A cultura na ditadura militar brasileira foi marcada especialmente pelo engajamento político à esquerda, pelo desejo de mudança e pelas críticas ao governo.[1]
Panorama histórico
Durante o primeiro governo da ditadura militar brasileira, havia uma aparente tolerância ou negligência em relação à cultura de protesto, que incluía manifestações artísticas como música, cinema, literatura e artes plásticas. Artistas e intelectuais utilizavam sua arte e senso de humor para criticar a censura e o regime, incentivando a rebeldia e denunciando o terrorismo cultural. No entanto, em 1968, um ano de grande agitação política e social, a censura se intensificou e grupos paramilitares de direita começaram a ameaçar e atacar manifestações artísticas, mesmo com o florescimento deste tipo de produção cultural. Com a implantação do AI-5, houve uma drástica diminuição das oportunidades para a arte comprometida com as lutas sociais e os programas políticos que foram derrotados em 1964, embora estas margens não tenham sido completamente extintas.[2]
Apesar da repressão oficial do regime militar, houve uma mobilização de diversos grupos sociais em reação aos abusos cometidos pelo governo. Na verdade, à medida que a censura se intensificava, os movimentos de resistência se radicalizavam ainda mais. Isso pode ser comprovado pelo surgimento da Passeata dos Cem Mil e pelo crescimento de grupos subversivos armados.[3]
Aspectos
Teatro
No teatro, muitas apresentações tinham um caráter revolucionário, como aquelas realizadas nos palcos do Opinião, Oficina e Arena, em resposta ao conservadorismo social e às restrições políticas da época. O Centro Popular de Cultura (CPC), que era afiliado à União Nacional dos Estudantes (UNE), compartilhava da visão de Bertolt Brecht de que o teatro era uma ferramenta importante de combate político. Com a promulgação do AI-5, muitas companhias teatrais foram dissolvidas, mas isso não diminuiu a força combativa dessas encenações.[3]
Cinema
No cinema, boa parte das produções eram realizadas pelos artistas do Cinema Novo, que sempre tiveram uma preocupação fundamental com as reflexões sobre a identidade nacional brasileira, mas que agora se engajavam politicamente e lutavam pela democracia. Ao mesmo tempo, o Cinema Marginal, que havia surgido na década de 60, assumiu o papel de vanguarda cinematográfica no país e desempenhou um papel fundamental na conscientização política sobre a dura realidade brasileira.[3]
Música
Durante os anos 60 e 70, a música brasileira alcançou um período de grande criatividade, impulsionado por compositores e cantores renomados como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Grande parte dessa produção musical foi motivada pela resistência à repressão militar, que limitava as liberdades artísticas por meio de meios opressivos. O movimento tropicalista destacou-se nesse período por defender uma posição crítica ao regime militar e por buscar criar uma identidade nacional, enquanto promovia o intercâmbio cultural com outras culturas do mundo. Embora se opusessem ao "imperialismo econômico norte-americano", os tropicalistas utilizaram influências do rock'n'roll, como a guitarra elétrica. Os festivais de música foram um espaço importante para a expressão artística e política, proporcionando um alívio temporário da censura governamental. Transmitidos pelas grandes emissoras de televisão da época, como a TV Excelsior, TV Record e TV Globo, os festivais se tornaram uma forma popular de entretenimento e expressão.[3]
Uma das marcas principais do tropicalismo foram suas inovações estéticas radicais, que mesclavam elementos de manifestações tradicionais da cultura do Brasil – notadamente a união do popular e da vanguarda, bem como a fusão da tradição brasileira – com tendências estrangeiras da época.[4] Esses objetivos comportamentais encontraram eco em boa parte da sociedade brasileira sob a ditadura militar no final da década de 1960.