No casamento de Teresa Cristina e Pedro, ao contrário do que se dissemina, havia amor; as cartas de Teresa para Pedro transbordam isso, e Pedro a correspondia, pois mesmo na velhice custavam a se separar. Muito se diz que era passiva, entretanto, dentro do convívio familiar Teresa é tida como "controladora, e quer que tudo vá do seu jeito" como narra sua filha Leopoldina. Há cartas em que Teresa pede desculpas a Pedro pelo seu gênio. Teresa foi criada e educada como uma nobre que era, e os princípios dessa educação era respeito às instituições, consciente de seu papel como Imperatriz, resguardou-se de emitir opiniões, compartilhando suas opiniões sobre política com o marido, o que o auxiliou a tomada de decisões. O que mais contrastava na personalidade de Teresa Cristina era sua amabilidade e simplicidade. Mesmo sendo Imperatriz do Brasil, com uma educação primorosa, conseguia fazer qualquer um ficar à vontade em sua presença. Devido à sua personalidade, era tratada com respeito e a sua posição, na corte e em casa, esteve sempre assegurada. Dos quatro filhos que Teresa Cristina e Pedro tiveram, dois meninosmorrerampreturamente ainda na infância e sua filha a princesaLeopoldina de Bragança morreu de febre tifóide, precocemente aos 24 anos.
Seu pai morreu em 1830, diz-se que sua mãe a negligenciou depois de se ter casado em 1839 com o jovem oficial Francesco, Conde de Balzo de Duchi de Presenzano.
A historiografia conta que Teresa Cristina foi educada em isolamento, em num ambiente de superstição religiosa, intolerância e conservadorismo.[4] Há descrições sobre ela evidenciando uma personalidade tímida e suave, ao contrário de seu implacável pai e de sua mãe impulsiva.[3] Foi descrita como sendo um pouco apagada, tendo-se acostumado a ficar satisfeita com qualquer circunstância que viesse a encontrar.[5]
Alguns historiadores mais recentes tiveram uma visão modificada tanto da corte napolitana, como um regime reacionário e até da passividade de Teresa Cristina. O historiador Aniello Angelo Avella afirma que a interpretação difamada dos Bourbon de Nápoles tem suas origens nas perspectivas geradas no século XIX depois da conquista das Duas Sicílias pelo Reino da Sardenha em 1861, durante a unificação italiana. É revelado em suas cartas pessoais que ela tinha um temperamento forte.
De acordo com Avella, Teresa Cristina não era uma mulher submissa e sim uma pessoa respeitadora do papel imposto pela ética e pelos valores da época.[6]
Casamento
Vincenzo Ramírez, embaixador das Duas Sicílias no Império Austríaco, se reuniu em Viena no início da década de 1840 com Bento da Silva Lisboa, 2.º Barão de Cairu, o enviado brasileiro encarregado de encontrar uma esposa para o jovem imperador D. Pedro II do Brasil. Até então, todas as casas reais procuradas mostraram-se reticentes já que temiam que Pedro II fosse desenvolver uma personalidade semelhante a de seu pai D. Pedro I, conhecido por sua inconsistência e por ter várias amantes.[7] Ramírez não deu muita importância para a reputação do monarca e propôs a mão de Teresa Cristina ao imperador.[8] Por fazer parte de uma família grande, e assim capaz apenas de um dote, as perspectivas de casar a princesa com o imperador não podiam ser postas de lado tão facilmente.[9]
Foi enviado a Pedro um retrato que muito embelezava a princesa, fazendo com que ele aceitasse a proposta.[10] Na verdade, quando o retrato é enviado, o casamento já havia sido fechado e a narrativa maledicente, no intuito de desrespeitar a imagem da última Imperatriz, insiste como se Pedro II houvesse sido enganado. De acordo com o historiador James McMurtry Longo, a pessoa no retrato não era Teresa Cristina.[7] Um casamento por procuração foi realizado em Nápoles no dia 30 de maio de 1843, na verdade o casamento foi realizado em 1842, em que o imperador foi representado pelo príncipe Leopoldo, Conde de Siracusa e irmão da noiva.[11] Uma frota brasileira formada por uma fragata e duas corvetas[12][13] partiu em 3 de março para as Duas Sicílias a fim de trazer a nova imperatriz até o Brasil.[14] Ela chegou ao Rio de Janeiro em 3 de setembro.[15] Pedro imediatamente correu para dentro do navio para receber a esposa. A multidão reunida aplaudiu esse gesto e canhões dispararam saudações.[16] Teresa Cristina se apaixonou à primeira vista por seu marido.[9]
Pedro, então com dezessete anos, ficou claramente muito desapontado.[17] Suas primeiras impressões eram apenas de seus defeitos físicos e também o quanto sua aparência era diferente do retrato que haviam lhe enviado.[9] Fisicamente ela tinha cabelos e olhos castanho escuro,[18][19] era baixa, levemente acima do peso, andava mancando visivelmente e, apesar de não ser feia, era tampouco bonita.[20] De acordo com o historiador Pedro Calmon, Teresa Cristina não era manca, porém seu jeito estranho de andar era na verdade o resultado de pernas arqueadas que faziam com que ela se inclinasse para a esquerda e para a direita enquanto andava.[12] Foram esmagadas as grandes expectativas de Pedro e ele deixou que seus sentimentos de revolta e rejeição aparecessem.[9] Ele deixou o navio após um pequeno intervalo. Ela percebeu a desilusão do marido e começou a chorar, lamentando que "o imperador não gostou de mim!". A rejeição foi tão grande que ela pensou em se jogar no mar, e o evento tão traumático que ficou gravado em sua memória.[21]
Depois de se recuperar do primeiro encontro com Pedro, Teresa Cristina ficou decidida a fazer o possível para melhorar sua situação, escrevendo à família: "Sei que minha aparência é diferente da que havia sido anunciada. Farei todo o possível para viver de tal maneira que nada leve ao engano de meu caráter. Minha ambição será parecida à de Maria Leopoldina da Áustria, mãe de meu marido, e serei brasileira de coração em tudo que fizer".[22] Apesar de um casamento por procuração já ter sido realizado, um extravagante casamento de estado ocorreu em 4 de setembro na Capela Real do Rio de Janeiro.[23]
Os brasileiros esperavam com ansiedade notícias de uma gravidez da imperatriz. Meses se passaram e Teresa Cristina permaneceu sem engravidar, levando a rumores sobre o motivo, dentre os quais um que dizia que o imperador era impotente. A verdade era que Pedro ainda sentia aversão pela esposa e não tinha nenhum desejo em consumar a união. Pela rejeição do marido, a imperatriz pediu permissão para voltar às Duas Sicílias. O imperador finalmente consentiu em ter relações sexuais com ela depois de ficar comovido por sua dor. Mesmo assim, sua atitude com ela inicialmente ainda se manteve fria.[24]
Apesar do casamento ter começado de maneira ruim, Teresa Cristina sempre se esforçou para ser uma boa esposa. Sua constância para cumprir o seu dever e o eventual nascimento de filhos acabaram amolecendo a atitude de Pedro. Os dois descobriram interesses em comum, e suas preocupações e alegrias com os filhos acabaram criando um sentimento de felicidade familiar.[25] Ao todo, a imperatriz deu à luz quatro filhos: D. Afonso Pedro em fevereiro de 1845, D. Isabel em julho de 1846, D. Leopoldina em julho de 1847 e D. Pedro Afonso em julho de 1848.[26]
Imperatriz consorte
Vida doméstica
Teresa Cristina tornou-se uma parte vital da família e da Corte. Nunca preencheu o papel de amante romântica ou parceira intelectual, no entanto, a sua devoção ao imperador permaneceu firme, mesmo temendo ser suplantada. Sempre apareceu em público com o marido, que sempre a tratou com respeito e consideração. A imperatriz não foi rejeitada nem desprezada, porém a relação dos dois mudou. Com o tempo Pedro ficou mais maduro e seguro de si, afirmando sua força de caráter e poder, deixando de temer conspirações e aprendendo a discernir quando estava sendo manipulado[27] passou a tratá-la mais como uma amiga íntima e companheira do que como esposa.[28]
A visão há muito difundida é que a imperatriz aceitou o papel circunscrito que lhe foi dado, o dever e o propósito estavam ligados a sua posição de imperatriz.[28] Na sua correspondência particular verifica-se que podia ter um temperamento forte, e algumas vezes entrou em conflito com Pedro, tinha uma vida própria, embora restrita. Teresa Cristina afirmou numa carta datada de 2 de maio de 1845: "Não vejo a hora de te abraçar novamente, bom Pedro, e pedir-te perdão por tudo o que te fiz nestes dias", noutra carta de 24 de janeiro de 1851, reconhece o seu temperamento "difícil", "Não estou irritada contigo [Pedro] deves perdoar este meu caráter". A sua filha Leopoldina descreveu-a, numa carta, como "dominadora", dizendo, "A mãe gosta tudo como ela quer, apesar do Evangelho dizer que a mulher deve submissão ao marido".[6]
As suas amizades resumiam-se às suas damas-de-companhia, particularmente D. Josefina da Fonseca Costa. Os seus criados gostavam dela, era boa juíza de caráter dos visitantes e cortesãos, além de uma mãe e avó despretensiosa, generosa, bondosa e afetuosa.
Vestia-se e agia com moderação, usando joias apenas em ocasiões de estado, por vezes passando a impressão de ser uma pessoa triste. Teresa Cristina não tinha interesse em política, ocupava o seu tempo escrevendo cartas, lendo, fazendo bordados e comparecendo a obrigações religiosas e projetos de caridade.[28] Tinha uma voz bonita e praticava canto regularmente,[29] a sua apreciação por música fazia com que gostasse de ópera e de bailes.[30]
Não lhe faltavam interesses intelectuais, desenvolveu uma paixão pelas artes e ciências, particularmente em arqueologia. Teresa Cristina começou a reunir uma coleção de artefatos arqueológicos dos primórdios do Brasil, trocando outras centenas com seu irmão o rei Fernando II das Duas Sicílias.[31] Patrocinou estudos arqueológicos e escavações em sua terra natal e muitos dos artefatos encontrados, datados dos períodos dos etruscos e da Roma Antiga, foram trazidos para o Brasil.[32] No seu tempo livre dedicava-se, principalmente, à arte dos mosaicos, que pessoalmente usou na decoração de fontes, bancos e muros do Jardim das Princesas no Palácio de São Cristóvão.[33] A imperatriz também ajudou a recrutar médicos, professores, engenheiros, farmacêuticos, enfermeiras, artistas, artesãos e trabalhadores italianos qualificados com o objectivo de melhorar a educação e a saúde pública dos brasileiros.[34]
Condessa de Barral
Havia um laço emocional entre Pedro e Teresa Cristina baseado na família, no respeito mútuo e nos afetos. A imperatriz era uma esposa obediente, sempre apoiou as decisões do imperador. O casal sofreu uma dor enorme com a morte de seu filho mais velho Afonso Pedro em junho de 1847.
O Príncipe estava a brincar na biblioteca do Palácio de São Cristóvão quando começou a sofrer de convulsões, morrendo pouco depois. Foi um choque muito grande para Teresa Cristina que temeu pela sua saúde, já que estava grávida da princesa Leopoldina e daria à luz em um mês.[35] Outra tragédia veio com a morte do segundo filho, Pedro Afonso, em janeiro de 1850. Com o falecimento dos dois meninos, o Brasil tinha duas mulheres como herdeiras e, apesar do império não seguir a lei sálica, criou-se um problema de sucessão já que Pedro e Teresa Cristina acreditavam que apenas um homem poderia comandar o país (mais tarde, ficaria provado que não era assim), uma situação que piorou, já que a imperatriz nunca mais engravidou,[26] ficaram as duas princesas.
Um dos motivos, prováveis, para ela nunca mais ter engravidado, era o fato de que o imperador ter ficado atraído e interessado por outras mulheres.[36] Teresa Cristina nunca se manifestou sobre as questões dos relacionamentos extraconjugais do marido. Em troca, era tratada com enorme respeito e sua posição na corte nunca foi ameaçada ou questionada.[37]
Entretanto, foi ficando cada vez mais difícil ignorar as infidelidades de Pedro, que eram escondidas do público, mas nem sempre da imperatriz, principalmente depois dele ter nomeado em 9 de novembro de 1856 uma aia para suas filhas.[38] A pessoa escolhida foi Luísa Margarida de Barros, Condessa de Barral, a esposa brasileira de um nobre francês.[39] A Condessa de Barral tinha todas as características que o imperador admirava nas mulheres: era charmosa, vivaz, elegante, sofisticada, culta e confiante. Encarregada da educação e dos cuidados das jovens princesas, capturou os corações de Pedro e Isabel.[40] a princesa Leopoldina não foi conquistada, não gostava da condessa.[41] Apesar da condessa "não ter escapado dos abraços de D. Pedro II", certamente evitou a sua cama.[42]
Mesmo assim, a paixão do imperador pela condessa às vezes colocava a imperatriz em situações embaraçosas, como quando Leopoldina ingenuamente perguntou à mãe por que o pai ficava acariciando os pés de Barral durante as aulas.[43] A intimidade cada vez maior da condessa com seu marido e filha foi dolorosa e vexatória para Teresa Cristina. Apesar de fingir ignorar a situação, não passou despercebida. O historiador Tobias Monteiro escreveu que a imperatriz "não conseguia dissimular que detestava Barral".[42]
Quando as filhas cresceram Teresa Cristina conseguiu-se livrar da presença da condessa. Sem ter motivos para permanecer na corte, a condessa deixou o Brasil em março de 1865 e voltou para a França com o marido.[44] Entretanto, a relação dela com Pedro continuou de maneira epistolar e isso ainda alimentou os ciúmes da imperatriz, que sempre amou o marido apesar de tudo.[45]
Últimos anos
Fim do império
Quando as filhas chegaram à idade de casar, Pedro começou a procurar os maridos para as filhas a fim de assegurar a sucessão imperial. Depois de avaliar vários candidatos e consultar a sua irmã a princesa D. Francisca de Bragança e o cunhado Francisco, Príncipe de Joinville, o imperador escolheu os netos do rei Luís Filipe I da França: os príncipes Gastão, Conde d'Eu, e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.[46] Os dois viajaram até o Rio de Janeiro onde se casaram em 1864 com as princesas Isabel e Leopoldina, respectivamente.[47] Elas pouco depois deixaram de viver com os pais para formar sua própria família, tendo Leopoldina ido viver com o marido na Europa.[48]
Depois de ter dado à luz quatro filhos entre 1866 e 1870, Leopoldina morreu de febre tifoide em 7 de fevereiro de 1871, devastando novamente a pequena família imperial.[49] Pedro decidiu viajar para a Europa a fim de "animar" a esposa e entre outros motivos (como o próprio colocou) visitar os netos, filhos de Leopoldina que viviam em Coburgo desde o seu nascimento.[50] Isabel e Gastão ainda não tinham filhos, os filhos de Leopoldina e Luís Augusto eram os herdeiros presuntivos da coroa brasileira. Um acordo foi feito e Pedro e Teresa Cristina trouxeram para o Brasil, em 1872, as duas crianças mais velhas, Pedro Augusto e Augusto Leopoldo, com o objectivo de dar-lhes uma educação brasileira.[51]
O casal imperial viajou para o exterior outras vezes em 1876 e entre 1886 e 1887, passando pela América do Norte, Europa e Oriente Médio.[52] A imperatriz preferia sua vida ordinária no Brasil, "dedicando-se a família, devoções religiosas e trabalhos de caridade".[5] Na realidade, visitar sua terra natal trouxe apenas memórias dolorosas. Sua família havia sido destronada em 1861 e o Reino das Duas Sicílias fora anexado àquilo que se tornaria o unificado Reino da Itália. Todos os que havia conhecido durante sua juventude em Nápoles haviam ido. Como escreveu em 1872: "Não sei dizer a impressão que eu tive em ver de novo, após 28 anos, a minha pátria e não encontrar as pessoas de quem gostava".[53]
A imperatriz continuou a ser obstinada mesmo após anos de casamento. Pedro revelou em uma carta escrita a Condessa de Barral no início de 1881 que "A lembrança dos brincos que me fala, tem sido causa de muita briga de alguém [Teresa Cristina] que pensa ter tido eu culpa no desaparecimento deles". Seu genro Gastão escreveu uma carta contando como ela quebrou acidentalmente seu braço em outubro de 1885: "Na segunda-feira, dia 26, ao passar pela biblioteca quando ia jantar com o imperador que, como de costume, caminhava alguns passos à frente dela (e com quem, presumo pelo que ela nos contou, ela estava discutindo, como faz às vezes), prendeu o pé num fichário sob uma mesa e caiu de frente". Mesmo assim, Teresa Cristina amava incondicionalmente o marido, como demonstrou a sua aflição quando ele ficou doente no final de 1883.[45]
A sua rotina doméstica tranquila terminou abruptamente quando uma facção do exército se rebelou e depôs Pedro em 15 de novembro de 1889, mandando que toda a família imperial deixasse o Brasil.[54] Ao ouvir a ordem para partir, um oficial militar disse à imperatriz: "Resignação, minha senhora", por sua vez Teresa Cristina respondeu: "Sempre a tive, mas como não chorar tendo que deixar esta terra para sempre!".[55] De acordo com o historiador Roderick J. Barman, os "eventos de 15 de novembro de 1889 causaram-lhe um impacto tanto emocional quanto físico". A imperatriz amava o Brasil e seu povo. Ela não desejava nada mais do que terminar seus dias na terra que fizera sua. Com 66 anos de idade e sofrendo de asma cardíaca e artrite, enfrentava agora a perspectiva de acompanhar o marido num incessante deslocamento pela Europa, passando seus últimos anos virtualmente sozinha em aposentos estranhos e desconfortáveis".[56] Teresa Cristina esteve doente durante toda sua viagem até Lisboa, Portugal, chegando no dia 7 de dezembro.[57]
Morte
A chegada da família imperial a Lisboa coincidiu com as cerimônias de ascensão do rei D. Carlos I, e logo o governo português informou Pedro que a presença de um soberano deposto não era bem-vinda à capital naquele momento. Humilhados pela recepção,[58] o imperador e a imperatriz foram para a cidade do Porto enquanto Isabel e seus filhos partiram para a Espanha.[59]
A família imperial recebeu a 24 de dezembro a notícia oficial que haviam sido banidos para sempre do Brasil. Até aquele momento, fora pedido que eles partissem sem nenhuma indicação sobre quanto tempo teriam que ficar longe. A "notícia aniquilou a vontade de viver de D. Teresa Cristina". Pedro escreveu no seu diário, do dia 28 de dezembro: "Ouvindo a Imperatriz queixar-se fui ver o que era, está com frio e dor nas costas; mas não tem febre". Assim, o imperador saiu para passear pela cidade e visitar a biblioteca. A respiração de Teresa Cristina ficou cada vez mais pesada enquanto o dia passava e uma falha no seu sistema respiratório levou a uma paragem cardiorrespiratória às 14h daquele mesmo dia.[60]
Em seu leito de morte, ela disse a Maria Isabel de Andrade Pinto, Baronesa de Japurá e cunhada de Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré: "Maria Isabel, não morro de doença. Morro de dor e de desgosto",[61] as suas últimas palavras foram: "Sinto a ausência das minhas filhas e de meus netos. Não posso abençoar pela última vez o Brasil, terra linda … não posso lá voltar".[62] As ruas do Porto encheram-se de pessoas que se reuniram para assistir a procissão fúnebre.[63] O corpo de Teresa Cristina foi levado até a Igreja de São Vicente de Fora, perto de Lisboa e foi sepultada no Panteão dos Braganças, de acordo com o um pedido de Pedro.[64] Ele morreu dois anos depois e foi enterrado a seu lado.[65] Os restos mortais do casal foram posteriormente repatriados para o Brasil em 1921, sendo recebidos com grande pompa, e missas realizadas em memória dos imperadores.[66] O imperador e a imperatriz foram sepultados na Catedral de S. Pedro de Alcântara, em Petrópolis, numa cerimônia em 1939, que teve a presença do presidente Getúlio Vargas.[67]
As notícias de sua morte produziram um luto sincero no Brasil. O poeta e jornalista brasileiro Artur de Azevedo escreveu após sua morte sobre a visão geral tida sobre Teresa Cristina: "Eu nunca conversei com ela, porém sempre que passei ao seu lado respeitosamente tirei meu chapéu e me curvei, não para a Imperatriz, mas sim para a doce e honesta figura de uma burguesa pobre e quase humilde. Vi vários republicanos extremistas fazendo o mesmo". Ele continuou: "A ela chamaram de Mãe dos Brasileiros, e nós todos realmente lhe atribuímos uma espécie de veneração filial. Essa é a verdade".[68]
Jornais do Brasil também comentaram a sua morte. A Gazeta de Notícias relatou: "O que foi esta santa senhora, não precisamos repeti-lo. Sabe-o todo o Brasil que no golpe que feriu profundo o ex-imperador, lembrou-se de que era justa e universalmente proclamada a Mãe dos Brasileiros".[69] O Jornal do Commercio escreveu: "Quarenta e seis anos viveu Dona Tereza Christina [sic] na pátria brasileira que sinceramente amava, e durante tão largo tempo nunca, em parte nenhuma deste vasto país, foi pronunciado o seu nome senão entre louvores e frases de reconhecimento", concluindo que: "Ao lado do esposo, que foi largo tempo chefe da Nação brasileira, sua influência não constou jamais que fizesse sentir senão para o bem".[70]
Legado
Apesar da aparente indiferença de Pedro para com Teresa Cristina no início do casamento, o imperador sofreu muito com sua morte. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho: "mesmo com a decepção inicial que lhe causou a sua prometida, a falta de atracção por ela e as relações que teve com outras mulheres, mas, o facto de terem vivido 46 anos juntos desenvolveu um forte sentimento de amizade, de afecto e de grande respeito por ela, sentimentos que sua morte trouxe à tona".[71] Roderick J. Barman fez uma análise similar; segundo ele, apenas depois da morte da esposa é que Pedro "começou a apreciar sua atenção, sua amabilidade, sua abnegação e sua generosidade". Muitas vezes chamada de "minha santa" e considerada a mais virtuosa da relação, o imperador imaginava que seria no paraíso onde ela receberia o reconhecimento e as recompensas de tudo que ele não lhe havia conseguido dar em vida. Para Barman, a personalidade de santidade que Pedro conferiu a Teresa Cristina lhe assegurou o perdão por não tê-la tratado tão bem, além de lhe ter garantido uma protecção pela eternidade já que ela certamente interviria a seu favor.[72]
À Imperatriz
Corda que estala em harpa mal tangida, Assim te vás, oh doce companheira Da fortuna e do exílio, verdadeira Metade de minh'alma entristecida!
De augusto e velho tronco hastea partida E transplantada em terra brazileira, Lá te fizeste a sombra hospitaleira Em que todo infortúnio achou guarida.
Feriu-te a ingratidão, no seu delírio; Cahiste, e eu fico a sós, neste abandono, Do seu sepulchro vacillante cirio!
Como foste feliz! Dorme o seu somno, Mãe do povo, acabou-se o teu martyrio, Filha de Reis, ganhaste um grande throno!
Teresa Cristina recebeu pouca atenção na história brasileira. O historiador Aniello Angelo Avella disse que a imperatriz, apelidada durante a vida de "Mãe dos Brasileiros", é uma figura "totalmente desconhecida na Itália e pouco estudada no Brasil". Em sua opinião, as poucas fontes existentes a relegam como tendo vivido "à sombra do marido, dedicando-se à educação das filhas Isabel e Leopoldina, aos assuntos domésticos, à caridade". A imagem resultante "é a de uma mulher de limitada cultura, apagada, silenciosa, que compensa com a bondade e as virtudes do coração a falta de maiores encantos físicos". Essa é a visão que ficou consagrada na história e na imaginação popular, mesmo não sendo uma representação verdadeira da imperatriz, que era uma mulher de boa educação, (como era devido às filhas de reis)[74] e voluntariosa de feitio e com interesses culturais que os fez valer no Brasil.
De acordo com o historiador Eli Behar, Teresa Cristina tornou-se notável "pela sua discrição, que a levou a manter-se afastada de qualquer movimento político, e por seu desvelo e caridade, que lhe valeram o cognome de 'Mãe dos Brasileiros'".[75] Uma opinião parecida vem de Benedito Antunes, que afirma que ela "era amada pelos brasileiros, que a definiram, pela sua discrição, como a 'Imperatriz Silenciosa', e 'a Mãe dos Brasileiros'". O Imperador também elogiou a Imperatriz pelo patrocínio do desenvolvimento cultural e científico: ela "promoveu a cultura de várias maneiras, trazendo da Itália artistas, intelectuais, cientistas, botânicos, músicos, e assim contribuindo para o progresso e enriquecimento da vida cultural da nação".[76] A historiadora Eugenia Zerbini comenta que o Brasil atualmente possui a maior coleção arqueológica da América Latina graças à Imperatriz Teresa Cristina.[77]
↑Otávio Filho, Rodrigo (1946). «A Princesa Isabel». Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 192: 121
↑Vanni, Julio Cezar (2000). Italianos no Rio de Janeiro: a história do desenvolvimento do Brasil partindo da influência dos italianos na capital do Império. Rio de Janeiro: Editora Comunità. pp. 41–42. ISBN85-88008-01-7
↑Rodrigues, Ana Cristina Campos (10 de novembro de 2009). «Os Mapas do Imperador: a catalogação e identificação da Cartografia da Coleção Teresa Cristina Maria». Universidade Federal de Minas Gerais
Barman, Roderick J. (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford: Stanford University Press. ISBN978-0-8047-3510-0
Barman, Roderick J. (2002). Princess Isabel of Brazil: Gender and Power in the Nineteenth Century. Wilmington: Scholarly Resources Inc. ISBN978-0-8420-2846-2
Behar, Eli (1980). Vultos do Brasil: biografias, história e geografia. São Paulo: Hemus. ISBN978-85-289-0006-4
Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II. Rio de Janeiro: J. Olympio Editora
Cenni, Franco (2003). Italianos no Brasil: "Andiamo in 'Merica" 3ª ed. São Paulo: UNESP. ISBN978-85-314-0671-3
Defrance, Olivier (2007). La Médicis des Cobourg, Clémentine d’Orléans. Bruxelas: Racine. ISBN2-87386-486-9
Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870). 1. Belo Horizonte: Itatiaia
Longo, James McMurtry (2008). Isabel Orleans-Bragança: The Brazilian Princess Who Freed the Slaves. Jefferson: McFarland & Company, Inc. ISBN978-0-7864-3201-1
Zerbini, Eugenia (2007). «A imperatriz invisível». Rio de Janeiro: SABIN. Revista de História da Biblioteca Nacional. 2 (17). ISSN1808-4001. Consultado em 22 de dezembro de 2014. Arquivado do original em 15 de março de 2015