Hipernatremia é uma concentração anormalmente alta de sódio no sangue. A principal consequência desse quadro é a disfunção do sistema nervoso central, gerada pela desidratação celular, que pode levar à laceração, hemorragia subaracnóidea e subcortical, e trombose dos seios venosos. Os sintomas são geralmente inespecíficos e incluem forte sensação de sede, fraqueza, náuseas, perda de apetite, agitação, delírio, espasmos musculares, estupor e coma. Os níveis normais de sódio no soro são de 135-145 mEq/litro (135-145 mmol/L). A hipernatremia é geralmente definida quando os níveis séricos de sódio são superiores a 145-150 mEq/L. Sintomas graves normalmente só ocorrem quando os níveis estão acima de 160 mEq/L.
O distúrbio é classificado como baixo, normal ou aumentado, a partir das causas e de acordo com o volume corporal total do paciente. A hipernatremia com baixo volume extracelular ocorre quando o paciente sofre perda de água pela transpiração, vômitos, diarreia, medicação diurética ou doença renal. A hipernatremia com volume extracelular normal pode ter como causas a febre, diminuição da sede, hiperventilação prolongada e diabetes insipidus, entre outras. A hipernatremia com volume extracelular aumentado pode ocorrer devido a hiperaldosteronismo, pela administração intravenosa excessiva de cloreto de sódio 0.9% ou bicarbonato de sódio hipertônicos em procedimentos de reanimação, afogamentos em água salgada, soluções de hiperalimentação e diálise. Pacientes com hipoproteinemia podem apresentar exames de dosagem de sódio falsamente elevados. O histórico do paciente é capaz de determinar as causas do distúrbio, mas exames laboratoriais complementares, como a dosagem de sódio na urina, podem elucidar quadros de causa desconhecida.
Se o quadro tem evolução de algumas horas, a correção rápida do desequilíbrio pode melhorar o prognóstico e evitar o risco de edema cerebral. A via preferencial para correção é a oral, por meio de sondas nasogástricas ou enterais. Caso não seja possível, deve-se realizar a administração intravenosa de soluções hipotônicas, como glicose a 5%, salina a 0,2% e salina a 0,45%. Pacientes com diabetes insipidus central ou gestacional com quadro de hipernatremia podem receber desmopressina para controle da poliúria. Em pacientes com diabetes insipidus nefrogênico, recomenda-se, se possível, a suspensão da medicação e a administração de diuréticos tiazídicos e/ou anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). A hipernatremia afeta entre 0,3-1% das pessoas internadas em hospitais e acomete mais freqüentemente indivíduos muito jovens ou muito idosos e aqueles com problemas cognitivos.[10]
Causas
Geralmente é causada por falta de consumo de água gerando falta de água no sangue. Dentre as causas mais comuns estão[11]:
Prevalência
É mais comum em idosos, diabéticos, vítimas de queimaduras, pacientes em pós-operatório e em pacientes sofrendo com um estado alterado de consciência em que não podem buscar água.[13]
Sinais e sintomas
O efeito do excesso de sódio sobre o equilíbrio da osmose do plasma sanguíneo pode ser estimada pela seguinte fórmula:
Osmolalidade efetiva = 2 x sódio + glicose/18 + ureia/6
(normal = 270 a 290 mOsmL/kg)
Quando os níveis de sódio são maiores que 157 mEq/L, os primeiros sintomas são[14]:
Em níveis maiores que 180mEq/L, possíveis complicações neurológicas e musculares que incluem tremores, espasmos, rompimento de neurônios, déficits neurológicos, convulsão e coma, sendo frequentemente fatal.[15]
Tratamento
A primeira medida é beber água com baixos níveis de sódio ou administrar soro fisiológico intravenoso, geralmente sendo suficiente para equilibrar a osmolaridade do organismo. O soro deve ser administrado lentamente, pois os neurônios fizeram o possível para adaptarem ao excesso de sódio e precisam de tempo para bombear o excesso de sódio de volta a matriz celular. Não respeitar esse tempo de adaptação causa edema cerebral, convulsão e rompimento dos neurônios, sendo possivelmente fatal. Após administrar a água e soro deve-se diagnosticar e tratar a causa primária da hiperosmolaridade.
Diuréticos de alça de Henle inibindo a reabsorção de sódio podem ser usados para aumentar a excreção de sódio na urina, caso não haja desidratação.
Referências
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- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 23 de agosto de 2014. Arquivado do original em 20 de outubro de 2013
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