Paleoamericanos e paleoameríndios são termos utilizados para designar os primeiros povos que entraram e, posteriormente, habitaram o continente americano durante a última glaciação no período Pleistoceno tardio.[1]
A Cultura Clóvis, descoberta em 1929, era considerada como a cultura indígena mais antiga da América, datada de 13.500 anos,[3] gerando-se um consenso que foi fundamento da teoria do povoamento tardio do continente. A partir das duas últimas décadas do século XX, novas pesquisas científicas questionaram essa teoria, defendendo a existência de culturas paleo-americanas muito mais antigas.[4]
Alem disso, segundo pesquisas da Universidade de Copenhagen o chamado corredor sem gelo se tornou habitável por humanos apenas 12.600 anos atrás, isto é quase 1 000 anos após a formação da cultura Clovis, o que significa que os primeiros americanos não foram os que entraram no continente a partir do Alasca através do corredor livre de gelo canadense, mas tanto os grupos que desenvolveram a cultura Clovis como outros, tomaram a rota costeira do Pacífico,[5][6] através da qual esteve aberta uma ampla Conexão Beringia, tão ampla quanto a distância norte-sul até o atual Alasca, uma região onde os mamutes e as gramíneas das estepes da Sibéria se misturavam com as do noroeste da América.[7]
Pode-se considerar que Alex Krieger foi o precursor da teoria do povoamento precoce ou temporão,[8][9] mas nas últimas décadas, nas Américas têm sido achados vários sítios arqueológicos importantes nos quais cientistas de todo o mundo estão encontrando possíveis evidências incompatíveis com a teoria da colonização tardia (clóvis), que aponta para uma colonização precoce do continente americano. Apesar das polêmicas, os seguintes sites podem se destacar:
Cuenca del Valsequillo, Puebla, México, pegadas humanas em cinzas vulcânicas de 40 000 anos AP.[11]
Pendejo Cave, Novo México, Estados Unidos, ponta de lança entre ossos de um cavalo, ferramentas de ossos, cabelo humano, e impressões digitais e de palmas humanas, como datações até de 36 000 AP.[12]
Pedra Furada, Brasil, instrumentos de pedra, como facas e raspadores de pelo menos 32 000 anos. Um crânio humano incompleto e 29 dentes, em sedimentos datados em 24.000 anos pelo método da luminescência óptica.[13][14]
El Cedral (SLP, México). Restos humanos e artefactos líticos com antiguidade de 31 000 anos.
Arroyo del Vizcaíno, Canelones, Uruguay. Restos de 30 000 anos.[15]
White Sands, Novo México, Estados Unidos, pegadas humanas delimitadas por camadas de sementes datadas por radiocarbono entre 23 e 21 mil anos AP.[2][17]
Toca da Tira Peia, Coronel José Dias, Piauí, Brasil, 113 artefatos de pedra consistindo em ferramentas e fragmentos de ferramentas em várias camadas de solo, a terceira datada por luminescência en 22.000 AP.[18]
Topper, Carolina do Sul, Estados Unidos, ferramentas de pedra e outros artefatos de pelo menos 20 000 anos de antiguidade.[19]
Meadowcroft Rockshelter, Pensilvania, Estados Unidos, restos de processamento de animais, ferramentas e evidências de ocupação humana que datam de 19.000 AP.[21][22]
Piquimachay, Ayacucho, Perú. Pontas de projetil, raspadores, facas; de 17 000 anos, aproximadamente. O antropólogo Mc Neish opina que estes imigrantes chegaram aos Andesperuanos há 22 000 anos.
Buttermilk Creek, Texas, Estados Unidos,pontas de projetil e vários artefatos que evidenciam uma ocupação humana quase contínua, que começou pelo menos há 16 000 anos..[23][24]
Cooper's Ferry, Idaho. Ferramentas e fogueiras datadas entre 15 280 e 16 560 anos AP.[25][26]
Caverna da Pedra Pintada, Pará, Brasil. Pontas de projetil pulidas em forma triangular. Ferramentas de pedra datadas em até 16 190 anos AP.[27] Covas decoradas com figuras geométricas e imágens antropomorfas. Restos vegetales de ocupaçãon humana de há 11 110 anos AP.
Cactus Hill, Virginia. Lascas de pedra, pontas de projetil e raspadores con datações entre 15 070 e 19 700 AP.
Page-Ladson, Florida. Pontas de lança de marfim, artefatos de pedra e osos de mastodonte com marcas de corte, datados entre 15 405 e 14 146 anos AP.
Tultepec II, estado de México. Armadilhas excavadas para caçar mamute e centenas de osos dos animais caçados, nos estratos que datam de 15 000 anos AP.[28]
Monte Verde (Chile), artefatos líricos e óseos, cordas, estacas, coro de Gomphotherium e pisadas de um pé pequeno, com datações confirmadas de pelo menos 14 800 anos e evidencias de ocupação humana anterior.[29]
Wilson Butte Cave (sur de Idaho). Ferramentas de pedra associadas com ossos datados 14 500 anos AP.
Saltville, Virginia, ferramenta de osso, facas de pedra, feitas a mão, microtalhas, restos de mastodonte cozido e carbono vegetal com datações entre 14 500 e 13 000 AP.
Calico, California, ferramentas bifaciais que datam de 14 400 anos.
Tibitó, Tocancipá, Cundinamarca, Colômbia. Instrumentos de corte, raspadores laterais, um raspador quilhado e artefatos de osso que se interpretam como facas e perfuradores, de 11 740 anos.
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