Territórios catalanofalantes onde o catalão é oficial
Territórios catalanofalantes onde o catalão não é oficial
Territórios historicamente não catalanofalantes onde o catalão é oficial
O catalão (català), pronúncia: /kətəˈla/ ou /kataˈla/, é uma língua românica derivada do latim vulgar falado pelos romanos na Idade Antiga. Distribuído por uma superfície de 68 730 km², os seus 10 milhões de falantes distribuem-se por toda a vertente oriental da Península Ibérica, Ilhas Baleares e na cidade de Algueiro (na Sardenha).[4] O idioma possui cinco grandes dialetos (valenciano, norte-ocidental, central, balear e rossilhonês), que juntamente com o algueirês se dividem em 21 variantes agrupadas em dois grandes blocos: o catalão ocidental e o oriental. A norma padrão do catalão é estabelecida pelo Instituto de Estudos Catalães, baseando-se na ortografia, gramática e dicionário de Pompeu Fabra i Poc. Em território valenciano, a Academia Valenciana da Língua regula as variantes específicas dessa região usando as Normas de Castelló, adaptada à fonologia do catalão ocidental e integrando os rasgos distintivos dos dialetos valencianos.
A ordem padrão das frases é sujeito-verbo-objeto, apesar de estar sujeita a mudanças em certos tipos de frases como em orações interrogativas e algumas relativas. A morfologia do catalão é semelhante à do resto de línguas românicas, com relativamente poucas flexões, dois géneros, nenhum caso (exceto nos pronomes pessoais, com vestígios da declinação latina) e distinção entre singular e plural. Os adjetivos também variam segundo género e número. A prosódia apresenta um acento tónico que pode ser marcado através de um acento gráfico. Possui uma variedade vocálica média, com oito sons vocálicos diferentes. Uma característica própria do idioma é a maneira através da qual se forma o passado perifrásico, um tempo verbal singular que combina o verbo anar (ir) com o auxiliar no infinitivo (noutras línguas esta combinação é usada para eventos futuros).
No final do século XIV já se constata a denominação desta língua, entre outros nomes, como valenciano, denominação oficial que recebe na Comunidade Valenciana. Historicamente ocorreram conflitos tanto sobre a denominação de "valenciano" como sobre a catalogação deste como língua independente ou dialeto da língua catalã;[5] estas discussões são consideradas encerradas em parte por diferentes sentenças do Tribunal Superior de Justiça da Comunidade Valenciana[6][7] assim como da Academia Valenciana da Língua, que reconhecem a unidade da língua.[6] Atualmente, de modo a evitar potenciais conflitos, a Academia Valenciana da Língua refere o seguinte:
É um facto que na Espanha existem duas denominações igualmente legais para designar esta língua: a de valenciano, estabelecida no Estatuto de Autonomia da Comunidade Valenciana, e a de catalão, reconhecida nos Estatutos de Autonomia da Catalunha e Ilhas Baleares.
Original (em catalão): És un fet que a Espanya hi ha dos denominacions igualment legals per a designar esta llengua: la de valencià, establida en l'Estatut d'Autonomia de la Comunitat Valenciana, i la de català, reconeguda en els Estatuts d'Autonomia de Catalunya i les Illes Balears.
(em catalão)
Classificação
O catalão é uma língua indo-europeia e encontra-se entre os grupos galo-românico e ibero-românico das línguas românicas. No entanto, existe alguma contestação quanto à maneira como é classificada. Em Gramàtica del català contemporani,[8] o catalão é classificado dentre as línguas românicas ocidentais, numa posição intermédia entre as famílias galo-românica e ibero-românica. O idioma surge no contexto do grupo galo-romance e aí se manteve até ao século XV, sofrendo a partir de então de uma clara influência do castelhano. Comparando-o com as diferentes línguas românicas, o catalão foi frequentemente considerado como língua-ponte ou de transição entre as línguas ibero-românicas e as galo-românicas. Outros estudos mais recentes classificam o catalão dentro do diassistema das línguas occitano-romances, um conjunto linguístico diferenciado no contexto românico.[9]
Posições minoritárias dentro da linguística catalã, mas maioritárias no contexto da linguística occitana, afirmam que, conforme critérios de inteligibilidade mútua, semelhança linguística e tradição literária comum entre o catalão e o occitano, ambas línguas seriam passíveis de ser classificadas como dialetos de um mesmo idioma. Sobre esta questão os pais da romanística, como Wilhelm Meyer-Lübke ou Friedrich Christian Diez, incluíram o catalão como parte integrante do conjunto occitano.[10][11][12][13][14]
As classificações divergentes apresentam-se a seguir:
A língua catalã é falada numa faixa que discorre pela vertente oriental da Península Ibérica, com início a norte, em Salses, e término em Guardamar do Segura, a sul. Uma denominação que tenta agrupar toda esta área linguística, não isenta de contestação devido ao caráter ideológico que foi adquirindo, é a dos Países Catalães, cunhada no final do século XIX e popularizada por Joan Fuster na sua obra Nosaltres, els valencians.
Os falantes de catalão estão sobretudo distribuídos pelas suas áreas de domínio linguístico, sendo que diversos estudos e sondagens realizados estimam que nela existam entre 9 a 10 milhões de falantes,[4][17] e que cerca de 91% da sua população entenda o idioma. Fora deste âmbito, o Instituto Ramon Llull promove o ensino da língua, cultura e literatura catalãs em universidades e outras instituições de ensino.[18] Em 2012, o catalão era a 27.ª língua do mundo em importância económica, de acordo com o índice Steinke, bem como a 14.ª mais falada na União Europeia.[19]
1.↑ Incluem-se aqueles que manifestam falar a língua.
2.↑ Números relativos aos indivíduos que manifestam ser fluentes, não apenas aos falantes nativos.
Meios de comunicação
Por todo o espaço da catalanofonia existem diferentes meios de comunicação em catalão. No âmbito da imprensa escrita, destacam-se as edições em catalão dos jornais La Vanguardia e El Periódico de Catalunya, os jornais diários exclusivamente em catalão El Punt Avui, Ara e L'Esportiu, a imprensa a nível comarcal (Segre, Regió 7, Diari de Girona ou El 9 Nou), as revistas El Temps ou Sàpiens e os diferentes jornais digitais (VilaWeb, Racó Català, Nació Digital, Ara.cat ou 324.cat).
As entidades autonómicas de rádio e televisão públicas conformam a maioria das transmissões audiovisuais em catalão, compondo-se pela CCMA (canais da TV3 e Catalunya Ràdio) e EPRTVIB (IB3 Televisió e IB3 Ràdio). A nível privado, as rádios RAC 1, Ràdio Flaixbac, Flaix FM e RAC 105 são de iniciativa privada; juntamente com as televisões 8tv, Estil 9 (Catalunha) e Canal 4 (Ilhas Baleares). A Comunidade Valenciana, através da Radiotelevisió Valenciana, dispôs entre 1989 e 2013 do único meio de comunicação em valenciano na comunidade, às quais se juntaram até 2011 as transmissões da TV3 e Catalunya Ràdio naquele território. Atualmente, dispõe de diários digitais em valenciano, entre os quais Levante-EMV ou La Veu del País Valencià.
No Rossilhão, a Ràdio Arrels é a única rádio local em língua catalã. O canal público France 3 transmite um noticiário cultural de 7 minutos cada sábado,[21] ao qual se juntam as transmissões do magazine cultural Viure al País.[22] No entanto, as transmissões dos canais de televisão e rádio da CCMA estão também disponíveis.[23]
História
Idade Média
A língua catalã surge a partir da evolução do latim vulgar tanto a norte como a sul da zona oriental dos Pirenéus (condados do Rossilhão, Ampúrias, Besalú, Cerdanha, Urgell, Pallars e Ribagorça), bem como em territórios mais meridionais da antiga provínciaromana da Hispania Tarraconense.[24] No século IX, os condes catalães iniciam a conquista dos territórios do sul da Península Ibérica, para o qual foi essencial a separação do Condado de Barcelona do Império Carolíngio. É ao mesmo tempo que se constatam os primeiros registos desta evolução em forma escrita. Na Ata de consagração e dotação da catedral de Urgell, escrita em latim no ano de 819[25] ou 839,[26] registam-se os primeiros topónimos em catalão, como Ferrera ou Palomera.[27] Noutro texto do início do século XI, escrito em latim, são designadas várias árvores em catalão[28]:
amoreiras III e oliveiras I e nogueiras I e macieiras e amendoeiras IIII e ameixeiras e figueiras
Original (em catalão): morers III et oliver I et noguer I et pomer I et amendolers IIII et pruners et figuers...
(em catalão)
Os primeiros documentos feudais escritos integramente em catalão datam do mesmo século. Entre os mais antigos constam o Juramento de Radulf Oriol,[29] escrito num catalão arcaico e muito latinizado[30] entre os anos 1028 e 1047;[31] e as Queixas de Caboet, escrito entre 1080 e 1095.[32] Em 1098 é escrito o Juramento de Paz e Trégua do conde Pedro Raimundo de Pallars Jussà ao bispo de Urgell.[33] Em finais do século XII surgem as Homilias de Organyà, considerado o primeiro texto literário escrito em catalão.[28] Do mesmo século datam as primeiras traduções ou adaptações de natureza jurídica com o Liber Iudiciorum (Livro dos Juízos), a mais antiga das quais se conserva no Arquivo Capitular de Urgell, em La Seu d'Urgell, e surge na primeira metade do século XII.
Durante o século XVI, a maior parte da elite valenciana mudou de língua para o castelhano, como pode ser visto pela quantidade de livros impressos na cidade de Valência: no início do século, o latim e o catalão (ou valenciano) eram as principais línguas da imprensa, mas no final do século a língua de Castela era o principal idioma da imprensa. As regiões rurais e a classe trabalhadora urbana, no entanto, ainda continuaram a falar sua língua vernacular.
Durante a primeira metade do século XIX o catalão e o valenciano experimentaram um importante renascimento entre as elites graças à "Renaixença", um movimento cultural romântico. Os efeitos deste renascimento persistem ainda hoje.
O uso do catalão foi proibido no Principado da Catalunha na esfera oficial desde a promulgação dos Decretos do Novo Plano (1716), no País Valenciano (1707) e em Maiorca e Ibiza (1715). Na Catalunha do Norte já se havia aplicado uma proibição semelhante em 1700. Menorca passou para soberania britânica em 1713. Estas proibições estiveram em vigor exceto em breves períodos durante a primeira e segunda república espanholas nos territórios catalanófonos de Espanha e até à introdução dos diferentes estatutos de autonomia entre 1978 e 1983, exceto na Faixa.
Durante o regime de Franco (1939-1975), o uso do catalão foi banido, da mesma forma que as outras línguas regionais na Espanha, como o basco e o galego. Após a morte de Franco em 1975 e a restauração da democracia, recuperou o seu estatuto e a língua catalã é hoje usada na política, educação e nos meios de comunicação social.
Características
Vocalismo
Rasgos em relação ao grupo galo-românico
Relação: Queda das vogais átonas finais exceto -A (MURU-, FLORE- → mur, flor) em oposição ao grupo ibero-românico, que as conserva, exceto -E (muro mas flor/chor), ou em italo-românico que preserva todas estas características (muro, fiore).
Oposição: Conservação quase geral do som do -u- latim (catalão oriental lluna[ˈʎunə], catalão ocidental lluna[ˈʎuna/ɛ], occitano luna[ˈlynɔ], francês lune[lyn]). Apenas o dialeto capcinês adotou o -u- galo-românico.
Rasgos em relação ao occitano
Relação: O catalão apresenta uma grande variedade de ditongos e termos monossilábicos: ([aj]rai, [ej]rei, [aw]cau, [ew]beu, [ow]pou, etc.)
Oposição: Redução do ditongo AU para "o aberto" [ɔ] (CAULIS, PAUCU- → col, poc)
Rasgos em relação ao castelhano
Oposição: Preservação de [ɛ] e [ɔ].
Morfologia
O catalão balear conserva o article salat (< latim IPSE), provavelmente anterior à forma derivada, ILLE. Este artigo conservou-se apenas de maneira predominante no sardo e está em perigo de extinção, caso não tenha já desaparecido, nalgumas áreas da Provença e Sicília.
Os artigos mais comuns (e regulados) são el, la, els, les (nos dialetos norte-ocidental e algueirês ainda persistem as formas masculinas lo, los)
Contrariamente às variedades ibero-romances, o catalão pratica algumas elisões fonéticas. Algumas são grafadas, como el + home > l'home enquanto que outras não, como em quinze anys [ˈkinz ˈaɲs].
Os possessivos gerais (ex: el meu gos) como em italiano (il mio cane), português (o meu cão), alguns dialetos occitanos (roerguês, linguadociano, gascão pirenaico e niçardo). Existe também uma outra forma de possessivo (com presença variada de acordo com os dialetos) usada essencialmente para certos membres da família i/o para expressar um grau de afinidade elevado (ex: mon pare; em valenciano ma casa, ma vida).
O feminino plural forma-se, à semelhança do asturiano, com "-es" (casa > cases).
Possui plurais sensíveis (ao contrário do francês; Ex: un pas > des pas) que se formam com -os. Ex: gos > gossos, peix > peixos. Opõe-se assim ao castelhano e occitano linguadociano, que usam -es (ex: mes > meses).
Ausência quase completa do partitivo à semelhança das línguas ibero-românicas e em contraste com as línguas galo-românicas (ex: vull pa, port. quero pão, mas fr. je veux du pain).
Formação do pretérito através de perífrase com uma conjugação especial do presente do verbo anar (ir). Ex: jo vaig dir (que geralmente substitui jo diguí).
Consonantismo
Rasgos da Romãnia ocidental:
Sonorização de -P-, -T-, -C- intervoccálicas para -b-, -d-, -g- (CAPRA, CATENA, SECURU- → cabra, cadena, segur)
Rasgos partilhados com o galo-romance:
Conservação dos grupos iniciais PL, CL, FL- (PLICARE, CLAVE-, FLORE- → plegar, clau, flor). Este rasgo, partilhado com as línguas galo-românicas, contrasta-se geralmente com as línguas ibero-românicas, que os perderam (castelhano llegar, llave, português chegar, chave).
De forma semelhante ao francês, português e occitano, sonorizam-se as consoantes surdas obstruentes quando o primeiro fonema da palavra seguinte é uma vogal ou consoante surda, como por exemplo na pronúncia valenciana: els homes [eɫs] e [ˈɔmes] → [eɫˈzɔmes]; peix bo [ˈpe(j)ʃ] e [ˈbɔ] → [ˈpe(j)ʒˈβɔ]; blat bord [ˈblat] e [ˈboɾt] → [ˈbladˈboɾt].
Rasgos partilhados com o occitano (linguadociano)
Queda do -N- intervocálico transformada em final no léxico (PANE-, VINU- → pa, vi). Em oposição ao linguadociano, o plural conserva [n] (ex: pans, vins) fora do dialeto setentrional, o rosselhonês.
Ensurdecimento das consoantes finais: verd [t], àrab [p].
Rasgos específicos e exclusivos à língua catalã:
-D- intervocálico final transforma-se em -u (PEDE-, CREDIT →peu, (ell) creu)
-C + e, i, final →-u (CRUCE- → crou > creu)
As terminações -TIS na flexão verbal (2.ª pessoa do plural) derivam em -u (MIRATIS → miratz → mirau → mirau/mireu.
Palatalizações consonânticas (dispersadas pelo resto da România):
Palatalização de L- inicial (LUNA, LEGE → lluna, llei). Também presente no dialeto foixenco (occitano) e no âmbito asturo-leonês.
Palatalização de -is- [jʃ]/[ʃ] precedida de -X-, SC- (COXA, PISCE- → cuixa, peix)
-ly-, -ll-, -c'l-, -t'l- → ll [ʎ]; MULIERE- → muller; CABALLU- → cavall, também existem outros casos como villa → vila, onde se simplificou a geminació; AURICULA → *oric'la → orella; UETULU- → *vet'lu → vell.
-ni-, -gn-, -nn- → ny [ɲ]; LIGNA → llenya; ANNU- → any rasgo partilhado com o castelhano.
Os outros rasgos, também originais, possuem uma abrangência superior às línguas românicas.
Redução dos grupos consonânticos -MB-, -ND→ -m-, -n- (CAMBA, CUMBA, MANDARE, BINDA > cama, coma, manar, bena), rasgo partilhado com o occitano gascão e linguadociano meridional.
Presença de geminadas: setmana [mm], cotna [nn], bitllet [ʎʎ], guatla [ɫɫ], intel·ligent [ɫɫ]. Rasgos quase extintos no dialeto valenciano. Apenas partilhados com o occitano e variedades itálicas.
Léxico
O léxico básico catalão parece demonstrar mais afinidades com o grupo galo-românico do que com o ibero-românico. Estas semelhanças são ainda mais pálidas quando comparadas com o occitano (exemplificado está o dialeto linguadociano).
FENESTRA > finestra (oc. fenèstra/finèstra, fr. fenêtre, it. finestra) e VENTU- > ventana (cast.), JANUELLA > janela (port.)
MANDUCARE > menjar (oc. manjar, fr. manger, it. mangiare) e COMEDERE > comer (cast. e port.)
MATUTINU- > matí (oc. matin, fr. matin/matinée, it. mattino/mattina) e HORA MANEANA > mañana (cast.), amanhã (port.)
PARABOLARE > parlar (oc. parlar, fr. parler, it. parlare) e FABULARE > hablar (cast.), falar (port.)
TABULA > taula (oc. taula, fr. table, it. tavola) e MENSA > mesa (cast. e port.).
O alfabeto utilizado é o alfabeto catalão. Apesar disto, existem alguns livros da época medieval e textos em catalão algemiado (escrito com caracteres árabes ou hebreus). Exemplo disto são algumas das lápides do Centro Bonastruc Saporta de Girona, escritas com caracteres hebreus.
Sistema de escrita
O sistema de escrita também apresenta certas peculiaridades. O catalão apresenta uma característica única, a escrita do dígrafo denomidado ele geminado — ela geminada: ⟨l·l⟩ (como em intel·ligent). Outra característica especial é o ⟨ny⟩ [ɲ] que também se encontra no húngaro, línguas filipinas, malaio, indonésio e em diversas línguas africanas. Também é de notar a grafia ⟨-ig⟩, pronunciada [t͡ʃ] depois de uma vogal e [it͡ʃ] depois de uma consoante, representada em poucas palavras (como faig, maig, mig ([mit͡ʃ]), desig ([deˈzit͡ʃ]) puig, raig, Reig, roig, vaig, veig) ou a representação com ⟨t⟩ + consoante das consonantes duplas em: ⟨tm⟩, ⟨tn⟩, ⟨tl⟩ i ⟨tll⟩ e o africamento em: ⟨ts⟩, ⟨tz⟩, ⟨tx⟩, ⟨tg⟩ i ⟨tj⟩ (setmana, cotna, Betlem, bitllet, potser, dotze, jutge, platja).
Gramática
Os substantivos e adjetivos catalães declinam-se em género e número. Os substantivos pertencem a um de dois géneros — masculino, através da forma um/uma, e feminino através de uma/umas.[37] À semelhança dos determinantes, os adjetivos têm de concordar em género e número com o nome que acompanham. Por exemplo, o sintagma "el noi senzill" ("o rapaz singelo") pode ser flexionado da seguinte maneira:
Singular
Plural
Masculino
el noi senzill
els nois senzills
Feminino
la noia senzilla
les noies senzilles
No caso dos nomes que podem ser tanto masculinos como femininos, prefere-se a forma feminina e adiciona-se habitualmente o sufixo -a; por exemplo em gat/gata o nen/nena. Da mesma maneira, existem também numerosos adjetivos que apresentam formas diferenciadas consoante o género (home/dona, bou/vaca), que formam o feminino de forma especial (emperador/emperadriu, metge/metgessa) ou que possuem a mesma forma para os dois géneros (estudiant, portaveu). Em casos específicos, um nome pode mudar de género se mudar de número. Assim, diz-se "l'art paleocristià" (arte paleocristã) mas "les belles arts" (as belas artes).[38]
As frases seguem o esquema SVO, apesar de se permitir a variação na ordem dos elementos por questões estilísticas ou para dotar de maior relevância uma determinada informação. A palavra mais importante da frase é o verbo, sem a qual não existe uma oração gramatical.
Relação entre línguas românicas
Comparação lexical de 24 palavras entre línguas ibero-ocidentais:17 cognatos com o galo-românico, 5 isoglossas com o ibero-românico, 3 isoglossas com o occitano e 1 palavra única.[39][40]
Em 1861, Manuel Milà i Fontanals propôs a divisão da língua em dois grandes blocos, oriental e ocidental. Não existe uma linha precisa que os divida por existir sempre uma zona de transição bastante ampla entre cada par de dialetos, exceto nas Ilhas Baleares. As diferenças mais destacáveis entre os dois blocos são:
Catalão ocidental:
As vogais átonas são: [a] [e] [i] [o] [u]. Existe uma diferenciação entre e e a e entre o e u.
O x inicial ou pós-consonântica é africada /tʃ/. Entre vogais ou quando precedida de um i, é /jʃ/.
Pronúncia de Ē ("e" largo) e Ǐ ("i" breve) tónicas do latim [e].
A 1.ª pessoa do presente do indicativo termina em -e (valenciano) ou -o (norte-occidental e de transição).
Os verbos incoativos da 3.ª conjugação formam-se com -ix, -ixen, -isca.
Conservação da nasal plural medieval em palavras proparoxítonas: hòmens, jóvens.
Existência de vocabulário específico: espill, xiquet...
Catalão oriental:
As vogais átonas são: [ə] [i] [u]. As vogais e e a em posição átona convertem-se em /ə/ e o o e u transformam-se /u/ (da mesma forma, conserva-se /o/ em Maiorca).
O x em posição inicial, após consoante ou antecedido de i é fricativo /ʃ/.
Os Ē ("e" largos) e Ǐ ("i" breves) tónicos do latim pronunciam-se [ɛ] (na maioria das Baleares pronunciam-se [ə] e, em alguerês (em Alguer, Sardenha) como [e]).
Antiga tendência para o ieísmo de certas palavras históricas (rasgo estigmatizado e em forte retrocesso na Catalunha, com frases como "la paia a l'ui").
A 1.ª pessoa do presente do indicativo é -o (central), -i (setentrional) e zero (Baleares e alguerês).
Os verbos incoativos da 3.ª conjugação formam-se com -eix, -eixen, -eixi.
O -n- do plural nasal medieval das palavras proparoxítonas cai: homes, joves.
Existência de vocabulário específico: mirall, noi/al·lot...
Nenhum dos dialetos é completamente homogéneo e todos eles se dividem em diversos subdialetos:
O catalão é considerado uma língua galo-românica, isto porque, o catalão e o occitano estiveram em conta(c)to durante muitos anos por razões geopolíticas. O século XIX começa com uma invasão francesa que anexa, temporariamente, a Catalunha ao Império francês o que vem acentuar ainda mais as semelhanças entre o catalão e o occitano, que por sua vez tem também semelhanças com o francês. A língua occitana pode ser classificada como língua de adstrato, isto é, influenciam-se mutuamente, o catalão e o occitano. Quanto às línguas de substrato em relação ao Latim, na época da romanização da Península Ibérica, temos as línguas dos povos gregos e cartagineses que habitavam na zona da atual Catalunha que, embora seja débil, é evidente na toponímia e algum léxico. Depois da romanização da Península Ibérica, o catalão foi evoluindo, tal como as outras variedades ibéricas, chegando a uma certa altura em que os falantes começaram a consciencializar-se que o que falavam não era mais o latim vulgar, trazido por soldados e "plebeu", mas sim um dialeto que com o tempo havia-se distanciado da sua origem latina. Isto pode ser observado através de textos da altura escritos por pessoas pouco letradas que escreviam no seu "dialeto" (catalão na atualidade) e que através dos seus testemunhos deixavam escapar algumas "catalanices", desrespeitando a norma, que na época seria o Latim vulgar. Após a romanização da Península, esta é invadida por povos germânicos, os Visigodos, que expulsos pelos francos instalaram-se na Península, fazendo de Toledo a sua capital. Mas rapidamente, os Visigodos, perceberam o quão romanizada estava a Península e decidiram ao invés de impor a sua língua, adquirir a língua autóctone. Portanto, o superstrato germânico neste caso, reduz-se apenas a antropónimos, topónimos e algum léxico, ainda que pouco, por exemplo: guerra, espia e elmo (tipo de capacete). A maior influência foi, claramente, a influência da língua occitana, devido ao seu contacto permanente com a língua, invasões, etc. Influências posteriores às já referidas, é o castelhano, sendo este o mais flagrante, devido ao seu contacto e pressão sobre o catalão. Em 1137 dá-se a união entre o Reino de Aragão e o Condado de Barcelona, ou seja, a Catalunha aumentou o seu território mantendo a sua corte que continuava a usar o Catalão como língua de comunicação. Mais tarde, em 1479, a Coroa de Aragão (que incluía já a Catalunha) une-se a Castela, o Reino que mais prosperava na época. Isto comportou para os catalães a perda de uma corte catalã o que viria a ter repercussões negativas para o catalão. Quanto mais Castela avançava, mais progredia o castelhano em relação ás outras línguas. Desde a união de Aragão com Castela, isto em 1479, sensivelmente, o catalão tem vindo a mostrar um desequilibro em relação ao castelhano, como mostram os últimos estudos da situação actual da língua.
Quanto à influência catalã noutras línguas, temos o subdialeto dos dialetos meridionais do espanhol Ibérico, o Murciano. Dialeto este falado na comunidade autónoma de Múrcia, que partilha alguns traços fonéticos com o catalão, salientando a conservação esporádica de surdas intervocálicas (acachar, pescatero) e a manutenção do grupo -ns- (ansa e panso (cast.: asa e paso)). Também partilha, o Murciano, algum léxico com o aragonês e o catalão, isto porque, quando Múrcia foi reconquistada pelos cristãos a região foi repovoada com catalãs, valencianos e aragoneses o que influenciou o dialecto que hoje conhecemos como o Murciano.[46]
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↑Colón, Germà (1993). El lèxic català dins la Romània. Biblioteca Lingüística Catalana. Valência: Universitat de València. ISBN84-370-1327-5
↑ abO português e o castelhano possuem as palavras estiagem e estiaje, respetivamente, para seca ou caudais baixos.
↑ abO português e o castelhano possuem as palavras véspera e víspera, respetivamente, para um dia ou momento anterior.
↑Spanish also has trozo, and it is actually a borrowing from Catalan tros. Colón 1993, p 39. Portuguese has troço, but aside from also being a loanword, it has a very different meaning: "thing", "gadget", "tool", "paraphernalia".
↑Modern Spanish also has gris, but it is a modern borrowing from Occitan. The original word was pardo, which stands for "reddish, yellow-orange, medium-dark and of moderate to weak saturation. It also can mean ochre, pale ochre, dark ohre, brownish, tan, greyish, grey, desaturated, dirty, dark, or opaque." Gallego, Rosa; Sanz, Juan Carlos (2001). Diccionario Akal del color (em espanhol). [S.l.]: Akal. ISBN978-84-460-1083-8
↑Moll, Francesc de B. (1958). Gramàtica Històrica Catalana 2006 ed. [S.l.]: Universitat de València. 47 páginas. ISBN978-84-370-6412-3
↑Pilar García Mouton (1994). Lenguas y dialectos de Espanã (em espanhol) 1994 ed. Madrid: Arco Libros. 36 páginas. ISBN84-7635-164-X[4]