Em algumas áreas, o Renascimento nórdico foi distinto do Renascimento italiano na sua centralização do poder político. Embora a Itália e a Alemanha fossem constituídas por Cidades-Estado independentes, partes da Europa Central e ocidental começaram a emergir como Estados-Nação. O Renascimento nórdico esteve também estreitamente ligado à Reforma Protestante e à longa série de conflitos internos e externos entre os vários grupos protestantes e a Igreja Católica, de consequências duradouras, como a divisão dos Países Baixos.
Antecedentes
A Europa ocidental foi mais influenciada pelo feudalismo do que o norte da Itália. Este sistema econômico dominou a Europa ocidental durante séculos, mas esteve em declínio no início do Renascimento. As razões para este declínio incluem o período posterior à peste-negra, a utilização crescente do dinheiro em vez de terras, como um meio de troca, o número crescente de servos vivendo agora como homens livres, a formação de Estados-Nação com monarquias interessadas em reduzir o poder dos senhores feudais, a crescente inutilidade dos exércitos feudais em face das novas tecnologias militares (como a pólvora), e um aumento geral na produtividade agrícola, devido à melhoria da tecnologia e métodos na agricultura. Tal como na Itália, o declínio do feudalismo abriu caminho para o desenvolvimento cultural, social, econômico e mudanças associadas com o Renascimento na Europa ocidental.
Finalmente, o Renascimento na Europa ocidental, seria também estimulado pelo enfraquecimento da Igreja Católica. A aparente incapacidade da Igreja na ajuda contra os efeitos devastadores da peste-negra e em lidar com o Grande Cisma do Ocidente desestruturou a Europa. O lento desaparecimento do feudalismo também enfraqueceu uma política de centenas de anos, na qual funcionários da Igreja ajudaram a manter a população das terras arrendadas sob controle em troca de tributos. Consequentemente, o início do século XV viu o surgimento de muitas instituições seculares e crenças. Dentre as mais importantes, o Humanismo, estabeleceria os fundamentos filosóficos para grande parte da arte renascentista, da música, e da ciência. Erasmo de Roterdã, por exemplo, foi importante na propagação das ideias humanistas no norte da Europa, e foi uma figura central, na intersecção do humanismo clássico e colocação de questões religiosas. As formas de expressão artística, que há um século eram proibidas pela Igreja, eram agora toleradas ou até mesmo incentivadas em certos círculos.
A velocidade de transmissão do Renascimento em toda a Europa pode também ser atribuída à invenção da prensa móvel. O seu poder de difundir conhecimentos reforçou a pesquisa científica, espalhou ideias políticas e no geral impactou o curso do Renascimento no norte da Europa. Tal como na Itália, a imprensa aumentou a disponibilidade de livros escritos nas línguas locais e a publicação de textos novos ou clássicos em grego e latim. Além disso, a Bíblia tornou-se largamente disponível em vários idiomas, um fator muitas vezes atribuído à expansão da Reforma Protestante.
Arte
O realismo detalhado do Gótico flamengo, com mestres como Robert Campin, Jan van Eyck, e Rogier van der Weyden, era muito respeitado na Itália, mas não havia pouca influência recíproca sobre o Norte até quase ao final do século XV.[2] Apesar das frequentes trocas culturais e artísticas, os maneiristas da Antuérpia (1500-1530) estiveram entre os primeiros artistas nos Países Baixos a refletirem claramente a evolução formal italiana.
Quase na mesma época, Albrecht Dürer fez duas viagens à Itália, onde ele foi muito admirado por suas gravuras. Dürer, por sua vez, foi influenciado pela arte que viu lá. Outros notáveis pintores, tais como Hans Holbein, o Velho e Jean Fouquet, mantiveram uma influência do Gótico que ainda era popular no Norte, enquanto artistas altamente individualistas como Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel, o Velho desenvolveram estilos que foram imitados por muitas gerações subsequentes. Os pintores nórdicos, no século XVI, ficaram cada vez mais populares e viajaram para Roma, tornando-se conhecidos como Romanistas. A arte da Alta Renascença de Michelangelo e Rafael e as tendências estilísticas do Renascimento tardio do Maneirismo, que estavam em voga, tiveram um grande impacto no seu trabalho.
O Humanismo renascentista e o grande número de obras clássicas e monumentos artísticos incentivaram muitos pintores italianos para explorar temas gregos e romanos mais fortemente do que os artistas nórdicos, e também as mais famosas pinturas alemãs e neerlandesas do século XV tendem a ser religiosas. Especialmente comum são os polípticos, que vão do monumental ao portátil, e que podem ser abertos ou fechados em dias diferentes do ano litúrgico. No século XVI, temas mitológicos e de outros temas históricos tornaram-se mais uniformes entre os artistas nórdicos e italianos. Os pintores do Renascimento nórdico, no entanto, tiveram o papel principal na criação de novas matérias, tais como pintura de paisagem e de gênero.
Talvez o mais importante desenvolvimento tecnológico do Renascimento foi a invenção da caravela, a primeira verdadeiramente embarcação oceânica. Esta combinação de tecnologias da construção naval europeia e árabe tornou viável, pela primeira vez, o comércio e as viagens ao longo do Atlântico. Embora inicialmente introduzidas pelos Estados italianos, e sendo os primeiros capitães, como Cristóvão Colombo e Giovanni Caboto, italianos, acabaria por trazer desenvolvimento ao norte da Itália, tornado-se este a encruzilhada da Europa, transferindo riquezas e poder ao oeste, como Espanha, Portugal, França, e Inglaterra. Estes Estados começaram a realizar trocas comerciais com a África e Ásia, e nas Américas iniciaram atividades colonizadoras. Este período de exploração e expansão tornou-se conhecido como a Era dos Descobrimentos. Posteriormente, o poder europeu, e também os ideais e a arte renascentista, espalharam-se ao redor do globo.
↑Janson, H.W.; Anthony F. Janson (1997). History of Art 5th, rev. ed. Nova Iorque: Harry N. Abrams, Inc. ISBN0-8109-3442-6A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
↑Embora a noção de uma influência somente na direção norte para o sul tenha surgido com Max Jakob Friedländer e continuada por Erwin Panofsky, os historiadores de arte estão cada vez mais questionando a sua validade: Lisa Deam, "Flemish versus Netherlandish: A Discourse of Nationalism", no Renaissance Quarterly, vol. 51, no. 1 (Spring, 1998), pp. 28-29.