Desde muito cedo demonstrou ter uma rara aptidão e gosto pelas línguas e literatura germânica, eslava e latina, tendo ingressado com 7 anos no colégio feminino municipal Luisenschule já a saber ler e escrever.[4][5] Aos 12 anos de idade tornou-se órfã de mãe, passando a ser educada pelo pai Gustav Michaelis e tutelada pelo filólogo Eduard Matzner, diretor do colégio feminino que frequentou dos 7 aos 16 anos, e o romancista e amigo da família Carl Goldbeck, que a orientou em casa, dos 16 aos 25 anos, porque o ensino superior era exclusivo do sexo masculino.[4] Estudou filologia clássica e românica, para além de literatura greco-romana, francesa, espanhola e italiana, entre outras.
Em 1876, durante a sua colaboração luso-germânica e após o polémico caso da "Questão do Fausto", na qual foi bastante criticada a versão traduzida da obra Fausto, de Goëthe, feita por António Feliciano de Castilho, Carolina conheceu Joaquim António da Fonseca de Vasconcelos, musicólogo e historiador de arte português. Com ele, iniciou uma longa correspondência de cartas que, em pouco tempo, se transformou num fervoroso namoro à distância. Ficou conhecido o episódio em que Joaquim António de Vasconcelos, arrebatado e decidido em ir ao encontro da sua amada, em plena terceira guerra carlista, à falta de comboios, decidiu atravessar os Pirenéus a cavalo. Nesse mesmo ano, os dois casaram-se em Berlim e foi dada a dupla cidadania a Carolina.[6]
Após o casamento, o casal mudou-se para Portugal, dividindo o seu tempo entre a localidade de Vasconcelos, no distrito de Braga, e as cidades de Lisboa e Porto, para além da sua casa de férias em Águas Santas.[7] Apesar de ter dedicado esses primeiros anos à sua vida familiar, Carolina Michaëlis de Vasconcelos nunca deixou os estudos e investigações, e em 1877, durante os primeiros meses de gravidez, era frequente vê-la passar as tardes na biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, a recolher dados sobre a língua e a literatura do folclore português, especialmente do período arcaico. Pouco depois tornou-se sócia honorária do Instituto de Línguas Vivas de Berlim e, em dezembro desse mesmo ano, nasceu o seu primeiro e único filho, Carlos Joaquim Michaëlis de Vasconcelos.[8][9]
Dez anos depois, em 1911, Carolina Michaëlis de Vasconcelos foi nomeada, por distinção, docente de FilologiaGermânica da Universidade de Lisboa, tornando-se na primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa. Um ano depois, por querer estar mais perto da cidade do Porto, pediu transferência para a Universidade de Coimbra, onde viria a reger cinco cursos distintos: dois de Filologia (românica e portuguesa) e três de Língua e Literatura Alemã.[12]
Nesse mesmo ano, foi inscrita e votada para entrar, novamente por mérito, juntamente com Maria Amália Vaz de Carvalho, como membro e sócia da Academia das Ciências de Lisboa, tornando-se assim numa das primeiras mulheres a entrar na prestigiada instituição científica.[13]
Em 1924, dirigiu a revista Lusitânia (1924-1927), uma das publicações de maior projecção cultural em território nacional.[14]
Feminismo
No início do século XX, Carolina Michaëlis de Vasconcelos tentou fundar em Portugal um conselho nacional feminino, quando apresentou a canadiana Sophia Sanford, tesoureira da mais antiga organização americana feminista internacional, a International Council of Women (ICW), à escritora Olga de Morais Sarmento.[15] Através do envio de um cartão, não datado, a crítica literária e escritora luso-prussiana sugeriu que se reunissem «em sua casa algumas senhoras que falem inglês - e que desejam colaborar no movimento feminista», a fim de todas trabalharem «energicamente a favor do Bem». Apesar da reunião não obter resultados práticos, em 1914 a ideia passou do papel para a realidade quando Ana de Castro Osório fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP).[16]
Em 1926, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas elegeu-a presidente honorária, prestando-lhe homenagem com um número especial da sua revista Alma Feminina.[17][18]
Em Novembro de 2005, por iniciativa da professora Gabriele Beck-Busse, do Instituto de Línguas Românicas da Universidade de Marburgo, o nome de Carolina Michaëlis foi atribuído a uma das principais artérias da cidade de Berlim, perto de Johanesstrasse, rua onde nasceu. A placa da Caroline-Michaelis-Strasse foi descerrada pelo Embaixador de Portugal na Alemanha, João de Vallera, na presença de várias individualidades alemãs e portuguesas.[24]
Poesias de Francisco de Sá de Miranda: Edição critica feita sobre cinco manuscriptos ineditos e todas as edições impressas: Acompanhada de um estudo sobre o poeta, variantes, notas, glossario, um retrato e cinco facsimiles, Halle, Max Niemeyer, 1880.[26][27]
↑Ayres-Bennett, Professor of French Philology and Linguistics Wendy; Ayres-Bennett, Wendy; Sanson, Helena; Sanson, Professor of Italian History of Linguistics and Women's Studies Helena (7 de janeiro de 2021). Women in the History of Linguistics (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press
↑Delille, Maria Manuela Gouveia (2005). VASCONCELOS (Carolina Michaelis), Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa. Lisboa: Verbo. pp. Vol. V, col. 615–620. ISBN972-22-2390-9