O Centro Histórico do Recife é uma área de ocupação antiga localizada no centro da cidade do Recife, capital do estado brasileiro de Pernambuco. Existe ainda um Centro Histórico Expandido: a chamada "Zona Norte", que corresponde precisamente ao noroeste do município. No centro histórico recifense está o Marco Zero, ponto onde surgiu o povoado da "Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios". Representa, em conjunto com os sítios históricos de Olinda, Igarassu e dos Guararapes, um dos principais roteiros de arte barroca do Brasil, sendo alguns dos seus templos os mais antigos de diferentes ordens religiosas no país.[1][2]
Mais antiga entre as capitais estaduais brasileiras, o Recife surgiu em 1537 nos arredores do maior porto exportador do Brasil Colônia durante o ciclo da cana-de-açúcar. Contudo, só veio conhecer desenvolvimento significativo após a invasão holandesa de 1630, quanto tornou-se sede da colônia de Nova Holanda, sobrepujando então a vila que o originou, Olinda — destruída pelos batavos.[3][2][4]
O Recife é o único dos cinco patrimônios barrocos do país que não possui o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Em que pese o fato — atribuído à demolição e descaracterização da maior parte do seu centro histórico —, a capital pernambucana possui exemplares de arquitetura religiosa de excepcional importância, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Uma vez que não foi sede colonial portuguesa, o Recife teve seus templos barrocos construídos às expensas de abastados comerciantes e senhores de engenho locais.[5][2]
O Teatro de Santa Isabel, projetado pelo engenheiro fourierista francês Louis Léger Vauthier, foi inaugurado em 1850, e é um dos poucos exemplares do genuíno neoclassicismo erguidos no país na primeira metade do século XIX. Vauthier chegou às terras brasileiras em 1840, uma época de mudanças no Recife, que pretendia alterar suas feições portuguesas de cidade recém-saída da época colonial. Pernambuco decidiu então construir um teatro na sua capital. Como não havia profissionais qualificados no Brasil, a província promoveu a vinda de engenheiros, matemáticos, técnicos e operários europeus.[6]
No Recife, cidade com o mais opulento conjunto de palacetes e solares do Brasil, a aristocracia pernambucana possuía casarões ajardinados já na primeira metade do século XIX, em áreas próximas ao rio Capibaribe. Nessas casas encontravam-se sofás, cadeiras medalhão, credências, canapés, cômodas, guarda-louças, camas, aparadores, confeccionadas em jacarandá e outras madeiras nobres, por marceneiros famosos como o francês Julião Béranger e seu filho pernambucano Francisco Manuel, responsável pelo estilo Béranger; seguindo-se de Remígio Kneip e Guilherme Spieler, grandes nomes da marcenaria pernambucana do século XIX. Algumas mansões recifenses possuem características arquitetônicas únicas no país.[11]
A Fábrica Tacaruna, primeira refinaria da América do Sul e primeira construção em concreto armado do Brasil.
Demolição e descaracterização do patrimônio histórico
A maior parte dos edifícios coloniais do Recife foi demolida e descaracteriza, e quase todo o antigo traçado urbano recifense perdeu-se com as obras de modernização empreendidas na cidade. Entretanto, ocorrem agressões ao patrimônio histórico desde o período colonial. Casos emblemáticos são o do imponente Palácio de Friburgo, sede da colônia de Nova Holanda construída por Maurício de Nassau e demolida entre os anos de 1774 e 1787 tendo por justificativa os danos sofridos durante a Insurreição Pernambucana, e o do Palácio da Boa Vista, que era o local de repouso e lazer do Governador do Brasil Holandês.[19]
Mas foi a partir dos primeiros anos do século XX que a destruição do centro histórico tomou maiores proporções. O Largo do Pelourinho do Recife (Largo do Corpo Santo) e diversos outros conjuntos coloniais foram completamente demolidos. Ainda na primeira metade do século XX, foram construídas avenidas como a Guararapes e a Conde da Boa Vista, que exigiram muitas demolições, a exemplo da Capela Anglicana do Recife. Na década de 1970 ocorreu a maior e mais vasta ação demolidora sofrida pela cidade: a abertura da Avenida Dantas Barreto (1971-1973), quando centenas de sobrados coloniais foram eliminados e, para permitir a conclusão da obra, o então presidente Emílio Garrastazu Médici destombou a Igreja dos Martírios — que era protegida pelo IPHAN —, permitindo a sua destruição.[20][21][22][23]