O Renascimento em Portugal, começou em meados do século XV a finais do século XVI. O movimento cultural que assinalou o final da Idade Média e o início da Idade Moderna foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana. A chegada do Renascimento à arquitetura de Portugal foi tardia e de forma tímida, depara-se com a resistência principalmente devido ao manuelino,[1] nascendo da mistura do estilo gótico, especialmente como forma ornamental da última fase do gótico, com as novas inovações do século XV. No reinado de D. João I verifica-se o contacto de artistas portugueses com as inovações técnicas e estéticas então emergentes em Itália; e artistas italianos (ou portugueses seguindo a forma italiana) eram convidados a trabalhar em Portugal como Francisco de Holanda (1517-1584) e Diogo de Torralva (c. 1500 — 1566).
Embora o Renascimento italiano tenha tido um impacto modesto na arte, os portugueses foram influentes no alargamento da visão do mundo dos europeus,[2] estimulando a curiosidade humanista.
Como pioneiro da exploração europeia, Portugal floresceu no final do século XV com as navegações para o oriente, auferindo lucros imensos que fizeram crescer a burguesia comercial e enriquecer a nobreza, permitindo luxos e o cultivar do espírito. O contacto com o Renascimento chegou através da influência de ricos mercadores italianos e holandeses que investiam no comércio marítimo. O contato comercial com a França, Espanha e Inglaterra era assíduo, e o intercâmbio cultural se intensificou bastante...
Contexto
O comércio marítimo da era dos descobrimentos desempenhou um papel determinante na evolução do renascimento em Portugal: intensificou os contactos com importantes centros renascentistas, a Itália e a Flandres, fez prosperar a burguesia comercial ao lado de mercadores estrangeiros, mas também divulgou na Europa produtos, territórios e povos de África, do Oriente e do Brasil, que completavam - e até contradiziam - o saber clássico.[3][4]
O rei mantinha uma missão diplomática permanente em Roma para assegurar a cooperação do Papado, essencial para manter a demarcação de Tordesilhas e o seu status na Europa. Além de embaixadores como o cardeal Miguel da Silva, um fluxo de enviados viajava para Roma constantemente, trocando presentes sumptuosos, como a embaixada de Tristão da Cunha e Garcia de Resende em 1514.[5]
Desde cedo os portugueses trabalhavam com navegadores, cartógrafos e geógrafos italianos. Em 1457 D Afonso V encomendou o famoso mapa múndi a Fra Mauro; em 1474 o geógrafo Toscanelli, frequentador da corte dos Médicis, escrevia-lhe sobre um caminho para Índia por oeste. Banqueiros, mercadores e exploradores genoveses, florentinos e alguns dos rivais venezianos estavam investidos na exploração de novas rotas marítimas. A partir de 1455 a florescente indústria de açúcar na Ilha da Madeira atraiu interessados[6] entre os quais Cristóvão Colombo, e o florentino Bartolomeu Marchionni, num comércio que misturava açúcar e escravos. "Em 1480 havia cerca de setenta navios envolvidos no comércio de açúcar da Madeira, com a refinação e distribuição concentrada em Antuérpia."[6]
Em 1430 Portugal estreitara os antigos contactos com a Flandres, quando o casamento de Filipe III, Duque de Borgonha com Isabel de Portugal levou mais 2 mil portugueses que desenvolveram actividade no comércio, finanças e artes. A real feitoria portuguesa em Bruges, mais tarde transferida para Antuérpia, cresceu como principal ponto de distribuição português na Europa. Com o patrocínio da princesa, flamengos e alemães estabeleceram-se em Portugal, em especial na ilha do Faial, nos Açores, importante escala de navegação. Entre estes o cosmógrafo Martin Behaim e o editor Valentim Fernandes. A arte flamenga ganhou entre os portugueses grande prestígio, que a importavam em quantidade, disputando as melhores obras e artistas,[7] com o Renascimento nórdico a influenciar as artes plásticas e na música.
Diplomatas, mercadores e um número significativo de estudantes nas universidades estrangeiras em Itália, Paris e Lovaina, cultivaram amizades com humanistas, académicos e artistas do renascimento.[5] Nas humanidades, estudantes e viajantes como Sá de Miranda importam o classicismo renascentista. Mas apesar de divulgados por Ramusio e Américo Vespúcio, os relatos exóticos têm pouco impacto em Itália talvez por colidirem com a visão clássica estrita. Também a influência do Renascimento italiano nas artes plásticas em Portugal é modesta. Em 1540 Francisco de Holanda queixa-se:
"Fui o primeiro que n'este Reino louvei e apregoei ser perfeita a antiguidade, e não haver outro primor nas obras, e isto em tempos que todos quasi querião zombar d'isso, sendo eu moço e servindo ao Infante D. Fernando e ao Sereníssimo Cardeal D. Afonso meu Senhor. E o conhecer isso me fez desejar de ir ver Roma…".[8]
Simultaneamente em Antuérpia Damião de Góis testemunha o interesse de importantes figuras do renascimento nórdico como Durer e Thomas More.[9] Com a chegada à Índia, o comércio ganha importantes financiadores alemães, como os Fugger, que fazem a ligação com várias personalidades. Erasmo de Roterdão escreve uma dedicatória a D.João III[5] que chega a considerá-lo para ensinar em Coimbra. Mas o saque de Roma (1527) e a reacção à Reforma Protestante acabam por arrefecer o intercâmbio. Portugal volta-se para a missionação, ao abrigo do padroado português.
A descoberta de novos mundos e o contacto com outras civilizações levaram a uma miscigenação cultural que se reflectiria, essencialmente, na arte. O contacto com as civilizações de África e do Oriente levou à importação de numerosos objectos de cerâmica, têxteis e mobiliário, de madeiras preciosas, marfim e seda que, por seu turno, levaram ao surgimento de novas formas artísticas resultantes dos intercâmbios culturais entre a Europa, a África e o Oriente, através dos portugueses.
Ciência
Como pioneiro na exploração marítima, Portugal atraiu especialistas em astronomia, matemática e tecnologia naval que fizeram avanços cruciais para mapear o mundo. Aparece toda uma série de obras de carácter técnico relacionadas, como cartas, mapas-mundi, globos, tratados sobre a arte de navegar, roteiros, relatórios de naufrágios, itinerários, crónicas, farmacopeias e tratados de medicina tropical.
Em 1475 fora impressa pela primeira vez uma tradução em latim da Geographia de Ptolomeu (século II), ilustrada com mapas derivados das suas informações, adoptada como a referência clássica na geografia. Mas a exploração portuguesa cedo revelou lacunas no conhecimento clássico:[3][5] em 1488, ao passar o Cabo da Boa Esperança, Bartolomeu Dias provou errada a visão de Ptolomeu, de que não havia passagem para o Índico. Em 1492, após a estadia Portugal, Martin Behaim construiu em Nuremberga o primeiro globo terrestre conhecido e partilhou com o médico e humanista Hieronymus Münzer as últimas novidades em matéria de descobrimentos marítimos: África tinha forma penínsular, Europa e Ásia estavam separadas por um único oceano.[5] Visão que nesse ano Cristóvão Colombo testou, inspirado nas cartas do florentino Toscanelli ao rei de Portugal em 1472.
"A experiência é a madre de todas as cousas, per ela soubemos redicalmente a verdade..."
Esmeraldo de Situ Orbis, p. 196
Dada importância da navegação astronómica para o sucesso das navegações, uma instrução e exame básicos eram exigidos aos pilotos.[11] Para tal foram escritos manuais de marinharia. O mais antigo, o Regimento do astrolábio e do quadrante (c.1493), regista leituras da latitude exactas até cerca de meio grau. A partir de 1500 a navegação no hemisfério Sul guiava-se pelo Cruzeiro do Sul, cujo regimento foi escrito por João de Lisboa em 1514.
Entre os tratados na astronomia, náutica e oceanografia destacam-se o Esmeraldo de Situ Orbis (1506) de Duarte Pacheco Pereira; o Tratado da Esfera baseado em Johannes de Sacrobosco(1537) do matemático e cosmógrafo real Pedro Nunes, que dava formação a navegadores e, entre outras obras, traduziu a Geographia de Ptolomeu. Entre 1538-1541 D. João de Castro, seu amigo e discípulo, demonstra o empenho na análise rigorosa da realidade, numa antecipação da revolução científica.[3] Entre as suas obras destacam-se três roteiros, entre eles o "Roteiro do Mar Roxo"(1541),[12] o único publicado, atribuindo-se-lhe ainda um "Tratado da Sphaera, por perguntas e respostas a modo de dialogo" e "Da Geographia por modo de Dialogo". Em 1555 Fernão de Oliveira escreve a "Ars nautica" (c.1570), primeiro tratado enciclopédico mundial sobre navegação, guerra e construção naval e o "Livro da fábrica das naus" (c.1580).
Os portulanos portugueses tiveram grande procura na Europa. Apesar de protegido como segredo de estado, o conhecimento cartográfico acabava por ser transmitido clandestinamente por alguns dos envolvidos na exploração.[13] São exemplos conhecidos o planisfério de Cantino, "roubado" para o duque de Ferrara em 1502,[14] e os mapas produzidos em Dieppe entre 1540-60, comissionados por poderosos patronos como Henrique II de França e Henrique VIII de Inglaterra, .[15]
Em 1507 Martin Waldseemüller e Matthias Ringmann publicam na Lorena (França) o famoso mapa-mundi Universalis Cosmographia acompanhado do livro Cosmographiae introductio, que explica, entre outras coisas, o nome de América para o então denominado "Novo Mundo", tendo como apêndice uma tradução latina das quatro jornadas do navegador florentino Américo Vespúcio, integrando vários conhecimentos de origem portugueses.[16]
o flamengo Johann Ruysch, que também serviria D. Manuel I, publicou o segundo mapa impresso na história com informações sobre o Novo Mundo.[17] Em 1519, Pedro Reinel e Jorge Reinel, Lopo Homem e o miniaturista António de Holanda compilaram o conhecimento português no sumptuoso Atlas Miller,[18] possivelmente um presente de D. Manuel I para Francisco I de França.[19]
Com a chegada à Índia foram enviados ao oriente especialistas para estudar e compilar novas plantas medicinais e drogas entre as "especiarias". O boticárioTomé Pires e os médicos Garcia de Orta e Christobal Acosta, recolheram e publicaram trabalhos sobre as novas plantas e medicamentos locais. Os dois últimos logo foram traduzidos para latim pelo médico e botânico flamengo Carolus Clusius.
Portugueses revelaram os limites das informações fornecidas por Ptolomeu, Plínio, o Velho e outras fontes clássicas, mas também abriram o imaginário europeu para novas possibilidades. A Utopia de Thomas More foi inspirado em parte pela descoberta do Novo Mundo.
Frontispício do Colóquio dos Simples de Garcia de Orta. Goa, 1563
Ananás por Cristóvão Acosta no Tractado de las drogas, y medicinas de las Indias Orientales, Burgos, 1578
Artes
O "Renascimento" na arte em Portugal é matéria de disputa historiográfica, pois apesar do grande florescimento nas artes, não seguiu estritamente os padrões estéticos classicistas, como o italiano. O Renascimento português, para além do seu cunho próprio, nasce, principalmente na arte, da mistura do estilo gótico final com as inovações do século XV.
Até meados do século XVI, a pintura portuguesa foi vista como uma sobrevivência do Gótico nórdico. Uma mudança mais nítida em direção ao modelo italiano só começa a se fazer notar por volta de 1540, quando o classicismo rigoroso da Alta Renascença já havia desaparecido e a tendência dominante na Itália já era o Maneirismo. Desta forma, para alguns autores, ocorre em Portugal um salto do Gótico tardio para o Maneirismo, sem traços renascentistas autênticos significativos.[20][21][22]
Arquitetura e escultura
Na arquitetura, os lucros do comércio de especiarias nas primeiras décadas do século XVI financiaram um estilo de transição sumptuoso, mais tarde nomeado manuelino[1] dado ter sido no reinado de Manuel I, que a maioria dos edifícios foi iniciada. O Manuelino mescla o gótico final com elementos da renascentistas, a influência dos estilos contemporâneos plateresco, isabelino, e elementos mudéjares. Distingue-se pela decoração luxuriante, com motivos naturalistas marinhos, cordas e uma rica variedade de animais e motivos vegetais. Remonta ao crescente gosto pelo exotismo, desde o início da expansão.
O mesmo acontece na Sé da Guarda, nas igrejas paroquiais de Olivença, Freixo de Espada à Cinta, Montemor-o-Velho e outros. Surgem também portais elaborados com colunas em espiral, nichos e e motivos renascentistas e gótico, como no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e a porta especiosa da Sé Velha de Coimbra.
O austero classicismo renascentista não prosperou em Portugal. Introduzido a partir da década de 1530 por arquitetos estrangeiros, evoluiu de forma natural, mas lenta, para o maneirismo. Francisco de Holanda no livro "Diálogos sobre a Pintura Antiga", disseminou os seus fundamentos.
Testemunhos maiores deste estilo são a Igreja de São Roque (Lisboa), iniciada em 1555 por Afonso Álvares, um dos poucos grandes edifícios lisboetas que sobreviveu ao terramoto de 1755, e o magnífico Claustro de D. João III, de dois pisos, no Convento de Cristo em Tomar iniciado por Diogo de Torralva em 1557. Concluídos anos mais tarde por Filipe Terzi, ambos viriam a evoluir para o maneirismo, de que o claustro é considerado um dos mais importantes exemplos portugueses.
Na pintura o Renascimento chega por influência do Renascimento nórdico. Desde meados do século XV a pintura entra numa fase de grande prestígio, com a importação de arte flamenga, disputando as melhores obras e os melhores artistas, cujo ritmo de produção é elevadíssimo.[7]
Nuno Gonçalves, a quem são atribuídos os Painéis de São Vicente de Fora de 1470-1480[24] e, por vezes, o desenho das contemporâneas tapeçarias de Pastrana, é considerado um dos precursores da pintura renascentista em Portugal.[25] No políptico retrata figuras proeminentes da sociedade da época com um estilo seco mas poderosamente realista, com a preocupação de retratar cada figura individualmente, influência da escola flamenga.[26]
No início de quinhentos vários grupos de pintores estão ativos, em colaboração com estrangeiros. Muitos permanecem anônimos, tornando difícil a atribuição da autoria. Mesmo entre os que deixaram seus nomes registrados a atribuição de autoria é complexa, pelo hábito de trabalho coletivo. Um desses grupos reuniu-se em torno do pintor da corte Jorge Afonso. Nele participaram os flamengos Francisco Henriques e Frei Carlos, além de Cristóvão de Figueiredo, Garcia Fernandes, Gregório Lopes e Jorge Leal, entre outros. No norte, um grupo menor com Vasco Fernandes e seus colaboradores, como Gaspar Vaz e Fernão de Anes.[27][28]
O centro maior, porém, foi Lisboa, privilegiada por sua posição como grande entreposto comercial, aberta a um constante afluxo de novas informações e atuando como um centro irradiador de influência para o interior de Portugal.[29] As obras desses mestres, praticamente todas no gênero sacro, de um modo geral se caracterizam, no entender de Manuel Batoréo, por apresentarem um "... sentido humanista de representação narrativa onde a perspectiva traz nova dinâmica à função da (…) arte religiosa, que é a única de que temos testemunho na primeira metade do século XVI. E é natural que assim seja, por ser aquela que responde à mentalidade da época, decorrente não apenas dos circunstancialismos económicos e políticos mas ainda, e como consequência desses mesmos circunstancialismos, de uma agudização da consciência da mortalidade na sociedade do tempo?".[30]
Em Coimbra, localizava-se uma oficina (Escola de Coimbra) cujos maiores pintores foram Vicente Gil e o seu filho Manuel Vicente.[31]
Prossegue a tradição das iluminuras: a Bíblia dos Jerónimos, de 1494, realizada por encomenda expressa de D.Manuel I ao italiano Attavanti Gabriello di Vante e seus assistentes, constitui o primeiro marco da predileção manuelina pelo belo e o luxo. Dessa Bíblia Paolo d´Ancona disse ser "a obra mais sumptuosa de quantas sairam das oficinas florentinas do século XV".[27][32][33][34] Destaca-se o trabalho de António de Holanda, co-autor das ilustrações do Livro de Horas de D. Manuel (1517-1538). Os artistas da tradição manuelina frequentemente incorporaram ornamentos e elementos classicistas em suas pinturas, mas de uma forma decorativa e não essencial.
Francisco de Holanda na década de 1540, tendo concluído seus estudos na Itália, introduz uma nota nova, classicista e italianizante, na pintura portuguesa. Desde cedo manifestou um gosto pela arqueologia, dizendo de si mesmo: "Fui o primeiro que n'este Reino louvei e apregoei ser perfeita a antiguidade, e não haver outro primor nas obras, e isto em tempos que todos quasi querião zombar d'isso, sendo eu moço e servindo ao Infante D. Fernando e ao Sereníssimo Cardeal D. Afonso meu Senhor. E o conhecer isso me fez desejar de ir ver Roma…".[8]
Ao longo do século XVI os príncipes-cardeais D. Afonso e D. Henrique, filhos de D. Manuel I, imposeram uma liturgia magnífica nas catedrais por si administradas. D. Afonso atraiu para a catedral de Évora músicos de qualidade, como Mateus de Aranda (chamado em 1544 para lecionar música na Universidade de Coimbra) e Pedro de Escobar, cantor de capela de Isabel a católica, que veio como Mestre de Capela. Foi o autor da mais antiga peça polifónica de um autor português (um Magnificat a três-vozes), bem como o tratamento polifônico mais antigo de um Requiem na Península Ibérica. D. Afonso fundou também uma escola para meninos do coro, permitindo estudar depois da mudança de voz; muitos destes jovens tornaram-se músicos profissionais. A escola Évora formou músicos de alto padrão por mais de 150 anos, como Filipe de Magalhães, Manuel Mendes e Duarte Lobo Além de Évora, destacaram-se Braga e Coimbra. A versão mais antiga de uma missa por um autor Português é de um Cantor da catedral de Coimbra, Fernão Gomes Correia (1505-1532).
Da música profana nos períodos renascentista são testemunhos quatro cancioneiros: o Cancioneiro de Elvas, uma das fontes mais importantes da Península Ibérica, com obras em português e castelhano, o Cancioneiro de Lisboa, Cancioneiro de Paris e o Cancioneiro de Belém. As formas poéticas são o vilancete, a cantiga e o romance. Os dois primeiros, semelhante ao francês virelai, geralmente dedicados à temática do amor, apesar da sátira e crítica social não estarem excluídas. Possuem um refrão e estrutura estrofes. O romance é dedicado a celebrar acontecimentos históricos, aplicando o mesmo texto musical a todas as estrofes do poema.
Humanidades
Expansão da imprensa (prensa móvel)
Em Portugal, como na Europa, a imprensa (prensa móvel) teve um papel fundamental no renascimento. As primeiras prensas chegaram pela mão de tipógrafos judeus via Itália.[35] O primeiro livro em língua portuguesa impresso em Portugal foi o Sacramental, de 1488, impresso em Chaves, seguido do Tratado de Confissom na mesma cidade. Embora a maioria dos livros impressos fosse sobre temas religiosos, o Almanach perpetuum de Abraão Zacuto, publicado e impresso em Leiria foi um dos quatro primeiros livros publicados em Portugal.[35]
A partir de 1490 imprimiam-se livros em Lisboa, no Porto e em Braga. Apesar da expulsão dos judeus ordenada em 1495 por D. Manuel I, tipógrafos como Abraão Usque, a partir de itália, continuaram entre os tipógrafos e editores portugueses do renascimento, entre os quais se destacaram também o alemão Valentim Fernandes e Pedro Craesbeeck. Em 1514, tirando partido da nova tecnologia, D. Manuel I mandou imprimir uma nova legislação portuguesa, as Ordenações Manuelinas[36] determinando a sua aquisição em todo o país.
O Renascimento produziu uma plêiade de poetas, historiadores, críticos, teólogos e moralistas que fizeram do século XVI uma idade de ouro. O grande número de palavras eruditas importadas do latim clássico e do grego arcaico durante o renascimento aumentou o léxico português e a complexidade da língua portuguesa. Considera-se o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende o marco do fim do português arcaico e início do português moderno (do século XVI até ao presente).
Em 1540, João de Barros o distinto funcionário da coroa que fora tesoureiro da Casa da Índia, publicou a Grammatica da Língua Portuguesa e diversos diálogos morais a acompanhá-la, para ajudar ao ensino da língua materna. A Grammatica foi a segunda obra a normatizar a língua portuguesa, sendo considerada a primeira obra didática ilustrada no mundo[38] A Grammatica possui parte dedicada a informar aos jovens aristocratas, a quem a obra se dirigia, também fundamentos básicos da Igreja Católica, contendo em seu bojo os sacramentos, os Dez Mandamentos e as preces principais (como o Pai-nosso e Ave-Maria).[38]
Ilustrações
Letra S, "Serea"
Letra N, "Náo"
Letra O, "Olho"
Letra X, "Xaroco"
Literatura
Em 1516 Garcia de Resende publicou o Cancioneiro Geral com obras de mais de 200 autores dos tempos de D. Afonso V e D. João II. Entre estes o próprio Resende, com as Trovas à Morte de Inês de Castro, e três nomes que mudaram o curso da literatura portuguesa: Sá de Miranda, Gil Vicente e Bernardim Ribeiro. O Cancioneiro Geral é considerado o marco do fim do português arcaico e início do português moderno (do século XVI até ao presente).
O século inicia-se com a introdução de novos géneros literários. Sá de Miranda, regressado de Itália em 1526, introduziu as formas da escola italiana: o soneto, a canção, a sextina, as composições em tercetos e em oitavas e os decassílabos. De 1502 até 1536, Gil Vicente escreveu e encenou quarenta e uma peças de dramaturgia em português e em castelhano - entre elas autos e mistérios de carácter devocional, farsas, comédias e tragicomédias- com que seria considerado o "pai do teatro português". Os seus textos satirizavam os novos tempos, de mudança das hierarquias sociais inflexíveis da Idade Média para a nova sociedade do renascentista, que subvertia a ordem instituída.
Na prosa, o romance de cavalaria foi um fenómeno literário da Península Ibérica durante o século XVI, com uma enorme popularidade a contagiar a Europa. Completa idealização dos códigos medievais cavaleirescos, tinha como personagens princesas, donzelas e cavaleiros, e exaltava o cavalheirismo, as proezas, a lealdade e a ética cristã.[13] O ciclo Amadis de Gaula (1508, versão castelhana de Montalvo) estabeleceu o paradigma do perfeito cavaleiro andante. Em Portugal destaca-se a Crónica do Imperador Clarimundo (1522), primeira obra impressa de João de Barros,[39] sendo o mais famoso o Palmeirim de Inglaterra (1541) de Francisco de Morais, traduzido em castelhano, francês e italiano em 1553 e inglês em 1602. A popularidade destes romances foi tal, que influenciou a origem do nomes e povos "descobertos", como Patagónia e Califórnia. E levou Miguel de Cervantes a escrever Dom Quixote (1605), expoente do romance moderno da história da literatura.
Diogo de Teive, André de Resende, Damião de Góis e Francisco de Holanda foram outros dos humanistas portugueses, que privaram com destacados vultos do Renascimento na Europa.
Holanda, humanista, pintor, arquiteto, historiador e teórico da arte. Em seu tratado Da Pintura Antigua (1548), expõe suas ideias sob a forma de diálogos fictícios com Michelangelo, com quem entrara em contato em Roma e por quem fora profundamente impressionado. Sua filosofia, influenciada pelo pensamento Neoplatônico italiano, via na pintura uma segunda Natureza, um espelho do gênio criativo de Deus, a quem considerava "O primeiro pintor". A arte assim não era tanto uma imitação da Natureza, mas uma nova Criação diretamente a partir da fonte divina, origem de todas as ideias e do mundo manifesto, e justamente por isso não necessitava primariamente agradar ao público, mas antes ao próprio artista. Ao mesmo tempo, sua concepção de história era toda apologética, estruturada por valores onde "todo o prestígio do mundo é evocado com o único fim de revelar e comprovar o valor e utilidade das artes", tendo a cultura da antiguidade como seu modelo ideal.[41] Essa interação entre arte, classicismo e misticismo, de índole libertária e individualista, implicava ainda uma ética de austeridade e virtude, identificando o Bem com a Beleza, e não desdenhava a importância do aprendizado técnico sólido, dizendo que o engenho inato do pintor não era o bastante, devendo sim cultivá-lo assiduamente através do estudo das ciências e humanidades e da prática continuada das virtudes morais e dos ofícios artísticos. Daí se compreende seus esforços no sentido de fundar uma Academia de Pintura em Portugal, esforços que não obstante não encontraram eco na mentalidade de seus contemporâneos, ainda presa ao antigo sistema corporativo de produção.[42]
Ensino
O Renascimento português dir-se-ia caracterizado por um cosmopolitismo com duas vertentes, uma europeia e outra ultramarina. Cada vez mais portugueses frequentavam os grandes centros universitários europeus, pólos importantes dos novos ideais humanistas, nomeadamente os de Itália, Espanha e França. Com uma papel relevante na transformação do meio académico em França e depois em Portugal destacam-se Diogo de Gouveia e André de Gouveia. O primeiro, que estudou na Sorbonne e foi diplomata para o rei D. Manuel I consegue com o patrocínio de D. João III levar 50 bolseiros portugueses para a universidade em Paris. Director do Colégio de Santa Bárbara e professor de Francisco Xavier, foi em parte responsável pela ligação deste a Portugal e ao padroado. O seu sobrinho André, regressou a Portugal. a convite de D. João III, acompanhado de um grupo de mestres estrangeiros para dirigir o Real Colégio das Artes e Humanidades em Coimbra, nascido centrado no estudo das artes liberais e das humanidades.
A afluência de estudantes portugueses às grandes cidades europeias coincide com a dispersão e fixação de outros portugueses como é o caso dos soldados ou dos religiosos, no Ultramar, ocupando as cidades fortificadas no Norte de África, colonizando a Ilha da Madeira e os Açores ou percorrendo a costa africana, comerciando, evangelizando e fixando-se na Índia, na China, Malaca, Japão ou no Brasil.
A própria língua virá a sofrer a influência destes contactos transoceânicos dos portugueses, particularmente com a introdução das terminologias autóctones das regiões além-mar, algumas delas persistindo ainda nos dias de hoje.
É também nesta altura que obras de autores portugueses são com mais frequência impressas no estrangeiro. Graças aos estudos dos portugueses nas universidades estrangeiras, a fisionomia das escolas, e, consequentemente, a cultura da nação portuguesa, foi-se alterando, influenciando fortemente as universidades de Coimbra, Lisboa e Évora, a administração civil e religiosa, os centros culturais (quase exclusivamente em Lisboa) da província e até do Ultramar, especialmente em Goa.
As obras referentes ao Ultramar impressas em Portugal estão entre as mais procuradas na Europa da altura, sendo traduzidas em várias línguas. O aparecimento de uma nova literatura e o aperfeiçoamento da ciência naútica, para além da própria experiência de vida dos portugueses, no que respeita à epopeia dos Descobrimentos, constitui um dos pilares socioculturais do Renascimento português.
Portugal acaba por influenciar, também, através das suas publicações, toda a Europa, ao mesmo tempo que recebe a influência do Humanismo patente nestes centros, dando origem a uma atitude crítica com base na experiência ou na observação directa dos factos, desmistificando algumas lendas medievais.
Toda a sociedade é atraída pela expansão ultramarina, ao mesmo tempo que nas grandes cidades e na província surgem homens de várias nacionalidades com profissões específicas, que contribuem para a constante aprendizagem e evolução do pensamento nacional, cruzando-se muitas vezes religiões, importando-se livros e objectos de arte que influenciam uma nova mentalidade: a do Homem renascentista ou humanista.
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↑Anos antes da publicação do seu Almanach Perpetuum.
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Municipality in Mecklenburg-Vorpommern, GermanyGarz MunicipalityOld church (Saalkirche) in GarzLocation of Garz within Vorpommern-Greifswald district Garz Show map of GermanyGarz Show map of Mecklenburg-VorpommernCoordinates: 53°53′N 14°10′E / 53.883°N 14.167°E / 53.883; 14.167CountryGermanyStateMecklenburg-VorpommernDistrictVorpommern-Greifswald Municipal assoc.Usedom-Süd Government • MayorGünter KrohnArea • Total10.04 km2 (3.88&...
New Zealand politician The HonourableDuncan WebbMPWebb in 202017th Minister for State Owned EnterprisesIn office1 February 2023 – 27 November 2023Prime MinisterChris HipkinsPreceded byDavid ClarkSucceeded byPaul Goldsmith15th Minister of Commerce and Consumer AffairsIn office1 February 2023 – 27 November 2023Prime MinisterChris HipkinsPreceded byDavid ClarkSucceeded byAndrew BaylyMember of the New Zealand Parliamentfor Christchurch CentralIncumbentAssumed office 23 S...
Birkenkopf granite, one of the Harz granites. Dull finish (specimen ca. 10 cm long) Harz granite (German: Harzer Granit, pronounced [ˌhaːɐ̯tsɐ gʁaˈniːt]) is found in the Harz Mountains of central Germany. It may be divided into five types, all of which were widely used as natural stone: Knaupsholz granite, Birkenkopf granite, Wurmberg granite, Königskopf granite and Ilsestein granite. The first three granites were widely used in North Germany, Belgium and the Netherlands and,...
This article relies largely or entirely on a single source. Relevant discussion may be found on the talk page. Please help improve this article by introducing citations to additional sources.Find sources: Luminosity performance art – news · newspapers · books · scholar · JSTOR (July 2015) Luminosity (1997) was a performance art installation by Serbian artist Marina Abramović at Sean Kelly Gallery, New York. Along with Insomnia and Dissolution, Lu...
2015 remix album by Ariana GrandeThe RemixRemix album by Ariana GrandeReleasedMay 25, 2015Length57:48LabelRepublicAriana Grande chronology My Everything(2014) The Remix(2015) Christmas & Chill(2015) The Remix (stylized in all caps) is the debut remix album by American singer Ariana Grande. It features fifteen remixes of her singles from her first two studio albums: Yours Truly (2013) and My Everything (2014).[1] It was released exclusively in Japan on May 25, 2015 and peak...
John MiljanMiljan 1940Lahir(1892-11-09)9 November 1892Lead, Dakota Selatan, Amerika SerikatMeninggal24 Januari 1960(1960-01-24) (umur 67)Hollywood, California, Amerika SerikatPekerjaanPemeranTahun aktif1924–58Suami/istriVictoire Lowe (m. 1927) John Miljan (9 November 1892 – 24 Januari 1960) adalah seorang pemeran Amerika Serikat.[1] Ia tampil dalam 201 film antara 1924 dan 1958. Filmografi pilihan Love Letters (1924) T...
Campus of the Walsh School of Foreign Service in Doha's Education City Georgetown University in Qatarجامعة جورجتاون في قطرSeal of Georgetown UniversityFormer namesGeorgetown University School of Foreign Service in Qatar (2005–2015)MottoUtraque Unum(Both into One)[1]TypePrivateEstablishedAugust 31, 2005Parent institutionGeorgetown UniversityAffiliationRoman Catholic (Jesuit)PresidentJohn J. DeGioiaDeanSafwan M. Masri[2]Academic staff66[3]Undergraduat...
Main article: Ambisonics This article's use of external links may not follow Wikipedia's policies or guidelines. Please improve this article by removing excessive or inappropriate external links, and converting useful links where appropriate into footnote references. (April 2020) (Learn how and when to remove this template message) This is a list of current or legacy Ambisonic hardware. Currently available Ambisonic hardware Microphone Arrays Presence in this list does not indicate that the m...
1955 studio album by Roy EldridgeLittle JazzStudio album by Roy EldridgeReleased1955RecordedSeptember 14, 1954Fine Sound Studios, NYCGenreJazzLabelClefMGC 683ProducerNorman GranzRoy Eldridge chronology Dale's Wail(1954) Little Jazz(1955) Roy and Diz(1954) Little Jazz is an album by American jazz trumpeter Roy Eldridge recorded in 1954 and originally released on the Clef label.[1][2] Little Jazz was Roy Eldridge's nickname. Reception Professional ratingsReview scoresSou...
This article has multiple issues. Please help improve it or discuss these issues on the talk page. (Learn how and when to remove these template messages) This article may need to be rewritten to comply with Wikipedia's quality standards. You can help. The talk page may contain suggestions. (August 2023) This article may require copy editing for grammar, style, cohesion, tone, or spelling. You can assist by editing it. (August 2023) (Learn how and when to remove this template message) (Learn h...
Questa voce sull'argomento modelli tedeschi è solo un abbozzo. Contribuisci a migliorarla secondo le convenzioni di Wikipedia. Sara NuruAltezza176 cm Misure78–62–93 (EU) 30.75–24.5–36.5 (US) Taglia36 EU/6 US/8 UK (UE) Occhicastani Capellineri Modifica dati su Wikidata · Manuale Sara Nuru (Erding, 19 agosto 1989) è una modella tedesca, di origini etiopi, nota per aver vinto la quarta edizione del reality show Germany's Next Topmodel. Altri progetti Altri progetti Wiki...
Saint-Maurice-sous-les-Côtes Entidad subnacional Saint-Maurice-sous-les-CôtesLocalización de Saint-Maurice-sous-les-Côtes en Francia Coordenadas 49°00′56″N 5°40′42″E / 49.015555555556, 5.6783333333333Entidad Comuna de Francia • País Francia • Región Lorena • Departamento Mosa • Distrito distrito de Commercy • Cantón cantón de Vigneulles-lès-Hattonchâtel • Mancomunidad Communauté de communes du pays de Vigneulles le...
Naval gun Ordnance BL 13.5 inch gun Mk I - IV The forward 13.5-inch (343-mm) gun turret of the battleship HMS HoodTypeNaval gunPlace of originUnited KingdomService historyUsed byUnited Kingdom Kingdom of ItalyProduction historyDesignerWoolwichDesigned1880VariantsMk I, II, III, IVSpecificationsMass67-69 tons barrel & breech[1]Barrel length405 inches (10.29 m) bore (30 calibres)[1]Shell1,250 pounds (570 kg)[1]Calibre13.5-inch (342.9...
Dove CameronCameron saat di Kids' Choice Awards 2023LahirChloe Celeste Hosterman15 Januari 1996 (umur 28)Bainbridge Island, Washington, Amerika SerikatPekerjaanPenyanyiaktrisTahun aktif2007–sekarangKarier musikGenrePopInstrumenVokalLabel Walt Disney Disruptor Columbia Situs webdovecameron.com Dove Olivia Cameron[1][2][3] (lahir Chloe Celeste Hosterman lahir 15 Januari 1996)[4][5] adalah seorang aktris dan penyanyi asal Amerika Serikat. Dia ...