Francisca perdeu sua mãe, D. Maria Leopoldina, com menos de três anos de idade. Aos sete anos, ela viu o pai, D. Pedro I do Brasil (Pedro IV de Portugal), sua madrasta (Amélia de Leuchtenberg) - que havia se casado com D. Pedro I em 1829 -,[3][4] e sua irmã mais velha (a futura Maria II de Portugal) partirem para Lisboa - tanto Francisca quanto os irmãos Pedro e Januária nunca mais veriam o pai.[5]
Francisca cresceu ao lado dos irmãos D. Pedro de Alcântara (posteriormente imperador D. Pedro II do Brasil), Paula Mariana e Januária, sob a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva, diplomata, erudito, filósofo e poeta brasileiro, nomeado guardião pelo pai das crianças imperiais.[6] Os irmãos foram criados tanto na etiqueta, quanto em línguas, cultura em geral e tudo mais. E era uma educação muito centrada, muito regrada.[7] Era conhecido que tanto D. Francisca quanto sua irmã mais velha D. Januária teriam aprendido a cozinhar, bem como, juntamente com o irmão D. Pedro, brincavam no pequeno teatro criado para elas em São Cristóvão, onde representavam e declamavam peças, bem como brincavam de rezar missas, onde a princesa D. Francisca revestia-se de padre, sua irmã e seu irmão eram acólitos.[8]
Casamento e vida na França
A princesa Francisca casou-se com o príncipe francês Francisco de Orleães, terceiro filho do rei dos franceses Luís Filipe I de França e Maria Amélia de Nápoles e Sicília, tia de D. Leopoldina e tia-avó de D. Francisca.[10] O casamento aconteceu no Rio de Janeiro em 1 de maio de 1843. A noiva tinha dezenove anos e o noivo vinte e cinco. A Baronesa de Langsdorff, companheira de Francisca, foi a encarregada dos preparativos do casamento.[9]
De acordo com o contrato de casamento, o dote da noiva era estimado em um milhão de francos, além de 25 léguas quadrads de terra no estado de Santa Catarina no Brasil.[11] A fortuna pessoal da noiva, que não estava incluída no dote, era de 25 000 francos, além de uma herança de diamantes que totalizava 200 000 francos.
Após o casamento, recebeu o título de "Sua Alteza Real, Francisca, Princesa de Joinville".
A princesa causou uma boa impressão em todos. Conhecida na corte francesa La belle Françoise (A bela Francisca), aos dezenove anos, Francisca foi descrita por um embaixador francês:
«Ela é alta e muito elegante; sua expressão é amável e a vivacidade de sua formosura nada fica a dever a sua dignidade. A princesa tem cabelos louros, olhos muito escuros e ligeiramente afastados e um olhar doce muito agradável. Sua fronte talvez seja proeminente em demasia, mas toda a parte inferior do rosto e da boca possui uma expressão sedutora.»[12]
O casal se estabeleceu em Paris, onde a princesa era considerada uma das mais belas aristocratas, e todo o mundo metropolitano admirava sua alegre espontaneidade. À noite, ao contrário de outros membros da família real, os noivos gostavam de visitar cafés, restaurantes e teatros, e de manhã preferiam passear a cavalo pelo Bois de Boulogne. O príncipe de Joinville, assim como a esposa, era um bom aguarelista, tendo até mesmo produzido uma tela da mulher montando em cavalo.[9] Ainda na corte francesa, Francisca tornou-se amiga de uma fidalga brasileira casada com um nobre francês, Luísa Margarida de Barros Portugal, Condessa de Barral.[13]
Todavia, em 1848, a monarquia foi extinta na França, e os Orléans seguiram para o exílio. Dotada de espírito combativo, D. Francisca negociou com vigor com os republicanos a fuga de sua família. Exilou-se em Claremont, Inglaterra, e manteve uma intensa troca de correspondência com seu irmão no Brasil. Com dificuldades financeiras, os príncipes de Joinville negociaram as terras catarinenses com a Companhia Colonizadora Alemã, do senador Christian Mathias Schroeder, rico comerciante e dono de alguns navios. Assim nasceu a Colônia Dona Francisca, mais tarde Joinville, atualmente a maior cidade do estado de Santa Catarina.
Tratada carinhosamente como "Mana Chica" por D. Pedro II, D. Francisca, que sempre foi íntima do irmão, alertava-o e defendia medidas enérgicas contra o crescimento do republicanismo no Brasil. Em 1864, ela enviou os príncipes Gastão de Orléans, Conde d'Eu, e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota para o Brasil, onde se casariam com suas sobrinhas, D. Leopoldina e D. Isabel, respectivamente. Entretanto, os casais preferiram inverter a orientação familiar, casando-se o Conde d'Eu com a princesa Isabel, e o príncipe Luís Augusto com a princesa Leopoldina;[14] o próprio filho de Francisca, Pedro, Duque de Penthièvre, já havia sido considerado como potencial noiva para uma das primas brasileiras.[15] Sempre íntima do irmão imperador, Francisca tinha até mesmo o influenciado uma década antes a contratar a Condessa de Barral, que conhecera na França, como preceptora das princesas Isabel e Leopoldina.[16][17]
Entretanto, após a queda da Napoleão III e do Segundo Império Francês em 1870, em decorrência da Guerra Franco-Prussiana, a família Orléans retornou à França; Francisca faleceu em Paris aos 73 anos. Seu marido sobreviveu por mais dois anos, falecendo em Paris em 1900. Ambos estão enterrados na Capela real de Dreux.[10] Em seus últimos anos, Francisca testemunhou a queda do Império do Brasil, em 1889, e o exílio do irmão D. Pedro II.
Legado
O seu diário da viagem durante seu translado do Brasil para à França foi posteriormente publicado por Victorine Emilie, a Baronesa de Langsdorff, encarregada de preparar o casamento do filho do rei dos franceses coma princesa brasileira.[18]
Em Joinville, cidade que foi nomeada em homenageada a Francisca e o marido, pode se encontrar, na Rua das Palmeiras, uma réplica do busto da princesa, produzido originalmente em bronze pelo pelo artista alemão Fritz Alt.[19][20] Ainda em Joinville, também conhecida como "a Cidade dos Príncipes", uma das ruas mais movimentadas da cidade também carrega o nome da princesa de Joinville, ligando o Centro à zona Norte.[21]
↑[Monumento a Dona Francisca : Joinville, SC] - Série: Acervo dos municípios brasileiros. Página no site oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Barman, Roderick J. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891: [em inglês.]. — Stanford, California: Stanford University Press, 1999. — P. 26, 41. — 548 p. — ISBN 978-0-8047-3510-0.
Bragança, Carlos Tasso de Saxe-Coburgo. «A Princesa Leopoldina». Revista do Instituto Historico e Geografico Brasileiro. — 1959. — P. 73—78. — 243 p.
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Longo, James McMurtry. Isabel Orleans-Bragança: The Brazilian Princess Who Freed the Slaves: [em inglês.]. — Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, 2008. — P. 70. — ISBN 978-0-7864-3201-1.
Lyra, Heitor. História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascenção (1825–1870). — Belo Horizonte, 1977. — P. 17—19.
Macaulay, Neill. Dom Pedro: The Struggle for Liberty in Brazil and Portugal, 1798–1834.: [em inglês.]. — Durham, North Carolina: Duke University Press, 1986. — P. 235, 252—259. — 365 p. — ISBN 978-0-8223-0681-8.