O imponente frontispício da Basílica do Carmo possui muitas volutas esculpidas em pedra, e a torre, de 50 metros de altura — a mais alta torre barroca do Brasil —, é encimada por um dos mais elaborados bulbos do estilo no país. No interior, a decoração em talha dourada e a estatuária são de valor inestimável, destacando-se a capela-mor e seu fabuloso retábulo com imagens de Nossa Senhora do Carmo e dos profetas Elias e Eliseu.[2]
No seu pátio, a cabeça do líder quilombola Zumbi dos Palmares ficou exposta até completa decomposição.[5] No convento, encontram-se enterrados os restos mortais de Frei Caneca.[6]
Histórico
Os primeiros frades Carmelitas chegaram ao Brasil em 1580, vindos de Portugal. Em 1584, com a fundação de um convento em Olinda, o primeiro do país, realizou-se a primeira festividade brasileira em honra a Nossa Senhora do Carmo.
Em 1665, o Capitão Diogo Cavalcanti Vasconcelos deu início às obras de construção da igreja, mandando executar, às suas expensas, a capela-mor, sem a licença real que, requerida em 1674, só foi concedida em 8 de março de 1687. A nave do templo foi terminada em 1742, e em 1754 foi colocado o sino na torre, sendo o frontispício concluído em 1767. A conclusão do convento deu-se antes, em 1730.[9]
Os carmelitas do Recife tiveram sua vida de clausura interrompida em 1817, quando o governador Luís do Rego Barreto, algoz da Revolução Pernambucana, ordenou a transformação do Convento do Carmo em quartel e hospital militar. A devolução do convento aos religiosos só ocorreu em 1846. Além dos danos materiais no prédio como a deterioração de painéis azulejares, pinturas e talhas, os carmelitas perderam sua grande biblioteca, que funcionava em amplo salão, no pavilhão superior do convento. Ao se retirarem em 1817, rumo à casa da Paraíba, os religiosos levaram algumas caixas com livros. Os que ficaram, desapareceram.[2]
Foi no Convento do Carmo que Frei Caneca fez seus votos religiosos e ordenou-se sacerdote, e onde está enterrado, embora se desconheça o local exato do sepultamento.[2]
A Basílica e o Convento do Carmo foram tombados em 5 de outubro de 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[2]
Arquitetura
Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo, no Bairro de Santo Antônio do Recife. Os restos do Reduto da Boa Vista estão assinalados no ângulo superior esquerdo (ângulo noroeste) do Convento do Carmo.
A igreja segue o estilo barroco. O corpo principal tem dois pavimentos, ambos com três aberturas de arco abatido e ornamentos em cantaria. No piso superior, entre as janelas, encontram-se dois nichos com estátuas, interligados na parte superior a óculos obturados com grades, e também emoldurados. Acima, frontíspício triangular de vértices truncados e lados curvos, com brasão da Ordem, pesadas volutas floreadas, e culminando com um nicho com imagem de Nossa Senhora, pináculos e uma cruz. Lateralmente a igreja possui duas torres, sendo que a da direita apresenta acabamento em cúpula semiesférica (escondida por platibanda semelhante à de templos românicos como a Igreja de Santo Estêvão em Lisboa), e a da esquerda, com cerca de 50 metros de altura, ergue-se em quatro pisos, com aberturas de forma e tamanho variáveis: a da base é uma porta com arco pleno, e acima abrem-se, sucessivamente, uma porta de arco abatido, com balaústre, um óculo simples, e uma janela sineira também em arco pleno. Coroando a torre, cúpula com diversas cornijas ornamentadas superpostas, óculos, pináculos e cruz.
Várias intervenções realizadas nos séculos XIX e XX acabaram por descaracterizar alguns aspectos originais do interior, sobretudo a pintura das talhas. Praticamente toda a Basílica foi repintada de branco e dourado. Um projeto de restauração recente, que removeu as camadas de repintura, revelou toda a beleza da decoração marmoreada típica do século XVIII, sendo a Basílica reinaugurada em 6 de julho de 2001, após três anos de trabalhos. Outras alterações no altar-mor incluíram a entronização da atual imagem de Nossa Senhora, uma outra de Cristo e a instalação de um relicário para guarda das hóstias. A restauração da capela também contemplou o cadeiral de jacarandá, com a recomposição de partes perdidas da madeira e a recuperação dos seis painéis com imagens de santos e das seis tribunas com balaústres que ficam acima do cadeiral.
Vista do Pátio do Carmo no século XIX, litografia por Franz Heinrich Carls