Em matemática, a variação quadrática é usada na análise de processos estocásticos, como o movimento browniano e outros martingales. A variação quadrática é só mais um tipo de variação de um processo.
Suponha que X t {\displaystyle X_{t}} é um processo estocástico de valores reais definido em um espaço de probabilidade ( Ω , F , P ) {\displaystyle (\Omega ,{\mathcal {F}},\mathbb {P} )} e com um índice de tempo t {\displaystyle t} que varia entre os números reais não-negativos. Sua variação quadrática é o processo, escrito como [ X ] t {\displaystyle [X]_{t}} , definido como
em que P {\displaystyle P} varia entre as partições do intervalo [ 0 , t ] {\displaystyle [0,t]} e a norma da partição P {\displaystyle P} P é a malha. Este limite, se existe, é definido usando a convergência de variáveis aleatórias. Note que um processo pode ser de variação quadrática finita no sentido da definição dada aqui e seus caminhos podem ser, não obstante, quase certamente de variação quadrática infinita para todo t > 0 {\displaystyle t>0} no sentido clássico de tomar o supremo da soma de todas as partições; este é particularmente o caso do movimento browniano.
Mais geralmente, a covariância (ou variância cruzada) de dois processos X {\displaystyle X} e Y {\displaystyle Y} é
A covariância pode ser escrita em termos de variação quadrática pela identidade de polarização:
Diz-se que um processo X {\displaystyle X} tem variação finita se tiver variação limitada para cada intervalo de tempo finito (com probabilidade 1). Tais processos são muito comuns e incluem, particularmente, todas as funções continuamente diferenciáveis. A variação quadrática existe para todos os processos de variação contínua e finita e é zero.
Esta afirmação pode ser generalizada a processos não-contínuos. Qualquer processo de variação finita càdlàg X {\displaystyle X} tem variação quadrática igual à soma dos quadrados dos saltos de X {\displaystyle X} . Para afirmar isto mais precisamente, o limite à esquerda de X t {\displaystyle X_{t}} referente a t {\displaystyle t} é denotado por X t − {\displaystyle X_{t-}} e o salto de X {\displaystyle X} no tempo t {\displaystyle t} pode ser escrito como Δ X t = X t − X t − {\displaystyle \Delta X_{t}=X_{t}-X_{t-}} . Então, a variação quadrática é dada por
A prova de que processos de variação finita e contínua têm variação quadrática zero segue da seguinte desigualdade. Aqui, P {\displaystyle P} é uma partição do intervalo [ 0 , t ] {\displaystyle [0,t]} e V t ( X ) {\displaystyle V_{t}(X)} é a variação de X {\displaystyle X} sobre [ 0 , t ] {\displaystyle [0,t]} .
Pela continuidade de X {\displaystyle X} , este desaparece no limite conforme ‖ P ‖ {\displaystyle \Vert P\Vert } vai a zero.
A variação quadrática de um movimento browniano padrão B {\displaystyle B} existe e é dada por [ B ] t = t {\displaystyle [B]_{t}=t} . Isto se generaliza a processos de Itō que, por definição, podem ser expressos em termos de integrais de Itō
em que B {\displaystyle B} é um movimento browniano. Qualquer processo como tal tem variação quadrática dada por
É possível mostrar que variações e covariâncias quadráticas de todos os semimartingales existem. Eles formam uma parte importante da teoria do cálculo estocástico, aparecendo no lema de Itō, que é a generalização da regra da cadeia da integral de Itō. A covariância quadrática também aparece na fórmula de integração por partes.
que pode ser usada para computar [ X , Y ] {\displaystyle [X,Y]} .
De outra forma, isto pode ser escrito como uma equação diferencial estocástica:
em que d X t d Y t = d [ X , Y ] t . {\displaystyle \,dX_{t}\,dY_{t}=\,d[X,Y]_{t}.}
Todos os martingales càdlàg e martingales locais têm variação quadrática bem definida, que segue do fato de que tais processos são exemplos de semimartingales. Pode ser mostrado que a variação quadrática [ M ] {\displaystyle [M]} de um martingale localmente quadrado integrável é o único processo contínuo à direita e crescente a partir de zero, com saltos Δ [ M ] = Δ M 2 {\displaystyle \Delta [M]=\Delta M^{2}} , tal que M 2 − [ M ] {\displaystyle M^{2}-[M]} é um martingale local. Uma prova da existência de [ M ] {\displaystyle [M]} (sem uso de cálculo estocástico) é dada em Karandikar-Rao.[2]
Um resultado útil para martingales quadrado integráveis é a isometria de Itō, que pode ser usada para calcular a variância de integrais de Itō,
Este resultado se mantém sempre que M {\displaystyle M} for um martingale quadrado integrável càdlàg e H {\displaystyle H} for um processo previsível limitado, sendo frequentemente usado na construção da integral de Itō.
Outro importante resultado é a desigualdade de Burkholder-Davis-Gundy, que dá limites ao máximo de um martingale nos termos da variação quadrática. Para um martingale local M {\displaystyle M} começando em zero, com máximo denotado por M t ∗ ≡ sup s ≤ t | M s | {\textstyle M_{t}^{*}\equiv \sup _{s\leq t}|M_{s}|} e qualquer número real p ≥ 1 {\displaystyle p\geq 1} , a desigualdade é
Aqui, c p < C p {\displaystyle c_{p}<C_{p}} são constantes que dependem da escolha de p {\displaystyle p} , mas não do martingale M {\displaystyle M} ou do tempo t {\displaystyle t} usado. Se M {\displaystyle M} for um martingale local contínuo, então a desigualdade de Burkholder-Davis-Gundy se mantém para qualquer p > 0 {\displaystyle p>0} .
Um processo alternativo, a variação quadrática previsível, é usado às vezes para martingales localmente quadrado integráveis. É escrita como ⟨ M ⟩ t {\displaystyle {\langle M\rangle }_{t}} e definida como sendo o único processo previsível contínuo à direita e crescente a partir de zero, tal que M 2 − ⟨ M ⟩ {\displaystyle M^{2}-\langle M\rangle } é um martingale local. Sua existência segue do teorema da decomposição de Doob-Meyer e, para martingales locais contínuos, é igual à variação quadrática.