Uma controvérsia envolvendo Jair Bolsonaro e venezuelanas surgiu após o presidente do Brasil dizer, em outubro de 2022, que, após ver meninas venezuelanas de quatorze a quinze anos, "pintou um clima", e associou-as à prostituição. A declaração foi amplamente repudiada por usuários na Internet e políticos, levando a pedidos de investigação contra Bolsonaro.
Origem
Em entrevista ao FEAT. Podcast, de Paparazzo Rubro-Negro, no dia 14 de outubro de 2022, o presidente do Brasil e candidato à reeleição Jair Bolsonaro disse que "pintou um clima" ao ver meninas de quatorze a quinze anos enquanto passava de moto em São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal. Além disso, deixou implícito que elas seriam prostitutas:[1]
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Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas... Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida.[2]
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Tal evento ocorreu em 10 de abril de 2021, e Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo na Internet no mesmo dia sobre o assunto.[3] Antes de outubro de 2022, Bolsonaro referenciou o caso outras vezes.[4] No dia 18, o YouTube removeu a entrevista ao FEAT. por conter desinformação sobre a COVID-19.[5]
Repercussão
O vídeo teve ampla repercussão nas redes sociais. Alguns comentários no Twitter relacionaram a fala do presidente à pedofilia, já que as meninas são menores de idade.[1] Segundo levantamento do Congresso em Foco, nesta rede social, de 14 a 18 de outubro, foram feitas 1 048 576 mensagens sobre o tema.[6] O termo "Bolsonaro Pedófilo" chegou ao topo dos assuntos mais comentados na plataforma. Opositores ainda questionaram por que o presidente não acionou o Ministério Público Federal, a Polícia Federal ou o Conselho Tutelar ao ver adolescentes em situação suspeita de prostituição infantil.[7]
O deputado federal André Janones (Avante) mobilizou o compartilhamento do termo, e vários outros políticos, como o senador Randolfe Rodrigues (REDE), mencionaram o assunto. A mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a socióloga Rosângela da Silva (Janja) também se manifestou, dizendo que a declaração de Bolsonaro causa "revolta e indignação".[7] Em passeata ao lado de Lula, Simone Tebet comentou a fala e chamou Bolsonaro de pedófilo.[8][9] Já apoiadores do presidente, como seu filho Flávio Bolsonaro e o ministro das Comunicações Fabio Faria, discordaram da acusação de pedofilia.[7]
A pesquisadora Andressa Costa, doutoranda em Ciência Política na Universidade de Lisboa, que monitora 15 mil grupos públicos no WhatsApp, declarou que o assunto teve mais repercussão em grupos da plataforma do que outros episódios de grande compartilhamento nas redes nos dias anteriores, a visita de Bolsonaro a Aparecida (SP) e a ida de Lula ao Complexo do Alemão.[10] A IstoÉ afirma que as declarações de Bolsonaro causaram uma crise em sua campanha e foram exploradas por Lula.[11]
Investigações
No dia 15 de outubro, o deputado distrital Leandro Grass (PV) enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, um pedido para investigar a conduta de Bolsonaro, após as falas.[12] Segundo o deputado, as meninas citadas por Bolsonaro deixaram de ir à escola para evitar assédio.[13][14] Em 25 de outubro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça rejeitou pedidos para investigar Bolsonaro pelas declarações.[15]
No dia 17 de outubro, o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acatou um pedido da campanha de Bolsonaro, exigindo que a campanha de Lula apagasse posts das redes sociais que citavam as falas do presidente.[16] No dia seguinte, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula, entrou no TSE pedindo esclarecimentos sobre o vídeo; segundo advogados do comitê de Lula, o que Alexandre de Moraes proibiu foi associar o vídeo a um crime de pedofilia, e não sua mera divulgação.[17] Ainda no dia 18, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) anunciou que realizaria uma audiência pública para debater as declarações.[18]
Resposta
Inicialmente, Bolsonaro destacou a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a ex-ministra Damares Alves para tentar convencer as meninas citadas a participarem de seu programa eleitoral. A ideia era que as venezuelanas dissessem que houve um mal-entendido e que o caso estava encerrado. No entanto, elas recusaram.[19][20][21] A alternativa foi gravar, no dia 17, um pedido de desculpas em vídeo ao lado de Michelle e da embaixadora da Venezuela María Teresa Belandria, no Palácio da Alvorada. No material, Bolsonaro defende que suas palavras foram tiradas de contexto "por má-fé" e se diz indignado com "as últimas ações de alguns militantes de esquerda".[22] No dia 20, Bolsonaro respondeu às acusações de pedofilia em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., dizendo que sempre usou a frase "pintou um clima", e que nesse contexto significava "Pintou um clima para eu conversar com elas". Ele negou que as venezuelanas eram prostitutas.[23] Entretanto, um levantamento feito em 128 lives transmitidas pelo presidente, entre 2019 e 2022, apontou que ele nunca usou a expressão.[24]
Referências