, 54 km. A distância rodoviária para Porto Alegre é de 405 km.[11]
Geologia, Relevo e Hidrografia
Localizado no extremo ocidental do Planalto do Rio Grande do Sul, o município é caracterizado por relevo pouco acidentado e por solos extremamente férteis, resultantes da decomposição de rochas basálticas.[23]
A altitude do núcleo urbano (Praça Farroupilha) é de 390 metros sobre o nível do mar. As altitudes na zona rural variam entre 260 metros (baixo curso do rio Conceição, próximo à divisa com Coronel Barros) e 420 metros (elevação na coxilha do Cadeado, próxima à divisa com Boa Vista do Cadeado).[24]
A área do município está contida na bacia do rio Ijuí, na região hidrográfica do rio Uruguai. Os dois maiores cursos d'água de Augusto Pestana são o rio Ijuizinho, que faz a divisa com Joia, e o rio Conceição, na divisa com Ijuí. O município é cortado por inúmeros córregos e arroios, todos com nascente na coxilha do Cadeado.[22]
Vegetação e Clima
O município encontra-se na transição entre os biomasPampa e Mata Atlântica. Seu território, com vegetação original de campos e florestas, foi consideravelmente antropizado por atividades agrícolas e pastoris ao longo do século XX.[22]
O clima do município é subtropical úmido (tipo Cfa segundo Köppen-Geiger), com quatro estações distintas, temperaturas altas no verão e invernos moderadamente frios. A temperatura média anual é de aproximadamente 18,5 °C. A máxima média mais alta ocorre em janeiro (30,7 °C) e a mínima média mais baixa, em julho (9 °C). As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, oscilando entre precipitações médias mensais de 133 e 184 mm.[25]
De acordo com o censo de 2010, Augusto Pestana tem 7.096 habitantes (3.609 mulheres e 3.487 homens). Pela primeira vez na história do município, a população urbana ultrapassou a rural (51,54% contra 48,46%). O IBGE estima que a população municipal tenha aumentado para 7.175 habitantes em 2015, revertendo a tendência de queda desde a emancipação. No censo de 1970, o primeiro após a criação do município, Augusto Pestana registrou 9.316 habitantes, dos quais apenas 956 na zona urbana.[22]
A expectativa de vida do pestanense ao nascer é de 75,84 anos, enquanto a mortalidade infantil é de 12,4 por mil nascidos vivos. Do ponto de vista etário, 22% da população integra a faixa com menos de 15 anos, 64% a de 15-64 anos e 14% a de 65 anos ou mais.[22]
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Augusto Pestana em 2010 é 0,743. O município está situado na faixa de desenvolvimento humano alto (IDHM entre 0,700 e 0,799). Entre 2000 e 2010, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi a educação (0,141 pontos), seguida por renda e por longevidade. Na comparação do IDHM com os demais 5.564 municípios do Brasil, Augusto Pestana ocupa a 695ª posição.[26]
Menos de 10% dos habitantes do município se declaram de cor preta, parda ou amarela. Sobrenomes de origem germânica, italiana e portuguesa são, pela ordem, os mais frequentes entre os pestanenses.[27]
O Riograndenser Hunsrückisch, ou hunriqueano riograndense em português, é uma língua minoritária sulbrasileira de origem germânica falada desde tempos pioneiros em Augusto Pestana bem como por milhares de pessoas espalhadas por vários outros municípios do estado e mesmo em regiões adjacentes.[28][29][30]
Administração
O município é dividido em dois distritos: o da sede e o de Rosário. O Poder Executivo é chefiado pelo prefeito Gilberto Zardim (PL) , eleito vice prefeito em 15 de novembro de 2020 com 2.541 votos (53,3% dos votos válidos), assumiu como prefeito após o falecimento do titular da chapa Darci Sallet (MDB) em 16/11/2024 . O Poder Legislativo é exercido pela Câmara Municipal, com nove membros.[31]
Gilberto Zardim (assumiu após o falecimento do titular da chapa em 16/11/2024)
PL
Economia
Conhecido como "Recanto da Produção", o município de Augusto Pestana tem a economia baseada no agronegócio, em especial no cultivo de soja, milho e trigo e também na pecuária de leite e corte. De acordo com os dados mais recentes do IBGE (2013), o PIB municipal é de 238,4 milhões de reais, configurando um PIB per capita de 33,2 mil reais.[47]
A renda média do habitante de Augusto Pestana passou de 419,01 reais em 1991 para 1.016,34 reais em 2010, um crescimento de 142,56%. A taxa média anual de crescimento foi de 11,23% no período 1991-2000 e de 118,08% no período 2000-2010. A extrema pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a 70 reais) caiu de 12,67% em 1991 para 0,74% em 2010. A desigualdade diminuiu, tendo o Índice de Gini passado de 0,64 em 1991 para 0,49 em 2010.[26]
Entre 2000 e 2010, a taxa de atividade da população de 18 anos ou mais passou de 78,30% em 2000 para 74,14% em 2010. Sua taxa de desocupação diminuiu de 4,49% em 2000 para 1,66% em 2010. Cerca de 52% dos pestanenses trabalham no setor agropecuário, 4% na indústria de transformação, 4% no setor de construção, 9% no comércio e 25% no setor de serviços.[26]
Infraestrutura Social e Urbana
Educação
Augusto Pestana conta com cinco escolas municipais, sendo que três de ensino fundamental na área rural e duas de educação infantil na área urbana. Possui ainda duas escolas estaduais, uma delas de educação básica, localizada na cidade, e outra de ensino fundamental, localizada no distrito de Rosário. O município possui também uma escola particular de ensino fundamental e uma escola de educação especial (APAE). Por meio das redes municipal, estadual e particular, Augusto Pestana atende aproximadamente 1.600 alunos. A taxa de analfabetismo é de 4,2%.[22]
A cidade está a apenas 15 km do campus central da Unijuí, principal pólo universitário do noroeste do Rio Grande do Sul.
A Biblioteca Pública Municipal Guilherme Clemente Koehler integra o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e oferece à população acesso gratuito à internet.[48]
Saúde e Assistência Social
A população de Augusto Pestana é atendida por uma equipe multiprofissional de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentista, psicólogo, psiquiatra, nutricionista, fiscal sanitário, agente comunitário de saúde, atendente de farmácia, recepcionista e motoristas. Conta também com Centro de Convivência da Terceira Idade e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Para casos que demandam maiores recursos, há o Consórcio Intermunicipal de Saúde (CISA). Técnicos de assistência social, com o apoio de voluntários, realizam o acompanhamento das famílias e promovem a inclusão social e profissional. O Centro Referência da Assistência Social (CRAS) atende e encaminha pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.[11]
A Associação Protetora Hospital São Francisco, entidade privada sem fins lucrativos, mantém desde 1943 o principal hospital geral da cidade, com área construída de 2.477 m².[15]
Transportes
Há uma linha diária de ônibus entre Augusto Pestana e Ijuí, onde está localizado o aeroporto mais próximo (Aeroporto João Batista Bos Filho - IJU). O aeroporto mais próximo com voos comerciais regulares é o de Santa Maria, localizado a 186 km e servido pela companhia aérea Azul. Existe linha de transporte coletivo entre Augusto Pestana e o campus principal da Unijuí.[49]
Segundo dados do Ministério das Cidades, a frota de veículos de Augusto Pestana inclui 2.351 automóveis de passageiros, 42 de transporte coletivo, 1.009 utilitários ou de emprego rural e 856 motocicletas.[22]
Habitação
Cerca de 90% da população pestanense vive em domicílios com água encanada. A cobertura de energia elétrica (urbana e rural) e de coleta de lixo (somente urbana) abrange mais de 99% das moradias do município.[26]
Meio Ambiente
Programa de educação ambiental nas escolas municipais tem sensibilizado a comunidade para a formação de atitudes e valores em defesa do desenvolvimento sustentável, conciliando a preservação e recuperação dos recursos naturais com atividades que gerem trabalho e renda. A ação municipal também inclui projetos de recuperação de nascentes, separação e destinação adequada de resíduos sólidos domésticos, fiscalização ambiental, saneamento básico urbano e rural, bem como manejo florestal rural e arborização urbana.[11]
Turismo, Cultura e Esporte
Augusto Pestana está em área de grande potencial turístico, a 140 km do Salto do Yucumã (maior catarata longitudinal do mundo), a 60 km das ruínas de São Miguel das Missões (patrimônio mundial da humanidade) e a 40 km das ruínas de São João Batista. A cidade integra a rota turística do Yucumã.[50]
O município mantém significativo calendário de eventos culturais e gastronômicos, que celebram as raízes teuto-brasileira, ítalo-brasileira e gauchesca da comunidade augusto-pestanense. Destacam-se entre os eventos:
Festa da Uva: festival italiano no distrito de Rosário, no mês de janeiro.
Degusta Augusto Pestana: feira de produtos alimentícios, no mês de julho.
Lutherfest: festival alemão, no mês de outubro.
ExpoAP: exposição-feira bienal no Parque de Exposições Alfredo Schmidt, no mês de dezembro.
Arrocha STV: festa promovida pelo Bloco STV, no mês de setembro.
Rodeio Crioulo: festival gauchesco promovido pelo CTG Porteira do Cadeado, no mês de dezembro.
Augusto Pestana tem um roteiro de turismo rural ("Caminhos da Produção"), que inclui os seguintes pontos: MD Quality Alimentos, Panificação Mendonça, Rapadura Scheer, Laticínios Beck, Caminho das Águas, Cantina del Nonno e a Casa Recanto da Produção (no centro urbano, à margem da RS 522, onde são comercializados artesanato e produtos agroindustriais locais e servido café colonial).[11] O Museu Municipal Dr. Athayde, fundado em 2001, conta a história de Augusto Pestana e da colonização da região. Possui acervo documental e iconográfico, além de uma hemeroteca.[51]
A Associação Comunitária para o Desenvolvimento Cultural e Artístico de Augusto Pestana (ACADESCA) mantém desde 2003[52] a rádio comunitária Liberdade FM 104.9 MHz.[53]
A infraestrutura esportiva da cidade inclui o Estádio Municipal Guilherme Klamt e o Ginásio Alfredo Pellenz, onde são realizadas competições anuais de atletismo, futebol e futsal, entre outros esportes. Corridas de motocross são regularmente organizadas no Parque de Exposições Alfredo Schmidt.[11]
↑De acordo com a placa comemorativa na Praça Farroupilha, os demais combatentes de Augusto Pestana na Força Expedicionária Brasileira (FEB) são Sebaldo Goergen, Valdemar Senn, Albino Wilhens, Benno Müller, Oswin Wunder, Alípio Schmitt, Osvino Henrique Geiss, Adelino Mathias Dambroz, Emílio Papke, Alfonso Steiernagel e Arnoldo Gustavo Frantz.