Fez parte da União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB), que era supervisionada pelo pastor presbiteriano Jorge César Mota. Dentre os participantes desse movimento, surgiram ativistas e pensadores como: Adauto Araújo Dourado, Benjamin Moraes, Billy Gammon, Boanerges Cunha, Lysâneas Maciel, Jether Ramalho, Waldo César e Caio Toledo.[4]
Foi membro da Comissão "Fé e Ordem", do Conselho Ecumênico de Igrejas e diretor de "Estudos sobre Igreja e sociedade na América Latina". Foi acusado de conduta subversiva pelas autoridades da Igreja Presbiteriana e perseguido pelo Regime Militar do Brasil (1964-1985) e por isso abandonou a Igreja Presbiteriana e a exilar-se nos Estados Unidos, onde, em 1968, obteve o título de doutor (PHD) em filosofia no Seminário Teológico de Princeton.[5]
Lecionou no Instituto Presbiteriano Gammon, na cidade de Lavras, Minas Gerais, no Seminário Presbiteriano de Campinas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e na UNICAMP, onde recebeu o título de Professor Emérito e criou vários grupos de pesquisa.[6] Tinha um grande número de publicações, tais como crônicas, ensaios e contos, além de ser ele mesmo o tema de diversas teses, dissertações e monografias. Muitos de seus livros foram publicados em outros idiomas, como inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e romeno.
Com formação eclética, transita pelas áreas de teologia, psicanálise, sociologia, filosofia e educação. Após ter lecionado em universidades, tinha um restaurante (a culinária foi uma de suas paixões e tema de alguns de seus textos), viveu em Campinas , onde mantinha um grupo, chamado Canoeiros, que se encontra semanalmente para leitura de poesias.
Sua mensagem é direta e, por vezes, romântica, explorando a essência do homem e a alma do ser. É algo como um contraponto à visão atual de homo globalizadus que busca satisfazer desejos, muitas vezes além de suas reais necessidades.
"Ensinar" é descrito por Alves como um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte. É como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir. Ensinar é fazer aquele momento único e especial. Ridendo dicere severum: rindo, dizer coisas sérias[7] Mostrando que esta, na verdade é a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento. Agindo como um mago e não como um mágico. Não como alguém que ilude e sim como quem acredita e faz crer, que deve fazer acontecer.
Em alguns de seus textos, cita passagens da Bíblia, valendo-se de metáforas. No site A Casa de Rubem Alves encontram-se releituras e discussões de suas obras.
Foi cidadão honorário de Campinas onde recebeu a Medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura.
Teologia
Autor do livro "Da Esperança" ("Teologia da Esperança Humana"), Rubem Alves é tido por muitos estudiosos como uma das mais relevantes personalidades no cenário teológico brasileiro; o fundador da reflexão sobre uma teologia libertadora, que em breve seria chamada de Teologia da Libertação.[1] Via no Humanismo um messianismo restaurador e assim, desde os anos 60 participou do movimento latino-americano de renovação da teologia.
Em sua ótica, a libertação não surgiria da intervenção sobrenatural de um ser superior que faria um milagre concreto para isso, mas guiaria espiritualmente a atividade dos seres humanos na história que conduziriam a humanidade pelo caminho da liberdade. Trata-se de um novo paradigma de humanização, um novo tipo de humanismo baseado na ideia de liberdade para recriar o mundo do ser humano e o próprio ser humano, um messianismo político e não em uma ideia abstrata da essência do ser humano.[5]
Sua posição liberal logo lhe trouxe graves problemas em seu relacionamento com o protestantismo histórico e especificamente presbiteriano. Foi questionado desde cedo por suas ideias e teve de abandonar o pastorado, tendo antes abandonado suas convicções doutrinárias ortodoxas.
Foi dessa experiência que surgiu o livro Protestantismo e Repressão, que busca elucidar os labirintos do cotidiano histórico deste movimento religioso. Na obra Dogmatismo e tolerância, analisa os aspectos inovadores da teologia reformada, questiona o dogmatismo das religiões e sustenta que tal fenômeno é contrário ao espírito originário das religiões, afirma que Deus criou os pássaros, enquanto que as religiões criaram as jaulas também conhecidas como dogmas.
Na obra Cristianismo: ópio ou libertação?, fala do "mundo do proletariado" para referir-se a uma nova consciência ecumênica, que uniria os povos do Terceiro Mundo com os negros, os estudantes e outros grupos dos países ricos; seria uma consciência não restrita às fronteiras nacionais, econômicas, sociais ou raciais. A consciência proletária nasceria entre aqueles que experimentaram a pobreza em suas próprias vidas. Fala da esperança frustrada das nações do Terceiro Mundo de se tornarem nações desenvolvidas e do abismo, que seria cada vez maior, entre as nações ricas e as nações pobres. A partir dessa constatação, os pobres teriam tomado consciência de que a pobreza e a discriminação não seriam um fato natural, nem a vontade de Deus, mas uma relação de causa e efeito decorrente de uma relação colonial opressora. Portanto, os pobres não seriam simplesmente pobres, mas aqueles que haviam se tornado pobres. Um dos objetivos do colonialismo seria reduzir as comunidades e povos dominados a uma situação de passividade, que lhes impediria criar a sua própria história. No passado o colonialismo teria gerado uma consciência oprimida, que resultou em passividade, mas, atualmente, os seres humanos teriam tomado consciência de sua opressão e se convertido em sujeitos históricos, nascidos para a liberdade, com capacidade para criar sua própria história, imaginar um futuro novo, criticar o mundo em que vivem e transforma-lo.[5]
Escreveu um livro em inglês que falava do futuro da humanidade, Filhos do Amanhã, onde tratou de como um futuro libertador dependia de categorias que a ciência ocidental havia desprezado.
Lançou ainda um livro chamado Variações sobre a vida e a morte, onde trata de construir uma teologia poética, preocupada com o corpo, com a vida em sua dimensão real.
Humanismo político
A linguagem do humanismo político é a linguagem da esperança, razão pela qual, Rubem Alves é um crítico da abordagem tecnicista que fecharia portas à esperança e adormeceria as consciências como fazia o colonialismo. A abordagem tecnicista criaria seres humanos que encontrariam a felicidade pelo que oferece o sistema, que adquiriria caráter totalitário, ao justificar ideologicamente a sua perpetuação, circunstância na qual a religião se converteria no "ópio do povo". Por outro lado, sua critica ao tecnicismo não é negação da tecnologia. O humanismo político pretende humanizar a tecnologia para colocá-la a serviço do ser humano comprometido na criação de um futuro melhor.
Existencialismo e humanismo político tem pontos em comum quando reconhecem o indivíduo como sujeito da história e na rejeição aos poderes que pretendem criar o ser humano a sua imagem e semelhança e submete-lo. Por outro lado, existem diferenças entre o existencialismo e o humanismo político, pois o existencialismo afirma que existe um dualismo entre o subjetivo e o objetivo. Portanto, Rubem Alves é um crítico do existencialismo teológico, que sustenta que a libertação do ser humano é puramente subjetiva.[5]
Rubem Azevedo Alves faleceu em 19 de julho de 2014, em Campinas, por falência múltipla de órgãos que se seguiu a uma pneumonia.[8][9] O corpo foi velado no plenário da Câmara Municipal de Campinas, no interior paulista, cidade onde o escritor mineiro morava. Como pedido, seu corpo foi cremado em Guarulhos, e as cinzas espalhadas sob um ipê-amarelo.[10]
↑O passado nunca está morto”. Um tributo a Waldo César e sua contribuição ao movimento ecumênico brasileiro, Magali do Nascimento Cunha, publicado em Estudos de Religião, Ano XXI, n. 33, 136-158, jul/dez 2007. Disponível na internet.