O dialeto paulistano é conhecido por englobar termos e palavras oriundas dos diversos idiomas falados por seus imigrantes, sendo tais termos inseridos gradualmente no português brasileiro e transferidos para outros dialetos deste idioma.
É fato conhecido que o dialeto paulistano adquiriu características dos idiomas de imigrantes europeus, que começaram a chegar à cidade nas últimas décadas do século XIX.
Mais de 70% dos italianos que vieram para o Brasil se fixaram no estado de São Paulo, principalmente na capital paulista.[1] No início do século XX, o italiano e seus dialetos eram tão falados quanto o português na cidade. A fala dos imigrantes fundiu-se à dos locais (dando origem a subdialetos no dialeto próprio da cidade de São Paulo. Bairros como os da Mooca e Bixiga, tradicionais por terem recebido muitos imigrantes no passado, preservam até hoje muitos termos e expressões típicas do norte da Itália.
Vale lembrar que imigrantes árabes (sírios e libaneses), japoneses, espanhóis e portugueses, também tiveram grande importância no desenvolvimento do falar paulistano, agregando novos termos ao dialeto local, embora tendo pouco impacto sobre o soar do dialeto paulistano, assim como se deu com a integração do italiano ao dialeto local. O livro "Brás, Bexiga & Barra Funda", de Alcântara Machado, os sambas de Adoniram Barbosa e Demônios da Garoa e os poemas modernistas de Juó Bananere, retrataram historicamente a influência italiana sobre o dialeto Paulistano/Paulista.
Principais características
Palatalização de /di/ e /ti/, como na maior parte dos dialetos do português falados no Sudeste, a exemplo dos dialetos carioca, fluminense, mineiro e algumas variantes do dialeto caipira: "tio" [ˈtʃiw] e "dia" [ˈdʒiɐ].
Nesse dialeto as fricativas /s/ e /z/ nunca são palatalizadas, ocorrendo até mesmo em caso de virem na frente de consoantes alveolares e dentais (/d/ e /t/), à semelhança do que ocorre com os dialetos mineiro, caipira, sertanejo, brasiliense e sulista: "isto" [ˈistu] e "desde" [ˈdezdʒi].
É frequente o uso do "r" surdo (/ɾ/) assim como ocorre nos dialetos sertanejo e sulista, ao contrário do que ocorre nos dialetos carioca, nortista e nos chamados Dialetos do Nordeste brasileiro, especialmente o cearense e o baiano, o que proporciona a um falante da língua portuguesa de outras regiões perceber um paulista falar como se estivesse "emendando uma ou sílaba ou até uma palavra na outra": "carta" [ˈkaɾtɐ].
A pronuncia do "s" é implosiva tal qual na maioria dos dialetos brasileiros (e em contraste forte com o "s" chiante" do dialeto carioca).[2] Exemplo: véspera [ˈvɛspeɾa].[3]
As palavras "átonas", como as preposições, os artigos e os pronomes oblíquos ficam unidas na forma de palavra fonológica: administração pública [aʤɪministɾaˈsɐ͂ʊ̃ ˈpublika]; vale-refeição [ˈvalɪ xefeɪˈsɐ͂ʊ̃]; ir para-os-ares [ˈiɾ paɾaʊˈzaɾɪs]; espreguiçar-se [ɪspregiˈsaɾsɪ].
O "o" tônico seguido de consoante nasal não vira nasal como nos outros dialetos do português brasileiro, coisa que faz com que, às vezes, seja pronunciado como vogal aberta.[4] Exemplo: homem [ˈɔmẽĩ] (vs. [ˈõmẽĩ] no padrão geral brasileiro).
↑GALASTRI, Eliane de Oliveira. "Guia para a transcrição fonética do dialeto paulista." Tese de Doutorado. Araraquara: Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), 2014.