Otávio da Grã-Bretanha (em inglês: Octavius; Londres, 23 de fevereiro de 1779 – Londres, 3 de maio de 1783)[1] foi um príncipe, o décimo terceiro filho do rei Jorge III e da sua rainha consorte, Carlota de Meclemburgo-Strelitz. Seis meses após a morte do seu irmão mais novo, o príncipe Alfredo, Otávio foi inoculado contra o vírus da varíola. Vários dias depois acabou por ficar doente. A sua morte aos quatro anos devastou os seus pais e, em particular, o seu pai. O rei Jorge III gostava muito dos seus dois filhos mais novos, Alfredo e Otávio, e os seus últimos surtos de loucura envolviam alucinações deles.
O príncipe Otávio nasceu no dia 23 de fevereiro de 1779,[2][3] no Palácio de Buckingham, em Londres.[4] Ele era o décimo terceiro filho (o oitavo rapaz) do rei Jorge III e da sua esposa, Carlota de Meclemburgo-Strelitz.[5] O nome do príncipe deriva do latim octavus, 'oitavo', indicando que ele era o oitavo filho dos seus pais.[2] A Câmara dos Lordes enviou parabéns ao rei pelo seu nascimento.[6]
Otávio foi batizado a 23 de março de 1779, na Câmara do Grande Conselho no Palácio de St. James, por Frederick Cornwallis, o Arcebispo da Cantuária. Os seus padrinhos eram o duque de Brunsvique-Volfembutel (marido da sua prima em primeiro grau removida duas vezes), a quem o conde de Hertford, Lord Chamberlain, representou; o duque de Meclemburgo-Schwerin (seu primo em primeiro grau afastado), a quem o conde de Ashburnham, assistente do rei, representou; e a duquesa de Saxe-Weimar-Eisenach (esposa do seu primo em sexto grau), a quem Alicia Wyndham, Condessa de Egremont, senhora do quarto da rainha Carlota, representou.[7][8]
Charlotte Papendiek, uma dama de companhia da rainha, observou que o príncipe Otávio era "uma criança adorável de temperamento doce, [que] mostrava todas as promessas de bondade futura".[9] O rei Jorge era extremamente dedicado a Otávio, que era jovem demais para causar os tipos de problemas que os seus irmãos mais velhos causavam nessa época, que incluíam má conduta sexual e irresponsabilidade financeira.[10] Um tanto incomum para o período,[11] o rei era afetuoso[12] e indulgente com os seus filhos pequenos, e esforçava-se para participar nas suas festas de aniversário e outros eventos organizados para a sua alegria. Em certa ocasião, um amigo testemunhou uma feliz cena doméstica que envolvia Jorge "carregando alternadamente nos braços Sofia e o último príncipe, Otávio".[13][14] Mary Delany, uma amiga do rei, relembrou um encontro com Otávio no Queen's Lodge, em Windsor. Numa carta, ela descreveu como Jorge gentilmente carregou Otávio e trouxe o príncipe para ela nos seus braços. Otávio então estendeu a mão para brincar com a Sra. Delany, e ele beijou a sua bochecha a pedido do seu pai.[15][11] Apesar da norma social que desencorajava demonstrações públicas de afeto familiar, ela elogiou a maneira inovadora como o rei e a rainha criaram os seus filhos.[11] Outra testemunha escreveu que Jorge e Carlota "têm os seus filhos sempre a brincar com eles o tempo todo"; durante a maioria das noites, as crianças eram levadas aos pais entre seis e sete da noite para brincar por uma ou duas horas.[16] O rei também era informado sobre o progresso educacional dos seus filhos.[17]
Otávio era apegado à princesa Sofia, a irmã mais próxima dele em idade, que chamava Otávio de "seu filho".[18] Ele foi com ela e os seus irmãos, Elizabeth e Edward, para Eastbourne, na costa de Sussex, onde pôde respirar o ar fresco do mar durante o verão de 1780.[19] Quando tinha dezanove meses, Otávio tornou-se um irmão mais velho com o nascimento do seu irmão mais novo, o príncipe Alfredo.[20] Otávio tinha três anos quando Alfredo morreu no dia 20 de agosto de 1782,[4] tornando-o novamente o membro mais jovem da família real.[21] Horace Walpole escreveu a Sir Horace Mann que, após a morte do príncipe Alfredo, o rei Jorge havia declarado "Sinto muito por Alfredo; mas se fosse Otávio, eu também teria morrido."[9][22] Em 1820, o historiador Edward Holt escreveu sobre o caráter do príncipe: "Embora o príncipe Otávio não tivesse passado do quinto ano, ele era considerado muito dócil e possuía uma boa índole num grau tão incomum que era o deleite de tudo sobre ele."[23] O biógrafo do século XIX, John Watkins, acrescentou que Otávio foi "considerado um dos melhores da descendência real".[24]
Seis meses após a morte de Alfredo, Otávio e Sofia foram levados ao Palácio de Kew, em Londres, para serem vacinados contra o vírus da varíola.[23][25] Sofia recuperou-se sem incidentes,[26][27] mas Otávio adoeceu e morreu poucos dias depois,[28] a 3 de maio de 1783, por volta das oito da noite.[29][30] Ele tinha quatro anos.[4][31] Uma carta da governanta das crianças reais, Lady Charlotte Finch, relatou que "o príncipe Otávio faleceu na noite passada e, de facto, desde o momento em que adoeceu, nunca houve qualquer esperança da sua recuperação."[32] Como era tradicional, a família não entrou em luto formal pela morte de crianças reais tão jovens.[33]
Otávio foi o último membro da família real britânica a contrair varíola.[25][34] Membros da casa real afirmaram que a sua morte não foi resultado da inoculação que ele havia recebido,[32] mas sim de uma constipação.[35] A maioria dos relatos de Jorge III e da sua família não conseguem identificar a causa da morte de Otávio, mas alguns mencionam a inoculação como um possível culpado.[26] Os próprios Arquivos Reais fazem pouca menção à morte do príncipe, apenas observando a data e a idade em que ele faleceu.[26] A 10 de maio, Otávio foi enterrado ao lado do seu irmão Alfredo na Abadia de Westminster.[23][28] O seu irmão mais velho, quando se tornou no rei Jorge IV, mandou transladar os seus restos mortais para a Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, a 11 de fevereiro de 1820.[4][36]
De acordo com a Rainha Carlota, a morte de Otávio foi inesperada;[37] ela escreveu a uma amiga que enfrentou uma tragédia semelhante que "duas vezes eu senti o que você sente, a última vez sem a menor preparação para tal derrame, pois em menos de quarenta horas o meu filho Otávio, em perfeita saúde, ficou enfermo e foi imediatamente atingido pela morte".[38][39] A morte do príncipe teve um efeito marcante, tanto mental quanto fisicamente, na rainha Carlota, que na época estava grávida da sua filha mais nova, a princesa Amélia.[40]
A morte de Otávio devastou o seu pai;[41][42] Walpole escreveu "o rei perdeu outra criança; um menino adorável, dizem, de quem suas majestades gostavam muito".[22] O resto da corte real, especialmente os assistentes e cuidadores do jovem príncipe, também ficaram perturbados com a morte repentina de Otávio.[43] Pouco depois, o rei Jorge disse: "Não haverá céu para mim se Otávio não estiver lá".[12][17][44] No dia seguinte à morte do seu filho, o rei passou por uma sala onde o artista Thomas Gainsborough estava a completar os retoques finais num conjunto de retratos da família. O rei pediu que ele parasse, mas quando soube que a pintura em que Gainsborough trabalhava era a de Otávio, permitiu que o pintor continuasse. Quando esta mesma pintura foi exibida uma semana depois, as irmãs de Otávio ficaram tão emocionadas que começaram a chorar à frente de todos,[31] e os seus pais também ficaram visivelmente emocionados.[45] Três meses após a morte de Otávio, o seu pai ainda estava a pensar no seu filho, escrevendo a Lord Dartmouth que todos os dias "aumenta o abismo que sinto pela falta daquele objeto amado [Otávio]".[17][45] Anos depois, o rei Jorge imaginou conversas com os seus dois filhos mais novos.[41] Durante um dos episódios de loucura do rei em 1788, Jorge confundiu um travesseiro com Otávio,[46][47] que naquela época já estava morto havia cinco anos.[48]
Ao longo da sua vida, Otávio foi denominado como Sua Alteza Real, o Príncipe Otávio, com o título de Príncipe da Grã-Bretanha e Irlanda.[29]
Os ancestrais de Otávio foram os seguintes:[49]
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