Fernando Luís de Oliveira Pessa nasceu a 15 de abril de 1902, na freguesia de Vera Cruz, em Aveiro. Era filho de Adriano Luís de Oliveira Pessa (natural de Pombal) e de sua mulher, Maria Octávia Catela de Miranda Pinto (natural da Ilha de São Tomé).[2] O seu pai era médico militar e, tendo sido destacado para as colónias ultramarinas portuguesas, deixou a família em Portugal continental.[3]
Antes de embarcar na carreira jornalística, trabalhou numa companhia de seguros e num banco, ainda em Coimbra, onde esteve pouco tempo. Em 1926 foi trabalhar para outra companhia de seguros, no Brasil, de onde regressou em 1934.
Em 1934 candidatou-se aos quadros da recém criada Emissora Nacional,[3] tendo ficado classificado em segundo lugar e, como gostava de sublinhar, “sem cunhas”.[4] Iniciou, assim, uma carreira que nunca tinha pensado seguir. E assim transformou-se no primeiro locutor da Emissora Nacional.[4][5]
Com uma semana de rádio, Pessa fez a sua primeira reportagem: a cobertura de um festival de acrobacia área na antiga Porcalhota, actual Amadora, a 4 de novembro de 1936.[6][7]
Após quatro anos na Emissora Nacional, foi convidado para trabalhar na BBC, em Londres, em 1938.[4][5][8] Começou por trabalhar com sotaque na secção brasileira e só quando um colega português adoeceu foi chamado para ler o noticiário.[4][7] Neste ambiente sofreu os bombardeamentos alemães sobre Londres e se profissionalizou e notabilizou como correspondente durante a Segunda Guerra Mundial.[4][7] Tornou-se conhecido por reportar os bombardeamentos em Londres e consolidou a sua popularidade com o programa Retiro da Blitz, onde Pessa interpretava fados por ele escritos, ridicularizando a figura de Hitler e as suas investidas contra Londres, de onde se destaca Compadre Adolfo.[4][5][8][9]
Conheceu a sua esposa, Simone Alice Roufier, uma brasileira de ascendência inglesa e norte-americana, em Londres. Casou-se em 1947, no novo regresso a Portugal.[4]
No regresso a Lisboa, em 1947, a sua reentrada na rádio Emissora Nacional foi vedada por influência do regime, sendo forçado a voltar ao ramo dos seguros.[4] Nesta época também fez dobragens de filmes e documentários, nomeadamente O Último Temporal - Cheias do Tejo e Portugal já Faz Automóveis, do cineasta Manoel de Oliveira.[4] Acabou por participar do Plano Marshall de ajuda económica à Europa, quando Portugal se envolveu.[4]
Encontram-se artigos da sua autoria na revista Mundo Gráfico (1940-1941),[10] nomeadamente: "Uma guitarra na BBC" de 15 de Fevereiro de 1943 (n.º 57) e "As mãos que vêem" de 30 de Março de 1944 (n.º 84).
Apresenta 'Arco-Íris', de Francisco Mata e Jorge Alves, programa que ganhou vários prémios de Melhor Programa de Entretenimento.[11]Arco-Íris era apresentado conjuntamente com nomes como Maria Leonor, Raúl Solnado e Isabel Wolmar.[11]
Televisão
Rua Augusta, Lisboa. Foi nas pequenas reportagens sobre situações do quotidiano, principalmente da cidade de Lisboa, que a expressão “E esta, hein?” de Fernando Pessa se tornou popular
Depois da notoriedade enquanto repórter de guerra na BBC, realizou a primeira emissão em directo da RTP, em 7 de Março de 1957, na Feira Popular de Lisboa,[4] entrando para os quadros da RTP apenas a 1 de Janeiro de 1976, já com 73 anos.[4]
A célebre expressão “E esta, hein?” marcou a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país nos seus "bilhetes postais".[4] Neste contexto, era por vezes criticado por privilegiar nas suas sátiras os políticos cuja ideologia não partilhava, poupando em geral os que pudessem ser conotados com a esquerda.
Últimos anos
Continuou a trabalhar quase até morrer.
Fernando Pessa morreu a 29 de Abril de 2002, em Lisboa, poucos dias depois de completar cem anos.[3]
Homenagens e distinções
Jardim Fernando Pessa, Lisboa
Como "Recompensa de uma Carreira" Fernando Pessa recebeu o Prémio da Imprensa (1981), ou Prémio da Bordalo, entregue pela Casa da Imprensa, em 1982, numa cerimónia em que também foram distinguidos, na mesma categoria de "Televisão", o realizador Luís Andrade, a vedetas Tony Silva (Herman José) e o programa Sabadabadu.[12]
Em julho de 1992, recebeu o "Prémio Carreira", instituído pelo Clube Português de Imprensa.[3]
Como "Consagração de Carreira" Fernando Pessa recebeu Prémio Bordalo (1993), antigo Prémio da Imprensa, o seu segundo, tendo sido entregue pela Casa da Imprensa, em Março de 1994.[12]
Em 2005, no dia em que Pessa faria 103 anos, foi inaugurado o requalificado e renomeado Jardim Fernando Pessa, situado na freguesia do Areeiro, junto ao Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma), em homenagem ao jornalista, que o vivia perto e regularmente utilizava o espaço para os seus passeios, a pé ou de bicicleta.[15][16][17]
↑ abDIAS, Patrícia Costa (2011). A Vida com um Sorriso - Histórias, experiências, gargalhadas, reflexões de Isabel Wolmar. Lisboa: Ésquilo. p. 41-43. ISBN978-989-8092-97-7. OCLC758100535
↑ ab«Prémios Bordalo». Em 1981 denominado "Prémio da Imprensa". Presumida gralha "1992" para data de cerimónia de "1982". Em 1993 denominado "Prémio da Bordalo". Sindicato dos Jornalistas. 22 de janeiro de 2002. Consultado em 26 de outubro de 2017