O roteiro, escrito por Walter Bullock, se passa durante a Segunda Guerra Mundial e gira em torno da paixão de uma corista (Alice Faye) por um soldado já comprometido (James Ellison). O filme apresenta Carmen Miranda em um dos papéis mais marcantes de sua carreira.[5] Incluído entre as 10 maiores bilheteiras do ano, foi o filme mais caro da Fox até então.[6]
The Gang's All Here recebeu críticas positivas em sua estreia, exceto uma resenha do New York Times, que observou uma inclinação freudiana em relação às gigantescas bananas do filme. Ele também recebeu uma nomeação ao Oscar de Melhor Direção de Arte.[7][8] Atualmente, é considerado um dos melhores filmes de Berkeley e elogiado como uma obra-prima cinematográfica por críticos e estudiosos do cinema.[9][10]
Em dezembro de 2014, a Biblioteca do Congresso classificou o filme como "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo" e o selecionou para preservação no National Film Registry.[11]
Sinopse
Certa noite, o soldado Andy Mason Jr. (James Ellison) conhece a showgirl Edie Allen (Alice Faye) na casa noturna Club New Yorker. Porém, Andy precisa partir para uma missão no Pacífico durante a II Guerra Mundial. Quando Andy volta condecorado do combate, seu pai, Andrew Mason (Eugene Pallette), decide fazer uma comemoração especial para recebê-lo e chama o grupo do Club New Yorker para protagonizar um espetáculo na casa de seu amigo Peyton Potter (Edward Everett Horton). Assim, Edie e sua exótica amiga Dorita (Carmen Miranda) descobrem que Andy tem um compromisso com a filha de Potter, Vivian (Sheila Ryan). Ao chegar, Andy se vê obrigado a desfazer o mal entendido.
O título provisório do filme foi The Girls He Left Behind. O diretor Busby Berkeley foi emprestado da Metro-Goldwyn-Mayer para dirigir o filme, embora, no momento em que as gravações começaram, no final de setembro de 1943, a MGM tivesse transferido seu contrato para a Warner Bros. Pictures. The Gang's All Here foi o primeiro filme colorido dirigido por Berkeley, e os números de produção extravagantes foram bem recebidos pela crítica, especialmente a famosa sequência "The Lady In The Tutti Frutti Hat", onde dançarinas aparecem segurando e dançando com bananas de meio metro, que, segundo críticos, evocavam a imagem de pênis em ereção, culminando com Carmen Miranda equilibrando um grande painel de bananas sobre a cabeça.[12]
O compositor Harry Warren estava inicialmente programado para trabalhar com o letrista Mack Gordon na trilha sonora do filme, mas foi substituído por Leo Robin. Segundo o Hollywood Reporter, a canção "Pickin' on Your Momma" estava entre as músicas planejadas para o filme, junto com "Sleepy Moon" e "Drums and Dreams", mas ambas foram cortadas antes do lançamento final.
Durante as gravações, Alice Faye estava grávida de seu segundo filho. Embora tenha feito uma participação especial cantando no filme Quatro Moças num Jipe (1944), The Gang's All Here marcou sua última aparição em musicais até a versão de 1962 de Feira de Ilusões. Faye se afastou do cinema, embora tenha feito mais um filme, o drama de 1945 Anjo ou Demônio.[13]
Linda Darnell foi originalmente escalada para interpretar "Vivian Potter", mas devido a problemas pessoais que afetaram o ritmo da produção e a uma torção no tornozelo durante os ensaios de dança, Darryl F. Zanuck decidiu suspendê-la.[14] A atriz Sheila Ryan acabou assumindo seu lugar. O filme também marcou a estreia no cinema das atrizes June Haver, Jeanne Crain e Jo-Carroll Dennison, que foi Miss América de 1942.
Carmen Miranda estava lidando com uma pequena falha no nariz, resultado de uma plástica, durante as filmagens, mas conseguiu escondê-la com maquiagem. Após o término das filmagens, passou por outra cirurgia, que quase lhe custou a vida devido a uma infecção no fígado. As roupas do filme foram assinadas por Yvonne Wood, que, até então assistente de figurino, conseguiu o cargo de figurinista principal com o apoio de Carmen Miranda, que insistiu com o produtor William LeBaron. Carmen continuou a trabalhar com Yvonne em seus outros quatro filmes na Fox e a utilizou como figurinista pessoal.
The Gang's All Here fez parte de um conjunto de nove longas-metragens produzidos pela Twentieth Century Fox entre 1940 e 1945, todos realizados dentro das diretrizes da Política de Boa Vizinhança.[15]
Trilha Sonora
Aquarela do Brasil (Brazil) — composição de Ary Barroso, interpretada por Nestor Amaral, Carmen Miranda, Bando da Lua, coro e orquestra.
The Gang's All Here foi lançado nos Estados Unidos em 24 de dezembro de 1943.[17] Embora algumas notícias da época indicassem a proibição do filme no Brasil, os arquivos do filme na biblioteca da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não continham informações sobre qualquer censura no país.[18] Segundo a Cinemateca Brasileira, o filme estreou no Brasil em 5 de novembro de 1944.
Em 25 de setembro de 2005, o filme foi exibido no Festival do Rio em uma versão restaurada, durante a sessão de Grandes Clássicos do Cinema Mundial, em homenagem aos 50 anos da morte de Carmen Miranda.[19] Também foi apresentado em 2 de abril de 2006 no Wisconsin Film Festival, na cidade de Madison.
Recepção da crítica
A maioria das críticas ao filme foram positivas, exceto a do New York Times, que notou uma inclinação freudiana nas gigantescas bananas de The Gang's All Here: "O ponto principal em The Gang's All Here são os luxuosos números de produção arranjados por Busby Berkeley. (...) Berkeley esconde ideias maliciosas por trás dessas cenas; um ou dois de seus espetáculos de dança parecem vir diretamente de Freud".[20] Por sua vez, a Variety comentou que "o roteiro é um pouco fraco, sendo eclipsado pelo conjunto de números musicais melodiosos que frequentemente pontuam o filme", mas elogiou as performances, especialmente a de Carmen Miranda, como "excelente".[21]
O jornal Chicago Reader destacou que o filme é "o mais audacioso de Busby Berkeley, uma exploração das possibilidades de movimento e cor que se aventura no reino da pura abstração", concluindo: "O simbolismo sexual está em seu auge flagrante; o que se pode dizer sobre um filme que apresenta 60 meninas acenando com bananas gigantes?".[22] O The Guardian, do Reino Unido, afirmou que o filme "oferece uma fuga dos anseios da época de guerra para um mundo fantástico, extravagante e espetacular, que James Agee chamou de números de produção paroxísticos".[23] Em uma revisão sobre o lançamento em Blu-ray, o blog CineVue escreveu: "The Gang's All Here é o ápice do êxtase cinematográfico, uma obra-prima deslumbrante".[24]
Eric Spilker, da New York Post, comentou que "The Gang's All Here é um filme muito incomum; não há nada como ele. É um musical rotineiro da década de 40 com um enredo romântico da época de guerra, mas possui esses números de produção surrealistas surpreendentes de Busby Berkeley".[25] O crítico de cinema Richard Brody acrescentou: "Em uma época em que Fred Astaire insistia em ser filmado de frente, de maneira tediosamente teatral, Berkeley, um mestre do movimento e da abstração, entendeu como tornar a dança distintivamente cinematográfica. Ele prova isso aqui, com seu uso de luz, sombra e ângulo nas danças, além de transformar as performances de Benny Goodman em espetáculos visuais".[26]
O jornal Folha de S. Paulo, em sua crítica sobre o filme, escreveu: "O longa apresenta uma coreografia delirante (...) Berkeley utiliza posições de câmera arrojadas para compor com Carmen Miranda e seus balangandãs uma imagem festiva e sensual de um lugar que lembra a América do Sul, mas que parece mais radiografar o cérebro do diretor/coreógrafo".[3]
Em dezembro de 2014, a Biblioteca do Congresso reconheceu The Gang's All Here como "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo" e o selecionou para preservação no National Film Registry.[11]
Em 2018, a revista Billboard elegeu o número musical "The Lady in the Tutti Frutti Hat" como uma das "100 Melhores Apresentações Musicais do Cinema", alcançando a 65ª posição.[27]
Referências
↑ Aubrey Solomon, Twentieth Century-Fox: A Corporate and Financial History Rowman & Littlefield, 2002 p 220