Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o Presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, fez um pedido aos países beligerantes para limitar seus ataques aéreos a alvos militares.[4] Os franceses e os britânicos concordaram em acatar o pedido, com a condição de que fosse "sob o entendimento de que essas mesmas regras de guerra seriam escrupulosamente observadas por todos".[5]
No começo da guerra, o Reino Unido tinha uma política de usar bombardeios aéreos apenas contra alvos militares e construções de infraestrutura de importância militar direta, como portos e ferrovias. Incialmente, o governo britânico evitou o bombardeio deliberado de propriedades civis, fora das zonas de combate.[6] Essa política foi abandonada em 15 de maio de 1940, dois dias depois do ataque aéreo alemão a Rotterdam, quando a RAF recebeu permissão para atacar alvos civis no Ruhr, incluindo usinas de petróleo e outros alvos industriais que eram importantes para o esforço de guerra alemão. O primeiro ataque da RAF a Alemanha ocorreu na noite de 10 para 11 de maio de 1940, em Dortmund.[7] O avião Júlio Verne, uma variante do Farman F.220 da Aviação Naval Francesa, foi o primeiro bombardeiro aliado a atacar Berlim. Na noite de 7 de junho de 1940, ele lançou oito bombas de 250 kg e oitenta de 10 kg sobre a capital alemã.[8]
Entre 1939 e 1942, a política de bombardear apenas alvos de importância militar direta foi gradualmente sendo abandonada em favor do "bombardeio por zona". Assim, iniciaram-se bombardeios em grande escala de cidades alemãs com o objetivo de destruir também edifícios residenciais e construções de infraestrutura civil. Embora matar civis alemães nunca tenha sido um objetivo deliberado, era evidente que o bombardeio de uma região inteira causaria vítimas civis em grande escala.[9] Com a tecnologia disponível na época, o bombardeio de precisão de alvos militares só era possível à luz do dia (o que já era difícil). Porém, os bombardeios diurnos levavam a altas perdas de aeronaves britânicas, por isso a preferência era fazer os ataques no período noturno. O ataque noturno, todavia, também apresentava muitas dificuldades de navegação e uma alta imprecisão no lançamento das bombas.[10]
1940 a 1943
Antes de 1941, Berlim (que fica a 950 quilômetros de Londres), estava no limite alcançável pelos bombardeiros britânicos então disponíveis. No verão, os dias eram mais longos e o céu claro aumentando o risco para os bombardeiros aliados. Nessa época do ano, os bombardeios eram feitos somente à noite.
O primeiro ataque da RAF a Berlim ocorreu na noite de 25 de agosto de 1940. Nessa ação, 95 aeronaves foram enviadas para bombardear o aeroporto de Tempelhof, próximo ao centro de Berlim. 81 desses aviões conseguiram cumprir seus objetivos, despejando bombas dentro e ao redor de Berlim.[11][12] Embora os danos desse primeiro ataque fossem leves, o efeito psicológico causado em Hitler foi considerável. Os bombardeios em Berlim levaram o ditador nazista a ordenar que a Luftwaffe deixasse de atacar os aeródromos e defesas aéreas britânicas e passasse a bombardear as cidades da Inglaterra. Essa mudança ocorreu em um momento da Batalha da Grã-Bretanha nas quais as defesas aéreas britânicas estavam se esgotando e sobrecarregadas, e as ordens de Hitler ajudaram a aliviar a pressão sobre os alvos militares britânicos.
Nas duas semanas seguintes, houve mais cinco ataques de tamanho semelhante, todos visando alvos específicos,[13] mas com as dificuldades da navegação noturna, as bombas lançadas se espalharam por diversos pontos.[14] Durante 1940, houve outros ataques a Berlim, todos com poucos danos. Os bombardeios tornaram-se mais frequentes em 1941, mas tiveram pouca eficácia em atingir alvos importantes. O chefe do Estado-Maior da RAF, Charles Portal, justificou essas incursões dizendo que "tirar quatro milhões de pessoas da cama e colocá-las nos abrigos" compensava a perda de algumas aeronaves.[15][16]
A União Soviética iniciou uma campanha de bombardeio de escala limitada em Berlim em 8 de agosto de 1941, que se estendeu até o início de setembro. Saindo da ilha de Saaremaa, bombardeiros soviéticos conduziram dez ataques a capital alemã com 3 a 12 aeronaves em cada missão.[17] Bombardeiros pesados da Força Aérea Soviética, operando desde Leningrado, executaram um ataque a Berlim em 11 de agosto, com apenas alguns aviões chegando ao objetivo.[18] No total, em 1941, as aeronaves soviéticas lançaram 36 toneladas de bombas em Berlim. Os soviéticos perderam em combate 17 aeronaves e 70 pilotos e tripulantes foram mortos.[19]
Em 7 de novembro de 1941, Richard Peirse, chefe do Comando de Bombardeiros da RAF, lançou uma grande ofensiva a Berlim, enviando mais de 160 bombardeiros à capital. 21 foram abatidos ou caíram e poucos danos foram causados à cidade, principalmente devido ao mau tempo que dificultava a navegação aérea.[20] Esse fracasso levou à demissão de Peirse e sua substituição, em fevereiro de 1942, por Arthur Travers Harris, que acreditava na eficácia e na necessidade de bombardeios por zona. Harris afirmou: "Os nazistas entraram nesta guerra com a ilusão, um tanto infantil, de que iriam bombardear todo mundo e ninguém iria bombardeá-los. Em Rotterdam, Londres, Varsóvia e meia centena de outros lugares, eles colocaram em prática sua teoria ingênua. Eles semearam o vento e agora vão colher o vendaval".[21]
Ao mesmo tempo, novos bombardeiros com alcance mais longo estavam entrando em serviço, particularmente o Avro Lancaster, que se tornou disponível em grande número em 1942. Durante a maior parte de 1942, no entanto, a prioridade do Comando de Bombardeiros foi atacar os portos de submarinos alemães como parte do esforço da Grã-Bretanha para vencer a Batalha do Atlântico. Durante todo o ano de 1942, houve apenas nove ataques aéreos em Berlim, nenhum deles de grande proporção.[22] Somente em 1943, Harris teve os meios e a oportunidade de colocar em prática sua convicção da utilidade do bombardeio por zona.
A chamada "batalha aérea de Berlim" foi uma ofensiva aérea britânica iniciada em novembro de 1943 contra a capital alemã. Além da capital. outras cidades continuaram ser atacadas para evitar que os alemães concentrassem suas defesas em Berlim. O comandante da RAF, Arthur Harris, acreditava que esse poderia ser o golpe que quebraria a resistência alemã: “Isso vai nos custar entre 400 e 500 aeronaves” afirmou, "Mas também vai custar a Guerra à Alemanha".[23] A essa altura, os britânicos já tinham a sua disposição 800 bombardeiros de longo alcance, equipados com novos e mais sofisticados dispositivos de navegação, como o radar H2S. Entre novembro de 1943 e março de 1944, o Comando de Bombardeiros fez dezesseis ataques de grandes proporções a Berlim.
Um prelúdio dos grandes ataques de 1943 foi feito por bombardeiros De Havilland Mosquitos que atacaram a capital alemã em 30 de janeiro de 1943, data do décimo aniversário da ascensão nazista ao poder. Naquele dia, Göring e Goebbels fizeram discursos transmitidos ao vivo pelo rádio. Precisamente às 11h, os De Havilland Mosquitos do esquadrão 105 da RAF chegaram a Berlim a tempo de interromper o discurso de Göring. Mais tarde, o esquadrão 139 da RAF repetiu a ação com Goebbels. Esses ataques tiveram um enorme impacto de propaganda, gerando um enorme embaraço para a liderança alemã. 20 de abril de 1943 era o aniversário de 54 anos de Hitler. O Comando de Bombardeiros da RAF decidiu que deveria "celebrar" a ocasião com uma incursão em Berlim. Os De Havilland Mosquitos foram os escolhidos para o trabalho. Assim, o esquadrão 105 da RAF foi enviado para a capital alemã, tendo sucesso em alcançar a cidade com a perda de apenas uma aeronave.[24]
O primeiro bombardeio da batalha ocorreu na noite de 18 para 19 de novembro de 1943. Berlim era o alvo principal e foi atacada por 440 Avro Lancasters, auxiliados por quatro De Havilland Mosquitos. A cidade estava com céu encoberto por nuvens e os danos não foram graves. O segundo grande ataque ocorreu na noite de 22 para 23 de novembro. Esse foi o ataque mais destrutitivo da RAF em Berlim. Os bombardeios causaram grandes danos nas áreas residenciais na parte ocidental da cidade, deixando quase destruídos os bairros de Tiergarten, Charlottenburg, Schöneberg e Spandau. Devido às condições de tempo seco, tempestades de fogo se iniciaram. A Igreja Memorial Kaiser Wilhelm ficou em ruínas. Vários outros edifícios importantes ficaram danificados ou destruídos, incluindo as embaixadas britânica, francesa, italiana e japonesa, o Palácio de Charlottenburg e o Zoológico de Berlim, assim como o Ministério de Armamentos e Munições, o Colégio Administrativo da Waffen SS, o quartel da Guarda Imperial em Spandau e várias fábricas de armas.[25]
Em 17 de dezembro, grandes danos foram causados ao sistema ferroviário de Berlim. A essa altura, o efeito cumulativo da campanha de bombardeio havia deixado mais de um quarto do total de residências de Berlim inutilizáveis.[26] Houve outro grande ataque em 28 e 29 de janeiro de 1944, quando as regiões oeste e sul de Berlim foram severamente atingidas. Nos dias 15 e 16 de fevereiro, importantes indústrias de guerra foram atingidas, incluindo a grande região de Siemensstadt, com os distritos do centro e sudoeste sofrendo a maior parte dos danos. Esse foi o maior ataque da RAF a Berlim. Os ataques continuaram até março de 1944.[27][28]
Essas ofensivas causaram grande destruição e perda de muitas vidas em Berlim. O ataque de 22 de novembro de 1943 matou dois mil berlinenses e deixou outros 175 mil desabrigados. Na noite seguinte, mil foram mortos e cem mil ficaram desabrigados. Entre dezembro e janeiro, ataques quase diários mataram centenas de pessoas e deixaram entre vinte mil e oitenta mil desabrigados em cada noite de bombardeio.[29] No total, quase 4 mil morreram, dez mil se feriram e 450 mil ficaram desabrigados.[30]
Os dezesseis ataques a Berlim deixam cerca de 500 aviões da RAF destruídos, com seus tripulantes mortos ou capturados. Foi uma taxa de perda de 5,8%, que ficou acima dos 5%, que era a taxa máxima de perda operacional sustentável desejada pela RAF.[31] Em dezembro de 1943, por exemplo, onze tripulantes do Esquadrão No. 460 RAAF foram perdidos em operações contra Berlim; e em janeiro e fevereiro, outras catorze tripulações foram mortas. Se continuassem com essa taxa de perdas, o Comando de Bombardeiros teria sido aniquilado antes da queda de Berlim.[32] Foi amplamente reconhecido que a batalha aérea de Berlim fracassou. Para a RAF, historiadores oficiais britânicos afirmaram que "em um sentido operacional, A batalha aérea de Berlim foi mais do que um fracasso, foi uma derrota".[33]
Março de 1944 a abril de 1945
Em 1943, o Exército dos EUA e a empresa Standard Oil construíram um conjunto de réplicas de conjuntos habitacionais típicos dos bairros operários de Berlim, as "German Villages". Esse estudo seria de importância fundamental para adquirir conhecimento e experiência necessários para realizar bombardeios incendiários em Berlim. Isso foi feito com a ajuda de Erich Mendelsohn, um arquiteto judeu que trabalhara em Berlim e que fugira dos nazistas em 1933.
Os pesados bombardeios estadunidenses realizados entre 20 e 25 de fevereiro de 1944, que ficou conhecida como Big Week (ou Operação Argumento), ocorreram após o comandante da Oitava Força Aérea, JamesDoolittle implementar uma mudança na formação defensiva dos bombardeiros estratégicos da USAAF. Até então, os bombardeiros aliados evitavam o contato com a Luftwaffe; agora, os estadunidenses tentavam forçar a Luftwaffe ao combate direto. Em 4 de março, a USAAF lançou o primeiro de vários ataques contra Berlim.[34] Intensas batalhas aéreas ocorreram e resultaram em pesadas perdas para ambos os lados; 69 bombardeiros B-17 foram derrubados em 6 de março, com a Luftwaffe perdendo 160 aviões. Em pouco tempo, os Aliados substituíram os aviões perdidos, a Luftwaffe não.[35]
Ainda em 1944, a RAF fez um último grande ataque à cidade na noite de 24 para 25 de março, perdendo 8,9% da força de ataque. Porém - devido ao pouco sucesso desses ataques e a mudança de foco para a ofensiva militar sobre a França, em apoio à Operação Overlord-, a RAF deixou Berlim em paz durante a maior parte de 1944. No entanto, os incômodos ataques tanto da RAF quanto da USAAF continuariam, incluindo a Operação Whitebait, usada como cortina de fumaça para o bombardeio do Centro de Pesquisa do Exército de Peenemünde.
Em 1945, a Oitava Força Aérea lançou uma série de grandes ataques diurnos a Berlim, o último deles em 18 de março,[36] A 15ª Força Aérea realizou uma missão de bombardeio a Berlim em 24 de março;[37] e, por 36 noites consecutivas, De Havilland Mosquitos da RAF bombardearam a capital alemã, terminando na noite de 20 para 21 de abril de 1945, pouco antes de os soviéticos entrarem na cidade.[38]
Mil e quinhentos bombardeiros da Oitava Força Aérea, escoltados por cerca de mil caças, atacaram o sistema ferroviário da capital alemã na manhã de 3 de fevereiro de 1945, imaginando que o Sexto Exército Panzer Alemão era transportado de trem a caminho da Frente Oriental.[39] Os militates estadunidenses pensavam que o Sexto Exército Panzer passaria pela estação de Tempelhof, em Berlim.[40] Esta foi uma das poucas ocasiões em que a USAAF empreendeu um ataque em massa ao centro de uma cidade. O tenente-general James Doolittle, comandante da Oitava Força Aérea da USAAF, era pouco simpático a esta tática, mas suas objeções foram rejeitadas pelo comandante da USAAF, general Carl Spaatz. O ataque foi apoiado pelo comandante Aliado, o general Dwight D. Eisenhower. Eisenhower e Spaatz deixaram claro que o ataque a Berlim era de grande importância política, pois foi planejado para auxiliar a ofensiva soviética no Oder, a leste de Berlim.[41]
O ataque foi liderado pelo Tenente-Coronel Robert Rosenthal do 100º Grupo de Bombardeio, que comandou toda a força de bombardeiros da Primeira Divisão Aérea.[42] Os distritos de Friedrichstadt e Luisenstadt e algumas outras regiões de Berlim, como a Friedrichshain, foram devastadas. As bombas usadas neste ataque consistiram principalmente em artefatos explosivos e não em bombas incendiárias, comuns em outros ataques. As linhas férreas principais, que ficavam mais ao norte (em Stadtbahn) e ao sul (em Ringbahn) não sofreram maiores danos. Mas duas estações principais de Berlim foram bombardeadas (Anhalter e Potsdamer Bahnhof - que já estava fora de serviço desde 1944 devido a outro bombardeio).
O bombardeio foi tão pesado que causou um extenso incêndio na cidade, que se espalhou para regiões periféricas de Berlim. O incêndio durou quatro dias, causando grandes estragos. Devido ao esgotamento dos suprimentos alemães, a defesa antiaérea da capital estava mal equipada e débil, de modo que dos 1.600 aviões estadunidenses que chegaram em Berlim, apenas 36 foram abatidos e seus tripulantes mortos ou capturados.[43] O tenente-coronel Rosenthal, comandante da Primeira Divisão Aérea, estava entre os capturados e sobreviveu depois que foi resgatado pelo Exercito Vermelho.[44]
Uma série de monumentos e igrejas, como a Igreja de São Simeão e o Consistório Protestante Marcher (hoje entrada do Museu Judaico de Berlim), bem como edifícios do governo e do Partido Nazista também foram atingidos, incluindo a Chancelaria do Reich, a Chancelaria do Partido, a sede da Gestapo e o Tribunal do Povo. As regiões de Unter den Linden, Wilhelmstrasse e Friedrichstrasse ficaram em ruínas. Entre os mortos estava Roland Freisler, o infame juiz-chefe do Tribunal Popular. O número de mortos foi de 2.894 pessoas. O número de feridos chegou a 20 mil, e 120 mil ficaram desabrigados.[45]
Outro bombardeio em 26 de fevereiro de 1945[46] deixou mais de 80 mil pessoas desabrigadas. Os ataques continuaram até abril, quando o Exército Vermelho tomou a cidade. Nos últimos dias da guerra, a Força Aérea Soviética também bombardeou Berlim, usando aviões Ilyushin Il-2 e aeronaves semelhantes. Nessa época, as defesas civis e a infraestrutura de Berlim estavam perto do colapso, mas o moral da população se manteve. Após a captura de Berlim, o general soviético Nikolai Bersarin, referindo-se à artilharia e bombardeios do Exército Vermelho, afirmou que "(...) os Aliados ocidentais lançaram 65 mil toneladas de explosivos em Berlim durante mais de dois anos; o Exército Vermelho gastou 40 mil toneladas em apenas duas semanas". Mais tarde, os estatísticos calcularam que para cada habitante de Berlim havia cerca de 30 metros cúbicos de entulho.[47]
Até o final de março de 1945, houve um total de 314 ataques aéreos em Berlim, com 85 deles ocorrendo nos últimos 12 meses da guerra.[48] Metade de todas as casas foram danificadas e cerca de um terço ficou inabitável. As estimativas do número total de mortos em Berlim nesses ataques variam de 20 mil a 50 mil. Estudos alemães atuais sugerem que o menor número é o mais provável.[49] Isso é comparável ao número de mortos no único ataque a Dresden em 14 de fevereiro de 1945 (entre 22 mil e 25 mil mortos), e aos 40 mil mortos em um único ataquea Hamburgoem 1943. O ataque aéreo a Tóquio em 10 de março de 1945, a Operação Capela (único bombardeio com artefatos incendiários na capital japonesa) devastou aproximadamente 15,8 km², causando a perda de pelo menos 100 mil vidas[50]. O número relativamente menor de mortes em Berlim é, em parte, resultado da dificuldade inicial que os bombardeiros britânicos tinham para atingir a cidade, o que dificultou grandes ofensivas antes de 1944, e também devido às defesas aéreas e aos abrigos (bunkers) da capital alemã.
Defesas e abrigos de Berlim
O governo nazista estava perfeitamente ciente da necessidade política de proteger a capital do Reich contra os ataques aéreos. Ainda antes da guerra, teve início a construção de um extenso sistema de abrigos antiaéreos públicos, conhecidos como bunkers. No entanto, em 1939, apenas 15% dos 2 mil abrigos planejados estavam prontos. Em 1941, os cinco maiores abrigos públicos (Zoológico, Estação Anhalt, Humboldthain, Friedrichshain e Kleistpark) foram concluídos, oferecendo proteção para 65 mil pessoas. Outros abrigos foram construídos sob prédios do governo, sendo o mais conhecido o Führerbunker embaixo do prédio da Chancelaria do Reich, local das últimas horas de Hitler. Além disso, muitas estações do U-Bahn (o metrô da capital) foram convertidas em abrigos. Mas uma grande parte da população teve que se contentar com seus próprios porões, uma vez que não havia abrigos suficientes.[51] Os bunkers costumavam ficar superlotados, o complexo de abrigos sob a estação Gesundbrunnen do U-Bahn, por exemplo, foi projetado para receber 1.500 pessoas, mas em geral recebia mais de 4.500 nos dias de ataque.[52]
Em 1943, os alemães decidiram evacuar pessoas cuja presença não era essencial em Berlim. Em 1944, 1,2 milhão de pessoas (cerca de um quarto da população da cidade), 790 mil delas mulheres e crianças, foram evacuadas para áreas rurais. Um esforço foi feito para evacuar todas as crianças de Berlim, mas os pais resistiam, e muitos evacuados logo voltavam para a cidade. À medida que a guerra se arrastava, Berlim sofria com uma grande escassez de mão de obra. Isso significava que o trabalho feminino era essencial para manter em funcionamento as indústrias de guerra da capital, de modo que a evacuação de todas as mulheres com filhos era impossível.
No final de 1944, a população da cidade começou a crescer novamente, com muitos indivíduos que fugiam do avanço do Exército Vermelho no leste rumando para Berlim e de trabalhadores forçados que chegavam dos países ocupados. Grande parte dos Ostvertriebenen ("refugiados do Oriente") tiveram a permissão negada para permanecer em Berlim por mais de dois dias e foram alojados em campos próximos à cidade antes de serem transferidos para o oeste. Estima-se que menos de 50 mil conseguiram permanecer na capital. Em janeiro de 1945, a população era de cerca de 2,9 milhões, apenas 100 mil deles eram homens com idades entre 18 e 30 anos. Outros 100 mil ou mais eram trabalhadores forçados, principalmente fremdarbeiter franceses, e ostarbeiter russos. Em geral, os trabalhadores estrangeiros eram proibidos de entrar nos abrigos subterrâneos durante os ataques.[53]
O principal sistema de defesa consistira em três enormes torres Flak, que forneciam plataformas extremamente resistentes para holofotes e canhões antiaéreos de 128 mm, bem como abrigos para civis. Havia torres Flak no Zoológico de Berlim, no Tiergarten, em Humboldthain e em Friedrichshain. À medida que os homens mais velhos eram convocados para o front, os canhões anti-aéreos nas torres Flak passaram cada vez mais a ser comandados por adolescentes da Juventude Hitlerista, Em 1945, as garotas da Liga das Moças Alemãs também passaram a operar armas nas torres Flak. Nos últimos meses da guerra, havia pouca proteção terrestre para os caças da Luftwaffe, e as defesas das torres Flak estavam cada vez mais sobrecarregadas com o aumento dos ataques.
Cronologia dos bombardeios
Bombardeios em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial
6 bombardeiros DB-3 da Frota do Báltico (3 atingiram Berlim). No total 84 aviões soviéticos rumaram a Berlim entre 7 d agosto e 5 de setembro de 1941, desses 50 bombardearam Berlim, despejando 30 toneladas de bombas.[59]
Berlim foi atacada por 469 Lancasters, 234 Handley Page Halifaxes, 50 Short Stirlings e 11 De Havilland Mosquitos. Total de 764 aviões. Foi o ataque mais pesado e eficaz a Berlim durante a guerra. A maior parte dos danos foi nas áreas residenciais a oeste do centro, Tiergarten, Charlottenburg, Schöneberg e Spandau. Por causa das condições de tempo seco, várias 'tempestades de fogo' se iniciaram. 175 mil pessoas ficaram desabrigadas. 26 aeronaves (3,4%) foram perdidas.
Berlim foi atacada por 483 Lancasters e 15 Mosquitos. Os danos ao sistema ferroviário de Berlim foram extensos. Mil caçambas carregadas de material de guerra destinadas à Frente Oriental foram retidas por seis dias. O Teatro Nacional e o prédio que abrigava os arquivos militares e políticos da Alemanha foram destruídos. O efeito cumulativo das campanhas de bombardeios tornaram inutilizáveis mais de um quarto do total de habitações de Berlim.
Berlim foi atacada por 561 Lancasters, 314 Halifaxes e 16 Mosquitos; despatche. Esse foi o maior ataque, em número de aviões da RAF a Berlin. 43 aviões foram derrubados (26 Lancasters e 17 Halifaxes).
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