Estrato (linguística)
Nota: Para outros significados, veja Estrato.
Na linguística, um estrato ou estratos (do latim stratum, significando camada) é uma língua que influencia ou é influenciada por outra através de contacto. Um substrato é uma língua que tem menor poder ou influência do que outra, enquanto um superestrato é uma língua que tem maior presença ou influência. Substrato e superestrato influenciam-se mutuamente, mas de formas diferentes. Um adstrato refere-se a uma linguagem que está em contato com outro idioma de uma população vizinha, sem por isso ter uma influência identificável maior ou menor.
Dinâmica
Estes termos referem-se à situação em que uma linguagem intrusiva se estabelece no território de outra, geralmente como resultado de uma migração. As situações em que ocorre o superestrato (a língua local persiste e a língua intrusiva desaparece) ou o substrato (a língua local desaparece e a linguagem intrusiva persiste) só serão evidentes após várias gerações, tempo ao longo do qual a linguagem intrusiva se mantém numa cultura de diáspora. Para a linguagem intrusiva persistir (caso do substrato), a população imigrante precisará assumir a posição política de elite ou imigrar em número significativo em relação à população local. (Isto é, a intrusão qualifica-se como uma invasão ou colonização, um exemplo seria o latim do Império Romano originando as línguas românicas fora da península Itálica, sobrepondo-se às línguas paleo-hispânicas, como a língua lusitana). O caso do superestrato refere-se a populações elites populacionais que acabam por adotar a linguagem local (por exemplo os suevos e visigodos na península Ibérica, que acabaram por abandonar os seus dialetos germânicos em favor dos românicos).
Exemplos
Região
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Língua resultante
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Substrato / língua original
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Superestrato
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Superestrato resultante de
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Bielorrússia e Rússia |
Língua bielorrussa e dialectos russos do Sul |
Línguas bálticas locais |
Antigas línguas eslavas orientais |
Expansão eslava
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Líbano |
Árabe libanês
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Aramaico ocidental e língua fenícia
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Árabe clássico
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Árabes durante a expansão islâmica
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Síria |
Árabe sírio |
Aramaico ocidental
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Palestina/Israel |
Árabe levantino |
Aramaico ocidental
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Egito |
Árabe egípcio |
Língua copta e língua núbia
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Argélia |
Árabe argelino |
Línguas berberes e língua púnica
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Líbia |
Árabe líbio |
Língua púnica, língua copta e línguas berberes
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Marrocos |
Árabe marroquino |
Línguas berberes
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Sudão |
Árabe sudanês |
Línguas núbias e outras línguas africanas
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Tunísia |
Árabe tunisino |
Língua púnica e línguas berberes
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Arábia Saudita |
Árabe saudita |
Línguas semíticas meridionais, aramaico ocidental, aramaico oriental e língua copta
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Iémen |
Árabe iemenita |
Línguas semíticas meridionais
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Lapónia |
Línguas lapônicas |
Línguas europeias antigas locais |
línguas Proto-fínicas |
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Singapura |
Mandarim de Singapura |
Dialectos chineses do Sul: Min Nan, teochew, cantonês, hainanês |
Mandarim padrão |
Governo de Singapura durante campanha para falar mandarim.
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Inglaterra |
Inglês médio |
Inglês antigo |
Francês antigo (Línguas de oïl) |
Normandos durante a conquista normanda da Inglaterra.
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Irlanda |
Inglês da Irlanda |
Irlandês |
Inglês moderno inicial |
Ingleses durante a colonização no século XVI
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Espanha |
Espanhol (castelhano)
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Línguas paleo-hispânicas |
Latim vulgar, seguido das línguas visigótica e árabe
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Romanos durante o Império Romano, seguidos por germânicos durante as migrações dos povos bárbaros
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Portugal |
Português
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Línguas paleo-hispânicas, galaica e lusitana
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França |
Francês |
Língua gaulesa |
Latim vulgar, seguido da língua frâncica[1]
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México |
Espanhol mexicano
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Línguas náuatle e maias
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Castelhano do século XV
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Espanhóis durante a colonização espanhola da América do século XV
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Chile |
Espanhol chileno |
Língua mapuche, quechua e aimará
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Paraguai |
Espanhol paraguaio |
Língua guarani
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Peru |
Espanhol peruano |
Quechua
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Argentina |
Espanhol rioplatense |
Italiano, francês, árabe libanês, árabe sírio, quechua e língua guarani
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Jamaica |
Inglês jamaicano
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Línguas africanas de escravos africanos transportados |
Inglês moderno inicial
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os britânicos durante o Império Britânico
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India |
Inglês indiano |
vários substratos linguísticos indianos, especialmente a língua hindi |
Inglês moderno
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Israel |
Norma moderna israelita (não-Oriental) da língua hebraica |
principalmente, o iídiche, e várias outras línguas europeias de imigrantes europeus judeus para Israel, também línguas judaico-árabes |
Hebraico bíblico |
Judeus europeus no fim do século XIX e XX que recuperaram e re-introduziram o idioma hebreu.
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Áustria |
Alemão austríaco |
Austro-bávaro |
Alemão padrão (Hochdeutsch) |
Imperatriz Maria Teresa da Áustria após adopção n por Gottsched do Alemão padrão (Hochdeutsch) no final do século XVIII
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Suíça |
Alemão padrão Suiço |
Alemão alemânico |
Adopção do Alemão padrão (Hochdeutsch) pelas reformas da Bíblia de Zurique em 1665 e 1755
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Ucrânia |
Russo ucraniano |
Ucraniano |
Russo
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Domínio pelo Império Russo
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Referências
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- Cravens, Thomas D. (1994). "Substratum." The Encyclopedia of Language and Linguistics, ed. by R.E. Asher et al. Vol. 1, pp. 4396–4398. Oxford: Pergamon Press.
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- Jungemann, Frédéric H. (1955). La teoría del substrato y los dialectos hispano-romances y gascones. Madrid.
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- Singler, John Victor (1988). "The homogeneity of the substrate as a factor in pidgin/creole genesis." Language 64.27-51.
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