Gematria

Gematria é o método hermenêutico de análise das palavras bíblicas somente em hebraico, atribuindo um valor numérico definido a cada letra. É conhecido como "numerologia judaica" e existe na Torá (Pentateuco).[1]

A cada letra do alfabeto hebraico é atribuído um valor númerico, assim, uma palavra é o somatório dos valores das letras que a compõem. As escrituras são então explicadas pelo valor numérico das palavras.[2][3]

Tal lógica estava presente na produção de midrash e consolidou-se durante a Idade Média, próximo à época das cruzadas, mas ainda é utilizada, compilada primeiramente no Talmude e posteriormente em tratados da Cabala.[4]

Palavras de iguais valores numéricos são consideradas como explicativas umas das outras e a teoria também se estende às frases. Assim como exemplo temos a letra ShIN (ש) valor 300, número equivalente ao valor numérico da palavra RVCh ALHIM, Ruach Elohim, o Espírito de Elohim. A letra Shin é, portanto, um símbolo do Espírito de Elohim (repare que o desenho da letra possui três flamas). Temos R (ר)=200, V (ו)=6, Ch (ח)=8, A (א)=1, L (ל)=30, H (ה)=5 ou Y (י)=10, M (מ)=40 donde 200+6+8+1+30+5+10+40=300.

Similarmente temos AchD (אחד), Achad (Unidade), e AHBH (אהבה), Ahebah (Amor) têm o mesmo valor numérico 13.

AchD – A=1, Ch=8, D=4 (1+8+4=13)

AHBH – A=1, H=5, B=2, H=5 (1+5+2+5=13)

Isto quer significar que Amor é Unidade. Existe infinito número de exemplos. Note-se também que a palavra (ou Nome) IHVH (יהוה), outro nome para Deus, tem valor (10+5+6+5=26) que é o dobro de 13. Isto pode ser estudado aprofundando nos estudos da guematria.

Embora a antiga cultura babilónica utilizasse um tipo de sistema de gematria ("Aru"), a sua escrita era logográfica e as atribuições numéricas que faziam eram palavras inteiras. O Aru era muito diferente dos sistemas Milesianos utilizados pelas culturas grega e hebraica, que utilizavam escritas alfabéticas. Os significados das palavras com Aru foram atribuídos de forma totalmente arbitrária, e as correspondências foram feitas por meio de tabelas, não podendo, portanto, ser consideradas uma verdadeira forma de gematria.

As somas de gematria podem incluir palavras isoladas ou uma sequência de cálculos longos.[5] Um pequeno exemplo de numerologia judaica que usa gematria é a palavra חי, chai, "viver", que consiste em duas letras que (usando os valores na tabela mishpar gadol mostrada abaixo) somam 18. Este facto fez do 18 o "número da sorte" entre o povo judeu.

História

A primeira utilização documentada da gematria encontra-se numa inscrição assíria datada do século VIII a.C.,[6] encomendada por Sargão II. Nesta inscrição, Sargão II afirma que "o rei construiu a muralha de Khorsabad com 16 283 côvados de comprimento para corresponder ao valor numérico do seu nome".[7]

A prática de utilizar letras do alfabeto para representar números teve origem na cidade grega de Mileto e é, por isso, conhecida como o sistema miletiano.[8] Os primeiros exemplos incluem inscrições em vasos que datam do século VI a.C.[9] Aristóteles escreveu que a tradição pitagórica, fundada no século VI a.C. por Pitágoras de Samos, praticava a isopsefia, o precursor grego da gematria.[10] Pitágoras foi contemporâneo dos filósofos Anaximandro, Anaxímenes e do historiador Hecateu, que viveu em Mileto, do outro lado do mar de Samos. O sistema miliário difundiu-se durante o reinado de Alexandre, o Grande (336-323 a.C.) e foi adotado por outras culturas no período helenístico subsequente. Foi oficialmente adoptada no Egito durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo (284-246 a.C.).[11]

Referências

  1. Bond, Frederick Bligh (1977). Gematria: A Preliminary Investigation of the Cabala Contained in the Coptic Gnostic Books, and of a Similar Gematria in the Greek Text of the New Testament : Showing the Presence of a System of Teaching by Means of the Doctrinal Significance of Numbers, by which the Holy Names are Clearly Seen to Represent Aeonial Relationships which Can be Conceived in a Geometric Sense and are Capable of a Typical Expression of that Order (em inglês). [S.l.]: Research into Lost Knowledge Organization. p. 60, 92. 111 páginas. ISBN 9780722503553 
  2. Universidad de Granada (2006). Miscelánea de estudios árabes y hebraicos: Sección de hebreo, Volume 55 (em espanhol). [S.l.]: Universidad de Granada 
  3. Pawson, Marke (2005). Gematria (em inglês). [S.l.]: Green Magic. 180 páginas. ISBN 9780954723002 
  4. Magid, Shaul (2008). From Metaphysics to Midrash: Myth, History, and the Interpretation of Scripture in Lurianic Kabbala (em inglês). [S.l.]: Indiana University Press. 368 páginas. ISBN 9780253000378 
  5. «What is Gematria». www.gaia.com. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  6. «Gematria Calculator». charactercalculator.com. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  7. «Ancient records of Assyria and Babylonia». lib.ugent.be. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  8. «The Greek Qabalah: Alphabetical Mysticism And Numerology In The Ancient World». idoc.pub. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  9. «The local scripts of archaic Greece: a study of the origin of the greek alphabet and its development from the eighth to the fifth centuries B.C». libcats.org. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  10. «Pythagoras: His Life, Teaching, and Influence». muse.jhu.edu. Consultado em 17 de novembro de 2024 
  11. «Transfinite Life: Oskar Goldberg and the Vitalist Imagination». experts.illinois.edu. Consultado em 17 de novembro de 2024 

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