A Imperatriz Leopoldinense conquistou seu quarto título de campeã do carnaval carioca.[1] A escola apresentou um desfile sobre uma festa com indígenas brasileiros na corte do Rei Henrique II e da Rainha Catarina de Médici, na França do Século XVI. O enredo "Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajeres" foi desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães, que conquistou seu segundo título no carnaval do Rio. A apuração foi tumultuada por protestos de dirigentes do Salgueiro e da Mangueira, que não aceitaram as colocações de suas escolas.[2] Campeão do ano anterior, o Salgueiro ficou com o vice-campeonato de 1994. Apontada como uma das favoritas ao título, a Mangueira se classificou apenas na décima primeira colocação.[3] Últimas colocadas, Unidos da Ponte e Império Serrano seriam rebaixadas, mas o descenso foi cancelado pela LIESA.[4]
O resultado do Grupo 1 também gerou protestos e acusações de fraude e compra de jurados, mas a campeã, Unidos da Villa Rica, e a vice-campeã, São Clemente, conseguiram na Justiça o direito de desfilar na primeira divisão do ano seguinte.[5] As demais escolas do grupo decidiram se desligar da AESCRJ e fundar uma nova entidade, a LIESGA. Difícil é o Nome venceu o Grupo 2; Acadêmicos do Dendê ganhou o Grupo 3; Alegria da Zona Sul conquistou o título do Grupo de Avaliação.[6]
Coração da Coroa ganhou o Grupo A-1 dos blocos de empolgação. Entre os blocos de enredo, venceram Corações Unidos de Bonsucesso, Mocidade Unida da Mineira, Flor da Vila Tiradentes, Queima de Bangu, Amigos de Deodoro, Não Tem Mosquito, e União do Parque Curicica.[7] Ranchos, frevos e grandes sociedades desfilaram, mas não há registros sobre o resultado dos respectivos concursos.[8] O carnaval também foi marcado por uma polêmica envolvendo o então presidente do Brasil, Itamar Franco, e a modelo Lilian Ramos. Os dois foram flagrados juntos num camarote da Sapucaí, sendo que a modelo foi fotografada sem calcinha. O caso gerou grande repercussão no país. Foi a primeira vez que um presidente da república assistiu aos desfiles no Sambódromo.[9]
Seguindo o regulamento do ano, a campeã de 1993, Acadêmicos do Salgueiro, pôde escolher dia e posição de desfile, enquanto a vice-campeã de 1993, Imperatriz Leopoldinense, teria que desfilar em dia diferente da campeã, mas poderia escolher a posição. A primeira noite de desfiles foi aberta pela última colocada do Grupo Especial de 1993, a Unidos da Ponte; seguida do vice-campeão do Grupo 1 de 1993, o Império Serrano; e da décima segunda colocada do Grupo Especial de 1993, a Unidos da Tijuca. A segunda noite de desfiles foi aberta pela penúltima colocada do Grupo Especial de 1993, a Caprichosos de Pilares; seguida da campeã do Grupo 1 de 1993, a Tradição; e da décima primeira colocada do Grupo Especial de 1993, a União da Ilha do Governador.[10][11] A posição de desfile das demais escolas foi definida através de sorteio realizado pela LIESA no dia 2 de agosto de 1993.[12]
A leitura das notas foi realizada a partir 15 horas da quarta-feira de cinzas, dia 16 de fevereiro de 1994, na Praça da Apoteose.[14] A apuração foi marcada por tumultos e protestos de dirigentes do Salgueiro e da Mangueira, duas escolas apontadas como favoritas ao título. O presidente interino do Salgueiro, Paulo César Mangano, invadiu o palanque da mesa apuradora e chutou o troféu da campeã.[2][15] Latas de cerveja foram arremessadas em direção à mesa de apuração. Dirigentes da Mangueira deixaram a leitura das notas antes do final após uma confusão que envolveu fotógrafos, seguranças da LIESA e policiais militares.[3] De acordo com o regulamento do ano, as notas variam de cinco a dez, podendo ser fracionadas em meio ponto. O desempate entre as escolas que obtiveram a mesma pontuação final seguiu a ordem inversa de leitura das notas, sendo Bateria, o primeiro quesito de desempate.[13][16]
Bonificações
Todas as escolas receberam um ponto por cumprirem o regulamento quanto à concentração.
Penalizações
Império Serrano perdeu cinco pontos por desfilar com menos alegorias do que a quantidade mínima exigida pelo regulamento (oito). Três carros alegóricos da escola quebraram e não participaram do desfile.[17]
Imperatriz Leopoldinense foi a campeã, conquistando seu quarto título no carnaval carioca. O campeonato anterior da escola foi conquistado cinco anos antes, em 1989.[1] A Imperatriz encerrou a primeira noite com um desfile sobre uma história do Século XVI, em que cerca de cinquenta indígenas brasileiros foram transportados para a França, a fim de representarem seus hábitos e costumes em uma festa para o Rei Henrique II e a Rainha Catarina de Médici.[2] O enredo "Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajeres" foi desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães, que conquistou seu segundo título no carnaval do Rio. Um dos destaques do desfile foi a comissão de frente coreografada por Fábio de Mello, onde componentes realizavam movimentos com grandes leques verdes e dourados. A escola recebeu apenas três notas abaixo da máxima e garantiu o campeonato com diferença de três pontos e meio para a vice-campeã.[4]
Campeão do ano anterior, o Salgueiro ficou com o vice-campeonato de 1994. A escola apresentou um desfile sobre a cidade do Rio de Janeiro.[18][19] Terceira colocada, a Unidos do Viradouro realizou um desfile sobre Tereza de Benguela, uma rainha africana que foi escravizada no pantanal mato grossense e presidiu o Quilombo do Quariterê. União da Ilha do Governador ficou em quarto lugar com uma apresentação sobre mágicas e magias.[20]Beija-Flor e Tradição somaram a mesma pontuação final. O desempate, no quesito Bateria, deu à Beija-Flor o quinto lugar. A escola homenageou a botânica inglesa, especializada em plantas da Amazônia brasileira, Margareth Mee, morta em 1988.[21] Tradição conquistou a última vaga do Desfile das Campeãs com uma apresentação sobre o sonho de voar. O sexto lugar conquistado pela escola foi a melhor colocação desde sua fundação, em 1984. Também foi a primeira vez que a agremiação se classificou à frente da Portela, escola da qual dissidiu.[4]
Penúltima colocada, a Unidos da Ponte homenageou a cantora Alcione, que participou do desfile da escola. Último colocado, o Império Serrano desfilou um enredo semelhante ao da campeã Imperatriz, sobre uma festa com indígenas brasileiros na França do Século XVI.[34] Ponte e Império seriam rebaixadas, porém, uma denúncia de fraude no resultado do Grupo 1 poderia inviabilizar a promoção de Villa Rica e São Clemente ao Grupo Especial de 1995. Para manter o número de dezesseis escolas, a LIESA decidiu que Ponte e Império não seriam rebaixadas. Por fim, Villa e São Clemente conquistaram, na Justiça, o direito de participar do Grupo Especial de 1995, que foi composto por dezoito escolas.[5]
O desfile do Grupo 1 (segunda divisão) foi organizado pela Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro e realizado no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A primeira noite de desfiles teve início às 21 horas da sexta-feira (11/02) e a segunda noite teve início às 20 horas do sábado (12/02).[10]
A quantidade de quesitos avaliados aumentou para onze, ante dez do ano anterior. Após não serem avaliados no ano anterior, os casais de mestre-sala e porta-bandeira voltaram a ser quesito, recebendo notas de cinco a sete. Os demais quesitos, valiam notas de cinco a dez. Foi mantida a mesma quantidade de julgadores do ano anterior.[35]
Quesito
Valor
Julgadores
Bateria
5 a 10 pontos
Arthur Silva
Mauro Matias
Marcos A. Araújo
Samba-Enredo
5 a 10 pontos
Nonato Buzar
Clébio Pereira Garcez
Jefferson Dias
Harmonia
5 a 10 pontos
Márcia Cutuac
Ângela Maria Mendonça
Iara Maria de Pinho
Evolução
5 a 10 pontos
Maria José Santana
Alessandra Cutuac
Carla A. Gomes
Conjunto
5 a 10 pontos
Alvaro de Souza Alves
Ângela Vasconcellos
Márcia R. de Souza
Enredo
5 a 10 pontos
Ibsen Oliva
Aloizio dos Santos
Joaquim Cândido
Fantasias
5 a 10 pontos
Maria Edith Batista
Elza Borges da Silva
Marcia Garcez
Comissão de Frente
5 a 10 pontos
Adriana de Araújo
Áurea Santos dos Reis
Carla Peixoto
Ala das Baianas
5 a 10 pontos
Magna da Silva
Eliane Borges da Silva
Márcia B. Souza
Alegorias e Adereços
5 a 10 pontos
Márcia C. dos Reis
Rivaldir de Carvalho
Luiz Otávio de Araújo
Mestre Sala e Porta-Bandeira
5 a 7 pontos
Ângela Frota
Vani Macedo Júnior
Luiz Santos
Notas
A leitura das notas foi realizada na quarta-feira, dia 16 de fevereiro de 1994. Todas as escolas receberam dez pontos referentes à Avaliação de Impedimentos e vinte pontos de bonificação referentes à Dispersão, Cronometragem, Concentração e Início de Desfile (sendo cinco pontos para casa item). O desempate entre agremiações que obtiveram a mesma pontuação final foi realizado seguindo a ordem de leitura dos quesitos, sendo Bateria, o primeiro quesito de desempate.[36]
Unidos da Villa Rica foi a campeã, garantindo sua promoção inédita ao Grupo Especial. A agremiação teve uma ascensão meteórica, chegando à elite do carnaval carioca apenas quatro anos após se transformar em escola de samba. Terceira escola da segunda noite, a Villa Rica fez um desfile em homenagem ao seu bairro de origem, Copacabana.[37] Vice-campeã, a São Clemente também foi promovida à primeira divisão, de onde estava afastada desde 1991. A escola fez um desfile sobre a união.[38] O resultado gerou controvérsia, especialmente pela diferença de vinte pontos entre as duas primeiras colocadas e as demais agremiações. Denúncias de fraude e compra de jurados, nunca comprovadas, fizeram as escolas do grupo se desligarem da AESCRJ e criarem uma nova entidade para administrar os grupos A e B no ano seguinte, a Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo de Acesso (LIESGA).[4] O caso foi parar na Justiça, que confirmou o resultado e garantiu à Villa Rica e à São Clemente o direito de desfilar no Grupo Especial em 1995.[5] Nenhuma escola foi rebaixada.[6][39][40]
Legenda: Promovidas ao Grupo Especial / Desfile das Campeãs
O desfile do Grupo 2 (terceira divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado no Sambódromo da Marquês de Sapucaí entre as 20 horas da terça-feira, dia 15 de fevereiro de 1994, e as 8 horas e 30 minutos do dia seguinte.[10][41]
As escolas foram avaliadas em onze quesitos. Julgadores reservas: Tanit Maria Rey Sanchez Galdeano (Psicanalista); Antonio Braga Negreiros (Bailarino); João Luiz Bernardo Pereira (Jornalista); Sidney Lobo Vianna (Repórter e Folclorista); Sofia Gilda Wajnsztok (Advogada); Eleutério José de Castro (Compositor e Radialista).[42]
Antônio Carlos Orphão Lobo (Administrador de Empresas)
Geraldo Borges (Jornalista)
Enredo
Ferdy Carneiro (Museólogo)
Heloísa Nogueira (Administradora de Centros Culturais)
Fantasias
Isabel Eunice Dantas (Destaque)
Liége Dex Escobar Massena (Atriz)
Comissão de Frente
Carlos Alberto Machado (Coreógrafo)
Humberto Reis (Radialista)
Ala das Baianas
Cristóvam Neto (Ator)
Jorge Paes Leme (Coreógrafo)
Alegorias e Adereços
Jorge Mendes Carneiro (Pesquisador)
Rutílio José de Oliveira e Silva (Ator)
Mestre Sala e Porta-Bandeira
Iêda Maria Gomes (Porta-Bandeira)
Jerônimo da Silva Patrocínio (Coreógrafo)
Classificação
Difícil É o Nome foi a campeã, garantindo sua promoção inédita à segunda divisão. Quarta escola a desfilar, a Difícil realizou um desfile sobre Olubajé, um ritual para o orixá Obaluaiê. Vizinha Faladeira e Em Cima da Hora também foram promovidas à segunda divisão. As duas escolas somaram a mesma pontuação final. O desempate, no quesito Bateria, deu o vice-campeonato à Vizinha.[41] Oitava colocada, a Mocidade Unida de Jacarepaguá foi convidada para integrar a segunda divisão no ano seguinte.[6][39][40]
Legenda: Promovidas à segunda divisão * Sem informação disponível
O desfile do Grupo 3 (quarta divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir das 19 horas do domingo, dia 13 de fevereiro de 1994, na Avenida Rio Branco.[10]
As escolas foram avaliadas em onze quesitos. Julgadores reservas: Francisco Duarte Silva (Jornalista e Pesquisador); Eliane Medeiros Balestiere (Oficial de Justiça); Eliana Múrcia (Pesquisadora e Produtora Musical); e Nelson Pinheiro de Farias (Comunicação Social).[43]
Sérgio Luiz Fontes (Pesquisador de Música Contemporânea)
Enredo
Maria de Fátima Mendes (Atriz)
Oswaldo Senra Júnior (Coreógrafo)
Fantasias
Josélia de Araújo Mello (Passista)
Maria Auxiliadora Lima Teixeira (Pedagoga)
Comissão de Frente
Adriana Corrêa Homem de Carvalho (Técnica em turismo)
Jorge Luiz Costa (Bailarino e Coreógrafo)
Ala das Baianas
Therezinha Wright da Silva (Pesquisadora da Cultura Afro-Brasileira)
Vera Lúcia Sampaio Elói (Estilista)
Alegorias e Adereços
Cláudio Aun (Artista Plástico)
Jarbas Paullous (Artista Plástico)
Mestre Sala e Porta-Bandeira
Dóris (Porta-Bandeira)
Sérgio Murilo Antônio (Mestre-Sala)
Classificação
Em seu segundo ano como escola de samba, a Acadêmicos do Dendê foi campeã, garantindo sua promoção inédita à terceira divisão. A nova liga, criada para administrar os grupos A e B em 1995, promoveu uma reorganização nas divisões de acesso. Com isso, além do Dendê, outras cinco escolas que se filiaram à LIESGA, foram promovidas à terceira divisão. Última colocada, Unidos da Vila Santa Tereza foi rebaixada para a quinta divisão. As demais escolas, filiadas à AESCRJ, foram mantidas na quarta divisão.[6][39][40]
Legenda: Promovidas à terceira divisão Permanecem no mesmo grupo Rebaixada para a quinta divisão * Sem informação disponível
O desfile do Grupo de Avaliação (quinta divisão) foi organizado pela AESCRJ e realizado a partir das 20 horas da segunda-feira, dia 14 de fevereiro de 1994, na Avenida Rio Branco.[10]
Em seu segundo ano no carnaval, a Alegria da Zona Sul sagrou-se campeã do Desfile de Avaliação. A escola porém não desfilou no ano seguinte e em 1997 retornou à sexta divisão. A criação de uma nova liga gerou diversas alterações nos grupos de acesso. As escolas que se filiaram à LIESGA foram promovidas à segunda e à terceira divisão. Foi o caso da vice-campeã, Unidos do Porto da Pedra, convidada para participar da segunda divisão de 1995. Renascer de Jacarepaguá, Inocentes de Belford Roxo e União de Rocha Miranda foram convidadas para integrar a terceira divisão.
As demais escolas permaneceram filiadas à AESCRJ, que organizou a quarta e a quinta divisão no ano seguinte. Imperial de Nova Iguaçu foi promovida à quarta divisão e as outras mantidas na quinta divisão. Unidos do Uraiti não se apresentou para o desfile e também foi mantida no mesmo grupo.[6][39][40]
Legenda: Campeã Permanecem no mesmo grupo * Sem informação disponível Promoções: Segunda divisão Terceira divisão Quarta divisão
O Desfile das Campeãs foi realizado a partir das 19 horas do sábado, dia 19 de fevereiro de 1994, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Participaram as escolas campeã e vice-campeã do Grupo 1 e as seis primeiras colocadas do Grupo Especial. A escola de samba italiana I Tapone, campeã do carnaval de 1993 da comuna de Cento, desfilou como convidada.[45][46]
Bastos, João (2010). Acadêmicos, unidos e tantas mais - Entendendo os desfiles e como tudo começou 1.ª ed. Rio de Janeiro: Folha Seca. 248 páginas. ISBN978-85-87199-17-1
Cabral, Sérgio (2011). Escolas de Samba do Rio de Janeiro 3.ª ed. São Paulo: Lazuli; Companhia Editora Nacional. 495 páginas. ISBN978-85-7865-039-1
Gomes, Fábio; Villares, Stella (2008). O Brasil É Um Luxo: Trinta Carnavais de Joãosinho Trinta 3.ª ed. São Paulo: CBPC - Centro Brasileiro de Produção Cultural Ltda. e AXIS Produções e Comunicação Ltda. 256 páginas. ISBN978-85-87134-04-2
Gomyde Brasil, Pérsio (2015). Da Candelária à Apoteose - Quatro décadas de paixão 3.ª ed. Rio de Janeiro: Multifoco. 501 páginas. ISBN978-85-7961-102-5
Valença, Rachel; Valença, Suetônio (2017). Serra, Serrinha, Serrano - O Império do Samba 1.ª ed. Rio de Janeiro: Record. 433 páginas. ISBN978-85-0110-897-5