Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira a estabelecer um recorde mundial e deu ao Clube de Regatas do Flamengo diversos títulos expressivos.[1][4] É considerada pioneira da natação moderna, já que foi a primeira mulher a usar em competições o nado borboleta, sendo responsável pela introdução deste tipo de nado, quando o nadou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim, em uma prova de peito.[1][5]
Biografia
Nascida na cidade de São Paulo, nadava desde os primeiros anos da introdução das competições no Brasil, participando das provas ainda em mar aberto.[1][6]
Tudo começa com uma pneumonia dupla.[6] Depois do susto, os pais acharam que a natação faria bem à saúde da filha de dez anos. Na ausência de piscinas, a paulistana Maria Lenk teve de dar suas primeiras braçadas no Rio Tietê.[7] Nas décadas de 1920 e 1930, o rio, que corta a cidade de São Paulo, não era poluído e era possível banho recreativo e a prática de esportes.[1][8]
Maria, junto com outros 68 atletas da equipe brasileira, custearam a viagem para competir nas Olimpíadas de Los Angeles, vendendo o café que levaram no porão do navio.[1]"O que valia era o conceito do amadorismo. Eu competi com um uniforme emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram", lembra.[11] Na competição em solo estadunidense defendeu o Brasil em três provas. Nos 100 metros livres, foi até a quarta bateria, não chegando a semifinal.[12] Na prova de 100 metros costas, foi desqualificada na segunda bateria.[13] Nos 200 metros costas, foi até a terceira bateria, mas, não conquistou a vaga para a rodada final.[14]
O recorde dos 400 metros nado peito, que atualmente não existe mais, foi de 6min15s80, foi registrado no dia 11 de outubro daquele ano, na piscina do Clube de Regatas Guanabara.[16] No mês seguinte, Lenk nadou 2min56s90 na prova de 200 peito, também na piscina do Guanabara.[1]
No início da década de 1940, foi a única mulher da delegação de nadadores sul-americanos que excursionou pelos Estados Unidos; Maria Lenk quebrou doze recordes norte-americanos e aproveitou sua estadia para concluir o curso de educação física na Universidade de Illinois em Springfield.[1]
Em 1942 ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi professora da universidade por mais de quatro décadas.[20] Era também membro vitalício da Sociedade Americana de Técnicos de Natação.[1][21]
Ainda hoje detém diversos recordes mundiais de masters, entrando para o Hall da Fama da Federação Internacional de Natação (FINA) em 1988, quando foi homenageada com o Top Ten da entidade máxima do esporte por ser um dos dez melhores nadadores master do mundo.[1]
No campeonato mundial da categoria 85-90 anos, realizado em agosto de 2000, ela voltou de Munique com cinco medalhas de ouro: foi a campeã dos 100 metros peito, 200 metros livre, 200 metros costas, 200 metros medley e 400 metros livre.[1][22][23] Nesse torneio, Lenk, ganhou o apelido de Mark Spitz da terceira idade, uma referência às sete medalhas de ouro que o nadador norte-americano ganhou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972 em Munique.[1]
Em 2003, após três anos de pesquisas, lançou o livro Longevidade e Esporte, onde mostrou os benefícios trazidos pela prática de esportes.[24][25] Até os últimos dias de vida nadava cerca de 1 500 metros por dia.[1]
No ano de 2015, entrou para a lista "10 Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio".[30]
No dia 20 de julho de 2022, por meio de decreto do então presidente Jair Bolsonaro (PL), foi declarada Patrona da Natação Brasileira através da Lei Nº 14 418/2022.[31]
Vida pessoal
Era filha de imigrantes alemães, Paul e Rosa Lenk, que vieram para o Brasil em 1912,[32] e irmã da também nadadora Sieglinde Zigler, e de Ernesto Lenk, que se especializou no basquete.[33] Era viúva e mãe de um casal de filhos: Gilbert e Marlen.[34][35]
Apesar dos feitos, Maria Lenk foi uma personagem contraditória; ao mesmo tempo que muitos a viam como uma pioneira, outros tinham muitas restrições, pois Lenk possuía uma personalidade muito forte e foi uma professora de atitude muito séria e rígida diante dos alunos e colegas de trabalho.
Morte
Maria Lenk morreu aos noventa e dois anos de idade, em consequência de parada cardiorrespiratória, em meio ao seu treino nas dependências do clube social do Flamengo.[32][4] Foi encaminhada para o hospital Copa D'Or, em Copacabana, mas não resistiu.[36][37]
Em 2022, o acervo de Maria Lenk foi doado para o Arquivo Nacional (AN) no Rio de Janeiro, por Francisco da Costa e Silva Júnior, sobrinho da atleta.[38]