Alexander Soljenítsin nasceu em Kislovodsk, pequena cidade do sul da Rússia, na região localizada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, filho póstumo de Isaac Soljenítsin, um oficial do exército czarista, e da sua jovem viúva, Taisia Soljenítsina. O seu avô materno havia superado as suas origens humildes e adquirido uma grande propriedade na região de Kuban, no sopé da grande cadeia de montanhas do Cáucaso. Durante a Primeira Guerra Mundial, Taisia fora estudar em Moscovo, onde conhecera o seu futuro marido. (Soljenítsin relataria vividamente a história de sua família em suas obras "Agosto de 1914" e "A Roda Vermelha".)
Em 1918 Taisia encontrou-se grávida, mas pouco depois receberia notícia da morte do seu marido num acidente de caça. Esse fato, o confisco da propriedade de seu avô pelas novas autoridades comunistas, e a Guerra Civil Russa disputada ao redor, levaram às circunstâncias bastante modestas da infância de Aleksander. Mais tarde ele diria que sua mãe lutava pela mera sobrevivência, e que os elos de seu pai com o antigo regime tinham que ser mantidos em segredo. O menino exibia conspícuas tendências literárias e científicas, que sua mãe incentivava como bem podia. Esta viria a falecer aos fins de 1939.
Durante a Segunda Guerra Mundial Soljenítsin serviu como comandante no Exército Vermelho,[3] estando envolvido em ação na Frente de batalha, e duas vezes condecorado. Uma série de textos publicados no final de sua vida, incluindo o inacabado romance Ama a Revolução! narra sua experiência de guerra e suas dúvidas crescentes sobre os fundamentos morais do regime soviético.[4]
Prisão e início da carreira literária
Algumas semanas antes do fim do conflito, já havendo alcançado território alemão na Prússia Oriental, foi preso por agentes da NKVD[5] por fazer alusões críticas a Stalin em correspondência a um amigo.[6] Ele foi acusado de propaganda anti-soviética sob o artigo 58 parágrafo 10 do Código Penal soviético, e de fundar uma organização hostil sob o parágrafo 11.[7][8]
Foi condenado a oito anos num campo de trabalhos forçados, a serem seguidos por exílio interno em perpetuidade. Esta era a pena normal para a maioria dos crimes previstos no artigo 58 na época.[9]
A primeira parte da pena de Soljenítsin foi cumprida em vários campos de trabalhos forçados; a "fase intermediária", como ele viria a referir-se a esta época, passou-a em uma sharashka, um instituto de pesquisas onde os cientistas e outros colaboradores eram prisioneiros. Dessas experiências surgiria o livro "O Primeiro Círculo", publicado no exterior em 1968.[10] Em 1950 foi enviado a um "campo especial" para prisioneiros políticos em Ekibastuz, Cazaquistão onde trabalharia como pedreiro, mineiro e metalúrgico. Esta época inspiraria o livro Um Dia na Vida de Ivan Denisovich.[11] Neste campo retiraram-lhe um tumor, mas seu cancro não chegou a ser diagnosticado.
A partir de março de 1953 iniciou a pena de exílio perpétuo em Kol-Terek no sul do Cazaquistão. O seu cancro, ainda não detectado, continuou a espalhar-se, e no fim do ano Soljenítsin encontrava-se próximo à morte. Porém, em 1954 finalmente recebeu tratamento adequado em Tashkent, Uzbequistão, e curou-se. Estes eventos formaram a base de Pavilhão de Cancerosos. Foi durante esta década de prisão e exílio que Soljenítsin abandonou o marxismo e desenvolveu as posições filosóficas e religiosas de sua vida posterior, gradualmente se tornando um cristão, como resultado de sua experiência na prisão e nos campos. Este por sua vez é semelhante ao que aconteceu a Fyodor Dostoyevsky durante seus anos na Sibéria e sua busca por fé.[12][13][14]
Durante os seus anos de exílio, e após sua libertação e retorno à Rússia Europeia, Soljenítsin, enquanto leccionava em escolas secundárias durante o dia, passava as noites escrevendo em segredo. Mais tarde, na breve autobiografia que escreveria ao receber o Nobel de Literatura, relataria que "durante todos os anos até 1961, eu não estava apenas convencido que sequer uma linha por mim escrita jamais seria publicada durante a minha vida, mas também raramente ousava permitir que os meus íntimos lessem o que eu havia escrito por medo de que o facto se tornasse conhecido".
Publicou ainda nos EUA uma obra sobre um gigantesco tabu que é a proeminência dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, sendo tachado como antissemita e desmoralizado no seu exílio.[15]
Regresso à Rússia
Soljenítsin retornou à Rússia em 27 de maio de 1994, depois de vinte anos de exílio[16] e morreu em Moscovo em 3 de agosto de 2008, segundo o seu filho, em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda.[17][18]
Está sepultado no Donskoi Monastery Cemetery, Moscou, na Rússia.[19]
A morte de Soljenítsin na imprensa
Em Portugal
O jornal Expresso publicou um artigo de opinião de José Cutileiro, onde este explica a sua visão sobre Soljenítsin. José Cutileiro defendeu que, Soljenítsin era na juventude um marxista-leninista convicto. Mas se mostrou nacionalista e monarquista, queria restaurar a Mãe Rússia em todo o seu esplendor mítico, considerava a democracia uma péssima forma de governo; admirava Franco e Pinochet e só em Putin julgou ter encontrado um chefe à altura para governar a Rússia.[20]
Pontos de vista sobre história e política
Contra o Ateísmo
Sobre o ateísmo, durante seu discurso de recepção do Prêmio Templeton para o Progresso da Religião,[21] em maio de 1983, Soljenítsin declarou: "Mais de meio século atrás, quando eu ainda era uma criança, lembro-me de ouvir um número de pessoas mais velhas oferecerem a seguinte explicação para os grandes desastres que se abateram sobre a Rússia: 'Os homens se esqueceram de Deus; é por isso que tudo isso aconteceu'. Desde então, tenho passado quase 50 anos estudando a história de nossa revolução. Durante esse processo, li centenas de livros, colecionei centenas de testemunhos pessoais e contribuí com oito volumes de minha própria lavra no esforço de transpor o entulho deixado por aquele levante. Mas se hoje me pedissem para formular da maneira mais concisa possível a causa principal da perniciosa revolução que deu cabo de mais de 60 milhões de compatriotas, não poderia fazê-lo de modo mais preciso do que repetir: 'Os homens se esqueceram de Deus; é por isso que tudo isso aconteceu'".
Publicações
Odin den' Ivana Denisovicha. Moscou: Sovetskii pisatel’. 1963
Odin den' Ivana Denisovicha. Matrenin dvor (edição autorizada e não expurgada — inclui “Matrenin dvor”). Paris: YMCA-Press. 1973
Izbrannoe. Chicago: Russian Language Specialties. 1965
Rakovyi korpus. Milão: Mondadori. 1968
Rakovyi korpus (edição ampliada). Frankfurt: Posev. 1968 (Cancer Ward)
V kruge pervom. Nova York: Harper & Row. 1968 (The First Circle)
V kruge pervom (enlarged edition). Moscow: Khudozhestvannaia literatura. 1990. ISBN5-280-01807-4
1914. traduzido por Michael Glenny. Nova York: Farrar, Straus & Giroux. 1972
August 1914. translated by H.T. Willetts. New York: Farrar, Straus & Giroux. 1989
Warning to the West. translated by Harris L. Coulter and Nataly Martin. New York: Farrar, Straus & Giroux. 1976
Lenin in Zurich. traduzido por H.T. Willetts. Nova York: Farrar, Straus & Giroux. 1976
Prussian Nights. traduzido por Robert Conquest. Nova York: Farrar, Straus & Giroux. 1977
East & West: The Nobel Lecture on Literature, A World Split Apart, Letter to Soviet Leaders, and an Interview with Aleksandr Solzhenitsyn by Janis Sapiets. traduzido por Alexis Klimoff, Irina Alberti, e Hilary Sternberg. Nova York: Harper & Row. 1980
Edward E. Ericson Jr., ed. (1985). The Gulag Archipelago, 1918-1956 [authorized abridgment]. traduzido por Whitney e H. T. Willetts. Nova York: Harper & Row
Three Plays: Victory Celebrations, Prisoners, The Love-Girl and the Innocent. translated by Bethell, Burg, Hele Rapp, and Nancy Thomas. New York: Farrar, Straus & Giroux. 1986
1916. traduzido por Willetts. Nova York: Farrar, Straus & Giroux. 1999
Russia in Collapse. traduzido por Olga Cooke. [S.l.]: Intercollegiate Studies Institute. 2006
Apricot Jam: And Other Stories. traduzido por Kenneth Lantz e Stephan Solzhenitsyn. [S.l.]: Counterpoint. 2011
The Red Wheel. Node Three. Book 1. March 1917. translated by Marian Schwartz. [S.l.]: University of Notre Dame Press, Indiana. 2017. ISBN978-0268102654
Publicações periódicas
«Golyi god Borisa Pil'niaka». Novyi Mir (Jan.): 195–203. 1997
«Smert' Vazir-Mukhtara Iuriia Tynianova». Novyi Mir (Abr.): 191–199. 1997
«Peterburg Andreia Belogo». Novyi Mir (Jul.): 191–196. 1997
«Iz Evgeniia Zamiatina». Novyi Mir (Out.): 186–201. 1997
«Priemy epopei». Novyi Mir (Jan.): 172–190. 1998
«Chetyre sovremennykh poeta». Novyi Mir (Abr.): 184–195. 1998
«Ivan Shmelev i ego Solntse mertvykh». Novyi Mir (Jul.): 184–193. 1998
↑Kaufman, Michael T; Barnard, Anne (4 de agosto de 2008), «Solzhenitsyn, Literary Giant Who Defied Soviets, Dies at 89», The New York Times (em inglês): 1-3.
↑"A Falta de Deus: O Primeiro Passo Para o Gulag".
Bibliografia
Ericson, Edward E, Jr; Mahoney, Daniel J, eds. (2009). The Solzhenitsyn Reader: New and Essential Writings, 1947–2005. [S.l.]: ISI Books
Moody, Christopher (1973). Solzhenitsyn. Edinburgh: Oliver & Boyd. ISBN0-05-002600-3
Scammell, Michael (1986). Solzhenitsyn: A Biography. Londres: Paladin. ISBN0-586-08538-6
Fontes das publicações
Donald M. Fiene (1973). Alexander Solzhenitsyn: An International Bibliography of Writings by and about Him, 1962–1973. Ann Arbor: Ardis
Solzhenitsyn Studies: A Quarterly Review 1–2 (1980–1981).
Michael Nicholson (1985). «Solzhenitsyn in 1981: A Bibliographic Reorientation». In: John B. Dunlop; Richard S. Haugh; Michael Nicholson. Solzhenitsyn in Exile: Critical Essays and Documentary Materials. Stanford: Hoover Institution. pp. 351–412
N. G. Levitskaia (1991). Aleksandr Solzhenitsyn: Biobibliograficheskii ukazatel', avgust 1988–1990. Moscow: Sovetskii fond kul’tury