A música russa foi desenvolvida com base em três tradições fundamentais, condizentes com os povos que formaram o estado russo: as tradições dos eslavos, a mitologia escandinava e as tradições do Império Romano Oriental, sendo esta última a mais influente. Os elementos nórdicos se fizeram mais presentes no buylini, uma variação da canção de gesta cantada em acompanhamento ao guzli. Contatos com as culturas italiana, alemã e húngara também tiveram sua parcela de influência na composição da música russa.[1]
No século XII, a produção musical russa sofreu um baque quando o bispo Cyril Turovsky ajudou a promulgar proibições contra a atividade musical, atribuindo-a a uma manifestação do inferno. A partir daí, os músicos outrora patrocinados pela corte ou se tornaram animadores públicos em suas cidades ou então partiram para as províncias mais distantes e continuaram contribuindo para a música folclórica. Esse processo de descentralização contribuiu para que a música folclórica russa enriquecesse, e explica também por que elementos das terras do sul russo podem ser encontrados no norte.[2]
Desse momento até o século XVI, a Igreja dominou as artes.[3] Então sob o reinado de Pedro I da Rússia, a Rússia passou por um processo de ocidentalização que afetou a música; muitos profissionais europeus, especialmente italianos (ex: Francesco Araja), migraram para o país, onde produziram diversas obras.[4]
O reinado de Catarina, a Grande, contudo, promoveu uma guinada no sentido inverso. Ela assumiu o trono num momento em que os músicos locais começaram a reagir às influências estrangeiras. Sendo ela uma divulgadora do nacionalismo russo, Catarina estimulou esse movimento, que levou ao nascimento de inúmeras óperas nacionais produzidas por compositores importantes como Dmitry Bortniansky. A safra italiana que permaneceu na Rússia, por sua vez, acabou incorporando elementos locais em suas obras.[5]
Nacionalismo russo
O nacionalismo na Rússia nasce e se desenvolve ao longo do século XVIII num contexto em que as influências estrangeiras colidiam com a predileção dos compositores daquela época por sons locais. Contudo, nesse início, a música folclórica ainda era vista com certo desdém. Um exemplo foi a primeira ópera de Mikhail Glinka, Ivan Sussanin, produzida em 1836, que foi recebida sob comentários do tipo "o cocheiro nas ruas canta esse tipo de coisa".[6]
O período entre o auge de Tchaikovski e o surgimento de Stravinsky é marcado pelo processo de maturação da música local, no sentido de que os compositores jovens eram estudantes de conservatórios visando uma carreira profissional na música em vez de autodidatas apaixonados.[7]
A visão estatal da música arrefeceu produções originais da Rússia, mas a música nacional ainda assim viveu um período de produção considerado bem frutífero, tendo como expoentes os compositores Lev Knipper e Dmitri Shostakovitch.[10]
A sigla VIA designava "conjuntos instrumentais e vocais" e era o prefixo comum na designação oficial dos vários grupos musicais socialistas, muitos dos quais faziam canções patrióticas ou de propaganda. O conjunto Samotsvety foi um dos mais populares nos anos 1970 e 1980 na URSS, principalmente com a canção Moi Adres Soviétski Soiuz ("Meu endereço é a União Soviética"). O cantor folclórico Vladímir Vissótski também, além de Leonid Utiossov, Alla Pugacheva e Piotr Leschenko/Lisounenko.
Um som muito distinto da música folclórica russa é a balalaica, instrumento de cordas com sonoridade característica. As canções Kalinka, Katiusha, Poliushka Poliê e Suliko são algumas das que compõem o repertório tradicional deste gênero.
A música folclórica russa tem suas origens nos festivais pagãos agrícolas, sendo o ciclo iniciado na primeira noite após o solstício de inverno; este elemento pagão permaneceu proeminente mesmo após a disseminação do cristianismo, a ponto de as autoridades religiosas verem-se forçadas a fazer o calendário de festividades cristãs coincidir com as pagãs.[2]
A música era parte também de ritos como cerimônias de casamento; 21 canções vocais precediam as núpcias, que eram julgadas de acordo com o padrão de qualidade dessas apresentações.[3]
Devido à vastidão do território russo, a música folclórica local se tornou bastante diversa, bebendo muito de fontes orientais. Com efeito, há registros de passagens de mercadores persas e armênios em regiões longínquas como a Novogárdia, e esses viajantes, bem como outros oriundos de outras terras orientais, deixaram suas influências na música russa.[1]
A ópera russa surgiu a partir de elementos da opéra-comique francesa e das ópera séria e ópera-bufa italianas misturadas com notáveis toques nativos. tendo ela sempre muita ênfase no refrão.[11]
O Grupo dos Cinco (Rússia), como ficou conhecido um conjunto de compositores da virada do século XIX para o XX na Rússia, tentou restaurar a cultura tradicional das raízes da música russa e divulgá-la etm formas modernas. Modest Mussórgski, César Cui, Nikolai Rímski-Korsakov, Mily Balakirev e Aleksandr Borodin foram os seus integrantes.[12]
Pop russo
Atualmente, a música pop russa continua produzindo artistas de destaque, tanto "para exportação" quanto para consumo interno. Os estilos que predominam no início do século XXI são uma forte influência de batidas electrónicas com referências tradicionais. Entre grupos e artistas das novas gerações pós-soviéticas estão Alsu, Zemfira, Zveri, Plazma, Dima Bilan, Linda, Camille & The Band e Akvarium. A dupla de adolescentes t.A.T.u. fez sucesso internacional entre 2000 e 2003 ao simularem uma relação lésbica assumida, depois revelada apenas como jogada de marketing.
Rock
Os meados dos anos 1990 levaram a uma decadência do rock russo, por causa de problemas econômicos, mudanças na mentalidade da sociedade e reorientação da mídia. Ainda assim, sobrevivem várias bandas de rock populares, como sexo , Splean e diversas que começaram ainda nos anos 80, como DDT, Aria, Picnick e Banana Islands.
BROUGHTON, Simon e DIDENKO, Tatiana. "Music of the People". 2000. in: BROUGHTON, Simon e ELLINGHAM, Mark com McCONNACHIE, James and DUANE, Orla (orgs.), World Music, Vol. 1: Africa, Europe and the Middle East, págs. 248-254. Rough Guides, Penguin Books. ISBN 1-85828-636-0
Geoffrey Hindley, ed. (1982). «The Romantics: Russian music from the earliest times» e «Music in the Modern World: Music in Russia». The Larousse Encyclopedia of Music (em inglês) 2ª ed. Nova York: Excalibur. ISBN0-89673-101-4