A família Canellaceae é nativa das regiões Afrotropical e Neotropical. São árvores de pequeno a médio porte, raramente arbustos, sempre-verdes e aromáticas.[9] As flores e os frutos são frequentemente vermelhos.
A família está dividida em cinco géneros,[11] mas estudos de sequência de ADN indicaram que alguns destes géneros deveriam ser divididos.[12]
Estes géneros juntos compreendem cerca de 25 espécies. Nas Grandes Antilhas, muitas destas espécies são raras e endémicas em pequenas áreas. A partir de 2008, foram reconhecidas mais cinco espécies.[12]
Morfologia
A características morfológicas comuns às Canellaceae são as seguintes:[11][12][13]
Hábito e caule
Em Canellaceae, os indivíduos são geralmente árvores perenes de pequeno ou médio porte, glabras, raramente arbustos. São altamente aromáticas, contendo óleos essenciais. Possuem câmbio de cortiça presente. Os tecidos vasculares primários se encontram em um cilindro, sem feixes separados. Não há floema interno nem feixes corticais e medulares. O espessamento secundário é desenvolvido a partir de um anel de câmbio convencional.[14][15]
Folhas
As folhas em Canellaceae são alternas, simples, espiraladas ou dispostas em arranjos. São persistentes, inteiras e com glândulas translúcidas pontilhadas. Estípulas são ausentes e a nervação é pinada.[14][15]
Flores
As flores em Canellaceae são geralmente vermelhas, encontradas solitárias ou agregadas em inflorescências, formando panículas ou racemos. Quando solitárias, são axilares. Quando agregadas, terminais ou axilares. São actinomorfas, geralmente trímeras, cíclicas ou parcialmente acíclicas (quando parcialmente acíclicas, o perianto é acíclico, ou seja, as pétalas). Hipanto ausente. Disco hipógino ausente. O perianto possui cálice e corola distintos, ou sequencialmente integrando de sépalas a pétalas (dependendo se os três membros externos espessos, coriáceos e persistentes são interpretados como sépalas ou brácteas). As pétalas são delgadas e as três (raramente 2) sépalas são grossas, coriáceas e imbricadas. Em Canellaceae, as flores são hermafroditas. O androceu é 6-12 (principalmente), ou 35-40 (em Cinnamosma). Há membros em que o androceu é livre do perianto. Estames 6-12 ou 35-40 (em Cinnamosma), sendo todos férteis. As anteras são bitecadas, com dois esporângios por teca, fixas no exterior do tubo estaminal, e sésseis. O gineceu é sincárpico, 2-6 carpelos, com pistilo unicelular. O ovário é súpero, unilocular. Apenas um estilete, apical, curto e grosso, e um estigma. 2-6 lóbulos. A placentação é parietal, sendo que os óvulos (6-100) ficam em cavidade única, horizontal ascendente, em uma linha simples ou dupla em cada placenta. São hemianátropo ou campilótropo, bitegumentados e crassinucelados. Núcleos polares com fusão antes da fertilização. Sinérgides em forma de pêra.[14][15]
O pólen ocorre em mónadas, e é delicado e monossulcado (geralmente com 10% do grão tricotomosulcado); as aberturas são distais, exina, geralmente tectadas, e granulares, intectadas e reticuladas em Cinnamosma; os grãos são pequenos e pouco ornamentados em Cinnamodendron e Warburgia, maiores e mais bem decorados em Canella e Pleodendron. O pólen é geralmente semelhante ao das Myristicaceae, o que fez com que alguns sistematas de plantas acreditassem que as duas famílias estavam intimamente relacionadas.
Frutos e sementes
O fruto em Canellaceae geralmente é de cor avermelhada, possui o formato de baga, com cálice persistente.
Sementes (2-100), endospérmicas e oleosas. O tegumento tem idioblastos oleosos. O endosperma é abundante e oleoso. O embrião é pequeno, bem diferenciado, reto ou ligeiramente curvado, com 2 cotilédones. A micrópila em ziguezague.[14][15] As sementes têm apenas exotesta (a camada externa da testa); o tegmen (a camada interna da testa) está colapsado. O revestimento da semente tem idioblastos oleosos; o endosperma é abundante e oleoso (ruminado em Cinnamosma).
As sinapomorfias para Canellaceae incluem estames monadelfos, placentação parietal e óvulos campilotrópicos.[12] Outros traços notáveis incluem as lenticelas conspícuas, a casca aromática, o sabor apimentado das folhas, as três (raramente duas) sépalas carnudas, e a baga com sementes reniformes.[12]
Algumas fontes indicam que Cinnamodendron tem 20-40 estames, ao contrário das fontes que aqui são consideradas fiáveis. Os números muito grandes de estames (20 a 40), são provavelmente contagens de tecas ou microsporângios.
No Brasil, a família Canellaceae não é endêmica. É encontrada na Mata Atlântica, tendo presença confirmada no Sul e Sudeste. Dos 5 gêneros descritos, apenas 1 gênero é encontrado em território nacional; Cinnamodendron. Deste, 4 espécies; Cinnamodendron axillare (Endl. ex Walp.), Cinnamodendron dinisii (Schwacke), Cinnamodendron occhionianum (F.Barros & J.Salazar) e Cinnamodendron sampaioanum (Occhioni).[17]
A taxonomia das Canellaceae tem sofrido múltiplas alterações de relevo ao longo do último século, conferindo ao grupo uma complexa história taxonómica que aparenta ainda não ter atingido o pleno consenso em matéria do número de géneros a considerar,[15] existindo fundadas dúvidas sobre a sua monofilia. Tal indicia a necessidade de novas alterações a curto prazo.
A espécie Canella winterana era uma importante planta medicinal dos povos indígenas dos trópicos americanos, tendo sido rapidamente adoptada como tal pelos europeus. O Dr. Diego Álvarez Chanca acompanhou Cristóvão Colombo na sua segunda viagem, após o que escreveu sobre uma canela que era diferente de qualquer uma das espécies de canela usadas na Europa.[20] Tudo indica que se referia à utilização da canela que viria a ser descrita como Canella winterana.[12]
O nome genérico é derivado de canela, a palavra espanhola para canela, mas a palavra espanhola é derivada do latimcanna, que significa cana, ou do termo grego relacionado kanna, que se refere a um pedaço de casca enrolada.[25]
O género Canella não foi adotado por Linnaeus, que ressuscitou o género Winterania na segunda edição de Species Plantarum em 1762.[26] Atribuiu a Winterania uma única espécie, Winterania canella, que era equivalente à espécie que tinha anteriormente designado por Laurus winterana.
Um destes clados está filogeneticamente próximo dos géneros africanos Cinnamosma e Warburgia em relação aos quais pode ser parafilético. É composto por oito espécies, uma das quais foi nomeada em 2005.[33] Duas outras espécies deste grupo não foram formalmente nomeadas e descritas na literatura científica.[12] Este grupo é restrito à América do Sul. Uma vez que inclui a espécie-tipo, Cinnamodendron axillare, manterá o nome Cinnamodendron.
O outro clado de espécies de Cinnamodendron é mais estreitamente relacionado com Pleodendron e está restrito às Grandes Antilhas. É constituído por seis espécies, duas das quais permanecem sem nome.[12] O nome Antillodendron foi proposto para este grupo, mas este nome é considerado por alguns como inválido por não ter sido efetivamente publicado.[34]
Classificação APG IV
Seguindo o sistema APG IV, o género Capsicodendron é mantido em sinonímia com Cinnamodendron, embora estudos moleculares preliminares separem Capsicodendron de Cinnamodendron e coloquem Capsicodendron mais próximo dos géneros Cinnamosma e Warburgia do que de Cinnamodendron. Esta colocação não é corroborada pela morfologia. Assim, na sua presente circunscrição taxonómica a família Canellaceae integra os seguintes géneros:[5][35]
A maioria das espécies de Canellaceae produz casca que é semelhante em odor e sabor à canela, mas na realidade a família está filogeneticamente mais próxima de Piperaceae, incluindo a pimenta-preta (Piper nigrum), do que das verdadeiras canelas, que pertencem à família Lauraceae (ainda dentro das Magnoliídeas).
A canela-branca, Canella winterana, originária da Flórida e das Antilhas, é utilizada como condimento, com propriedades tónicas. Embora a produção comercial de "canela-branca" de C. winterana tenha cessado,[32] a produção local em pequena escala continua. As Canellaceae são desde há muito utilizadas localmente como plantas aromáticas e como base de medicamentos usados em fitoterapia.
O saro, ou sândalo-verde, (também conhecido localmente como mandravasarotra), a espécie Cinnamosma fragrans, é nativo de Madagáscar de onde é exportado para a Índia para ser queimado em cerimónias. Não está relacionado com o verdadeiro sândalo, que pertence à família Santalaceae.
↑1813 illustration, Tab. 71 from Adolphus Ypey, Vervolg ob de Avbeeldingen der artseny-gewassen met derzelver Nederduitsche en Latynsche beschryvingen, Eersde Deel, 1813 Canella winteriana (sin. C. alba), Canellaceae publicado por Kurt Stüber.
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