Enéas de Camargo[2] (São Paulo, 18 de março de 1954 — São Paulo, 27 de dezembro de 1988) foi um futebolista brasileiro que atuava como atacante[1].
Jogou muitos anos na Portuguesa (1971 a 1980), clube de que foi o segundo maior artilheiro, com 179 gols[3][4], e maior artilheiro em Campeonatos Brasileiros, com 46 gols.[5]
Carreira
Terceiro dos cinco filhos de Arnaldo e Enedina, Enéas cresceu no bairro do Canindé[6], a poucos metros da Portuguesa, e começou a frequentar a agremiação aos 8 anos, se dividindo entre futsal[7], basquete, natação e até saltos ornamentais.[4]
Enéas começou no infantil da Portuguesa, mas desistiu e ficou um ano afastado, exercendo a profissão de office-boy.[8] Voltou pela insistência do técnico dos juvenis Nena[8] e lá profissionalizou-se em 1972[7], lançado pelo técnico Cilinho.[9] Fez sua estreia contra o América de São José do Rio Preto e marcou dois gols para a Portuguesa na vitória por 3 a 2, em 1972.[4]
Seu início foi irregular, e ele chegou a entrar em uma possível lista de dispensas do clube[10], mas, rápido e driblador[3], passou a ser um dos melhores jogadores do time[8] durante o Campeonato Paulista de 1973, quando o técnico Oto Glória resolveu colocá-lo na posição de Basílio, que foi deslocado para o meio-campo. "Quando vi Enéas treinando na Portuguesa, eu tive quase certeza de que era um craque", explicou Glória. "[Com o recuo de Basílio] ganhei um grande meia-armador e um ponta-de-lança sensacional."[11] Depois da vitória por 2 a 0 sobre o Corinthians, quando marcou um gol e infernizou a defesa adversária, seu nome passou a ser cogitado para a Seleção Brasileira.[11] Foi campeão paulista naquele ano, na final em que o árbitro Armando Marques errou a contagem de pênaltis, o que acabou fazendo com que o título fosse dividido entre Lusa e Santos.
Deixou o Canindé em 1980, depois de 179 gols em 376 jogos[12], para mudar-se para a Itália, onde foi defender o Bologna. Foi um dos primeiros não-italianos contratados para jogar no Calcio e foi o primeiro negro a vestir a camisa do clube.[4] Ao todo, foram apenas 17 jogos e 3 gols marcados pelo Bologna.[4] No ano seguinte, Enéas foi negociado com a Udinese e nem chegou a jogar pelo clube.[4]
Voltou ao Brasil com problemas no joelho direito[13], mas, sem saber disso, o Palmeiras contratou-o por 50 milhões de cruzeiros[14] como grande esperança para a temporada.[15] Nos dois anos que passou por lá, disputou apenas 93 partidas, marcando 28 gols, mas perdeu espaço depois de brigar com o técnico Carlos Alberto Silva. "Um técnico que não quero nem dizer o nome me encostou e acabei perdendo a motivação", explicou, em 1984.[14] Seu último jogo pelo clube foi a derrota para o Corinthians na semifinal do Paulista de 1983, quando foi reserva e entrou após o intervalo.[4]
Com vistas a uma possível valorização de seu passe, foi emprestado sem custo para o XV de Piracicaba no segundo semestre de 1984[16], com os salários pagos pelo Palmeiras, embora oficialmente fosse divulgado que ele recebia uma fração dos vencimentos, mais a hospedagem no melhor hotel de Piracicaba.[14] Num jogo contra o Marilia pelo Campeonato Paulista de 1984, se recusou a fazer o exame antidoping e pegou 90 dias de suspensão.[7]
Em 1985, foi para o Juventude.[6]
Em 1986, foi Campeão Capixaba pela Desportiva Ferroviária, onde marcou o gol do título, totalizando 6 gols em 6 partidas.[6]
Passou também por Atlético Goianiense e Operário de Ponta Grossa, antes de encerrar a carreira em Central Brasileira de Cotia, na terceira divisão paulista[6], onde também era dirigente.[13]
Seleção Brasileira
Em 1971, foi campeão do Torneio de Cannes, na França.[4] Enéas fez parte do elenco que venceu o Pré-Olímpico para Munique-1972[4], mas não chegou a ser convocado para a disputa das Olimpíadas.
Sua primeira convocação para a Seleção principal dar-se-ia em 18 de fevereiro de 1974.[17] Ele estreou aos dezoito minutos do segundo tempo da partida contra o México, em 31 de março, ao substituir Mirandinha. Não se destacou e não teve outras chances de conseguir uma vaga no grupo que foi para a Copa do Mundo de 1974. Voltaria a ser convocado em 1976, para o jogo contra o Paraguai pela Taça do Atlântico. Foi titular e marcou o gol do Brasil, aos 31 minutos do primeiro tempo, mas sua atuação não agradou,[18] sendo substituído por Palhinha aos dezenove minutos do segundo tempo. Ainda foi convocado para o jogo seguinte, contra o Uruguai, em que começou como titular, mas foi substituído logo no começo do segundo tempo por Roberto Dinamite. Nunca mais seria convocado.
Jogos Pela Seleção Brasileira
- Olímpica
# |
Data |
Local |
Resultado |
Competição |
Gols
|
1 |
30 de novembro de 1971 |
Colômbia |
Brasil 0 – 0 Argentina |
Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano |
-
|
2 |
07 de dezembro de 1971 |
Colômbia |
Brasil 1 – 1 Colômbia |
Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano |
|
3 |
09 de dezembro de 1971 |
Colômbia |
Brasil 1 – 0 Argentina |
Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano |
-
|
4 |
11 de dezembro de 1971 |
Colômbia |
Brasil 1 – 0 Peru |
Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano |
|
- Principal
Morte
Em 22 de agosto de 1988, sofreu um grave acidente de carro na Avenida Cruzeiro do Sul, em São Paulo, e foi internado, em coma, com uma luxação na coluna cervical. Morreria quatro meses depois, em 27 de dezembro, aos 34 anos, vítima de uma broncopneumonia.[12]
Títulos
- Portuguesa de Desportos
- Desportiva Capixaba
- Seleção Brasileira
Referências
- ↑ a b «O nome dele era ENÉAS». UOL Esporte. 20 de junho de 2022. Consultado em 23 de setembro de 2022
- ↑ books.google.com.br/ "Seleção brasileira: 1914-2006", Por Antonio Carlos Napoleão e Roberto Assaf
- ↑ a b "Craque esquecido", Invicto número 11, 2009, Editora Esfera BR Mídia, págs. 20-21
- ↑ a b c d e f g h i «O nome dele era Enéas: A história do apogeu e da morte do craque da Portuguesa que foi roubado no acidente que o matou». www.uol.com.br. Consultado em 5 de junho de 2023
- ↑ «Que fim levou? ENÉAS... Ex-meia-atacante da Portuguesa, Palmeiras e XV de Piracicaba». Terceiro Tempo. Consultado em 10 de outubro de 2022
- ↑ a b c d Abril, Editora (11 de março de 1988). Placar Magazine. [S.l.]: Editora Abril
- ↑ a b c Abril, Editora (maio de 2008). Placar Magazine. [S.l.]: Editora Abril
- ↑ a b c "A Portuguesa sempre deu apoio aos meninos", Jornal da Tarde, 14 de agosto de 1973, pág. 22
- ↑ "Uma jogada de risco", Ari Borges, Placar número 807, 8 de novembro de 1985, Editora Abril, pág. 6
- ↑ "Deu a louca na Portuguesa", Ronaldo Kotscho, José Campos e Carlos Maranhão, Placar número 132, 22 de setembro de 1972, Editora Abril, pág. 7
- ↑ a b "O ano dos 2 campeões", Michel Laurence, Placar número 198, 28 de dezembro de 1973, Editora Abril, pág. 25
- ↑ a b "Meu nome é Enéas", Dagomir Marquezi, Placar número 1.318, maio de 2008, Editora Abril, pág. 106
- ↑ a b "O craque que desligava", Dagomir Marquezi, Placar número 1.283, junho de 2005, Editora Abril, pág. 27
- ↑ a b c "O novo Eneas", Placar número 746, 7 de setembro de 1984, Editora Abril, pág. 55
- ↑ Celso Dario Unzelte e Mário Sérgio Venditti, Almanaque do Palmeiras Placar, Editora Abril, 2004, pág. 463
- ↑ Abril, Editora (7 de setembro de 1984). Placar Magazine. [S.l.]: Editora Abril
- ↑ Ivan Soter, André Fontenelle, Mario Levi Schwartz, Dennis Woods e Valmir Storti, Todos os Jogos do Brasil, Editora Abril, 2006, pág. 284
- ↑ Ivan Soter, André Fontenelle, Mario Levi Schwartz, Dennis Woods e Valmir Storti, Todos os Jogos do Brasil, Editora Abril, 2006, pág. 302