Nascimento ingressou na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em 2 de fevereiro de 1987 como aluno-oficial na Academia de Polícia Militar Dom João VI, e foi declarado Aspirante a Oficial em dezembro de 1989.
A situação foi agravada com iminente nascimento do primeiro filho, fruto do casamento com Rosane (interpretada por Maria Ribeiro). Nas operações realizadas em favelas, o caveira subia o morro em pânico e questionava as ordens do comando do BOPE. O casamento começa a entrar em um ciclo de discussões e brigas cada vez mais violentas. Nascimento começa a ficar mais ausente em seu próprio lar.
Na tentativa de salvar "sua família", Nascimento começa a procurar um substituto. Inicialmente vê o aspirante Neto Gouveia (interpretado por Caio Junqueira) como um forte candidato, mas o temperamento irascível do oficial logo põe em dúvida a escolha. O capitão do BOPE decide seguir o conselho da esposa de manter Neto no comando da equipe Alfa, mesmo desconfiando que a decisão poderia ser um erro. Neto acaba sofrendo uma emboscada de traficantes que inicialmente havia sido encomendada para André Mathias (interpretado por André Ramiro). Após a morte de Neto, Nascimento adota Mathias como efetivo sucessor. [2]
Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro
O plano para salvar a família não dá certo e o casamento acaba. Nascimento retorna ao comando do BOPE onde permanece durante muitos anos chegando a patente de Tenente-Coronel. Mantém-se como chefe dos caveiras até uma operação malsucedida em Bangu I. Servindo como bode expiatório é afastado do comando, mas graças à popularidade alcançada pela ação fracassada, Nascimento "cai para cima" e é convidado a integrar o serviço de inteligência da Policia do Rio de Janeiro, o que lhe dá poderes inéditos. O caveira passa a investir pesado contra o tráfico de drogas. Nascimento amplia o poder do BOPE, transformando-o em uma "máquina de guerra".
O novo cargo também dá uma visão inédita a Nascimento que passa a compreender as relações entre o crime organizado e os políticos. Segundo o ator Wagner Moura, em entrevista a revista Rolling Stone 94, o ex-caveira começa a perceber que "talvez tenha se dedicado a vida inteira a uma causa diferente da qual ele achava que defendia. O cara acha que está servindo ao povo, mas está servindo ao Estado, o que são coisas bem diferentes". [5]
Enquanto suas forças são totalmente concentradas no trabalho da Secretaria de Segurança Pública, Nascimento tenta se aproximar do filho, Rafael, com quem manteve pouco contato após o fim do casamento.
Desenvolvimento
Origem
Muito se especula sobre quem se baseia Roberto Nascimento. Apesar da imprensa apontar o roteirista e ex-membro do BOPE, Rodrigo Pimentel como inspiração do personagem,[6][7] a tese mais aceita é que Nascimento foi criado a partir de fragmentos de perfis de várias pessoas colhidos durante o processo de elaboração do primeiro filme.[1] O próprio Pimentel já afirmou em entrevistas: "Eu não sou o capitão Nascimento".[8]
Existe, entretanto, um personagem real que serviu de ponto de partida para a trama de Nascimento no primeiro filme: O ex-comandante do BOPE Ronaldo Pinto que, em meados dos anos 90, havia completado quatro anos de comando, estava cansado do Batalhão e procurava um substituto. Para o cargo elegeu Rodrigo Pimentel que na época estava lotado em um Batalhão Policial no município de Resende no Rio de Janeiro. Os policiais haviam se conhecido anos antes durante o Curso de Operações Especiais, na época realizado em São Paulo.[1]
A postura e muitos dos bordões de Nascimento são creditados ao consultor/preparador de elenco e ex-membro do BOPE Paulo Storani. Na época da produção do primeiro filme Storani estava redigindo uma dissertação de mestrado em antropologia para a Universidade Federal Fluminense (UFF) sobre "o rito de passagem" (mais conhecido por Curso de Operações Especiais) do BOPE.[1] Do período de preparação com o ex-policial, o ator Wagner Moura pegou o hábito de chamar os outros de "senhor" e dizer "padrão" quando algo está bom. A postura de levantar o rosto ao falar para mostrar liderança também foi adquirida observando Storani.[1]
O personagem herdou do roteirista Rodrigo Pimentel a veia "irônica", o "humor negro com requintes de crueldade" e o "gosto por discursos com tons moralistas". No período em que estava lotado no BOPE Pimentel gostava de passar sermão aos usuários de drogas da classe média dizendo que eles é quem estavam financiando o tráfico.[1]
Posição de protagonista
O roteiro de Tropa de Elite não previa o Capitão Nascimento como protagonista e sim o personagem André Mathias (interpretado por André Ramiro). [1][9] No entanto, a primeira montagem acabou não agradando os produtores, pois consideraram que o filme começava a ficar interessante após 50 minutos, quando as intervenções do Capitão Nascimento ficavam mais frequentes.[1] A interpretação de Moura "roubava todas as cenas" segundo o montador Daniel Rezende: "A performance era tão incrível que mexemos na estrutura do filme para fazer do Nascimento o personagem principal".[9] Partiu de Daniel Rezende a frase que acabou na boca de Nascimento e serviu de justificativa para a mudança: "Na verdade, eu precisava da inteligência de um e do coração do outro. Se eu pudesse ter juntado os dois, a minha história não teria sido tão difícil".[1] Também ocorreu a substituição de narração em off, de Mathias para Nascimento. O diretor José Padilha disse, "percebemos que o filme montaria melhor com a narração do Nascimento, porque era alguém que já tinha a noção da inviabilidade de combater o tráfico daquela maneira e que poderia também falar como funcionava o sistema policial". [10]
Controvérsias
Nascimento foi originalmente criado para criticar ações violentas da polícia, como explicou José Padilha: "Em Tropa de Elite, por exemplo, a exposição do Capitão Nascimento é claramente crítica. O personagem serve para mostrar os defeitos de uma polícia que tortura e mata. O filme mostra também a inviabilidade da vida de Nascimento. Ele nem sequer consegue manter sua família coesa".[9] Entretanto o personagem acabou se tornando o "maior fenômeno pop do cinema nacional dos nossos tempos",[5] sendo apontado por parte da imprensa como herói".[11] A alcunha foi mais de uma vez refutada pelo diretor do filme: "É importante distinguir a diferença entre herói e ícone pop. E o Nascimento não é um herói. Por exemplo: o Dom Corleone. É um personagem carismático, de apelo popular, embora seja um mafioso assassino. Em outras culturas há milhões de ícones pops violentos e com a moral torta. É um fenômeno esporádico que acontece no cinema".[12] O diretor também esclareceu, "Ele tortura inocentes e mata pessoas que deveria prender. Não tem as virtudes morais que o senso comum exige de um herói".[11]
Bráulio Mantovani, roteirista dos dois filmes corrobora a opinião de Padilha: "No primeiro Tropa, o que mais me surpreendeu nisso foi que uma parcela tão grande da população tenha visto o Nascimento como um herói. Para mim, nunca foi. Ele é um anti-herói, um personagem interessantíssimo."[13] Mantovani também disse, "Fomos muito criticados no Tropa 1, como se nosso pensamento fosse idêntico ao do Capitão Nascimento. E, ora, não se pode confundir autor e personagem. Eu acho que a tortura não é a maneira mais eficiente de fazer investigação policial, mas o Nascimento sim. Há obras em que personagens têm mais características de vilão do que de um herói, e nem por isso deixam de ser interessantes. Macbeth e Ricardo III são dois exemplos disso". [14]
Wagner Moura expressa a mesma opinião quanto à alcunha de herói: "Os brasileiros começaram a ter o Capitão Nascimento como um herói nacional e isso é chocante para mim, porque ele não é, de maneira nenhuma, um herói. Ele mata, tortura".[15] Padilha afirmou que o Capitão Nascimento do imaginário popular - "o cara destemido, que enfrenta qualquer operação sem resquício de dúvida - não corresponde ao personagem. Ele é um homem em conflito que sobe a favela com síndrome do pânico". [9] Para Moura, Nascimento é um "típico personagem de tragédia grega", [16] "alguém que anda muito rápido e de uma forma trágica"[17] e "que caminha inexoravelmente para um destino trágico".[18]
Sobre o sucesso do personagem, Padilha afirmou estranhar a reação positiva do público as ações "olho por olho, dente por dente". Moura também declarou-se surpreso com a popularidade do personagem, uma vez que este representa valores considerados negativos por seu intérprete. "Impossível que pessoas na Finlândia ou na Suécia vissem policiais como heróis, policiais que torturam e matam". [19]