A Central Termoeléctrica do Carregado (CCG) foi uma central térmica começou a ser construída em 1965,[1] instalada na margem do Rio Tejo, no Carregado, Município de Alenquer, [2] e que esteve em serviço desde 1968 até 2010. Composta, na sua fase final, por seis Grupos Geradores eléctricos, cada um com 125 MW de potência instalada (produzindo no total 750 MWh de energia eléctrica), a Central distinguia-se por possuir 3 chaminés de 100 m de altura (uma chaminé para cada par de grupos), e foi a primeira grande Central Termoeléctrica moderna a ser construída no País, com um elevado grau de automatismo, regulação, e controlo remoto, a partir de uma sala de comando comum para cada dois grupos geradores.
A central foi construída em três fases:[3]
Os Grupos V/VI consumiam "fuel-óleo" e "gás natural", e os restantes só "fuel-óleo". A central possuía um parque de armazenagem de fuel-óleo, com 8 reservatórios que no total podiam armazenar até um máximo de 220.000 m3 de combustível.
Depois da entrada em serviço dos grupos 1 e 2, no final da década de 60, a Central começou a funcionar em regime de ponta, mas com o consumo anual de electricidade a crescer, em média, na ordem dos 10%/ano[4], rapidamente passou a regime de funcionamento regular, em complemento à produção de hidroelectricidade (de notar que em 1976, dos 9.084 GWh produzidos pela EDP - Electricidade de Portugal - E.P. , a Central Térmica do Carregado contribuiu com a 50% da produção total da rede primária[5]).
A energia eléctrica produzida pelos 6 grupos da central (4.500 GWh/ano, para uma utilização de 6.000 h/ano, à plena carga) era entregue à Rede Eléctrica Nacional, através da Subestação do Carregado. Esta importante subestação foi construída na mesma altura e ao lado da Central Térmica, e comportava um barramento múltiplo, interseccionado; 6 painéis de grupo; 7 painéis de linha, a 220 kV; 3 painéis de transformadores de saída 220kV/60kV ; e uma sala de comando localizada em edifício próprio[3].
A CCG, inicialmente propriedade da Empresa Termoelétrica Portuguesa - ETP[2], a partir de 1969 passou a ser detida pela Companhia Portuguesa de Electricidade - CPE S.A.R.L.[6] e, a partir de 1975, pela Electricidade de Portugal- EDP. E.P. [7], empresa na qual se manteve a funcionar, como Central Termoeléctrica de referência, durante décadas.
Nos últimos anos do seu período de vida útil, a central passou a ser usada, na maior parte das vezes, em regime de ponta e, no final de 2010, veio a ser desactivada.[8]
Em Fevereiro de 2011, pela mais valia e valor acrescentado que representou para a zona do Carregado/Alenquer, foi galardoada com a Medalha de Mérito Municipal, grau prata, atribuída pelo Município de Alenquer.[9]
Até à publicação da Lei da Electrificação Nacional em dezembro de 1944 (lei nº 2002)[10], o país dispunha de uma extrema fragmentação de potência elétrica instalada (653 centrais existentes, num total de 73 MW de potência Hídrica e 142 MW de potência Térmica (carvão importado e gasóleo).[11]
Com a publicação da Lei 2002, o Estado definiu as grandes linhas da Electrificação Nacional e estabeleceu que a produção eléctrica passaria a ser prioritariamente de origem hidráulica, com as centrais térmicas a exercerem apenas funções de reserva e de apoio [12] o que levou, a partir de 1945, que grandes Empresas de Produção e Transporte de electricidade se viessem a constituir:[12]
Em 1951, foi ainda criado o Repartidor Nacional de Cargas (Decreto nº 38 186 de 28 /2/51)[13] importante órgão de coordenação da exploração da então nascente Rede Primária.[12] Estava-se assim perante o embrião da constituição do Sistema Eléctrico Nacional.
Com a energia hidroeléctrica produzida na rede primária a crescer, na década de 50, a um ritmo muito acentuado, a evoluir dos 277 GWh/ano em 1951 para 1005 GWh/ano em 1955 [11], o Governo encarregou, em 1954, a Empresa Termoeléctrica Portuguesa de construir, na margem direita do rio Douro, próximo das minas de S. Pedro da Cova e do Pejão, a Central Térmica a carvão da Tapada do Outeiro (CTO), com funções de reserva e apoio da rede eléctrica nacional (Dec Lei n º 39 632 )[12], comportando 3 grupos, de 50 MW cada , com entradas em serviço em 1960 (G1),1964 (G2) e 1967(G3).[14]
Segundo Walter Rosa " Contornos que estiveram na origem da decisão da construção da CCG" [4]:
" Embora Portugal na década de 60 estivesse a ser um país essencialmente hidroeléctrico, o aproveitamento dos seus recursos hídricos por essa altura já tinha atingido cerca de 50% e como os consumos de energia eléctrica estavam a duplicar em cada 7 anos (entre 1956 e 1965 a taxa média de crescimento do consumo foi de cerca de 11%/ano), a manter-se a mesma lei de crescimento, os recursos hídricos nacionais estariam esgotados dentro de mais sete anos se apenas se construíssem centrais hidroeléctricas. Na verdade, só a concentração em potências unitárias muito elevadas, que apenas centrais térmicas o permitem, conferirá ao sistema produtor a possibilidade de acompanhar consideráveis aumentos anuais de consumo de energia "
Perante esta realidade, o governo decidiu, em 1964, encarregar a Empresa Termoeléctrica Portuguesade construir a Central Térmica do Carregado, comportando quatro grupos geradores, de 125 MW cada, com o 1º grupo a ser instalado até Setembro de 1967.[2]
Nas décadas 50/60, assistia-se a um problema de escassez e encarecimento progressivo do custo do carvão para fins de produção térmica devido a um maior encarecimento da exploração mineira e a um menor rendimento na extracção do carvão.[15]
O carvão tornava-se assim menos competitivo para fins de produção de energia eléctrica, comparativamente ao fuel-óleo e ao gás natural.
A este propósito, Mariz Simões, na apresentação que fez, em 1964, no colóquio do Grémio de Electricidade, concluía: "...com base nos custos dos combustíveis fósseis e dos custos de exploração de centrais térmicas a carvão e a fuel -óleo, e admitindo a instalação de centrais térmicas com 4 grupos de 125 MW ou 250 MW, consumindo Fuel-óleo, GN, ou Carvão, a evolução dos preços CIF Lisboa, dos três combustíveis indicados, leva-nos a concluir que o carvão deva ser excluído das novas centrais..."[16]
Por sua vez, Machado D´Assunção, no Relatório "Mercado de Combustíveis Convencionais Analise Conjuntural e Prospectiva" (1964), concluía que "existindo no país, em 1963, por via do aumento da capacidade de produção da Refinaria de Cabo Ruivo da SACOR, uma capacidade de refinação excedentária apta a responder a um aumento das necessidades de consumo de fuel-óleo para produção de energia eléctrica, a utilização de "fuel - óleo" e "gás natural", por analogia com o que se passava nos outos países europeus, para a produção de energia termoelétrica, poderia vir a representar um papel importantíssimo na política energética portuguesa" [17]
Tendo presente o sentido destas conclusões, o Governo decidiu que a nova Central Térmica a construir, viesse a ser projectada prevendo-se a possibilidade de a mesma poder usar como fontes primárias de energia o fuel-óleo e/ou o gás natural.[18]
No seguimento dos estudos iniciados no decorrer de 1963[1], relativos à nova Central Térmoeléctrica a instalar no sul, o Governo, por portaria de 28.12.1964 do Secretário de Estado da Indústria, aprovou a localização da nova Central na povoação de Meirinha, junto ao Carregado, na margem do Rio Tejo.[2]
Os seguintes factores contribuíram para a escolha do sítio:[4]
" 1- Proximidade do centro de consumo de Lisboa: uma vez que as centrais hidroeléctricas se concentravam principalmente no Cavado, no Douro e no Zêzere, havia todo o interesse em ter uma grande central perto de um grande centro de consumo, como era Lisboa (em 1972 a ponta de consumo de Lisboa deveria atingir cerca de 500 MW, e a nova central térmica iria estar equipada precisamente com 500 MW).
2- Água de refrigeração: consumindo os condensadores dos grupos, um caudal de água de refrigeração bastante considerável, cerca de 25 m3/s (4 grupos), a localização da Central junto a uma grande fonte de fornecimento de água, ponderou fortemente a favor do sítio escolhido junto do rio Tejo.
3- Facilidades de abastecimento de combustível: tomada a decisão de a central a construir ser projectada para consumir fuel-óleo ( com um consumo anual, em ano muito seco, a atingir 1milhão de toneladas de fuel-óleo, para os 4 grupos) o sitio escolhido, na margem do rio Tejo, oferecia grandes vantagens por estar próximo da refinaria nacional de Cabo Ruivo e poder ser abastecido de modo fácil e económico, por via fluvial.
4- Terreno: satisfeitos os três requisitos atrás mencionados, houve que seleccionar um terreno nas margens do Tejo, já suficientemente perto de Lisboa mas que ficasse fora da influência dos aeroportos da Portela e de Alverca (para se evitar os corredores aéreos devido à altura das chaminés), tendo o Carregado sido o sítio escolhido".
A decisão de se construir a Central Termoeléctrica do Carregado (1964) teve um grande impacto no desenvolvimento da engenharia termoeléctrica e da Indústria eletromecânica nacionais, como o demonstrou o Colóquio[19] organizado em 1964 pelo Grémio Nacional dos Industriais de Electricidade.
O Colóquio foi palco de 35 Apresentações nos domínios da produção termoeléctrica clássica e nuclear, industria eléctrica, industria metalúrgica, e indústria metalomecânica, e de um leque alargado de Conclusões, realçando a importância da produção térmica no desenvolvimento da economia e da actividade industrial nacionais.
De entre as Empresas do Sector Metalomecânico nacional que ganharam projecção no domínio da produção termoeléctrica, realça-se a empresa MAGUE - Construções Metalomecânicas S.A.R.L.[20][21], que se vocacionou para o projecto, fabrico, fornecimento, montagem, e entrada em serviço dos Grupos Geradores de Vapor de alta pressão (sob licença da Foster Wheeler - USA), e dos Turbo-Grupos (fornecimento Brown Boveri & Cie - Suíça) da Central Térmica do Carregado,[18] e da Central Térmica de Setúbal.[22]
A portaria de 28.12.1964 do Secretário de Estado da Indústria, para além de aprovar a localização da Central Térmica do Carregado, fixou também as principais características do empreendimento, a data de entrada em serviço do 1º grupo, e mandatou a ETP- Empresa Termoelétrica Portuguesa para a execução da obra e da exploração da central.[2]
Walter Rosa , na palestra que proferiu na Ordem do Engenheiros, em Abril de 1968,[4] descreveu o que foi a actuação da ETP no âmbito da concepção, projecto, engineering, fiscalização e exploração do empreendimento do Carregado.
Da palestra referida, extraíram-se, as seguintes passagens:
A preços orçamentados de 1967, o investimento global previsto para central com 4 Grupos (125 MW/cada) foi de 2 milhões, duzentos e cinquenta mil contos, correspondendo, em média, a cerca de 560 mil contos por unidade. Com a central completa, o custo específico foi de 4.500 PTE/kW.[4]
Para cobrir 60% do investimento da 1ª fase da Central (GI/II), a Empresa Termoelétrica Portuguesa negociou com Banco Mundial (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) um empréstimo composto por três "tranches" (1964/65/66), que no total atingiram, em 1996, 30 milhões de USD.[24],[25]
Abílio Fernandes, no artigo "Central Termoeléctrica do Carregado — Alguns aspectos de concepção e de realização do equipamento e das instalações dos GI/II"[18] descreve com suficiente clareza os principais equipamentos e instalações do 1º escalão da CCG. Com base no artigo, e na brochura "Central Térmica do Carregado, 6x125MW"[3] , destaca-se:
A Central Térmica do Carregado foi construída em 3 fases, envolvendo os seguintes principais fabricantes:
Os Alternadores dos Blocos III/IV, de fabrico inglês, C.A. Parsons, em vez de possuírem excitação estática, tinham excitação clássica, assegurada por meio de excitatrizes do tipo "Brush less", e podiam funcionar, quando solicitados pelo Despacho, como Compensadores Síncronos, assegurando a regulação dinâmica de tensão da Rede Primária.
Quanto ao resumo das principais características dos GGV, Turbina, Alternador, Transformador de saída, e Subestação, tomando como exemplo as características dos Grupos V/VI, salienta-se:[3]
A Central Térmica do Carregado, deu sempre a maior atenção à prevenção e ao controlo ambiental, e à medida que novas tecnologias de monitorização e mitigação surgiam a Central acompanhava a evolução das mesmas.[26]
É neste contexto que, entre 1994 e 1997, se instalaram despoeiradores electroestáticos em todos os grupos, com o objectivo de se reduzir o nível de partículas da combustão do fuel-óleo emitidas para a atmosfera, para valores da ordem dos 50 mg/Nm3/grupo.
As características do fuel-óleo utilizado e das cinzas produzidas na combustão, influenciaram a opção pelos despoeiradores electrostáticos, de concepção clássica, com o despoeiramento a ser garantido por meio da ionização electroestática das partículas, e a captação a ser assegurada através de placas colectoras.[27]
Com a introdução do Gás Natural em Portugal (Dec. Lei n.º 374/89 de 25 de Outubro), a REN e a TRANSGÁS estabeleceram um Acordo de Gestão de Consumos de Gás Natural,[28] que tinha em vista a redução do risco "take or pay" associado à obrigatoriedade de, em cada ano, se consumir, ou pagar, o volume mínimo de gás natural contratado.
Perante este acordo, foi decidido reconverter os Grupos 5 e 6 da Central Térmica do Carregado para queima "dual", fuel-óleo / gás natural, de modo a permitir queimar, em ciclo aberto, a partir de Outubro de 1997, os excedentes de gás natural não utilizados, até um máximo de cerca de 700.000 Nm3 de gás/dia/grupo (28.500 Nm3/h/grupo).[29]
A reconversão, efectuada entre 1996 -1997, teve por base um projecto que levou à instalação de novos queimadores "dual" e à substituição dos sistemas de comando, regulação e informação do processo, por um sistema computorizado da mais recente tecnologia, o que veio acarretar uma melhoria ambiental considerável (menor emissão de óxidos de enxofre e de partículas para a atmosfera) e um aumento da fiabilidade e eficiência operativa dos grupos reconvertidos.
Com esta reconversão, a Central Térmica do Carregado tornou-se pioneira na utilização do gás natural para a produção de energia eléctrica no país.[30]
O projecto de introdução do GN em Portugal (Dec. Lei n.º 374/89 de 25 de Outubro) previa a instalação de uma grande Central Térmica de ciclo combinado, a gás natural, que consumisse na ordem dos 1000 milhões de m3 de GN /ano, por forma a garantir a viabilidade económica do projecto.[31] Surgiu assim a Central Térmica da Tapada do Outeiro, com entrada em serviço em 1999, a primeira central térmica de ciclo combinado de capital privado a operar no âmbito do Sistema Elétrico Público, SEP, propriedade da empresa TURBOGÁS.[32]
No mesmo ano, em 1999, "o Governo decidiu instalar em Sines um Terminal para descarga de GNL (Gás Natural Liquefeito), visando diversificar as fontes de abastecimento de gás natural e reforçar a capacidade produtiva nacional de electricidade. Promovendo esta iniciativa do governo a instalação uma segunda central de ciclo combinado a gás natural no país, a seguir à da Tapada do Outeiro, a EDP, reconhecendo no gás natural um vector energético chave para manter a liderança na produção nacional de electricidade, e em antecipação à generalização do mercado liberalizado de electricidade, que na altura se anunciava, decidiu construir a sua 1ª Central Termoeléctrica de ciclo combinado a GN, no âmbito do SENV, sistema elétrico não vinculado ".[33]
Nasceu assim a Central Termoeléctrica do Ribatejo, a primeira central portuguesa de ciclo combinado a gás natural a ser planeada para responder em regime mercado livre, aos novos desafios de competitividade que se aproximavam.
A central, comportando 3 grupos, de potência unitária da ordem de 390 MW, começou a ser construída no ano 2001, no terreno ao lado da antiga Central Térmica a fuel-óleo/GN, do Carregado, e entrou em serviço no 3º trimestre de 2003, 2004 e 2006.[34]
Com a introdução do gás natural em Portugal em 1994, o parque termoeléctrico português começou a ser maioritariamente assegurado por Centrais Térmicas de ciclo combinado, a gás natural.
A Central do Carregado, com 4 grupos exclusivamente a fuel-óleo, começou a ser solicitada, cada vez mais, para produzir energia apenas em regime de ponta. E, no final de 2010, veio a ser desactivada.[35]
Em 25 de Fevereiro de 2011, por proposta da Câmara Municipal de Alenquer e deliberação Assembleia Municipal, é galardoada com a atribuição de Medalha de Mérito municipal, grau prata, como preito e instrumento de reconhecimento público, pela notável contribuição que a CCG deu ao Município de Alenquer.
Do texto de enquadramento do galardão atribuído, extraiu-se a seguinte passagem: