Criado no Brasil durante o reinado de seu avô, o imperador D. Pedro II, o príncipe Luís foi exilado junto com sua família após a Proclamação da República de 1889. Completou seus estudos na França na École Saint-Jean de Versalhes e depois no Stanislas College.
Muito cedo revelou interesse pelas letras que, ao se tornar adulto, faria-o dedicar-se a escrever diversas obras que mais tarde publicou relatando suas experiências de viagens: Dans les Alpes, Tour d´Afrique, Onde quatro impérios se encontram, Sob o Cruzeiro do Sul.[6] Destacado entres os irmãos como o mais estudioso, sua educação incluía escrita, leitura, história, geografia, ciências naturais, desenho, aritmética, álgebra e linguística, em português, francês, e alemão.[7]
Luís em 1893.
Luís, de natureza irrequieta, a necessidade e ação que, nos anos juvenis, o impelia a esportes impulsionou-o, na maturidade, à ação política.[8] Não sendo a toa que no auge da campanha abolicionista, ele e seus irmãos publicavam um jornal abolicionista no Palácio de Petrópolis.[9]
Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a família imperial se viu numa situação financeira muito complicada, que piorou com a recusa de Dom Pedro II de cinco mil contos de ajuda de custo oferecidos pelos golpistas.[10] Resolveram fixar-se nos arredores de Versalhes em 1890, quando Luís tinha treze anos.
Vida adulta
Em 1907 Luís planejou um projeto ambicioso que seria desafiar o decreto de banimento da família imperial, viajando para o Rio de Janeiro.[11] sua chegada tendo sido noticiado em alguns jornais, o episódio alcançou grande repercussão entre monarquistas, colocando os descendentes da família imperial no centro das atenções e muitos monarquistas vieram recebê-lo.[8] No entanto, Luís foi impedido de desembarcar, e não lhe foi permitido pisar sua terra natal pelo governo republicano. Inclusive enviou um telegrama à sua mãe, dizendo: "Impedido de desembarcar pelo governo, saúdo, da baía da Guanabara, na véspera do 13 de Maio, a redentora dos cativos." Algum tempo depois, relatou as experiências dessa viagem em "Sob o Cruzeiro do Sul", publicado em 1913.[8]
Casamento
Luís e sua esposa, Maria Pia.
Depois de um longo périplo pela Argentina, Chile e Peru, Luís voltou à França, ao encontro dos pais e irmãos. Em 1903, quanto tinha 25 anos, começou a pensar em casamento e a visitar os parentes, entre os quais os "Caserta", como eram conhecidos os Bourbon-Sicília. A família Caserta era numerosa, o casal tinha tido doze filhos, oito meninos e quatro meninas, das quais a princesa Maria Pia era a terceira. Inteligente e bonita, com cabelos negros de azeviche e seus olhos azuis pervinca, tinha a mesma idade de Luís. Entretanto, eles deveriam passar por uma prova de paciência. O irmão mais velho de Luís, Pedro de Alcântara, herdeiro da princesa Isabel, tinha, por sua vez, conhecido a jovem condessa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz. Na época, as leis das famílias reinantes eram restritivas e formais. O herdeiro de um trono só podia casar-se com uma princesa de sangue real. Sua mãe, Dona Isabel, se opôs a esse casamento. Nessa altura, o Conde d'Eu apresentava uma proposta ao Duque de Orléans, que este concedesse aos descendentes da família imperial brasileira o direito de sucessão no trono francês, perdidos pelo Conde d'Eu quando se casara com Dona Isabel; em troca, um de seus filhos renunciaria aos eventuais direitos ao trono do Brasil, evitando que os descendentes da família imperial brasileira viessem a ocupar a Chefia da Casa Real francesa. Supunha-se que Luís apresentasse sua renúncia aos direitos brasileiros, mas como este se negasse a fazê-lo, o Conde d'Eu acabou por propô-la ao primogênito em troca da licença para casar com a condessa Elisabeth de Dobrzenicz. Luís casou-se com a princesa Maria Pia das Duas Sicílias em 4 de novembro de 1908, na igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, em Cannes; e Pedro de Alcântara casou-se, em 14 de novembro de 1908, com a condessa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz, na igreja de Versalhes, renunciando a seus eventuais direitos ao trono do Brasil.[12][13]
Do matrimônio de Luís com Maria Pia nasceram três filhos: Pedro Henrique (1909-1981); Luís Gastão (1911-1931) e Pia Maria (1913-2000). A princesa Isabel não tardou a manifestar sua opinião quanto aos netos, escrevendo em 1914 uma carta dizendo: "envio-lhe uma fotografia minha com meus netos do Luís. Pedro Henrique cada vez se desenvolve mais e é criança inteligentíssima. Os avós têm um amor especial pelos queridos netinhos".[11][14]
Atuação política
Luís em 1909
Com a renúncia do irmão, Luís pôde finalmente colaborar efetivamente com o movimento monarquista brasileiro, assumindo claramente sua posição como pretendente ao trono (após sua mãe) e buscando assumir a liderança da campanha restauradora.[15] Seu esforço para reverter todo o mal causado pela inércia da família imperial quanto à causa monárquica foi de grande valia, e em 1909 apresentou um manifesto político aos monarquistas brasileiros que tinha por objetivo retomar a campanha que estava estagnada havia anos. Seu intentou logrou sucesso, pois conseguiu reunir correligionários em diversos estados do Brasil.[16] Algumas das cartas de Luís revelam seus planos de restauração, como a escrita para Martim Francisco de Andrada III:[17]
[…]"quanto me custa ficar aqui, de braços cruzados, quando penso que um punhado de homens decididos bastaria para arrancar a Pátria das garras dos aventureiros que a exploram.""Ainda não sei qual será a sua atitude na questão das candidaturas. Quanto a mim, julgo ambos os candidatos 'indesejados'; mas a ter de optar, optaria pelo Rui [Barbosa], cujos partidários representam o elemento mais são e de maior prestígio no país. Parece-me mesmo que poderíamos aproveitar o momento para um acordo com os próceres desse grupo, a fim de conseguirmos um esforço comum pela restauração, logo após as eleições presidenciais. Que lhe parece?"
Atuou de 1907 até 1920, e defendia o federalismo, o serviço militar obrigatório e uma melhoria na qualidade de vida dos operários. No primeiro caso, era a favor de uma maior descentralização e liberdade política e econômica para os estados brasileiros. No segundo, refutava o antigo costume de alistamento das forças armadas baseado em indivíduos provenientes das camadas sociais marginalizadas em favor de uma força militar verdadeiramente profissional formada por elementos de toda a sociedade. O terceiro e mais importante caso era a pregação de uma monarquia amparada numa legislação social que possibilitasse melhores condições de vida para os operários brasileiros.[18] Em carta expôs seus pensamentos:
"Quanto a nós, monarquistas, devemos convencer o operário da verdade de que, no caso de uma restauração, a sua situação só poderia melhorar."
Luís defendia ideias muito a frente de seu tempo e a necessidade de garantir condições dignas de subsistência para os trabalhadores brasileiros seria observada somente trinta anos depois na ditadura de Getúlio Vargas. No início do século XX, tanto o governo quanto os políticos brasileiros sequer admitiam a possibilidade de existência de direitos básicos como férias, greve, horas máximas semanais de trabalho, entre outros. A visão progressista de Luís o fazia ser acusado de "radical" e "socialista" quando na realidade seu intento era justamente impedir a adesão do operariado ao socialismo, comunismo ou mesmo ao anarquismo.[18][19]
Em agosto de 1914 se iniciou a Primeira Guerra Mundial, que na época foi conhecida como "A Grande Guerra". Em 1915, combatendo nas trincheiras de Flandres e servindo como oficial de ligação, Luís passou a manifestar um tipo agressivo de reumatismo ósseo que o deixou debilitado e incapaz de andar.[11] Foi retirado em estado grave das trincheiras e levado para segurança, a fim de poder recuperar-se da moléstia. A grave doença contraída nas trincheiras resistiu a todas as formas de tratamento e sua saúde foi piorando cada vez mais, até que a morte o levasse em 26 março de 1920.[11]
Falleceu, inesperadamente, em Cannes, D. Luiz de Orléans e Bragança,- falleceu no exilio onde purgava o crime de ser neto de Pedro Segundo. Herdara as qualidades do avô, sua nobreza d'alma, seu coração, seu amor ás letras. Deixou na memoria de quantos o conheceram a marca indelevel que só consegue imprimir a creatura eleita da elevação moral; e na memoria de quantos o leram, a admiração por um talento de escol. Tentou, mas não conseguiu, pisar a terra da sua patria. O republicanismo ridiculo de Affonso Penna barrou-lhe o passo. Tentou, mas não conseguiu, penetrar na Academia de Letras. Essas duas mesquinharias, porém, só conseguiram amesquinhar o governo e a Academia. Um perdeu optima occasião de mostrar largueza de vistas; outra, a melhor opportunidade de homenagear o seu verdadeiro creador, Pedro Segundo. D. Luiz foi mantido no exilio porque não cabia cá. Não cabia da mesma fórma que não cabe aqui a Princesa Isabel, essa megera que assignou a lei aurea, nem o Conde d'Eu, esse máo homem que pos fim á Guerra do Paraguay. A República é coherente. Feita para uso e goso duma mediocracia rapinante, recebe de braços abertos os Caillaux e os Bolo-Pachá, mas não permite desembarque aos grandes expoentes da Honra, do Brio, da Intelligencia e da Grandeza d'alma. A presença delles envergonharia o nosso barrete phrygio...[20]
Desconhecido pelos brasileiros atualmente, tendo sido um exemplo de cavalheirismo e seu amor por sua terra natal foi demonstrado em todos os momentos possíveis, ainda mais depois que assumiu a posição de herdeiro da mãe em 1908, envolvendo-se publicamente na campanha de restauração do trono no Brasil e tomando parte ativa nos movimentos monarquistas até a Primeira Guerra Mundial.[8]
Suas ideias inovadoras, como a inclusão da questão social com maiores direitos à classe operária e melhor qualidade de vida para os brasileiros na agenda política, numa época em que era considerada "caso de polícia" pelos governantes da República Velha, lhe renderam o epíteto de "príncipe perfeito".[6]
↑MARTINS, Luís. O patriarca e o bacharel. 2.ed. São Paulo: Alameda, 2008, p.148
↑ abBR História, nº 4, Year 1, Duetto, 2007, p.31 e p.33
↑BR História, edição nº 4, Ano 1. Duetto, 2007, pg.35
↑REVISTA do Brasil: publicação mensal de sciencia, letras, artes, historia e actualidades. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, v. 14, n. 5, maio 1920 Summario.