Possui uma área de 1 124,782 km² e uma população, conforme estimativas do IBGE de 2021, de 64 147 habitantes.[2]
A antiga vila de Camocim foi fundada em 29 de fevereiro de 1879, e a cidade em 17 de agosto de 1889, emancipada de Granja. Vivenciou forte expansão econômica e verticalização no século XIX até o início do século XX, e em 2015 seu PIB figurava em 544,5 mil reais, estando entre as doze cidades brasileiras com população inferior a 100 mil habitantes mais desenvolvidas,[6] enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 2016, era de 0,620, considerado médio.
Detendo uma população em grande parte católica e evangélica, abriga a Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes, além de seis instituições de ensino médio, 39 de ensino fundamental, hospital e aeroporto.[7] Com sessenta quilômetros de extensão de praias, tem grande potencial turístico. Todos os anos, a Praia de Maceió e a Ilha da Testa Branca — também conhecida como Ilha do Amor —, ambas promulgadas Áreas de Proteção Ambiental (APA), recebem diversos visitantes devido suas belezas encantadoras.
História
Primeiros povos e período colonial
Antes do século XVI, o território no qual Camocim localiza-se atualmente, como a grande maioria do litoral brasileiro, era ocupado por povos indígenas, tais como Tabajaras, Tremembés, Jenipaboaçus e Cambidas.[8] O topônimocamocim, cambucy, camucym ou camotim vem do tupi-guarani e, segundo Silveira Bueno e Gonçalves Dias, significa "buraco ou pote para enterrar defunto". Provavelmente o nome do município é uma alusão ao ritual funerário dos Índios Tremembés.[9]
Em 1613, a área foi conquistada pelos neerlandeses, que permaneceram no solo até 1649. Nessa época surgiu a ideia da estruturação de uma fortaleza que protegeria os assentamentos portugueses de ataques e também impossibilitaria o escambo com outros povos.[12] Em 1700, o Padre Ascenço Gago ordena o aldeamento de tribos em Ibiapaba e Tabainha. A agricultura e pecuária foram inseridas às atividades locais em 1792, com a chegada de moradores de Tutóia, no Maranhão. Um desses migrantes, Gabriel Rodrigues da Rocha, tornou-se responsável pelo porto.[12]
Período imperial e republicano
Em 1877, a região chamava-se Barra do Camocim e pertencia ao município de Granja. Em junho do ano seguinte, o conselheiroJoão Lins Vieira ordenou a construção de uma ferrovia na região, esta percorreria até Sobral e pretendia radicalizar os impactos da seca. Pela lei provincial n.º 1849, de 29 de fevereiro de 1879, foi intitulada somente como Camocim e declarada vila.[13] Em 26 de março, José Júlio de Albuquerque Barros deu inicio oficial a construção da ferrovia, que teve seu primeiro trecho, de 24,5 quilômetros, concluído em 15 de janeiro de 1881.[13]
O projeto chegou a Sobral em 31 de dezembro de 1882, com 128,9 quilômetros, nesta época foram trazidas da Filadélfia, Pensilvânia, cinco locomotivas e 52 carros.[14] Como consequência da linha férrea, houve o aumento do tráfego de pessoas e rapidamente a vila tornou-se a principal exportadora do Ceará. No dia 17 de agosto de 1889, o mesmo ano da proclamação da república, em virtude de uma boa economia Camocim foi elevada a cidade pela lei provincial n.º 2162. Em 11 de fevereiro do ano posterior foi criado o distrito de Guriú, e em 7 de junho de 1893 o de Barroquinha.[14]
Em maio de 1910, a empresa The South American Railway Construction Limited tornou-se responsável pela ferrovia.[15] A criação do Bloco Operário e Camponês na década de 20 proporcionou a expansão do comunismo até a região. Fundado em 1928, Camocim foi o primeiro município do interior do Ceará a deter a presença do Partido Comunista do Brasil. O jornalista Francisco Theodoro Rodrigues, principal responsável pela fundação partidária, chegou a cidade em 25 de março e, devido a repressão policial, foi condenado a três meses de prisão em 9 de abril, sendo levado ao Rio de Janeiro, onde permaneceria até 1935.[16]
Segundo relatório do delegado Faustino do Nascimento enviado ao interventor Manuel Fernandes Távora, outras cinquenta pessoas haviam sido presas por seguirem a mesma ideologia.[17] Em 24 de junho de 1936, dois militantes comunistas foram fuzilados pela polícia, este acontecimento tornou-se conhecido como Massacre de Salgadinho. Nessa época, a sigla possuía mais de oitocentos filiados. Segundo Theodoro Rodrigues, Júlio Veras, comandante da Força Pública e filho do opositor Thomaz Zeferino Veras, lhe impediu de desembarcar no Porto do Mucuripe. O mesmo só voltou a Camocim em 1945.[18]
"Os burguezes tem lançado mão de todos os meios para que eu abandone Camocim. Tem feito um boycote terrível ao humilde jornal que dirijo. Este boycote começou desde o momento que reconheceram que o mesmo jornal não elogiava Moreirinha, Mattos Peixoto, Washington Luís, Getúlio Vargas, Juarez e outros políticos [sic]".[19]
Com a urbanização, diversos distritos se tornariam municípios: Chaval, pela lei estadual nº 1153, em 22 de novembro de 1951 e Barroquinha, pela lei estadual nº 6553, em 1 de julho de 1963. Por ser considerada ramal, a ferrovia foi fechada em 24 de agosto de 1977 sob protestos; Já haviam ocorrido tentativas em janeiro de 1950, mas o fechamento só ocorreu 27 anos após. A última locomotiva em funcionamento foi a de nº 611, tendo como maquinista Raimundo Nonato de Castro.[15]
O território de Camocim ocupa 10% do litoral cearense, aliás a principal forma de turismo são as praias.[31] As mais visitadas são a Praia do Maceió, que destaca-se pela beleza rústica: Areia clara e mar agitado, com ondas propícias para o banho e para a prática de esportes aquáticos, como surfe e kitesurf;[32] Praia das Barreiras, que fica a 3 quilômetros do centro e possui falésias com areia alaranjada; E a Ilha da Testa Branca, também conhecida como Ilha do Amor, localizada na frente do município.[33]
Camocim também tem outras praias: A Praia do Guriú, com águas calmas e mornas; Praia da Tatajuba, que possui dunas com um coqueiral; Praia das Imburanas e das Caraúbas, ambas quase desertas e utilizadas para ecoturismo; Praia de Barrinha, que contém dunas, ondas calmas e a Praia do Xavier como continuação; Praia Barra dos Remédios, onde ocorre o encontro do rio Coreaú com o mar.[34]
Destes, 74,2% viviam na zona urbana e 25,8% na rural, além disso, 410 migraram da região norte do país, 390 da sudeste, 78 do centro-oeste e 14 de outros países. Em termos de densidade populacional, o IBGE apontou 53,48 habitantes por quilômetro quadrado. O eleitorado é formado por 64% da população, 38 243 camocinense.[37]
Os cidadãos de Camocim eram 49,49% do sexo feminino e 50,51% do sexo masculino. Em relação a idade, haviam 944 pessoas com menos de um ano, 9 266 com um a nove anos, 13 404 de dez a dezenove, 11 031 de vinte a vinte e nove, 8 888 de trinta a trinta e nove, 6 694 de quarenta a quarenta e nove, 4 187 de cinquenta a cinquenta e nove, 3 104 de sessenta a sessenta e nove, 1 770 de setenta a setenta e nove, 870 de oitenta ou mais. Os idosos de 70 anos ou mais representavam 4,3%, enquanto os entre 10 a 19 anos somavam 22,3% e eram maioria.[37]
No mesmo ano, 71,7% da população se declarou parda, 22,3% branca, 4,9% negra, 1% amarela e o restante 0,1% indígena. Entre os pardos, 17 608 não obtinham rendimento, 15 556 recebiam até um salário mínimo e 2 704 mais de um; Haviam 5 162 brancos sem rendimento, 4 611 com até um salário mínimo e 1 422 com mais de um. Os maiores salários da cidade eram obtidos por pessoas de pele clara; Entre os declarados negros, eram 1 081 sem rendimento, 1 166 ganhavam até um salário e 170 mais de um; Entre as pessoas amarelas, eram 271 sem rendimento, 166 com até um salário mínimo e 54 com mais de um; Onze indígenas não ganhavam salário, 12 tinham até um salário e oito mais de um.[36]
Religiões
Religiões em Camocim
Católicos (83.15%)
Evangélicos (10.87%)
Espíritas e outros (1.48%)
Sem religião (4.50%)
O catolicismo apostólico romano é predominante em Camocim, 50 032 habitantes, que representam 83,15% do todo, se declaram católicos. É notável que este porcentual vem decrescendo, uma vez que os evangélicos já somam 6 477 pessoas, 10,87% do todo. A igreja matriz do município teve sua construção iniciada em 1880 e concluída em 1882, por José Privat. A mesma desabou em 11 de abril de 1909, sendo reconstruída na gestão do Padre José Augusto da Silva e concluída em 27 de julho de 1913, recebeu a benção do bispo sobralense Dom José Tupinambá da Frota, em dezembro de 1917.[38]
Ainda em 2010, treze pessoas (0,02%) eram esotéricas; A Loja Maçônica de Camocim foi fundada por João Batista Gizzi, na década de 1920. Cento e oito habitantes (0,18%) seguiam os ensinamentos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que teve origem em 1830, nos Estados Unidos. Quarenta e quatro (0,07%) seguiam outras religiões cristãs. Além disso, 2 717 (4,5%) não tinham religião, 96 (0,16%) múltiplas religiões e 135 (0,2%) não souberam informar.[38]
No município também há a presença do setor secundário e terciário. Duas das primeiras empresas que estiveram em Camocim foi a Saboaria Stella, pertencente ao italiano João Baptista Gizzi, e a Booth Line, uma empresa inglesa de rebocadores, que surgiu em 1935. Na atualidade a Democrata Nordeste Calçados é uma das principais empresas do município. Ela se originou em 1983, em Franca, São Paulo, e chegou em 1997 na cidade. Segundo dados de 2006, a Democrata emprega mais de 500 funcionários que produzem mais de sete mil pares de sapatos por mês.[41][42]
O Poder Legislativo é exercido pela câmara de vereadores, enquanto o Poder Executivo é exercido pela prefeitura, auxiliada pelas secretarias. Em junho de 2019 contava com onze secretarias. A câmara municipal localiza-se no Edifício José Hindemburg Sabino Aguiar — de estilo art déco, construído em 1930 e arquitetado por José Privat —, na Praça Severino Morel. Com o surgimento do Estado Novo em 1937, as câmaras municipais foram fechadas por Getúlio Vargas.[43]
Após a deposição de Vargas em 1945, começam as legislaturas, em geral de quatro anos. Na legislatura atual, de 2016 a 2020, quinze parlamentares compõe a câmara municipal, sendo treze homens e apenas duas mulheres: Maria Iracilda Rodrigues (22 de setembro de 1964), desde 2008,[44] e Lúcia Sousa Melo Freitas, desde 2012, ambas do Partido Democrático Trabalhista (PDT).[45] Foram mais de 130 candidatos, cem desses obtiveram menos de 1% dos votos válidos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. O presidente é César Veras (4 de agosto de 1972), do PDT.[46]
Desde 1919 até a atualidade já passaram pela prefeitura 27 pessoas, cinco destas foram reeleitas: Francisco Othon Coelho (dezembro de 1945 e de 1948 a 1950), Setembrino Fontenele Veras (1951–1954 e 1967–1970), Sérgio Lima Aguiar (1997–2004) e Francisco Maciel de Oliveira (2005–2012). Na última eleição, Mônica Gomes Aguiar, obteve 50,33% dos votos válidos e tornou-se a primeira mulher a ser reeleita em Camocim, de 2013 a 2016 e de 2017 até 2020. A segunda colocada, Euvaldete Ferro (PMDB), recebeu 46,72% dos votos. A primeira mulher eleita no município foi Ana Maria Beviláqua Moreira Veras, de 1983 a 1988.[47]
Infraestrutura
Em 1933, conforme a planta elaborada pelo engenheiro José Rodrigues da Silva, Camocim possuía vinte e nove ruas e seis praças. Em 1 de agosto do mesmo ano, o decreto n.º 26 do interventor Gentil Barreira, estabeleceu trinta e uma ruas. No dia 31 de julho de 1968, continha cinco distritos, depois da lei estadual n.º 8339 anexar Barroquinha e Bitupitá ao município. Desde 1991 possui apenas três: Amarelas e Guriú, além da sede.[48]
A cidade possui 15 683 domicílios registrados, sendo que 3 823 ficam na zona rural. Desses, 70,1% eram próprios, 18,5% alugados e 11,5% detidos de outras maneiras; O lixo era coletado em 73%; Em relação ao abastecimento de água, 80% estavam ligados à rede geral, 19,7% usavam poços e 0,3% outras formas, como caminhões-tanque e o armazenamento de água da chuva em cisternas.[36]
O abastecimento de água e o tratamento de esgoto são realizados pelo SAAE, enquanto a energia elétrica é fornecida pela Enel (anteriormente chamada de Coelce). A cidade possui projetos de habitação popular em alguns bairros. O IBGE aponta que 7,8% dos domicílios possui apenas um morador, 17,3% dois, 22,9% três, 21,7% quatro e 30,3% cinco ou mais pessoas. Apenas 1,7% das residências não tinha energia elétrica e em 63,7% possuíam telefone celular.[37]
Além disso, possui uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) — inaugurada em 25 de junho de 2016 com a presença do governador Camilo Santana —, um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) e a Policlínica Coronel Libório Gomes da Silva, ambas são administradas em parceria com cidades vizinhas. Em julho de 2019, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) passou a investigar o repasse de verbas dos cinco anos anteriores. Em 2017, foram repassados R$ 21 milhões, o maior valor recebido naquele ano por um consórcio cearense.[51]
A mortalidade infantil de 2017 está de acordo com os níveis aceitáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 mortes para cada mil nascimentos. O índice mais crítico foi registrado em 2009, quando ocorriam 25,19 óbitos. Em 2011, foram 7,50 mortos para cada mil nascidos, a melhor taxa obtida em todos os anos.[52]
Educação
Em 2010, 17,3% da população era analfabeta, 19 996 pessoas estavam frequentando a escola naquele ano. A taxa de escolarização era de 97,8, o 64.º melhor do estado. Em 2015, os alunos dos anos inicias do ensino fundamental obtiveram, em média, nota 5,8 e dos anos finais de 4,6 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).[36]
Em 2017, trinta e nove escolas ofereciam ensino fundamental, uma das primeiras foi o Instituto São José, de caráter particular, inaugurado em 19 de março de 1950 e administrado desde janeiro de 1954 pelas Irmãs Capuchinas. Seis escolas ofereciam ensino médio, dente elas a Escola Monsenhor José Augusto da Silva, que foi fundada na década de 80. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), os discentes obtiveram menor rendimento na redação e melhor desempenho na área das ciências humanas durante o Exame Nacional do Ensino Médio de 2018 (ENEM).[53]
Camocim ainda conta com um Campus do Instituto Federal do Ceará (IFCE), que oferta os cursos superiores de Licenciatura em Letras (Português/Inglês), Licenciatura em Química e Tecnólogo em Gestão Ambiental; os cursos técnicos em Administração, Gastronomia, Manutenção e Suporte em Informática e Serviços de Restaurante e Bar; e uma especialização em Análise Ambiental. Recentemente, foi anunciada a instalação de um Campus da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) no Município, com a oferta dos cursos de Ciências Contábeis e Engenharia de Pesca[54].
Transporte
A frota de veículos no Ceará cresceu de forma exacerbada e em Camocim ocorreu o mesmo. Em 2013, haviam 3 379 automóveis na cidade. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), 16 777 veículos circulavam no município em 2017, um crescimento de 396% em quatro anos. Eram 11 319 motocicletas, o que representava a maioria.[55]
↑IBGE (1 de julho de 2015). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 2 (R.PR-2/16). Consultado em 4 de janeiro de 2016
↑ ab«Estimativa populacional 2021 IBGE». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 28 de agosto de 2021. Consultado em 28 de agosto de 2021
↑«Ranking IDH-M Ceará». Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2010. Consultado em 9 de setembro de 2013
↑Aragão, R. Batista (1994). Indios do Ceará & topônimos indígenas. Fortaleza: Barraca do Escritor Cearense. 159 páginas. Consultado em 3 de junho de 2018
↑ abGirão, Raimundo (1962). Pequena História do Ceará. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará. p. 33-38. 338 páginas. Consultado em 4 de junho de 2018
↑Santos 2011, p. 25: "1927 já é registrado em Fortaleza, e no início de 1928, finca suas bases em Camocim".
↑Santos 2011, p. 10: "as décadas de 20 a 50, nosso recorte temporal, tempo este, também, que coincide com a maior atuação da militância comunista".
↑Santos 2011, p. 80: "1936 foi marcado pela reação policial face às tentativas frustradas dos 'levantes comunistas', de 1935 no Recife e no Rio de Janeiro".
↑«Divisão Territorial do Brasil». Divisão Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 1 de julho de 2008. Consultado em 11 de outubro de 2008
Santos, Carlos Augusto dos (2017). A Nostalgia dos Apitos: A Estrada de Ferro de Sobral. Quarenta anos depois da partida do último trem de Camocim-CE (1977-2017). 1. Sobral, Ceará: Edições Universidade do Vale do Acaraú, Global Gráfica. 124 páginas. ISBN978-85-9539-006-5
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