A Igreja Católica na Mauritânia é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. As estatísticas oficiais do governo afirmam que 100% da população segue a fé islâmica,[6][7] que é a religião do Estado. A Mauritânia é completamente dominada pelo islã, e influências de versões mais austeras e intolerantes dessa religião são cada vez mais visíveis.[6][8][9]Renunciar ao Islã implica em pena de morte. Os poucos membros de outras religiões, incluindo os católicos, não podem viver sua fé em público.[2][6] Os batismos só podem ser realizados em segredo e muitos convertidos do islamismo relutam em ser batizados, por medo da descoberta e de acusações de apostasia contra eles.[6][8]
História
Os berberes nômades habitam a região desde o século I.[10] No mesmo período, a região foi dominada pelo Império Romano, e o cristianismo passou a ganhar adeptos rapidamente, por ser considerada uma "religião de protesto" contra o Roma, já que dessa forma a doutrina católica era uma objeção ao culto ao imperador. Muitos consideravam a adesão cristã como uma declaração direta contra o domínio romano. A chegada do islã na Mauritânia deu início a um processo de arabização e islamização que extinguiu a presença cristã da região.[8]
A região passou a ser explorada pelos portugueses no século XV.[10] Nesse período, os europeus invadiam a costa da região em que hoje fica a Mauritânia para conseguir escravos. À esta altura, diversos papas se manifestaram contra esta prática, não só na África, como também na América, como o Papa Eugênio IV, em 1435, pela encíclicaSicut dudum; Papa Paulo III, em 1537, com o breve apostólicoPastorale officium; e por fim o Papa Gregório XVI, em 1839, por meio da bulaIn supremo apostolatus.[11] A maior parte do atual território mauritano tornou-se parte da Prefeitura Apostólica de Saint-Louis du Sénégal no Senegal, estabelecida em 1779. A partir de 1877, o atendimento aos católicos da região foi transferido do Senegal para o Vicariato Apostólico da Senegâmbia. Em 25 anos, a região tornou-se ocupada e fez parte da África Ocidental Francesa em 1904, e esse momento representou a possibilidade da entrada do catolicismo em larga escala na região novamente, porém os franceses ativeram-se em grande parte apenas nas regiões costeiras do território às rotas comerciais do Deserto do Saara.[8][10]
Na década de 1950, a maioria dos católicos da região eram europeus, enquanto os mauritanos nativos permaneceram sendo seguidores do islamismo. Em 1955, a prefeitura que supervisionava a Mauritânia foi confiada aos Padres Espiritanos. Em 18 de dezembro de 1965, a Mauritânia tornou-se a jurisdição da recém-criada Diocese de Nouakchott, sujeita à Arquidiocese de Dakar, Senegal, sob a responsabilidade dos padres espiritanos.[10] Após a independência, a vida para os poucos cristãos no país tornou-se muito difícil.[8]
Em julho de 1991, o país realizou um referendo constitucional para restabelecer eleições multipartidárias e aprovar uma nova constituição, com base na Carta Constitucional de 9 de fevereiro de 1985. Sob essa constituição, a sharia, lei muçulmana, tornou-se a base da lei civil, e o islã foi proclamado a religião do estado. Ainda assim, os católicos continuaram livres para praticar sua fé, embora o proselitismo dos muçulmanos fosse desencorajado. Bíblias não eram impressas ou vendidas na Mauritânia, embora não houvesse lei contra a sua posse.[10]
Atualmente
No ano 2000, a Mauritânia tinha seis paróquias atendidas por três sacerdotes seculares e dez religiosos. Menos de 40 irmãs frequentavam as cinco escolas católicas de educação infantil e outras questões humanitárias entre a pequena população católica do país, quase todos trabalhadores estrangeiros. Embora o aumento do sentimento fundamentalista entre os muçulmanos tenha levado a acusações de discriminação no final dos anos 90, os líderes da Igreja permaneceram cautelosos ao assumir uma posição agressiva contra a fé majoritária do país. As condições econômicas e climáticas da região, especialmente a seca, levaram o Papa São João Paulo II a contribuir com fundos por meio de sua instituição de caridade privada, Cor Unum, e a solicitar anistia para dívidas. Em 1999, a pedido do Vaticano, a Grã-Bretanha anunciou planos de perdoar todos os valores da dívida externa mauritana.[10]
Ainda na década de 2000, o país sofreu muito com secas, que fez com que mais da metade da população convivesse com escassez de alimentos. Invasões de nuvens de gafanhotos pioraram a situação e medidas tiveram de ser tomadas, com o auxílio da Igreja Católica, para evitar que os agricultores abandonassem o campo e migrassem para as cidades.[12]
No final de novembro de 2017, foi adotada uma reforma legislativa, que enquadrou a blasfêmia e a apostasia como puníveis com a morte, ainda que o réu peça desculpa pelas suas ações.[6][13] A nacionalidade mauritana é reservada apenas aos muçulmanos.[2][6] A Igreja não tem permissão para operar escolas cristãs, apenas jardins de infância, nos quais muitos pais muçulmanos matriculam seus filhos. É rotineiro que migrantes cristãos enfrentem discriminação abertamente. Recentemente, cresceu no país os sentimentos anti-imigração, com registro de ataques racistas e xenófobos, que têm adquirido conotação anticristã também. O ambiente geral faz com que muitos convertidos sejam forçados a manter sua fé em segredo. É impossível para cristãos obterem visibilidade e participarem de questões nacionais abertamente.[8]
Além dos europeus, a maioria dos cristãos residentes na Mauritânia é composta por trabalhadores imigrantes de países vizinhos — notadamente da Guiné-Bissau. O proselitismo é proibido, e os muçulmanos são proibidos de se converter para outras religiões.[8][6][14] Os poucos muçulmanos convertidos à fé católica enfrentam pressão social extrema por parte da família, representantes tribais e líderes das mesquitas locais. Os cristãos estrangeiros têm um pouco mais de liberdade, mas ainda assim é extremamente dificultoso para eles viverem como cristãos na Mauritânia. O governo não abre a possibilidade das comunidades cristãs se registrarem oficialmente, e , por isso, normalmente são forçados a viver sua fé em segredo. Nessas circunstâncias, as oportunidades da minoria cristã se desenvolver e se expressar são muito limitadas, mas não infrutíferas. A Igreja Católica na Mauritânia dedica-se acima de tudo ao trabalho social e caritativo,[15] já que este é um dos países mais pobres do mundo. As irmãs da congregação religiosa presente no território mauritano dão assistência às mulheres grávidas, doentes, migrantes, prisioneiros e deficientes. Elas trabalham nas escolas e em outros centros educacionais. Também ensinam as mulheres – que são proibidas de ir à escola – habilidades manuais como a costura e também a ler e escrever. Também cuidam de muitas crianças subnutridas. Dessas, 40 mil estão apenas na capital, Nouakchott.[16] O bispo de Nouakchott, o alemão Dom Albert Happe, relata que há muçulmanos que não costumam cumprimentar de forma amigável um bispo católico e que outros "deliberadamente afastam o olhar, ou fazem comentários pouco amigáveis". Contudo, após dezessete anos vivendo no país, a sua experiência constata que a maioria das pessoas respeitam a fé cristã.[15]
Organização territorial
O catolicismo está presente no país com uma diocese de rito romano, a Diocese de Nouakchott,[17] cuja Catedral de São José fica localizada na capital, Nouakchott.[18] Também há igrejas católicas nas cidades de Atar, Zouérate, Nouadhibou e Rosso.[15] Há também a Eparquia da Anunciação de Ibadan, sediada na Nigéria e presente em diversos países africanos, incluindo a Mauritânia, e é voltada para os fiéis católicos que seguem o rito maronita.[19] Embora a Igreja Católica tenha permissão para renovar ou reformar o interior das igrejas, é proibida a renovação do exterior e o governo também proíbe a construção de igrejas de outras denominações.[8][9]
A Delegação Apostólica da África Ocidental foi criada em 1959, e veio a se tornar a Delegação Apostólica da Mauritânia em 17 de outubro de 1973, e finalmente elevada a Nunciatura Apostólica da Mauritânia em 13 de maio de 2017.[5] As relações diplomáticas entre a Mauritânia e a Santa Sé foram estabelecidas em 9 de dezembro de 2016. Um comunicado divulgado pelo Vaticano, dizia que as duas partes estão "desejosas de promover as suas relações amigáveis mútuas".[21]