Escreveu poemas contra a guerra que foram proibidos na Alemanha nazi.[4] Na sua obra Las Casas vor Karl V. (1938) analisa a forma como os cristãos deviam reagir à opressão do Estado e critica a perseguição nazi e o antissemitismo, o que levou à proibição da publicação das suas obras. Durante a guerra, Schneider associou-se ao Círculo de Kreisau e ao Freiburger Konzil, grupos que tinham ligações com a resistência anti-nazi. As suas obras continuaram a ser publicadas na revista Weiße Blätter (Folhas brancas) dirigida por Karl Ludwig Freiherr von und zu Guttenberg e na clandestinidade, tendo sido distribuídos panfletos aos soldados na frente de combate. Embora tenha sido acusado de traição por ser autor de literatura derrotista, a guerra terminou antes de poder ser julgado.[5]
Biografia
Reinhold Schneider era filho de Wilhelm Schneider e da sua mulher Luise Wilhelmina Augusta, nascida Messmer. Os seus pais geriam o famoso Hotel Messmer (Hotel Meßmer), onde o casal imperial alemão Augusta e Wilhelm I se hospedaram durante décadas durante as suas estadias regulares em Baden. Em consequência deste contacto frequente, a madrinha de Reinhold Schneider, Augusta Maria Wilhelmine Brenner, nascida Meßmer (1863–1956), era afilhada da imperatriz Augusta.[6] O padrinho da sua mãe Wilhelmina era o imperador Wilhelm I.[7] O seu parente Eduard Meßmer também tivera contactos amistosos com o então rei Wilhelm da Prússia.
Juventude e o período entre guerras
De 1912 a 1921, Reinhold Schneider frequentou a Baden-Baden Oberrealschule, o atual Markgraf-Ludwig-Gymnasium. Durante este período, ocorreu a Primeira Guerra Mundial e a desintegração do Império Alemão, o que afeta não só todo o país, mas também a família de Reinhold Schneider em particular. O Hotel Messmer enfrentou dificuldades financeiras insuperáveis e foi obrigado a fechar. A mãe abandonou a família e, pouco depois de Reinhold Schneider fazer 19 anos de idade, o seu pai suicidou-se. Reinhold Schneider também tentou, mas sem sucesso, pôr termo à sua vida. Após a sua tentativa de suicídio, Schneider encontrou uma nova coragem para enfrentar a vida através da sua amizade com Anna Maria Baumgarten (1881-1960), que se tornou a "companheira da sua vida".
Após uma formação comercial e um total de sete anos de emprego na empresa gráfica Stengel & Co., em Dresden,[8] a partir de 1928 Schneider tornou-se escritor freelancer em Berlim e Potsdam. Viveu em Potsdam o fim da República de Weimar e o início da era nacional-socialista. Nos seus escritos analisou intensamente este regime totalitário e pronunciou-se contra ele, por exemplo com o poema Nun baut der Wahn die tönernen Paläste (Agora a loucura constrói palácios de barro). O seu primeiro período de criação literária, iniciado em 1930, caracterizou-se por uma análise da história e, em particular, de figuras históricas da Península Ibérica, com uma forte afinidade com o movimento de renovação literária e ideológica do Renouveau catholique (Renovação católica).
Devido à mãe e à madrinha de Reinhold Schneider serem afilhadas dos avós do deposto imperador Guilherme II da Alemanha, Reinhold Schneider foi várias vezes convidado a vistar a Haus Doorn (Huis Doorn), o lugar de exílio neerlandês do deposto imperador alemão.[9]
Durante a Segunda Guerra Mundial, os seus sonetos contra a megalomania e a guerra em particular foram passados secretamente de mão em mão e, tal como os seus outros escritos, foram publicados pela Alsatia-Verlag, em Colmar, na Alsácia. O papel de impressão era mais fácil de obter naquela região francesa. Apesar de Schneider ter sido repetidamente incluído na lista de autores indesejáveis, a obra Las Casas vor Karl V. pôde continuar a ser publicado até 1943. Apesar da proibição definitiva de escrever em 1941, em 1944 foi publicada uma brochura com o título Das Gottesreich in der Zeit. Sonette und Aufsätze (O reino de Deus no tempo. Sonetos e Ensaios).[12] Neste período também poude continuar a escrever artigos regulares para a revista Weiße Blätter. Zeitschrift für Geschichte, Tradition und Staat (Folhas Brancas. Revista de História, Tradição e Estado), editada por Karl Ludwig Freiherr von und zu Guttenberg.[13]
Na primavera de 1944, a Geheime Staatspolizei, a Gestapo, revistou o seu apartamento em Freiburg. Schneider escondeu-se e acabou por se refugiar numa igreja protestante. Uma acusação por alta traição deduzida contra ele em abril de 1945 não foi levada a julgamento devido ao colapso do Terceiro Reich.
Com o seu soneto Der Turm des Freiburger Münsters, Schneider criou um monumento literário à torre da catedral da sua cidade de Freiburg. Entre outras coisas, contém a frase Tu não cairás, minha querida torre. É de salientar que Schneider o escreveu meses antes do bombardeamento Aliado de 27 de novembro de 1944, no qual a torre quase não sofreu danos.[14]
O pós-guerra
Em 1946, sob a impressão de uma Alemanha transformada em ruínas e o mistério da nossa culpa abismal, Reinhold Schneider abordou a questão de como aquela catástrofe poderia ter acontecido em Die Heimkehr des deutschen Geistes (O Regresso do Espírito Alemão), concluindo que Qualquer pessoa que explore verdadeiramente o curso da corrente [da história] descobrirá que esta não atravessou nenhuma barreira que o espírito não tenha já atravessado antes e que nenhuma muralha rebentou sem o poder explosivo do espírito.
Em 1952, foi admitido na Academia de Belas Artes da Baviera e, em 1955, na Academia de Artes de Berlim. Quando a República Federal da Alemanha foi formada e se iniciou o debate sobre a remilitarização (Wiederbewaffnung), como católico devoto opôs-se a este projeto com todos os meios ao seu alcance. Com frases como da 'graça do infortúnio' vem o mandato para a paz, apelou aos seus compatriotas para que não iniciassem o rearmamento imediatamente após a última guerra cruel, mas que trabalhassem para a reunificação da Alemanha por meios pacíficos.
O seu trabalho para jornais e estações de rádio deixou de ser procurado. Apenas alguns dos seus camaradas de armas dos tempos da Emigração Interior permaneceram em contacto com ele, sobretudo Werner Bergengruen, com quem manteve uma profunda amizade até ao fim da vida. Schneider conheceu uma reabilitação pública postumamente, após a publicação do seu último livro Winter in Wien (Inverno em Viena). Esta segunda estadia em Viena, objeto do livro, de 5 de novembro de 1957 a 6 de março de 1958, serviu, entre outras coisas, para acompanhar os preparativos da estreia do drama de Schneider intitulado Der große Verzicht.
Quando o Hotel Messmer foi demolido, em 1957, Reinhold Schneider criou um monumento literário ao hotel e à cidade termal de Baden-Baden no seu projeto autobiográfico Der Balkon (A Varanda). Reinhold Schneider morreu na sequência de uma queda em Freiburg e foi sepultado em 10 de abril de 1958 na sepultura da família Messmer/Schneider no cemitério principal de Baden-Baden. Werner Bergengruen faz o elogio fúnebre.[19]
O extenso espólio de Reinhold Schneider, que contém nomeadamente várias dezenas de milhares de cartas, encontra-se na Badische Landesbibliothek em Karlsruhe. Nas últimas décadas, a biblioteca adquiriu numerosos legados e colecções parciais dos companheiros de Schneider, o que deu origem a um extenso Arquivo Schneider.[20]
A antiga residência de Schneider em Freiburg, a casa do pintor de vidro Eduard Stritt, na Mercystraße, n.º 2, foi classificada como monumento cultural em 2009 e recebeu uma placa comemorativa.[22] Uma inscrição na pedra da catedral de Freiburg tem uma inscrição com texto da autoria de Reinhold Schneider, que faz referência à operação Tigerfish, o bombardeamento Aliado que destruiu Freiburg em 27 de novembro de 1944.
Na história literária, a importância do autor é geralmente limitada ao período da emigração interna e aos anos do pós-guerra. Na Alemanha, Schneider faz parte do grupo de autores considerados como parte do Renouveau catholique, um conjunto de escritores geralmente descritos como católicos. Schneider foi novamente apresentado ao público por ocasião de uma exposição sobre a sua vida e obra que ocorreu em Karlsruhe, em 2003. Segundo o Badisches Tagblatt, o «pathos santificado» ( o frömmelndes Pathos) dificultou a receção da sua obra. O crítico literário Michael Braun chegou mesmo a dizer que o autor tinha «caído tão profundamente no esquecimento que até o seu nome só é conhecido por alguns iniciados». O historiador Peter Steinbach observou em 2019 que era necessária uma certa empatia para abordar o autor nos dias de hoje. De facto, Schneider foi uma voz importante na literatura da jovem República Federal da Alemanha até 1951 e a sua novela Las Casas perante Carlos V foi transformada em filme em 1960 e novamente em 1992. A principal obra do autor foi publicada em 1990 como o quarto volume da edição das suas obras completas e é uma das suas poucas obras ainda disponíveis comercialmente.
Nos seus poemas, especialmente na sua maioria sonetos, Schneider apresenta-se formalmente como um poeta tradicional, comparável a C. S. Lewis em Inglaterra. Em contraste com os poemas acessíveis e antigos do poeta britânico, a poesia de Schneider apresenta um certo constrangimento, para além do rigor formal do género escolhido, que reside, em última análise, na conceção esquemática do conteúdo. A ausência de inovações modernistas, especialmente no uso de formas clássicas como o soneto, levou a uma negligência do som na formulação dos versos. Os seus poemas religiosos, como Allein den Betern kann es noch gelingen (Só os que rezam podem ainda ter sucesso), dirigem-se ao leitor com confiança, enquanto em Antichrist (Anticristo), por exemplo, não se coíbe de acusar o regime nacional-socialista.
Obras
Entre os cerca de 200 títulos publicados de que é autor, contam-se os seguintes:
Arthur Grimm: Baden-Baden in hundert Zeichnungen. Com prefácio e sonetos de Reinhold Schneider. Kunstverein Baden-Baden (editor), 1928.
Das Leiden des Camões oder Untergang und Vollendung der portugiesischen Macht. 1.ª edição: Hellerau, 1930; 3.ª edição. Union, Berlin, 1976 [publicado em língua portuguesa como Camões: Angústia e tragédia, Editôra Herder. São Paulo. 1967].
Portugal. Ein Reisetagebuch. München, 1931 (2.ª edição: Frankfurt a. M., 2003, ISBN 3-458-34589-2).
Philipp II. oder Religion und Macht. Leipzig, 1931.
Das Inselreich (1936)
Kaiser Lothars Krone. Leben und Herrschaft Lothars von Supplinburg. Leipzig, 1937 (nova edição com um ensaio introdutório de Wilfried Hartmann e algumas fontes contemporâneas: Manesse, Zürich, 1986, ISBN 3-7175-8084-1).
Las Casas vor Karl V. Szenen aus der Konquistadorenzeit. Insel, Leipzig, 1938 (nova edição: Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1990, ISBN 3-518-38222-5).
Apokalypse. Sonette von Reinhold Schneider. Hans Bühler jr., Baden-Baden, 1946 (uma antologia de sonetos).
Die Heimkehr des deutschen Geistes. Über das Bild Christi in der deutschen Philosophie des 19. Jahrhunderts. Hans Bühler jr., Baden-Baden, 1946.
Und Petrus stieg aus dem Schiffe. Hans Bühler jr., Baden-Baden, 1946.
Aar mit gebrochener Schwinge. Clemens Brentano, Annette von Droste-Hülshoff, Heidelberg, 1948
Die Tarnkappe (Insel-Bücherei. vol. 486/2). Insel, Wiesbaden, 1951 (drama sobre Siegfried e os Nibelungos).
Herrscher und Heilige. Jakob Hegner, Köln / Olten, 1953.[24]
Verhüllter Tag. Bekenntnis eines Lebens Köln / Olten, 1954.
Helmut Gollwitzer, Käthe Kuhn, Reinhold Schneider (editor): Du hast mich heimgesucht bei Nacht. Abschiedsbriefe und Aufzeichnungen des Widerstandes 1933–1945, München, 1954, Christian Kaiser Verlag.
Die silberne Ampel. Ein Roman. Köln / Olten, 1956.
Der große Verzicht. Drama. 1957, estreia absoluta, 1958 (Bregenz).
Innozenz und Franziskus. Drama. 1952, estreia absoluta, 1954 (Essen).
Der Balkon. Aufzeichnungen eines Müßiggängers in Baden-Baden. Wiesbaden, 1957 (nova edição: Insel, Frankfurt a. M., 2000, ISBN 3-458-34305-9).
Winter in Wien. Aus meinen Notizbüchern 1957/1958. Freiburg i. B., 1958 (nova edição: Herder, Freiburg i. B., 2003, ISBN 3-451-28113-9) [um relato diário da estadia de Schneider em Viena em 1957].
Karl V. Erbe und Verzicht. Köln / Olten, 1958.
Innozenz der Dritte. Köln / Olten, 1960.
Gesammelte Werke in zehn Bänden. (editado por iniciativa da Reinhold-Schneider-Gesellschaft por Edwin Maria Landau. Frankfurt a. M., 1977–1981.
↑Cordula Koepcke: Reinhold Schneider. Eine Biographie. Würzburg, 1993 (conclusão a partir da inscrição no registo de Augusta Brenner e das inscrições nas páginas 9 e 237, também confirmada pelos arquivos municipais de Baden-Baden).
↑Franz Anselm Schmitt (editor): Reinhold Schneider – Leben und Werk in Dokumenten. Olten, 1969, p. 207.
↑Bruno Stephan Scherer, Franz Anselm Schmitt: Reinhold Schneider. 1973, p. 34; (acessível em Google Books).
↑Cordula Koepcke: Reinhold Schneider ‒ Eine Biographie. Würzburg, 1993.
↑Emil Dovifat: Das publizistische Leben. Weltpresse – Konzentration und Zersplitterung, Lähmung und Niedergang. in: Hans Herzfeld, Gerd Heinrich: Berlin und die Provinz Brandenburg im 19. und 20. Jahrhundert. Walter de Gruyter GmbH & Co KG, 2018, p. 776.
↑Carl Borromäus Glock: "Nachruf auf Reinhold Schneider", in Besinnung (1958).
↑Ernst Klee: Das Kulturlexikon zum Dritten Reich. Wer war was vor und nach 1945. S. Fischer, Frankfurt am Main, 2007, ISBN 978-3-10-039326-5, p. 536.
↑Babette Stadie (editor): Die Macht der Wahrheit: Reinhold Schneiders „Gedenkwort zum 20. Juli.“ In: Reaktionen von Hinterbliebenen des Widerstandes. Berlin, 2008, ISBN 978-3-86732-033-7, p. 53.
Ekkehard Blattmann: Reinhold Schneider – Militarisierung oder Passion. Peter Lang GmbH, Internationaler Verlag der Wissenschaften, 1992. Softcover 251 Seiten, ISBN 978-3-631-44026-1.
Maria Anna Leenen (Hrsg.): Reinhold Schneider. Ein Lesebuch. Spirituelle Texte eines großen Dichters. Tyrolia, Innsbruck/Wien 2003, ISBN 978-3-7022-2502-5.
Peter Steinbach: Reinhold Schneider (1903–1958) – Bekenntnis eines Widerständigen zum Widerstand. In: Angela Borgstedt u. a. (Hrsg.): Mut bewiesen. Widerstandsbiographien aus dem Südwesten, Stuttgart 2017 (Schriften zur politischen Landeskunde Baden-Württembergs; 46), S. 399–410, ISBN 978-3-945414-37-8.
Ingo Zimmermann: Der späte Reinhold Schneider. Eine Studie. Herder, Freiburg i. Br. 1973.
Ingo Zimmermann: Reinhold Schneider. Weg eines Schriftstellers. Union-Verlag, Berlin 1982.
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