O averroísmo, com as prováveis exceções de Siger, Dante Alighieri[1] e Raimundo Lúlio jamais foi um movimento intelectual que se reconhecesse como uma escola ou tradição. É, na verdade, uma categoria historiográfica elaborada primeiramente por Renan em Averroès et l'averroïsme, e aplicada pelos historiadores posteriores aos usos significativos de doutrinas de Averroes e de suas exegeses da obra de Aristóteles por pensadores judeus e cristãos tal como chegaram através das tradições latina e hebraica. "Averroísta", portanto, pode descrever um leque de posições, que abarca inclusive os estudiosos interessados na influência de Averrois na condição de fenômeno histórico.
A concepção averroísta foi alvo de duas condenações pela Igreja Católica, em 1270 e 1277, promovidas pelo bispoEtienne Tempier. Tempier especificou 219 teses averroísta inaceitáveis. Já se apontou[3] que as principais acusações de Tempier são quase idênticas às que Al-Ghazali formulou contra os filósofos em geral na sua obra A Incoerência dos Filósofos (e que Averroes, por sua vez, tentou demonstrar serem injustificadas em sua A Incoerência da Incoerência).
A fim de resolver o problema, Siger tentou defender a existência de uma "dupla verdade": uma verdade factual ou "dura", que se alcança através da ciência e da filosofia, e uma verdade "religiosa", a que se chega pela religião. Essa ideia era diferente da que Averroes propôs; a ideia desse último era a de que havia apenas uma verdade alcançada por dois meios diferentes — jamais que houvesse duas verdades. Acreditava, entretanto, que as Escrituras usavam às vezes uma linguagem metafórica; mas aqueles que não tivessem o treinamento filosófico indispensável para apreciar o verdadeiro significado das passagens em questão estavam obrigados a acreditar no significado literal.
A concepção filosófica tardia do averroísmo consistiu na ideia de que os mundos filosófico e religioso eram entidades separadas. Entretanto, o exame acurado das 219 teses condenadas por Tempier revelam que nem todas elas tinham origem em Averroes. "Aristotelismo radical" e "Aristotelismo heterodoxo" foram os termos utilizados por um tempo para designar o movimento filosófico iniciado Siger e Boécio, e diferenciá-lo do averroísmo; atualmente, a maioria dos estudiosos simplesmente chamam todos de averroísmo.
Tomás de Aquino atacou especificamente a doutrina do monopsiquismo e do panpsiquismo em seu livro De unitate intellectus contra Averroistas. Nesse contexto, o termo "averroísmo" é usado corretamente.
Embora condenadas em 1277, muitas das teses averroísta sobreviveram até o século XVI e foram incorporadas às filosofias de Giordano Bruno, Pico della Mirandola e Cesare Cremonini. Essas teses tratam da superioridade dos filósofos em relação às pessoas comuns e da relação entre o intelecto e a dignidade humana.
Averroísmo judaico
Baruch Spinoza também foi notavelmente influenciado pelo averroísmo: seu panteísmo deriva do monopsiquismo averroísta, e sua crença no status superior dos filósofos e suas tendências ao secularismo são herdeiras do averroísmo. É provável que o averroísmo spinozista tenha influenciado o conservadorismo e o reconstrucionismo judaico.[4]
↑Alain de Libera, "Pour Averroès", introdução de L'Islam et la Raison: anthologie de textes juridiques, théologiques et polémiques. Paris: Flammarion, 2000. ISBN 9782080711328.
Averroism: verbete de Routledge Encyclopedia of Philosophy. (em inglês)
Jewish Averroism, verbete de Routledge Encyclopedia of Philosophy. (em inglês)
Averroism verbete de Jewish Encyclopedia (1906): O averroísmo e a filosofia do judaísmo. (em inglês)
"The Eternal Conversation": uma abordagem pessoal do averroísmo na tradição intelectual judaica, tanto na época Medieval como na Moderna. (em inglês)
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