A autodenominação da etnia, iny, significa "nós".[1] O exônimo "carajá" tem origem no tupi antigokaraîá.[5] A etnia já foi chamada de "Caraiaúnas" e "Carajaúna". Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia "Carajahí", mas Krause, em 1908, consagrou a grafia "Karajá".[1]
Os carajás dividem-se em três subgrupos que também correspondem aos três dialetos por eles falados: os carajás propriamente ditos, os javaés e os xambioás (por vezes, referidos como "carajás do norte"). Eles se autodenominam inã, que é um termo comum aos três subgrupos. Algumas classificações consideram os javaés como um grupo bastante distinto, embora eles partilhem a mesma cultura e a mesma vida ritual dos carajás e xambioás, apenas se distinguindo por alguns detalhes.
Viveram tradicionalmente da agricultura, da caça de animais da região (caititus e antas) e principalmente da pesca. Atualmente, devido à pressão da colonização brasileira e da criação de uma dependência quanto aos bens dos não índios, acabam por comercializar uma parte dos produtos da pesca e do artesanato, entre outras atividades comerciais.
A vida social dos carajás é baseada na família extensa, em que o homem passa a residir na casa de sua mulher após o casamento (prática conhecida em antropologia como casamento uxorilocal). Os casamentos são proibidos entre parentes próximos até os primos de primeiro grau. A partir do segundo grau, o casamento entre primos é não apenas permitido como desejado, para manter a união da família.
As aldeias carajás são formadas por uma ou mais fileira de casas residenciais ao longo do rio e, afastada delas e voltada para a mata, uma casa conhecida como idjassó hetô, ou "casa de Aruanã". Pode também ser chamada de "casa dos homens". Essa casa afastada é o centro da vida ritual.
O calendário ritual dos carajás intensifica-se com a cheia do rio Araguaia (entre dezembro e fevereiro). Pode ser dividido em dois grandes ciclos rituais: o Hetôhokã, ou "Festa da Casa Grande", quando se admitem os rapazes à "casa dos homens", e o Idjassó Anarakã, ou "Dança dos
Aruanãs", que os coloca em contato com entidades espirituais que povoam o cosmo.
A pintura corporal é importante para os carajás. Antigamente, na puberdade, os jovens tatuavam o característico símbolo carajá dos "dois círculos" na face, quando a mistura de tinta de jenipapo com fuligem de carvão era aplicada sobre a face previamente sangrada com o auxílio do dente do peixe-cachorra (Hydrolycus scomberoides). Hoje, devido ao preconceito das populações ribeirinhas, os jovens carajás apenas desenham os dois círculos na face durante a época dos rituais carajás.[1]
Cosmologia
Os carajás concebem o universo como formado por três camadas: um mundo subaquático de onde surgiu a humanidade e onde habitam os idijaçós (entidades protetoras e antepassados míticos dos carajás); o mundo terrestre, visível a qualquer um e morada dos atuais carajás; e o mundo das chuvas, onde moram entidades poderosas e destino das almas dos xamãs. A comunicação com esse mundo cósmico é assegurada pela existência do xamã, cuja atuação é reconhecida sempre como ambígua: traz as curas e as entidades, mas pode trazer a doença e a morte.
Bonecas carajás
Um elemento cultural característico dos carajás é a elaboração de tradicionais bonecas de barro zoomorfas ou antropomorfas. Em língua carajá, essas bonecas são denominadas ritxòò (na linguagem dos homens) e ritxoko (na linguagem das mulheres).[4] Elas são feitas visando ao divertimento das crianças e ao aprendizado da vida social pelas meninas. Atualmente, no entanto, são muito comuns em lojas de artesanato e em museus, e tornaram-se uma importante fonte de renda para os carajás.[1] Em janeiro de 2012, as bonecas carajás foram reconhecidas oficialmente como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.[6]
As Ritxoko são bonecas de cerâmica confeccionadas pelas mulheres Carajá[carece de fontes?]. Os conhecimentos de sua produção, desde a coleta do barro até a pintura, são transmitidos tradicionalmente, das mulheres mais velhas para as mais novas. Durante esse processo elas ensinam não só a fazer as bonecas, mas também a viver como Carajá, através das histórias de seu povo, fazendo ali uma ligação ancestral com as jovens. As bonecas são utilizadas para contar histórias do povo Carajá, seja das narrativas cotidianas, de sua relação com o meio, assim como de suas narrativas míticas.[7]
Aytai, Desidério. 1979. O sistema tonal da música karajá. Revista do Museu Paulista, Nova Série, v. XXVI, p. 257-65, resumo em inglês, 3 transcrições musicais. São Paulo: Museu Paulista.