O prazer de não ter que se sentar em frente ao computador e ter a cabeça livre para pensar o que se quiser, é inigualável. Sinceramente, não conheço nada melhor, nem sexo.
”
A estreia como autor de novelas se deu em 1977, ao adaptar em parceria com o crítico cinematográfico Rubens Ewald Filho o clássico romance Éramos Seis, de Maria José Dupré, na terceira versão para a televisão, que obteve relevante sucesso e firmou parcerias com dois atores que seriam frequentes nos trabalhos posteriores: Gianfrancesco Guarnieri e Nicete Bruno. Transferiu-se para a Rede Globo em seguida, com Pecado Rasgado (1978). A novela não seria um sucesso, devido em parte à inexperiência de Silvio no meio e a desentendimentos com o diretor da trama, Régis Cardoso, o que acabou causando um afastamento do meio televisivo.
Substituiu o consagrado Cassiano Gabus Mendes, a quem vê como uma grande influência, na redação do texto de Plumas e Paetês (1980). O autor sofrera um infarto e, mesmo sem conhece-lo pessoalmente, indicara o seu nome para substituí-lo. Silvio aceitou prontamente esta incumbência e, curiosamente sem ter visto um capítulo sequer da história, direcionou-a para índices recordes de audiência. Prosseguiu com a novela Jogo da Vida (1981), outro grande sucesso, baseada no argumento de Janete Clair. Depois vieram inúmeras outras novelas de sucesso todas na faixa das 19h: Guerra dos Sexos (1983), que o consagrou nacionalmente, Cambalacho (1986) e Sassaricando (1987).
As principais produções da década de 1990 foram Rainha da Sucata (1990), que marcou a estreia do autor no horário nobre, Deus Nos Acuda (1992), e a policial A Próxima Vítima (1995), que mostrou a público temas importantes e polêmicos como prostituição por vocação, homossexualidade masculina e adultério. Para exportá-la ao exterior, foi preciso criar outro desfecho a fim de que não se perdesse o mistério. Silvio também eliminou algumas cenas, a fim de manter a coerência da história. Em 1996, no auge do sucesso como autor, ganhava R$ 53 mil por mês, valor que equivale a R$ 452 mil em 2024.[3]
A novela seguinte, Torre de Babel (1998), recebeu muitas críticas negativas e causou polêmica devido ao excesso de cenas de violência e abordagem de temas como lesbianismo, uso de drogas, violência doméstica e assassinatos frios. Escreveu também a minissérieBoca do Lixo (1990), que consagrou a atriz Sílvia Pfeifer, então iniciante. O autor renovou a linguagem televisiva por meio da utilização de um estilo mais cinematográfico, ágil e vibrante, e pela incorporação da comédia nonsense, pastelão, como um gênero do meio.
Também escreveu para o horário das sete As Filhas da Mãe (2001), focada em comédia, um fiasco de audiência e que inclusive teve o seu final antecipado em dois meses. Após esta experiência, Sílvio abandona as comédias das sete que o consagraram e passa a focar no horário das 21h e na supervisão de texto de autores menos experientes.
Silvio, além de ser um mestre em comédias, também é um grande mestre no killer, desde A Próxima Vítima exibida em 1995 e mais tarde Belíssima. Outra característica importante de Silvio é a repetição de personagens nas novelas, como em Rainha da Sucata, onde a personagem Dona Armênia (Aracy Balabanian) e seus três filhos voltaram em sua novela seguinte (Deus nos Acuda), e Jamanta, de Cacá Carvalho, originalmente em Torre de Babel e posteriormente em Belíssima (2005), um grande êxito seu.
Retornou à titularidade em 2010 com a telenovelaPassione, exibida no horário nobre que não deixou de abordar temas repetidos, como segredos de família e assassinatos ocultos. Em 25 de outubro do mesmo ano, foi agraciado com a comenda da Ordem do Ipiranga pelo governo estadual.[4]
Em 2012, estreou o remake de Guerra dos Sexos, que na versão original também foi de sua autoria. O folhetim, porém, acabou não atingindo o mesmo sucesso da primeira versão de 1983. A trama de Abreu terminou com média de pouco mais de 22 pontos na grande São Paulo, praça de grande importância, principalmente para o mercado publicitário.[5]
Em 2014, supervisiona Alto Astral, novela de Daniel Ortiz, baseada na sinopse deixada por Andréa Maltarolli antes de falecer.[7][8][9] No mesmo ano, assume a Diretoria de Dramaturgia da TV Globo.
Como escritor
Em junho de 2013, Sílvio lançou o livro "Crimes no Horário Nobre - A Teledramaturgia de Sílvio de Abreu" no Rio de Janeiro e em São Paulo. A obra, escrita por Raphael Scire, tem um prefácio de Gilberto Braga e conta a trajetória de Sílvio e seu trabalho como ator, diretor e autor de telenovelas.[10]
Como executivo
Como diretor da TV Globo
Em 2014, a Globo promove Sílvio a Diretor de Dramaturgia Diária, função na qual ele se torna responsável por aprovar novas sinopses e a sua subsequente produção. Sílvio lançou novos autores, como Angela Chaves, Manuela Dias e Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa e parceiro do avô na criação de Velho Chico, produzida sob a gestão de Sílvio.[11]
Ainda em 2014, Silvio, em entrevista à jornalista Michelle Vaz, declarou que não pretendia fazer mais novelas provisoriamente. Uma vez que era o atual responsável pelo Departamento de Dramaturgia da Globo, queria dedicar-se apenas a supervisionar os novos autores.[12][13][14][15]
Em 2015, Sílvio de Abreu interveio na produção da novela Babilônia, que enfretava audiência abaixo da meta, compactando doze capítulos em seis[16][17] e foi acusado pelo autor João Ximenes Braga de alterar substancialmente o roteiro e falas.[18]
Em 2016, a novela A Lei do Amor, escrita por Maria Adelaide Amaral, teria passado pelo mesmo processo, desta vez, de maneira ainda mais abruta, o que teria dificultado as relações de Sílvio com a autora. A novela enfrentava índices baixos de audiência, e a situação piorou após o afastamento de José Mayer.[19]
Saída da TV Globo
Em 2020, Sílvio de Abreu foi dispensado da TV Globo em uma reforma da alta cúpula do canal.[11] Substituído por José Luiz Villamarim[11], mais tarde Sílvio afirmou que pediu por seu desligamento. Segundo ele a reformulação constante do canal colocou o departamento de dramaturgia da TV Globo à mercê do departamento de programação, o que restringiu a liberdade criativa e artística dos autores e o motivou a pedir seu desligamento.[20]
Eu teria que fazer o que mandassem, e não o que eu queria. Preferi não criar atritos.
— Sílvio de Abreu
Seu último projeto no Grupo Globo foi a minissérie Passaporte para Liberdade, onde atuou como Produtor Executivo.[21]
HBO Max
Em outubro de 2021, Sílvio de Abreu é contratado pelo serviço de streaming HBO Max[2], com o cargo de Supervisor de Novelas, cargo semelhante ao ocupado na TV Globo. Sua primeira supervisão seria a da produção de Beleza Fatal, primeiro produto do serviço de streaming com o formato semelhante ao de uma telenovela. A série é escrita por Raphael Montes e tem Murilo Rosa e Camila Pitanga em seu elenco. Após constantes adiamentos[2], a trama foi finalmente confirmada em abril de 2023 para estrear no segundo semestre do mesmo ano[22], contrariando o que foi anteriormente afirmado pela revista Veja, que confirmou apenas o início das gravações para 2023[23].
Esta confirmação só veio após Sílvio alterar seu contrato com a Warner Bros. Discovery Americas, responsável pela plataforma. Sílvio rescindiu seu contrato de exclusividade com a HBO Max em março de 2023[2], passando a ter um contrato por obra. No mesmo mês a revista Veja apurou que um dos motivos seria a insatisfação da Warner Bros. Discovery Americas com os atrasos na produção de Beleza Fatal[23]. Apesar disso, a empresa garantiu que a decisão foi tomada por Sílvio, que, em entrevista ao jornalista Flávio Ricco do portal R7, afirmou[24]:
Preferi sair para trabalhar em outros projetos sem exclusividade.