Cáceres, com o nome de Vila-Maria do Paraguai, em homenagem à rainha reinante de Portugal. No início, o povoado de Cáceres não passava de uma aldeia, centrada em torno da igrejinha de São Luís de França (Luís IX de França). A Fazenda Jacobina destacava-se na primeira metade do século XIX por ser a maior da província de Mato Grosso em termos de área e produção. Foi lá que Sabino Vieira, chefe da Sabinada, a malograda Conjuração baiana, refugiou-se e veio a morrer em 1846.[9]
O historiador Natalino Ferreira Mendes conta em seus livros que, em meados do século passado, Vila-Maria do Paraguai experimentou algum progresso, graças ao advento do ciclo da indústria extrativa, que tinha seus principais produtos no gado, na borracha e na ipecacuanha, o ouro negro da floresta, e à abertura da navegação fluvial.[9]
Em 1860, Vila-Maria do Paraguai já contava com sua Câmara Municipal, mas só em 1874 foi elevada à categoria de cidade, com o nome de São Luiz de Cáceres, em homenagem ao padroeiro e ao fundador da cidade.[10] Em 1938, o município passou a se chamar apenas Cáceres. Em fevereiro de 1883, foi assentado na Praça da Matriz, atual Barão do Rio Branco, o Marco do Jauru, comemorativo do Tratado de Madrid, de 1750. Junto com a Catedral de São Luís — cuja construção teve início em 1919, mas só foi concluída em 65 —, os dois monumentos estão até hoje entre os principais atrativos turísticos da cidade.[9]
Nesse período da história brasileira, as cidades acumulavam também o Poder Judiciário. E territorialmente, Cáceres abrangia toda a região sudoeste do Estado do Mato Grosso.[11]
A navegação pelo Rio Paraguai desenvolveu o comércio com Corumbá, Cuiabá e outras praças, e o incremento das atividades agropecuárias e extrativistas fez surgir os estabelecimentos industriais representados pelas usinas de açúcar e as charqueadas de Descalvados e Barranco Vermelho, de grande expressão em suas épocas.[9]
Em 1914, São Luís de Cáceres recebeu a visita do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que participava da Expedição Roosevelt-Rondon.[12] Conta-se que ele ficou encantado com o comércio local, cujo carro-chefe era a loja "Ao Anjo da Ventura", de propriedade da firma José Dulce & Cia, que também era dona do vapor Etrúria.[13] As lanchas que deixavam Cáceres com destino a Corumbá levavam poaia (ou ipecacuanha), borracha e produtos como charque e couro de animais e voltavam carregadas de mercadorias finas, como sedas, cristais e louças vindas da Europa.[9]
No início de 1927, Cáceres viveu dois acontecimentos marcantes: a passagem da Coluna Prestes por seus arredores, que provocou a fuga de muitos moradores, e o pouso do hidroavião italiano Santa Maria, o primeiro a sobrevoar Mato Grosso.[9][14][15]
A partir de 1950, as mudanças passaram a ser mais rápidas. No início dos anos 1960, foi construída a ponte Marechal Rondon, sobre o Rio Paraguai, que facilitou a expansão em direção ao noroeste do Estado.[16] A chegada de uma nova leva migratória,causada pelo desenvolvimento agrícola que projetou polo de produção no Estado e no pais, mudou o perfil de Cáceres, cuja ligação com a capital, Cuiabá, foi se intensificando à medida que melhoravam as condições da estrada ligando as duas cidades. É nesse período que ocorre a emancipação dos novos núcleos sócios-econômicos.[9]
Como cidade fundada no século XVIII, Cáceres possui inúmeros prédios e elementos arquitetônicos de alta relevância, teve parte do perímetro do centro do município tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2010. Além do Centro Histórico, foram tombadas fazendas, usinas, e sítios arqueológicos. Cáceres destaca-se, especialmente, por retratar em sua arquitetura diferentes fases vividas desde a colonização da América Portuguesa até os dias atuais, tendo desde edificações em perfeito estado de conservação, até prédios em estado avançado de degradação, seja por ação humana ou do tempo.[17][18][19]
Tipologia colonial
A Tipologia Colonial foi introduzida na América Portuguesa no período que vai de 1530 até 1830, importando e adaptando as correntes de estilo presentes na Europa à realidade de materiais, mão de obra e técnicas locais, utilizando taipa e adobe, sem grandes atributos decorativos, e apresentando batentes de portas e janelas de madeira larga, tendo função estrutural.[20]
Estilo neoclássico
Introduzido principalmente pela missão artística trazida por D. João VI em 1816, destacou-se como o estilo próprio do período monárquico brasileiro, porém sendo introduzido em Cáceres apenas no final do século XIX. Tem como principais características o pé-direito alto, colunas e frisos inspirados na Grécia e Roma antigas, portas e janelas com bandeira em arco, frontões, platibanda ocultando o telhado, e cimalhas. Este estilo destacou-se nas casas da elite local e nas casas comerciais locais.[20]
Inspiração neogótica
Popularizou-se no Brasil por volta de 1880, próximo ao final do reinado de D. Pedro II e procurava reviver as formas góticas medievais, em contraste com os estilos clássicos dominantes naquele período. Caracteriza-se pelo verticalismo dos edifícios, em substituição ao horizontalismo romântico, paredes mais leves e finas, janelas predominantes, torres ornadas por rosáceas, arco de volta quebrada, torres sineiras em forma de pirâmide, e abóbodas de arcos cruzados e ogivas. Em Cáceres, destaca-se a Catedral São Luiz enquanto exemplo deste estilo, numa tentativa de construir uma réplica da Notre Dame de Paris.[20]
Estilo eclético
Estilo do final do século XIX e primeiras décadas do século XX, trata-se de uma combinação de elementos de vários estilos arquitetônicos, que poderiam ser clássico, medieval, renascentista, barroca ou neoclássica, se caracterizando pelo excesso decorativo nas edificações. De modo geral, destacam-se a simetria, a busca pela grandiosidade, riqueza decorativa, janelas de três folhas, recuo entre a casa e a calçada, com jardim interno, inspirado nos palacetes da monarquia.[20]
Estilo Art Decó
Introduzido em Cáceres em meados do século XX, caracteriza-se pelo uso decorativo de linhas retas e horizontais, inclusive em zigue-zague, configurando zigurates, sendo um estilo bastante simplificado em aspectos decorativos, apresentando formas geométricas, filetes nas platibandas e a curva em evidência.[20]
Geografia
Apesar de ser considerada uma típica cidade pantaneira, Cáceres está situada dentro da Amazônia Legal, que compreende, além de todo o estado de Mato Grosso, mais 8 estados brasileiros (o Pantanal Norte, onde fica Cáceres, é chamado também de Pantanal Amazônico por estar totalmente inserido na Amazônia Legal).[21] O município se divide em quatro distritos: Cáceres/Sede, Santo Antonio do Caramujo, Horizonte D´Oeste e Vila Aparecida. (redação dada pela Lei Orgânica de Cáceres, Título I).[22]
Clima
Maiores acumulados de precipitação em 24 horas registrados em Cáceres por meses (INMET)[23][24]
Mês
Acumulado
Data
Mês
Acumulado
Data
Janeiro
124,6 mm
03/01/2009
Julho
54 mm
04/07/1971
Fevereiro
159 mm
11/02/2010
Agosto
71,6 mm
07/08/2003
Março
147 mm
23/03/2005
Setembro
67,6 mm
30/09/1945
Abril
102 mm
01/04/1958
Outubro
109,5 mm
10/10/1954
Maio
82,5 mm
07/05/1995
Novembro
121,3 mm
09/11/1999
Junho
65 mm
04/06/1944
Dezembro
124,6 mm
01/12/2003
Período: 1931-1966 e 01/08/1970-presente
O clima é tropical semiúmido, apresentando temperatura média anual de 26 °C. Possui duas estações bem definidas, uma chuvosa, entre outubro e abril, e outra seca, de maio a setembro. As temperaturas médias diminuem entre maio e julho. No inverno, as massas polares atingem com maior frequência a cidade, causando o fenômeno da friagem, fazendo a temperatura cair bruscamente. Casos de geadas são bastante raros.
O verão é quente e úmido, onde chove com frequência, não sendo raro registros de chuvas torrenciais e invernadas. Apesar de o verão ser quente, é entre agosto e outubro (no auge da estiagem) que se registram os valores mais elevados de temperatura, sendo frequentes temperaturas acima dos 37 °C e em alguns dias acima dos 40 °C. No final desta estação, o ar se torna muito seco, com umidade às vezes chegando próximo à casa dos 10%, e é neste período que as queimadas se alastram.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes ao período de 1931 a 1966 e a partir de 1970, a menor temperatura registrada em Cáceres foi de −1 °C em 29 de junho de 1996[23] e a máxima histórica é de 42,2 °C em 8 de outubro de 2020,[25] sendo que recorde anterior era de 42 °C em 4 de outubro de 1936.[24] O maior acumulado de precipitação em 24 horas atingiu 159 milímetros (mm) em 11 de fevereiro de 2010. Outros acumulados iguais ou superiores a 100 mm foram: 147 mm em 23 de março de 2005, 124,6 mm em 10 de dezembro de 2003 e 3 de janeiro de 2009, 121,3 mm em 9 de novembro de 1999, 121 mm em 22 de dezembro de 1998, 116,2 mm em 9 de dezembro de 1998, 110,8 mm em 17 de dezembro de 1962, 104,6 mm em 26 de janeiro de 1983 e 102,3 mm em 13 de fevereiro de 1961.[23] Desde abril de 2012, o menor nível de umidade relativa do ar (URA) chegou a 10% em setembro de 2020, nos dias 12 e 13, e a rajada de vento mais forte atingiu 22,3 m/s (80,3 km/h) em 11 de novembro de 2013.[25]
A pecuária é a principal atividade econômica da cidade, que possui um dos maiores rebanhos de gado do Brasil.[27]
Cáceres possui o único frigorífico de jacaré da América Latina, a COOCRIJAPAN, idealizada e fundada por Huberto Cezar de Moraes Machado. A estrutura conta com 3 criatórios comerciais, um frigorífico e um curtume.[28][29]
Com o apoio do Sebrae em Mato Grosso por meio do Projeto Animais Silvestres, objetivos vêm sendo obtidos para o desenvolvimento dessa atividade. O projeto iniciado em 2006, além de fomentar a atividade, tem capacitado os produtores, implementando novas tecnologias e principalmente a preservação do meio ambiente.[30]
Cáceres possui ainda indústrias de couro (abate diário de cinco mil cabeças de gado bovino em cinco frigoríficos, quinze laticínios e três curtumes),[31] cana-de-açúcar (duas usinas),[32][33] madeira (vinte e três mil hectares com plantação de teca e extração de borracha)[34] e mineral (calcário e brita).[35]
ZPE-MT de Cáceres (Zona de Processamento de Exportação)
A Zona de Processamento de Cáceres foi criada em 1990 através de Decreto presidencial, possui área de aproximadamente 247 hectares[36], e está dividida em cinco módulos operacionais e área administrativa. Foi alfandegada pela Receita Federal em Ato Declaratório em março de 2024 [37] e teve o início das operações aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em julho de 2024, sendo a terceira ZPE ativa do Brasil, juntando-se às ZPEs de Pecém, no Ceará, e de Parnaíba, no Piauí.[38]
As Zonas de Processamento de Exportações são áreas de livre comércio com o exterior destinadas à instalação de empresas com perfil voltado à exportação. As empresas que se instalam em ZPE têm acesso a tratamento tributário, cambial e administrativo específicos, e devem auferir 80% de sua receita bruta anual com exportações.[39]
Atualmente, o Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) analisa quatro propostas de projetos a serem instalados na ZPE, com foco em atividades industriais e de serviços direcionados à exportação. [38]
Infraestrutura
Nos últimos anos, Cáceres vem estruturando-se como importante porto fluvial mato-grossense, incorporando-se à política de Integração Latino-Americana, buscando a implantação do sistema de transporte intermodal, e a ligação por rodovia com a Bolívia, terminando no Oceano Pacífico, no Chile. A hidrovia Paraguai-Paraná, em Cáceres, é um modal alternativo às exportações estaduais.[40][41]
Religião
Cáceres: A religião em Cáceres é majoritariamente Católica Apostólica Romana. Cerca de 77,7% da população é Católica e 21,4% protestante. Os outros 0,9% pertencem as demais congregações. Note que essa percentagem é dividida entre a população que tem algum credo religioso.[42]
Cáceres se destaca no turismo histórico e esportivo. Encontra-se situada numa das regiões mais privilegiadas do pantanal mato-grossense, visto que ostenta uma das maiores potencialidades turísticas do estado, ou seja, a grandiosidade e a beleza do Rio Paraguai e seus afluentes. Se desenvolve em torno da pesca esportiva sendo sede de um evento mundial: o Festival Internacional de Pesca Esportiva (FIPe), registrado no Guinness Book como o maior campeonato de pesca do mundo em águas fluviais.[44][45]
↑ ab«Estimativa populacional 2024 IBGE». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 29 de agosto de 2024. Consultado em 23 de setembro de 2024
↑IBGE (10 de outubro de 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 5 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 11 de setembro de 2017
↑disse, Rota Bioceânica-O. que é e seus impactos diretos e indiretos- Ecoa (17 de abril de 2020). «Hidrovia Paraná-Paraguai». Ecoa. Consultado em 1 de maio de 2024