1Não é membro do governo; o Alto Representante é um supervisor internacional civil do cumprimento do Acordo de Paz de Dayton no país. Tem poder para demitir tanto agentes eleitos como não eleitos e para promulgar legislação. 2Atual presidente da presidência; membro sérvio. 3Atual membro da presidência; membro bosníaco. 4Atual membro da presidência; membro croata.
A república independente está dividida em duas regiões geográficas: Bósnia, na parte setentrional, uma região de montanhas que encontra-se sob a cobertura das densas florestas; Herzegovina, na parte meridional, compõe-se, em sua maioria, de montes rochosos onde a atividade econômica praticada é a agricultura. Antes da guerra civil, mais de um quinto da população que habitava a Bósnia e Herzegovina se compunha de fazendeiros responsáveis pelo cultivo de frutas cítricas e legumes. A república independente possuía grandes reservas minerais onde eram extraídos bauxita, cobre, ferro, aço, lignito, madeira e zinco. As indústrias de maior importância foram as que fabricavam ferro, aço, couro, alimentos e têxteis, sendo destruídas mais tarde em virtude dos conflitos da guerra civil.
Há 2 000 anos, os ilírios foram os primeiros habitantes da atual Bósnia-Herzegovina. Depois do ano 100, diversos povos passaram a dominar a região; governantes do Império Romano, do Império Bizantino, do Reino da Croácia, do Reino da Hungria e do Reino da Sérvia foram ali estabelecidos. Os turcos otomanos foram os governantes da atual Bósnia e Herzegovina entre a segunda metade do século XV e o ano de 1878.
Com o término da Primeira Guerra Mundial, o Reino da Jugoslávia anexou a Bósnia e Herzegovina em 1918. Na época em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, os soldados da Bósnia e Herzegovina entraram na luta contra tropas da Alemanha Nazi e da Itália fascista que foram responsáveis pela ocupação da terra dos bósnios.
A Bósnia e Herzegovina tornou-se independente em 1992. Depois de ser proclamada a independência do país, eclodiu uma guerra civil, resultando num genocídio que causou a morte de 200 000 pessoas.
Etimologia
A primeira menção amplamente reconhecida da Bósnia está em "Sobre a Administração Imperial", um manual político-geográfico escrito pelo imperador bizantinoConstantino VII em meados do século X (entre 948 e 952), descrevendo a "pequena terra" (χωρίον em grego) de "Bosona" (Βοσώνα), onde moram os sérvios.[5]
Acredita-se que o nome tenha derivado do hidrônimo do rio Bosna que atravessa o coração da Bósnia. De acordo com o filólogo Anton Mayer, o nome "Bosna" poderia derivar do ilírio"Bass-an-as", que derivaria da raiz proto-indo-européia "bos" ou "bogh" — significando "água corrente". De acordo com o medievalista inglês William Miller, os colonos eslavos na Bósnia "adaptaram a designação latina [...] basante, ao seu próprio idioma, chamando o riacho de Bosna e a si próprios bósnios [...]".[6]
O nome Herzegovina ("herzog's [terra]", da palavra alemã para "duque") se origina do título do magnata bósnio Stjepan Vukčić Kosača, ""Herceg (Herzog) of Hum and the Coast" (1448). Hum, anteriormente Zaclúmia, foi um principado medieval que foi conquistado pelo Banate da Bósnia na primeira metade do século XIV. A região foi administrada pelos otomanos como Sanjak da Herzegovina (Hersek) dentro do Eyalato da Bósnia até a formação do breve Eyalato da Herzegovina na década de 1830, que ressurgiu na década de 1850, após o qual a entidade tornou-se comumente conhecida como Bósnia e Herzegovina.[7]
Sabe-se que a região é habitada por humanos desde pelo menos o Paleolítico, pois uma das mais antigas pinturas rupestres conhecidas foi encontrada na caverna Badanj em Stolac. Grandes culturas neolíticas datadas entre 6230 a.C. e 4900 a.C., como os Butmir e Kakanj, se desenvolveram ao longo do rio Bosna.
Os povos Ilírios, um grupo étnico bastante diverso, começaram a se organizar na região onde atualmente fica a Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Kosovo, Montenegro e Albânia. A partir do século VIII a.C., essas tribos evoluíram para reinos. O reino mais antigo registrado na Ilíria foi o Reino Enchele que existiu no século VIII a.C. Outros reinos também existiram até cerca de 167 a.C. O Reino Ardiaei (originalmente uma tribo da região do vale do rio Neretva) tem seus primeiros registros em cerca de 230 a.C. e acabou em 167 a.C.. Os reinos e dinastias ilíricos mais notáveis foram governados pelo rei Bardyllis de Dardani e Agron de Ardiaei. O Império Romano anexou a região por volta do ano 9 a.C.. No ano 6, os povos ilírios se revoltaram contra Roma e travaram uma sangrenta guerra conhecida como Bellum Batinianum onde acabaram subjugados.
A partir do século XII, várias partes da região que hoje corresponde à Bósnia e Herzegovina foram tomadas pelos sérvios, croatas, húngaros, venezianos e bizantinos. No século XII, o Reino da Hungria passou a governar o território, delegando o poder a vice-reis distritais de origem bósnia, croata e húngara. Anos depois, a região foi invadida pelo Império Otomano e, depois de várias batalhas, tornou-se uma província turca. Durante os séculos XVI e século XVII, a Bósnia foi um ponto estratégico nos conflitos constantes contra os Habsburgos e contra Veneza. Durante este período, uma parte da população, conhecida como bogomilos, sérvios que professavam uma heresia de tipo arianista, converteu-se massivamente ao Islão.
Com o colapso do comunismo, em 1989–1990, a Jugoslávia mergulhou numa onda de nacionalismo extremo, no quadro dum processo intencional externamente estimulado com vista ao desmembramento da Jugoslávia. Depois de a Croácia abandonar a federação, em 1991, os croatas bósnios e os eslavos muçulmanos aprovaram um referendo a favor da criação de uma república multinacional e independente. Mas os sérvios bósnios recusaram separar-se da Jugoslávia, que nessa altura se encontrava sob o domínio da Sérvia. Em 1992, a Bósnia-Herzegovina foi arrastada para uma guerra civil sangrenta e devastadora conhecida como a Guerra da Bósnia, em que as populações acabaram por ser saneadas das regiões tomadas por cada nacionalidade. Em 1995 foi assinado o Acordo de Dayton e desde essa altura as forças da Organização das Nações Unidas encontram-se no território para garantir o cumprimento dos acordos de paz.
Existe uma forte correlação entre a identidade étnica e a religião: 88% dos croatas são católicos romanos, 90% dos bosníacos seguem o Islão e 99% dos sérvios são cristãos ortodoxos. De acordo com os dados de 2000 do CIA World Factbook, a Bósnia é etnicamente composta por eslavos: 48% de bósnios, 37,1% de sérvios, 14,3% de croatas e 0,6% outra.[10]
De acordo com estimativas não oficiais da Agência de Estatísticas do Estado Bósnio, citadas pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos em 2008, 45% da população eram muçulmanos, 36% ortodoxos sérvios, 15% católicos, 1% protestantes e 3% outros (a maioria judeus, ateus e outros).[11] Uma pesquisa de 2012 mostrou que 54% dos muçulmanos do país são sem denominação e 38% são sunitas.[12]
Na região Sul da Bósnia-Herzegovina, numa pequena vila chamada Međugorje, alega-se que estariam a ocorrer desde o ano 1981, as mais recentes aparições da Virgem Maria, o que tem atraído a atenção de algumas pessoas em todo o mundo.[13] A Igreja Católica encontra-se ainda a analisar os fenômenos, tentando apurar a sua veracidade, mas o número de peregrinos que acorrem ao local das aparições nos últimos anos tem vindo a aumentar exponencialmente.[14][15] Em 2019, o Papa Francisco oficializou as peregrinações para Međugorje. No dia 19 de setembro de 2024 a Igreja emitiu o "nihil obstat", ou nada obsta, para o fenômeno espiritual de Medjugorje, autorizando oficialmente o culto público e deixando os fiéis livres para crerem ou não nas aparições.[16][17]
República presidencialista tripartida, com um representante bósnio-muçulmano (bosníaco), um croata e um sérvio.
O cargo de presidente da Bósnia-Herzegovina é exercido em rotatividade pelos três membros da presidência da Bósnia-Herzegovina (um "bósnio" muçulmano, um sérvio e um croata), cada um ocupando o cargo durante 8 meses ao longo do seu mandato de quatro anos na presidência.[18] Os três membros da presidência são eleitos diretamente pelo povo (votos da Federação para o bosníaco e o croata, e da República Srpska para o sérvio). O presidente do Conselho de Ministros é nomeado pela presidência e aprovado pela Câmara dos Representantes. Depois, é dele a responsabilidade de nomear os ministros do governo.
A Assembleia Parlamentar é o corpo legislativo da Bósnia e Herzegovina. Consiste de duas câmaras: a Câmara dos Representantes e a Câmara dos Povos. A Câmara dos Povos inclui 15 delegados, dois terços dos quais provenientes da Federação (5 croatas e 5 bosníacos) e um terço da República Srpska (5 sérvios). a Câmara dos Representantes é composta por 42 membros, dois terços eleitos pela Federação e um terço eleito pela República Srpska.
O Tribunal Constitucional da Bósnia e Herzegovina é o supremo e final árbitro nas matérias legais. É composto por nove membros: quatro são selecionados pela Câmara dos Representantes da Federação, dois pela Assembleia da República Srpska, e três pelo Presidente do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos após consultas com a Presidência.
Em março de 2024, o Conselho da União Europeia concordou em iniciar as negociações para a entrada da Bósnia e Herzegovina no bloco. O pedido de adesão está pendente desde 2016, quando foi enviado à UE, conforme informações do Poder360.[19]
A par da Macedónia do Norte, a Bósnia e Herzegovina era a mais pobre das repúblicas da antiga Jugoslávia. A agricultura esteve sempre principalmente em mãos privadas, mas as quintas costumam ser pequenas e ineficientes e os bens alimentares são habitualmente uma das importações da república. A economia planificada deixou alguns legados na economia. Segundo as teorias económicas em voga, a indústria tem um grande excesso de pessoal. Sob a liderança de Josip Broz Tito, a indústria militar foi colocada na república, e a Bósnia albergava uma grande porção das indústrias de defesa da Jugoslávia. Com a guerra da Bósnia a maioria das indústrias presentes foram destruídas e a economia do país entrou em grande declínio.
Três anos de guerras interétnicas destruíram a economia e as infraestruturas da Bósnia, causando um aumento exponencial do desemprego e uma queda na produção de 80%, já para não falar da morte de entre 60 e 200 000 pessoas e do deslocamento forçado de metade da população. Com uma paz instável no país, a produção recuperou entre 1996 e 1998 em grandes percentagens anuais, mas o crescimento abrandou apreciavelmente em 1999 e o produto interno bruto permanece bem abaixo dos níveis de 1990.
A escola primária tem a duração de nove anos. O ensino secundário é ministrado por escolas secundárias gerais e técnicas (normalmente ginásios), onde os estudos normalmente duram quatro anos. Todas as formas de ensino secundário incluem um elemento de formação profissional. Os alunos egressos de escolas secundárias gerais obtêm o Matura e podem se inscrever em qualquer instituição de ensino superior ou academia por meio de um exame de qualificação prescrita pelo órgão ou instituição governamental. Estudantes de disciplinas de graduação técnica obtêm um diploma.[24]
A Bósnia-Herzegovina possui uma literatura muito rica. O vencedor do Nobel de Literatura de 1961, Ivo Andrić, nasceu em Travnik. O país também conta com uma cultura tradicional forte de origens eslavas, com cozinha e danças típicas. Uma das danças tradicionais do país chama-se kolo e acompanha eventos sociais como casamentos e festas tradicionais. A cozinha do país possui influências tanto ocidentais quanto do Oriente Médio, resultado de diferentes influências históricas. Ćevapi, börek, dolmades, pilaf e goulash são exemplos de pratos apreciados no país.