Resultados do Grande Prêmio do Canadá de Fórmula 1 realizado em Montreal em 12 de junho de 1988.[2] Quinta etapa do campeonato, foi vencido pelo brasileiro Ayrton Senna, que subiu ao pódio junto a Alain Prost numa dobradinha da McLaren-Honda, com Thierry Boutsen em terceiro pela Benetton-Ford.[3]
Resumo
Canadá retorna ao calendário
Realizado por seis vezes (1961 a 1966) antes de integrar-se ao calendário da Fórmula 1 em 1967,[4] o Grande Prêmio do Canadá viu a Brabham sagrar-se bicampeã de construtores naquele ano, foi agraciado com a primeira vitória na carreira de Gilles Villeneuve em 1978[5] e viu Alan Jones tornar-se campeão mundial numa decisão contra Nelson Piquet em 1980.[6] Tantas credenciais não impediram o cancelamento da etapa canadense em 1975 por divergências quanto ao valor exigido pela FOCA para realizar a prova,[7] assim como a edição de 1987 não foi realizada por causa de uma disputa por patrocínio entre as cervejarias Labatt e Molson.[8][9] Neste último caso os esforços de Roger Doré, representante do Grande Prêmio do Canadá, malograram diante da negativa irredutível de Bernie Ecclestone em firmar um acordo.[10] Soube-se então que a "guerra do patrocínio" começou quando o Automóvel Clube do Canadá assinou com a Labatt enquanto a FOCA preferia a Molson, marca mais conhecida na província de Quebec,[11] e no fim o todo-poderoso Bernie Ecclestone fez valer sua vontade. Mesmo com data reservada no calendário, o retorno do Canadá foi confirmado apenas em 27 de janeiro de 1988 no lugar do Grande Prêmio da Áustria sob a alegação de insegurança no circuito de Österreichring, embora membros da FISA digam, reservadamente, que Jean-Marie Balestre inseriu outra pista de baixa velocidade no certame a fim de contrabalancear o poderio dos motores turbo.[9]
Surge o "muro dos campeões"
O retorno do Canadá foi precedido por uma elogiada reforma nos boxes, mas o mesmo cuidado não foi observado na hora de cuidar da pista. Neste último caso a opinião de Nelson Piquet foi certeiraː "O problema principal foi que construíram um muro ao lado de uma das curvas mais velozes, na entrada da reta, onde você passa a uns 280 quilômetros por hora. Ficou muito mais perigoso",[12] disse ele, vencedor em Montreal em 1982 e 1984.[13][14] "Além disso, a largada também ficou mais perigosa, pois o trecho para os carros se dispersarem antes da primeira curva ficou menor, e a nova entrada dos boxes também tem grandes chances de provocar um acidente", finalizou o tricampeão.[12] Corroborando as palavras de seu colega de profissão, Alain Prost disse que transitar pelo trecho exigirá atenção redobrada, pois será difícil saber se os carros reduzirão a marcha para entrar nos boxes ou para fazer a curva.
Efeito colateral das reformas no circuito, a poeira tornou a pista de Montreal escorregadia no treino de sexta-feira, interrompido por uma batida entre a Osella de Nicola Larini e a EuroBrun de Oscar Larrauri, forçando uma bandeira vermelha seis minutos antes de finda a sessão.[15] Reiniciado o treino, Ayrton Senna superou o melhor tempo de Alain Prost em sua última volta, apesar do tráfego intenso.[16] Mesmo garantindo a primeira fila, a McLaren foi surpreendida com a Ferrari a curta distância graças a uma série de três voltas rápidas de Gerhard Berger onde o austríaco ficou em terceiro lugar, deixou Michele Alboreto em quarto e ficou a dois décimos da equipe de Ron Dennis.[17] Mesmo gripado, Nelson Piquet colocou a Lotus em quinto adiante de Eddie Cheever, da Arrows,[18] com Nigel Mansell e Riccardo Patrese na quarta fila, firmando a Williams como a melhor equipe com propulsores aspirados.[19] No outro extremo da tabela, Adrián Campos deixou a Fórmula 1 sem conseguir classificar sua Minardi para a corrida.[20][21]
Quando o treino terminou, as conversas giravam em torno do consumo de combustível e o quanto isso influenciará o resultado da prova. Nelson Piquet chegou a apostar na vitória de um bólido com motor aspirado. No dia seguinte, contudo, Ayrton Senna e Alain Prost alternavam-se como o mais rápido da pista, com o brasileiro assegurando sua quinta pole position no campeonato com um décimo de vantagem sobre o seu "rival de equipe", tendo Gerhard Berger e Michele Alboreto na fila seguinte. Valendo-se do melhor equilíbrio de seu carro, Alessandro Nannini pôs sua Benetton em quinto superando a Lotus de Nelson Piquet. Mesmo largando em segundo, Prost não tinha motivos para lastimar, afinal sua McLaren partiria do lado mais limpo e emborrachado da pista, mas o sábado também foi de sustos, pois os vaticínios de Piquet e Prost tornaram-se reais quando Derek Warwick derrapou na entrada da reta ao subir numa zebra e sua Arrows bateu contra o muro deixando o carro retorcido e o britânico com dores pelo corpo, mas nada além disso.[3][22] Naquele momento não se sabia, mas este foi o primeiro acidente no local que seria conhecido no futuro como "muro dos campeões".[23][24][25]
Confronto direto pela vitória
Aproveitando que as características da pista favoreciam a sua posição, Alain Prost aproveitou uma curva à esquerda depois da largada e tomou a liderança deixando Ayrton Senna atrás de si com as Ferrari de Gerhard Berger e Michele Alboreto e as Benetton de Thierry Boutsen e Alessandro Nanini a segui-los, numa visão simétrica para o espectador. No entanto, a vantagem de Prost não era grande a ponto de garantir ao francês uma vitória tranquila; na nova volta, por exemplo, era inferior a um segundo em relação a Senna. Por outro lado, o domingo da Benetton parecia auspicioso, pois entre as voltas onze e quatorze Boutsen e Nanini estavam em terceiro e quarto deixando para trás os bólidos da Ferrari.[26][27] Na volta quinze, Nanini parou por falhas na ignição enquanto Senna reduzia a vantagem de Prost de maneira gradual e negociou melhor as ultrapassagens sobre os retardatários até alcançá-lo na curva que antecede a reta dos boxes e fazer a ultrapassagem na freada do hairpin, trecho mais lento da pista, na volta dezenove.[3][28] "Toda vez que aparecia um retardatário, eu tentava me aproximar o máximo dele para me aproveitar de qualquer problema. Naquele momento senti que dava para passar e felizmente tudo saiu bem", afirmou Senna.[29]
Mesmo em primeiro lugar, a vantagem de Senna em relação a Prost variava entre três e quatro segundos, patamar mínimo devido à necessidade de reduzir o consumo de combustível a fim de terminar a prova.[30] Essa variável, aliás, foi citada por Prost ao falar sobre a manobra de ultrapassagem feita por seu companheiro de equipeː "Ele veio com mais pressão e eu não quis fechar a porta, primeiro porque não é o meu estilo e depois porque tinha certeza de que a decisão só aconteceria perto do fim, quando o problema do consumo apertasse".[30] Entretanto, os cálculos do francês não resistiram ao imponderável, pois na vigésima nona passagem ele e Senna tiveram que ultrapassar três retardatários, a Ligier de René Arnoux e as Arrows de Derek Warwick e Eddie Cheever, situação da qual Senna desvencilhou-se mais rapidamente mantendo Alain Prost sob controle[31] com Thierry Boutsen firmado em terceiro, enquanto Gerhard Berger abandonou a disputa por pane elétrica quando era o quarto colocado, algo que deixou Michele Alboreto, Nigel Mansell e Nelson Piquet na zona de pontuação adiante de Philippe Streiff, da AGS. Mansell (volta 28) e Alboreto (volta 33) ficaram pelo caminho por quebra de motor e assim as posições remanescentes na zona dos seis foram ocupadas por Nelson Piquet, Philippe Streiff e pela Rial de Andrea de Cesaris.[27]
Num último esforço, Prost marcou a volta mais rápida da corrida obrigando Senna a cravar o novo recorde do circuito na volta cinquenta e três. A partir de então o brasileiro foi obrigado a defender sua posição elevando sua vantagem de cinco para onze segundos entre as voltas cinquenta e oito e sessenta e quatro, reduzindo o ritmo nos cinco giros finais vencendo a corrida com seis segundos sobre Alain Prost.[26] Tão logo cruzaram a linha de chegada, os pilotos da McLaren estacionaram seus carros e somente 51 segundos depois Thierry Boutsen confirmou o terceiro lugar com sua Benetton, o único carro a cruzar na mesma volta que o dueto de Woking.[3] Completaram a zona de pontuação a Lotus de Nelson Piquet, a March de Ivan Capelli e a Tyrrell de Jonathan Palmer,[8] este beneficiado pela falta de combustível na Rial de Andrea de Cesaris na penúltima volta.
Vencedor do primeiro duelo direto pelo título mundial, Ayrton Senna dirigiu-se ao pódio enquanto conversava com Alain Prost[3] e durante a premiação uma série de números vieram à tonaː 60 vitórias da McLaren e 70 pódios da Honda, além de 60 pódios na carreira de Alain Prost, efusivamente banhado em champanhe por Ayrton Senna, o vencedor do dia.[32] Também merece destaque o terceiro lugar de Thierry Boutsen cuja Benetton tornou-se o primeiro carro com motor aspirado a subir ao pódio desde o terceiro lugar da McLaren de John Watson no Grande Prêmio dos Países Baixos de 1983.[33] De volta ao presente temos Alain Prost liderando o mundial de pilotos com 39 pontos, enquanto Ayrton Senna soma 24 pontos, números que tornam a McLaren a primeira entre os construtores com 63 pontos.[34][1]
Classificação da prova
Pré-classificação
Treinos oficiais
Corrida
Tabela do campeonato após a corrida
- Classificação do mundial de pilotos
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- Classificação do mundial de construtores
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Entre 1981 e 1990 cada piloto podia computar onze resultados válidos por temporada não havendo descartes no mundial de construtores.
Notas
- ↑ Voltas na liderança: Alain Prost 18 voltas (1-18), Ayrton Senna 51 voltas (19-69).
Referências
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