A Revolução Sexual (1936) (Die Sexualität im Kulturkampf no original alemão, publicado em inglês como Sexuality in the Culture Struggle) é um livro de Wilhelm Reich.[1][2] O subtítulo é Para a Reestruturação socialista dos Humanos. Esta duplicidade de título reflete a estrutura em duas partes do trabalho; a primeira parte analisa a crise da moral social burguesa e as tentativas de reforma sexual que preservavam a estrutura da sociedade capitalista e ideologia da família e do casamento. A segunda parte (ligada ao subtítulo) reconstrói a história da revolução sexual que ocorreu no establishment da União Soviética desde 1922, e que teve resistência de Stalin no final dos anos vinte[2] .
Diferenças entre edições
A edição de 1945 mudou inexplicavelmente o título para A Revolução Sexual (ao passo que o título anterior era Sexualidade no Esforço Cultural). Esta mudança afetou não apenas a perspectiva mas também a metodologia, resultando numa apresentação deturpada do real trabalho contido no livro[3]. Mais instrutiva foi a mudança no subtítulo: para Em Direção a uma Estrutura Autorreguladora.
As edições, desde 1945, também tiveram alguns ardis, mudanças de terminologia e abusos de editores, alguns dos quais tiveram a intenção de disfarçar a orientação revolucionária comunista, para evitar ofender o suscetível público americano[4]. Houve também relevantes omissões e mudanças de conteúdo; enquanto a edição original (1936) baseou sua teoria na rejeição da família, enquanto instituição, as versões amenizadas rejeitaram apenas a estrutura familiar autoritária, buscando substituí-la por uma melhor e mais natural forma de família[5]. Outras omissões ou mudanças afetaram os termos envolvendo religião, classes sociais, políticas radicais de esquerda, burguesia, família, moralidade, sexualidade, proletariado, etc[6].
Em 1992, o editor Italiano Erre Emme publicou, logo no primeiro momento, não apenas uma edição integral como a de 1936[7], mas também revelou as integrações da edição de 1945, com o objetivo de permitir uma confrontação científica.[6]
Conteúdo
Na primeira parte, Reich explica que as neuroses sexuais derivam da falta de gratificação da sexualidade natural. A sexualidade natural torna-se insatisfeita e, como consequência, cria neuroses devidas à sua supressão pelo Estado autoritário. Para o autor, este Estado é melhor caracterizado como capitalista e baseado na unidade da família patriarcal, na qual cada pai representa a autoridade absoluta, tal como o Estado.
De acordo com Reich, o Estado autoritário usa várias ferramentas para suprimir de seus cidadãos a sexualidade natural. Tais ferramentas englobam o que o autor entende por conservadorismo e moralismo anti-sexual e incluem:
- A ideologia do casamento monogâmico e vitalício, chamado por Reich de casamento obrigatório.
- A supressão da sexualidade infantil, citada como causa primária de desejos sexuais anormais e perversões ao longo da vida adulta.
- Falta de educação sexual honesta e liberdade sexual entre adolescentes.
- A Perseguição daquilo que venha a ser considerado anormal, como a homossexualidade.
- A Ilegalidade do aborto.
- O casamento como instituição legalizada e a falta de uma mais ampla gama de causas válidas para o divórcio.
Estes vários fenômenos fazem com que os cidadãos, além de reprimirem seus desejos naturais, criem novos, neuróticos, doentios desejos sexuais. O autor explica que ocorre uma realimentação entre a supressão/repressão de desejos naturais e o próprio aumento do poder do Estado autoritário.
O objetivo do Estado autoritário, seja consciente ou não, é preservar sua estrutura econômica através da continuidade da família patriarcal como sua unidade social primária. A família, segundo Reich, é essencial à estrutura econômica do capitalismo pois ela beneficia o capitalista assim como o preserva até a geração seguinte. O objetivo posterior é alcançado pela supressão da atração sexual infantil pelos pais, produzindo, por conseguinte, uma união reprimida à unidade familiar.
A criança ambiciona relações familiares e imita o ascendente do mesmo sexo na criação da sua própria família. O capitalista tira proveito da unidade econômica da família por causa da dominação econômica do marido sobre a esposa, que é dependente daquele e trabalha em casa sem salário. Isto permite ao empregador do marido lhe pagar um salário menor pois o empregador não precisa levar em conta o custo que o marido teria para pagar uma doméstica ou babá. Esta falta de salário extra para o trabalho feminino tradicional e educação das crianças encoraja a mulher a ser econômica, ao passo que permite ao empregador ter mais capital para si próprio. O marido também tira proveito pois ele tem em casa o poder e autoridade que não necessariamente tem no trabalho.
No prefácio da edição de 1945, Reich diz que nossa estrutura familiar ocidental foi herdada da antiga estrutura patriarcal.
Fraenkel (1992) percebe que a suposta "revolução sexual", alegada para o ocidente desde o final dos anos 60, é uma impropriedade. Sexo não é realmente aproveitado livremente e isto é observado em todos os campos culturais ("dessublimação repressiva"[8] ). Para deslocar-mos daquilo que seria nossa liberação sexual real, nós somos obrigados a modificar nossa estrutura mental e nossa inibição moral. Ao inverso, a moral judaico-cristã ainda permanece e pequenas mudanças sociais são exageradas pois são vistas sob foco. Inclusive muitos que se declaram ateus simplesmente secularizaram e internalizaram os mesmos antigos preceitos morais[9].
A ideologia burguesa tinha um poderoso desejo que os adolescentes atingissem a maturidade sexual e fosse reprimidos à abstinência sexual. Para justificar esta triste privação, que era base de sua infelicidade, toda forma de justificativa não científica e até ridícula era apresentada[10]. Este fenômeno, entretanto, não acontecia em sociedades que não tinham uma forte influência da ideologia patriarcal, marcada pela agricultura mecanizada, como mostram estudos antropológicos interculturais[11]. Tais sociedades são controvertidamente chamadas "primitivas" pelos ocidentais.
Entre os antropólogos que estudaram tais povos e chegaram a conclusões similares, se encontram Bronisław Malinowski, com seu trabalho de 1929, A Vida Sexual dos Selvagens na Melanésia Ocidental, Ploss-Bartels[12], Havelock Ellis [13], Hans Meyer[14].
Há um esforço para impedir que pubescentes deem início à atividade sexual. Isto inclui sonegar-lhes acesso à informação. A chamada educação sexual é praticamente um engodo que foca a biologia, dissimulando os aspectos da excitação, que os interessa mais, e esconde o fato de que suas preocupações e dificuldades se originam do impulso não satisfeito[15]
Nota
Referências
- ↑ Fraenkel 92, p.9
- ↑ a b Fraenkel 92, p.11
- ↑ Fraenkel 92, pp. 12–14
- ↑ Fraenkel 92, p.15
- ↑ Fraenkel 92, p.17
- ↑ a b Fraenkel 92, p.18
- ↑ La rivoluzione sessuale, editions Erre Emme, Rome 1992.
- ↑ Herbert Marcuse (1964) One-Dimensional Man, pp. 59, 75–82 [1] [2] [3] Arquivado em 5 de abril de 2012, no Wayback Machine. [4] Arquivado em 6 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine.
- ↑ Fraenkel 92, p.19
- ↑ Reich 1936, Part one "the failure.." 6. The puberty problem — (1°) "The puberal conflict" (pp. 158–159 of Italian edition)
- ↑ Eagly and Wood (2002)
- ↑ Ploss-Bartels (1902) Das Weib [5] Arquivado em 12 de setembro de 2007, no Wayback Machine.
- ↑ Havelock Ellis Sex in Relation to Society
- ↑ Meyer. "Das Sexualleben bei den Wahehe und Wossangu" (Geschlecht und Gesellschaft, XIV Jahrg., H. 10, S. 455)
- ↑ Reich 1936, Part one "the failure.." 6. The puberty problem — (3°) "A reflection.." — c. sexual relationships of pubescents — paragraph 4.a (pp. 198–199 of Italian edition)
Bibliografia
- Fraenkel, Boris (1992) Introduction to the Italian version for publisher Erre emme
Ver também
Ligações externas
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