Em Lisboa, o estuário do Tejo é atravessado por duas pontes. A mais antiga é a Ponte 25 de Abril (inaugurada em 1966, então Ponte Salazar), uma das maiores pontes suspensas da Europa, e que liga a capital de Portugal a Almada. A outra é a Ponte Vasco da Gama, de cerca de 17 km de comprimento. Foi inaugurada em 1998 e liga Lisboa (Sacavém) a Alcochete, Moita e Montijo. O local mais largo deste rio chama-se Mar da Palha, um lago, e fica entre Lisboa, Vila Franca de Xira e Benavente.
Junto a Vila Franca de Xira existe ainda a Ponte Marechal Carmona que liga as duas margens. Era a ponte mais próxima de Lisboa que ligava as duas margens do rio. Após a abertura da Ponte 25 de Abril, mais de metade do tráfego da Ponte Marechal Carmona caiu.
Segundo Sílio Itálico, Tago, como era designado o Tejo, seria o nome de um rei Ibero que foi cruelmente assassinado por Asdrúbal e que teria o mesmo nome do rio.[2]
"A Tago de antiga estirpe, de grande beleza E famoso por corajosos feitos, pregou-o ele em alto poste, E, esquecido dos deuses e dos homens, em triunfo passeou Pelos povos contristados o corpo de seu rei em exéquias A Tago que recebera o nome de aurífera fonte. Ululando o choram pelas margens e cavernas as ninfas ibéricas".
Quando da conquista de Lisboa Osberno comentou que "É este um rio que desce da região de Toledo, e em cujas margens se encontra ouro, quando no princípio da Primavera as águas se recolhem no leito.[3]
Segundo as lendas D. Afonso Henriques pagou a tença ao papa com o ouro retirado do rio Tejo. Dom Dinis mandou fazer o seu ceptro com o ouro das areias do Tejo e Dom João III mandou igualmente fazer outro ceptro com o seu ouro.[4]
Esta formação montanhosa alberga um dos nós hidrográficos mais importantes da Península Ibérica, ao separar a vertente atlântica da mediterrânea. O rio Júcar, que desagua no Mar Mediterrâneo, tem origem a poucos quilómetros da sua fonte, assim como o Guadalaviar, que dá lugar posteriormente ao Turia.
O rio corre, num primeiro momento, na direcção sul-noroeste, marcando a linha divisória entre Aragão e Castela-Mancha, através das províncias de Teruel e Cuenca, respectivamente. Entra depois em Guadalaxara e, a uns dez quilómetros da sua fonte, recebe como afluente direito o rio da Hoz Seca, que é o seu primeiro grande afluente, que até tem um caudal maior que o próprio Tejo.[5] O Hoz Seca, que recolhe as águas das serras de Orihuela del Tremedal (Teruel), nos Montes Universais, tributa no município de Peralejos de las Truchas (Guadalaxara). Aqui o Tejo já desce a uma altitude de 1 140 m, depois de vencer pronunciadas pendentes e formar diferentes gargantas, encravadas em áreas fortemente despovoadas.
O seu caudal volta a aumentar depois com as contribuições dos rios Cabrillas, Gallo, Bullones e Arandilla, que provêm do Sistema Ibérico. De todos eles, o mais destacado é o rio Gallo, que conflui no Tejo a uma altitude aproximada de 900 m.
Antes de abandonar a província de Guadalaxara, o Tejo é retido em cinco grandes barragens. As mais importantes são as de Entrepeñas, nas zonas de Sacedón e Auñón, e a de Buendía, cujas maiores contribuições provêm do rio Guadiela, o último dos grandes afluentes que procedem do Sistema Ibérico. Neste ponto, o rio desceu já para uma cota ligeiramente superior aos 600 m.
Depois de ser retido por nova barragem, a de Valdajos, entra no município de Aranjuez, a primeira localidade de importância que banha, onde passa ao lado do Palácio Real.
Nesta povoação forma a albufeira do Embocador, feita no século XVI e remodelada no século XVIII para garantir o abastecimento de água à agricultura circundante. O seu curso é regulado mediante uma série de canais artificiais, utilizados como sistemas de rega e ornamentação dos Jardins de Aranjuez.
Dentro deste município, recebe pela direita o rio Jarama, o primeiro dos afluentes procedentes do Sistema Central e um dos mais importantes de todo o seu curso.
Esta corrente fluvial traz-lhe, além do seu caudal natural, as águas residuais vertidas pelas diferentes povoações integradas na área metropolitana de Madrid, destacando-se a própria capital e as cidades do chamado Corredor del Henares. Estas chegam ao rio Jarama — e, por extensão, ao Tejo — através do Manzanares e do Henares, respectivamente.[10][11]
Em Aranjuez também tem como tributário o rio Algodor, que chega pela margem esquerda, desde os Montes de Toledo. A altitude neste troço é inferior aos 500 m.
Continua com rumo sudoeste marcando a fronteira entre Madrid e Toledo, para entrar definitivamente nesta última. Depois de passar no município de Añover de Tajo, chega a Toledo, a única capital de província espanhola por onde passa, a qual rodeia com meandros. Atravessa em Toledo as pontes monumentais de Alcántara e de San Martín.
Volta a ser detido pela barragem de Torrejón, que fica no Parque Nacional de Monfragüe. Este espaço natural protegido, que ocupa uma área de 17.852 hectares, integra três ecossistemas principais: o bosque mediterrâneo, os rochedos e as zonas húmidas, sendo estas últimas localizadas em redor do rio.
A barragem de Torrejón também inunda parte do curso baixo e a foz do Tiétar, dando lugar a um pântano adicional que, para se diferenciar do principal, é conhecido como Torrejón-Tiétar. Este rio procede da Sierra de Gredos e conflui pela direita no Tejo, perto de Villarreal de San Carlos, a uma altitude inferior aos 200 m.
A partir desta localidade, o Tejo inclina-se para sudoeste, mas volta a redireccionar-se para oeste enquanto forma a albufeira da barragem de Alcántara, uma das obras de infraestrutura hidráulica mais importantes da bacia.
Pela margem direita deste lago desagua o Alagón, à altura da localidade de Alcántara, que chega ao Tejo vindo da Sierra de Herreros, perto de Béjar (Salamanca), com as águas dos rios Arrago e Jerte, dois dos principais afluentes. Pela ribeira esquerda do lago, reporta o Almonte, que nasce na Sierra de Guadalupe. Neste ponto, o rio se encontra a uma altitude ligeiramente superior aos 100 m.
Na confluência do Alagón com o Tejo, fica a cidade de Alcántara, que dá nome à ponte romana do município. Situada ao pé da barragem é considerada como uma das obras de engenharia de caminhos mais relevantes da arte romana. Consta de seis arcos e tem 194 m de comprimento, 8 de largura e 61 de altura máxima.[16]
Passada Alcántara, junta-se-lhe o rio Salor. O Tejo marca depois a fronteira entre Espanha e Portugal, num troço caracterizado pela ausência de núcleos urbanos relevantes, com a excepção de Herrera de Alcántara e Cedillo, muito próximo da fronteira. Esta última localidade dá nome à barragem de Cedillo, que o rio forma antes de deixar definitivamente Espanha.
Na zona fronteiriça, encontra-se com dois novos afluentes, o Erges, que chega da Sierra de Gata, e o Sever, procedente da Serra de São Mamede, situada em Portugal. Quando o Tejo entra em Portugal, já tem um cota abaixo dos 100 m.
A caminho de Belver no concelho de Gavião, é retido na barragem de Belver, ao largo da qual volta a fluir para oeste. Entra no concelho de Abrantes, através da freguesia de Alvega. Em Abrantes forma um meandro em volta da colina sobre a qual se situa esta cidade. Aqui junta-se-lhe o Rio Torto na margem esquerda.
Dirigindo-se para Constância, onde se lhe junta pela margem direita o Zêzere, que nasce na Serra da Estrela, a formação montanhosa mais ocidental do Sistema Central. Este rio é o principal afluente do Tejo no curso baixo, e apresenta numerosas barragens, e constitui um dos sistemas de retenção mais importantes de toda a bacia hidrográfica.
Aqui se integram zonas húmidas, lodos, salinas, ilhotas e terrenos agrícolas que, a cada inverno, dão abrigo a cerca de 80 000 aves. A vila de Alcochete, situada na margem esquerda do estuário, pode ser considerada como a principal localidade de referência deste espaço protegido.
O rio prossegue até Lisboa, sob a ponte Vasco da Gama, considerada uma das mais compridas da Europa. Tem 17,2 km de comprimento, 10 dos quais sobre o leito do rio. Liga desde 1998 as cidades de Montijo e Sacavém, integradas na área metropolitana de Lisboa.
Passada a ponte, surge logo à direita Lisboa. Conforme se aproxima da capital portuguesa, a largura do estuário vai pouco a pouco reduzindo-se. Num dos pontos mais estreitos foi construída a Ponte 25 de Abril, que também tem grande interesse arquitectónico e estrutural. Foi inaugurada em 1966 e tem um comprimento de quase 2 km, ligando Lisboa e Almada.
O regime hidrológico do Tejo é determinado por variações pluvionivais (dependentes de chuva ou neve) próprias da região central da Península Ibérica, especialmente no que se refere às formações montanhosas aí integradas.[17] Os maiores níveis de caudal produzem-se de Janeiro a Abril, com o máximo absoluto em Março — quando tem lugar o degelo -, enquanto os menores dão-se entre Julho e Outubro, com mínimo em Setembro.
Este regime foi alterado na segunda metade do século XX como consequência da construção de diferentes obras de engenharia, dirigidas à regulação da bacia para cinco usos principais:
O Transvase Tejo-Segura é uma das infraestruturas que mais contribuíram para modificar o regime hidrológico do Tejo.[18] É regulado através das barragens de Entrepeñas e Buendía, que desviam as águas do rio para a zona sudeste de Espanha.
Aí são utilizadas principalmente para rega e abastecimento de água potável em áreas com forte turismo. A normativa espanhola prevê que se possa retirar até 70,29% da água que o rio receba à cabeceira, com destino à região do Levante.[19]
Esta cedência à bacia do Segura baixa grandemente o caudal. Segundo dados da Confederación Hidrográfica del Tajo, o troço compreendido entre Fuente de García e os pântanos de Entrepeñas e Buendía alcançou, entre 1999 e 2006, um volume anual de 853,6 hm³, 50,1% menos que entre 1959 e 1968.
Neste último período, contabilizaram-se 1 712,8 hm³, número que desceu para 1 305,6 entre 1969 e 1978 e 941,2 entre 1979 e 1988. A baixa é ainda mais notória entre 1989 e 1998, quando se registaram apenas 782,8 hm³, o dado mais baixo dos decénios considerados.
No ano hidrológico 2005/06, as barragens de Entrepeñas e Buendía moveram para o rio Segura um caudal de 253 hm³, superior ao vertido pelo próprio Tejo (247,7 hm³). Em 1979/80, recém-inaugurado o transvase, a contribuição foi de 36 hm³.
Troço entre Buendía e Talavera de la Reina
Uma vez passada a barragem de Buendía, as possibilidades de recuperar o caudal desviado para o Segura são muito limitadas. Até Aranjuez, não há afluentes de importância, ao que se junta a escassa pluviometria que apresenta a zona sudeste da Guadalajara e sudoeste da Comunidade de Madrid (entre 400 a 500 mm/ano). Os campos situados na borda do rio, que se nutrem das suas águas, incidem ainda mais na perda de caudal.
Quando o Tejo chega a Aranjuez, muitas vezes tem caudal inferior a 6 m³/s, mínimo estabelecido pela normativa que regula o Transvase Tejo-Segura, conhecido como "caudal ecológico".[20] Antes da inauguração do transvase em 1979, o rio levava neste ponto um volume de água de 30 m³.s-1.[21]
O Tejo recupera parcialmente das contribuições realizadas ao Segura quando conflui com o rio Jarama, que desemboca em Aranjuez. Esta corrente tributa com um caudal médio de 16–20 m³.s-1, 3 vezes mais que o que leva o próprio Tejo.
Com os afluentes (Algodor, Guadarrama e Alberche) também não recupera plenamente o caudal cedido ao Segura. Por altura de Talavera de la Reina, continua a levar um volume de água muito inferior ao que apresentava antes de haver o Transvase Tejo-Segura. Segundo dados da Confederação Hidrográfica do Tejo (espanhola), o seu caudal diminuiu 40,2% entre 1972 e 2005, ao passar por Talavera.
Barragens do curso médio-baixo
As barragens construídas no curso médio-baixo constituem outro factor de alteração do regime hidrológico, dada a intensa regulação a que é sujeito o seu caudal.[22] A retenção do rio é especialmente visível no troço que vai de Talavera de la Reina até à fronteira entre Espanha e Portugal, de aproximadamente 300 km.
Nesta parte, o rio segue através de uma sucessão de represas (Azután, Valdecañas, Torrejón-Tajo, Alcántara e Cedillo), que se vão ligando umas com as otras. Apenas no trajecto entre Azután e Valdecañas, o Tejo flui sem estar retido.[23]
↑Morín de Pablos, Jorge; Pérez-Juez Gil, Amalia (2001). Recópolis, la ciudad de Recaredo. [S.l.]: España: Restauración & Rehabilitación. ISSN 1134-4571 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑O Remanso de la Tejera, no município de Fuentidueña de Tajo (Madrid), era utilizado como lugar de descanso dos pastores durante a transumância, dada a proximidade a Cañada Real Soriana, via pecuária que sulca a Península Ibérica de nordeste a sudoeste.
↑Não apenas o Jarama e seus afluentes recolhem águas residuais da área metropolitana de Madrid. Ao Guadarrama, que desagua directamente no Tejo, também vertem alguns municípios metropolitanos, como os situados na zona oeste e noroeste, assim como os da comarca da Sierra de Guadarrama, entre os quais o Collado Villalba.
↑Redondo García, María Manuela (1987). Los espacios naturales en Castilla-La Mancha: el embalse de Castrejón (Toledo). [S.l.]: Toledo, España: Observatorio medioambiental. ISSN 1139-1987
↑Merino, María del Mar (2004). Puente del Arzobispo: piedras labradas. [S.l.]: Madrid, España: Revista del Ministerio de Fomento. ISSN 1577-4589
↑
Oliveros Villalobos, Roberto Carlos; Hernández Soria, Miguel Ángel; Aceituno Limón, Juan; Pérez de la Fuente, Elena (2002). «Manual de defensa ambiental del río Tajo»(PDF). Ecologistas en acción. La Puebla de Montalbán, Toledo, España. Arquivado do original(PDF) em 19 de junho de 2013 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)