Numa teoria quântica de campos, a regularização de divergências e a renormalização são geralmente vistas apenas como técnicas para tornar funções de correlações finitas. Contudo, elas possuem um significado físico muito profundo e mais importante: a descrição de teorias quânticas de campos mudam conforme a escala de energia. Essa ideia foi introduzida por Kenneth Wilson[1] e é quantificada pelas equações do grupo de renormalização.
Suponha uma teoria quântica de campos com campos ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)} e constantes de acoplamento g {\displaystyle g} descrita pela ação clássica S ( ϕ , g ) {\displaystyle S(\phi ,g)} . Vamos considerar a expansão em modos de Fourier de ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)}
Usualmente, a integral é sobre todas as frequências 0 ≤ | k | ≤ ∞ {\displaystyle 0\leq |k|\leq \infty } . Neste caso, várias funções de correlação podem não ser bem definidas. Uma forma de regularizar a teoria é introduzir uma frequência de corte ultravioleta Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} . Isto é, limitamos a integral ao disco
Chamaremos esse campos de ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} e diremos que ele é o campo na escala Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} . Então
Também chamaremos a constante de acoplamento de g 0 {\displaystyle g_{0}} . A função partição sobre os campos ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} é
Já que alguns dos modos de Fourier estão faltando, o campo ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} é praticamente constante em distâncias menores que Δ x ≃ 1 / Λ U V {\displaystyle \Delta x\simeq 1/\Lambda _{UV}} . Então, introduzir uma frequência de corte ultravioleta é o mesmo que introduzir um corte em pequenas distâncias. É óbvio que a introdução desse limite quebra a simetria de Poincaré. Eventualmente, vamos tomar o limite do contínuo 1 / Λ U V → 0 {\displaystyle 1/\Lambda _{UV}\rightarrow 0} , onde a simetria de Poincaré é recuperada. A questão de renormalizabilidade é se podemos fazer isso mantendo as quantidades físicas numa escala de energia finita μ {\displaystyle \mu } regulares.[2]
Vamos decompor a região de integração da expansão em modos em duas partes:
Chamaremos as expansões em modos correspondentes por
onde B e A referem-se a Baixas e Altas energias. Nós gostaríamos de estudar o comportamento da teoria em energias menores que μ {\displaystyle \mu } , por exemplo, amplitudes de espalhamento de partículas com momentos ≤ μ {\displaystyle \leq \mu } . O que procuramos então é uma ação que descreva esses efeitos somente em termos de ϕ B ( x ) {\displaystyle \phi _{B}(x)} . Ela pode ser obtida integrando sobre ϕ A ( x ) {\displaystyle \phi _{A}(x)} na integral de trajetória, mantendo ϕ B ( x ) {\displaystyle \phi _{B}(x)} variável
Isso é chamado teoria de campos efetiva na energia μ {\displaystyle \mu } . Por vezes, quando tomamos o limite para o contínuo Λ U V / μ → ∞ {\displaystyle \Lambda _{UV}/\mu \rightarrow \infty } , a expressão para a ação fica divergente e isso é a indicação que precisamos mudar a descrição da teoria em baixas energias. Nos casos mais drásticos, precisamos encontrar um novo conjunto completamente novo de campos e simetrias para descrever a teoria. Contudo, em muitos casos, a mudança de variáveis e parâmetros têm a forma:
Aqui, ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)} e g {\displaystyle g} são os novos campos, em termos dos quais a ação efetiva
é regular no limite para o contínuo. Os campos ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} e as contantes g 0 {\displaystyle g_{0}} na escala de corte Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} são chamados de campos nus e constantes de acoplamentos nuas, enquanto ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)} e g {\displaystyle g} são ditas renormalizados.
Se pode olhar para essa mudança de campos e constantes de duas formas. Uma forma de ver é fixar μ {\displaystyle \mu } e variar Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} . Nós fixamos os campos ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)} e constantes de acoplamento g {\displaystyle g} numa escala μ {\displaystyle \mu } (com os valores medidos nessa escala) e mudamos os campos nus ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} e as contantes nuas g 0 {\displaystyle g_{0}} . Se pudermos mover Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} para o infinito sem mudar o comportamento do sistema na energia μ {\displaystyle \mu } (descrito por ϕ ( x ) {\displaystyle \phi (x)} e g {\displaystyle g} ), então, nesse limite, obtemos uma teoria quântica de campos com simetria de Poincaré.
Uma outra forma de ver é mover μ {\displaystyle \mu } , fixando Λ U V {\displaystyle \Lambda _{UV}} e consequentemente ϕ 0 ( x ) {\displaystyle \phi _{0}(x)} e g 0 {\displaystyle g_{0}} . Desta forma, o campo renormalizado e a constante de acoplamento renormalizada é que mudam com a escala. Essa constante é dita constante de acoplamento corredora. Em particular, se mudamos a escala de μ 1 {\displaystyle \mu _{1}} para μ 2 {\displaystyle \mu _{2}} , as constantes de acoplamento mudarão de g 1 = ( g 0 , μ 1 Λ U V ) {\displaystyle g_{1}=(g_{0},{\frac {\mu _{1}}{\Lambda _{UV}}})} para g 2 = g ( g 0 , μ 2 Λ U V ) {\displaystyle g_{2}=g(g_{0},{\frac {\mu _{2}}{\Lambda _{UV}}})} , onde g ( g 0 , μ Λ U V ) {\displaystyle g(g_{0},{\frac {\mu }{\Lambda _{UV}}})} é a inversa da função definida anteriormente. Com efeito, definindo um campo com contribuições dos modos de Fourier entre μ 1 ≤ | k | ≤ μ 2 {\displaystyle \mu _{1}\leq |k|\leq \mu _{2}} , podemos repetir o raciocínio e escrever g 2 = g ( g 1 , μ 2 μ 1 ) {\displaystyle g_{2}=g(g_{1},{\frac {\mu _{2}}{\mu _{1}}})} . Desta forma, uma mudança de escala induz uma mudança das contantes de acoplamento através do campo vetorial
Essa equação é chamada de equação de Callan-Symanzik[3] e o campo vetorial β ( g ) {\displaystyle \beta (g)} é chamado função beta da constante de acoplamento g {\displaystyle g} .
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