A origem do nome do bairro Cambuci tem duas possíveis versões, uma delas diz que o nome veio do tupi-guarani "cambuci" que significa "pote",[3] e que passava na região do largo (com cinco ruas que antigamente eram passagem obrigatória) um córrego que tinha o nome de "Cambuci". O nome do largo no início era Largo do Pote e depois ficou Largo do Cambuci. A outra versão é que o nome faz uma referência a um certo tipo de árvore chamada também "cambuci", da família das Mirtáceas, que era bastante comum nesta região, e desta árvore, era extraída pelos moradores um fruto chamado "cambricique" utilizado na fabricação de pinga na época.[4] O crescimento da região fez surgir o bairro no ano de 1906.[5]
Nos primórdios do município de São Paulo de Piratininga, a região de Cambuci era utilizada como trilha para poder chegar no Caminho do Mar e que, por fim, chegasse ao município de Santos[6]. Durante o caminho, os tropeiros lavavam seus pés no Córrego do Lava Pés, que tem este nome justamente pelo seu uso, além disso, descansavam por algum tempo alimentando os seus animais de carga[7]. Devido ao uso constante dessa região surgiu a necessidade de desenvolver ao redor da trilha um pequeno comércio e algumas chácaras, sítios e fazendas, e isso ocorreu a partir de 1850.[8]
Nos anos de 1870 foi construída a Capela Nossa Senhora de Lourdes por Eulália Assunção e Silva (1834-1894), devota da santa. A capela tem o mesmo estilo da gruta localizada na França em Lourdes.[8]
O bairro do Cambuci foi considerado por moradores, durante o século XX, o berço do Anarquismo[3], já que era alvo de muitas manifestações operárias. Além disso, houve durante a Revolta Paulista de 1924 a ocupação de rebeldes na Igreja da Glória (na época, Igreja do Cambucy),[9] liderada pelo general Isidoro Dias Lopes pela sua localização no ponto mais alto da região. Durante 23 dias, os operários tomaram aquele espaço e enfrentaram as tropas legalistas para que, assim, tivessem a queda do presidente Artur Bernardes. Portanto, o Cambuci foi um dos palcos da revolução junto com o Brás e a Mooca, os quais no fim ficaram devastados.[8]
Em contrapartida a toda destruição, Cambuci teve Alfredo Volpi como morador fiel a região, ele representou em sua arte também nos distritos do Brás e Ipiranga.[8]
Apesar de já existir ocupação do local desde os primórdios do município, o bairro surgiu oficialmente apenas em 1906[10]. Na época, era apenas passagem para o centro, sendo ocupado majoritariamente por fazendas e plantações. Com a oficialização, as ruas foram criadas e os terrenos foram loteados.
Nas décadas seguintes, acompanhando a industrialização do país, toda a região, incluindo os bairros vizinhos, Ipiranga e Mooca, serviu à instalação de diversas fábricas, o que atraiu grande massa de trabalhadores imigrantes, especialmente italianos[11] e sírios-libaneses, a viver no bairro, delineando características do bairro preservadas até hoje, como velhos galpões fabris e sobradinhos operários[12].
A partir da década de 1970, as fábricas começaram a abandonar o bairro, seguindo a tendência de se mudar para locais mais afastados na Região Metropolitana de São Paulo e no Interior de São Paulo. O bairro, aos poucos, mudou seu aspecto fabril para se tornar um bairro de serviços, passando a concentrar grande variedade de comércios no eixo do Largo do Cambuci e Avenida Lins de Vasconcelos.
Os terrenos abandonados deixados pelas antigas fábricas atraíram os moradores sem-teto, e em contrapartida, há espaços de intervenções artísticas, como o grafite. Um dos maiores exemplos são as obras d'Os Gêmeos, principais expoentes do grafite paulistano atual e originários deste bairro.[13]
O Cambuci também é atendido pela linha de BRT Expresso Tiradentes, com as estações Ana Nerie Alberto Lion[16], que estão dentro do bairro. Estas possuem integração com as linhas 2 e 3 do Metrô de São Paulo, além de diversas linhas de ônibus para outras regiões da capital.
Com várias opções de lojas, alimentação e lazer, as unidades de comércios/serviços do bairro se concentram no eixo do Largo do Cambuci, que passou por uma revitalização no ano de 2022.[17]
Em 2022, foi anunciada a construção de um shopping center com rooftop.[18] Com investimento de 300 milhões do grupo Partage, o empreendimento localizado na Avenida do Estado deve contar com 250 lojas.[19]
O Cambuci foi listado entre os bairros mais caros da cidade de São Paulo no quarto trimestre de 2022. Chegou a ultrapassar o valor por metro quadrado de bairros como a Mooca, Vila Prudente e Tatuapé.[20] Além disso, temos projetos grandes de incorporadoras renomadas como a Direcional Engenharia, que irá realizar um projeto na rua do Lavapés com mais de 35 torres residenciais, um mini shopping de 15 lojas e uma praça central ligando as ruas Junqueira Freire, Otto de Alencar, rua do Lavapés e Cesário Ramalho.[21] O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor C", assim como outros bairros da capital como Santana, Tatuapé e Barra Funda.[22]
Visão geral
Localizado entre Vila Mariana, Liberdade e Mooca por um bom tempo a região somente observou a evolução vertical de seus vizinhos, como a Aclimação; porém, nos últimos tempos, estão sendo lançados quase trezentos novos empreendimentos imobiliários que iram ou estão ajudando a valorizar ainda mais o bairro.[23]
Em 2010 foi exibida pela Rede Globo, a telenovela Passione, no horário das 20 horas. A novela tinha em seu enredo a personagem Clô Souza e Silva, interpretada pela atriz Irene Ravache, divertida e falante que tinha origem humilde e que só depois de atingir uma certa idade, consegue realizar seu maior sonho de ficar rica, e ao subir de nível, consegue se mudar para o bairro do Cambuci.[24]
Panorama do bairro do Cambuci da Avenida Lins de Vasconcelos, mostrando o bairro Vila Deodoro na parte de baixo, o Largo do Cambuci, centro do bairro e, ao fundo, toda a região norte e parte da central do município.
Bibliografia
Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108
Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN8573592230
LEITE, Rogerio Proença (2011). Transformações urbanas e sociais no bairro do Cambuci, São Paulo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 13, n. 2 ed. São Paulo: ANPUR. pp. 45–67
FERREIRA, Maria Clara (2018). História e patrimônio no bairro do Cambuci: um olhar sobre sua formação Revista História e Cultura, v. 9, n. 1 ed. São Paulo: UNESP. pp. 78–95
OLIVEIRA, Rafael (2015). A industrialização e os impactos socioeconômicos no Cambuci durante o século XX Revista Geografia Urbana, v. 10, n. 3 ed. São Paulo: USP. pp. 33–50
SANTOS, Gabriel Almeida (2019). O Cambuci e o desenvolvimento urbano na Zona Central de São Paulo Revista Brasileira de Planejamento Urbano, v. 15, n. 2 ed. São Paulo: ANPOCS. pp. 55–72
PEREIRA, Ana Luiza (2020). O bairro do Cambuci e sua relação com a imigração italiana em São Paulo Revista Brasileira de História Social, v. 14, n. 1 ed. São Paulo: USP. pp. 67–89